Que as immortalidades, que fingia antiguidade, que os illustres ama, Lá no estellante Olympo, a quem subia Sobre as azas inclytas da fama, Por obras valerosas, que fazia, Pelo trabalho immenso, que se chama' Caminho da virtude alto e fragoso, Mas no fim doce, alegre, e deleitoso;
Não eram senão premios, que reparte Por feitos immortaes, e soberanos, O mundo co'os Barões, que esforço e arte, Divinos os fizeram, sendo humanos; Que Jupiter, Mercurio, Phebo, e Marte, Eneas, e Quirino, e os dous Thebanos, Ceres, Palas, e Juno, com Diana, Todos foram de fraca carne humana.
Mas a fama, trombeta de obras taes, Lhe deo no mundo nomes tão estranhos, De Deoses, Semideoses immortaes, Indigetes, Heroicos, e de Magnos. Por isso, oh vós, que as famas estimaes, Se quizerdes no mundo ser tamanhos, Despertai já do somno do ocio ignavo, Que o animo de livre faz escravo.
E ponde na cobiça um freio duro, E na ambição tambem, que indignamente Tomais mil vezes, e no torpe e escuro Vicio da tyrannia, infame, e urgente; Porque essas honras vaas, esse ouro puro Verdadeiro valor não dão á gente: Melhor é merecel-os, sem os ter, Que possuil-os, sem os merecer.
Ou dai na paz as leis iguaes, constantes, Que aos grandes não dêm o dos pequenos, Ou vos vesti nas armas rutilantes Contra a lei dos imigos Sarracenos : Fareis os reinos grandes e possantes, E todos tereis mais, e nenhum menos, Possuireis riquezas merecidas,
Com as honras, que illustram tanto as vidas.
E fareis claro o Rei, que tanto amais, Agora co'os conselhos bem cuidados, Agora co'as espadas, que immortaes Vos farão, como os vossos já passados: Impossibilidades não façais;
Que quem quiz sempre pôde: e numerados Sereis entre os heroes esclarecidos,
E n'esta ilha de Venus recebidos.
Convite de Tethys aos navegantes: canção prophetica da Sirena, em que toca as principaes façanhas, e conquistas dos Vice-Reis, dos Governadores, e Capitães Portuguezes na India até D. João de Castro: sobe Tethys com o Gama a um monte, desdelo qual lhe mostra a esphera celeste, e terres tre; descripção do Orbe, especialmente dă Asia e Africa: sahem da ilha os navegantes, e seguindo a sua viagem chegam feliz mente a Lisboa.
Ás mesas de vivificos manjares, Com as nymphas os Lusos valerosos, Ouvem de seus vindouros singulares, Façanhas em accentos numerosos: Mostra-lhes Tethys tudo quanto os mares, E quanto os ceos rodeam luminosos, A pequeno volume reduzido;
E torna a frota ao Tejo tão querido.
Mas já o claro amador da Larissea Adultera inclinava os animaes Lá para o grande lago que rodea Temistitão nos fins Occidentaes: O grande ardor do Sol Favonio enfrea Co'o sopro, que nos tanques naturaes Encrespa a agua serena, e despertava Os lirios e jasmins, que a calma aggrava.
Quando as formosas nymphas, co'os amantes Pela mão, já conformes e contentes, Subiam para os paços radiantes, E de metaes ornados reluzentes, Mandados da Rainha, que abundantes Mesas d'altos manjares, excellentes, Lhe tinha apparelhadas, que a fraqueza Restaurem da cançada natureza.
« AnteriorContinuar » |