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ciado pelo erudito Antonio Ribeiro dos Santos, que junto do governo cooperava por parte da Universidade de Coimbra com o Principal Castro e D. Francisco de Lemos, e na Academia das Sciencias era auxiliado por Frei Joaquim de Foyos com outros mais frades. O Plano de Instrucção nacional foi bocalmente reprovado pela Academia, que servia inconscientemente a reacção contra o novo espirito pedagogico; e Stockler, apontado como sectario das idéas francezas, ficou exposto a perseguições pessoaes, pela «sua exclusão de Lente da Academia real de Marinha, e á illegal e indevida reforma que lhe fóra dada pelos Governadores do Reyno de Portugal emo anno de 1810., Os versos e as notas em que Stockler refere esta sua lucta vêm datados do Rio de Janeiro, 13 de abril de 1813; de facto alli fôra pedir justiça a D. João vi contra tantos aggravos. A sua presença n'aquelle paiz foi logo aproveitada pelo espirito de iniciativa que alli se manifestava no go

verno.

Quando se tratou de fundar no Brasil um grande numero de instituições de instrucção publica, visto achar-se alli estabelecida a côrte de D. João vi e generalisar-se a aspiração a um estado independente, o conde da Barca encarregou Garção Stockler de formular um Plano geral systematico de instrucção para levar-se á pratica na nova situação em que se achava o Brasil. Por certo o conde da Barca teria conhecimento do Plano reprovado pela Academia real das Sciencias de Lisboa, e apreciando o alto merito de Stockler, que em Portugal fôra perseguido pelos Governadores do Reino, recorria agora a elle, alliando a sua rasgada iniciativa ao generoso pensamento que o animava. Stockler considerava as differentes escholas europeas como restos de um systema atrazado, que se remodelavam sem pensamento fundamental ás situações occorrentes; carecia-se de uma concepção geral, e é este reconhecimento que destaca o illustre sabio entre os pedagogistas portuguezes do seculo xix. Depois das Universidades, que tinham paralysado na época da renascença, seguiam-se as Academias, como corporações especulativas interessadas em coordenar todos os conhecimentos humanos e accolher os novos descobrimentos. Era d'este centro, como grao ultimo da instrucção, que deviam partir todas as disposiçoes reguladoras e organisadoras das disciplinas do ensino publico. Para este fim, que elle reservara para a Academia real das Sciencias de Lisboa, e que suscitou a reacção da Universidade de Coimbra, queria que no Rio de Janeiro se fundasse uma Sociedade real de Sciencias e Artes, que fosse o corpo dirigente de toda a instrucção publica no Brasil.

Dividia-se a instrucção nacional em quatro gráos:

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1.'— Pedagogias: Escholas gratuitas para ambos os sexos, para o ensino dos conhecimentos necessarios em qualquer estado social ou profissão individual, taes como: leitura, escripta, arithmetica, e rudimentos de physica, economia e moral.

2.°- Institutos: Desenvolvimento mais intenso dos anteriores conhecimentos por meio de escholas especiaes de applicação a agricultores, industriaes e commerciantes. Idéas geraes de physica, botanica e zoologia; Chimica applicada ás Artes; Agricultura; Algebra ordinaria e Geometria rectilinea; principios de Mechanica; noções de Economia politica, de Commercio, Moral e Direito natural (em Escholas subsidiarias). Cursos triennaes.

3.°- Lyceus: Escholas preparatorias para o estudo geral ou especial das Sciencias. Comprehende os elementos humanisticos: Analyse das faculdades e operações do Entendimento; Grammatica geral, Rhetorica; Linguas classicas, Linguas vivas, europêas e orier taes; Diplo: matica, Numismatica, Hermeneutica, Geographia, Chronologia e Historia.

4.°- Academias: Comprehendendo o conjuncto de Escholas especiaes ou de applicação, e das Escholas das Sciencias abstractas nas suas relações com a sociedade, ou Sciencias sociaes. Essas Academias correspondiam ás classes da Sociedade real das Sciencias e das Artes, assim divididas:

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Correspondiam-lhes as seis corporações docentes geraes e especiaes :

1.- Academia de Mathematica, com seis cadeiras: 1.Geometria analytica, transcendente; Trigonometria espherica e espheroidal; Analyse ou Calculo superior. 2.a Statica; Dynamica; Hydrostatica; Hydrodynamica. 3.“ Mechanica celeste ou Astronomia physica. 4.- Stereotomia; Geodesia; Optica; Dioptrica; Catoptrica; Perspectiva e theoria da 'polarisação da luz. 5. Astronomia pratica; Geographia raciopal. 6.* Calculo das probabilidades e suas applicações.

2.- Academia de Sciencias naturaes, com cinco cadeiras: 1.* Zoologia; Philosophia botanica. 2.a Chimica geral; Mineralogia. 3. Physica; Geognosia. 4.• Chimica applicada; Meteorologia; Technologia.

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5.* Mineralogia pratica; Docimasia e Metallurgia; Architectura subterranea.

3.a - Academia de Sciencias sociaes, com oito cadeiras: 1.2 Direito natural; Direito das Gentes. 2.* Direito patrio civil e criminal; Historia da Legislação nacional. 3.' Philosophia juridica ou principios geraes de Legislação; Historia das Legislações antigas e seus effeitos politicos. 4. Instituições canonicas; Historia ecclesiastica. 5.a Direito publico; Estatistica universal; Geographia politica. 6.* Direito politico ou analyse das Constituições dos diversos Governos antigos e modernos. 7." Economia politica. 8. Historia philosophica e politica das Nações nos seus reciprocos interesses e negociações.

4." - Academia especial de Medicina, Cirurgia e Pharmacia, com nove cadeiras: 1.° Anatomia; Physiologia. 2. Materia medica; Pharmacia. 3.Pathologia; Nosologia; Semiotica; Therapeutica. 4.a Hygiene; Medicina legal; Historia da Medicina. 5. Clinica interna ou Medicina pratica. 6. Operações cirurgicas; Arte obstetricia. 7.a Pathologia, Nosologia e clinica externas. 8.Anatomia e Physiologia comparadas. 9. Arte veterinaria.

5. –- Academia especial militar, com oito cadeiras: 1. Geometria analytica; Geometria transcendente; Geodesia elementar. 2.a Analyse ou Calculo superior; Mechanica. 3. Stereotomia; principios geraes de Construcção; Geometria subterranea. 4.* Hydraulica ou Theoria das aguas correntes; Architectura hydraulica. 5. Chimica; Metallurgia e arte de fundir e moldar; Pyrotechnia. 6. Physica experimental. 7.a Tactica; Artilheria; Estrategia. 8.* Fortificação; ataque e defeza das Pracas; guerra subterranea.

6. — Academia especial de Marinha, com seis cadeiras : 1.4 Geometria analytica e transcendente; Trigonometria rectilinea, espherica e espheroidal. 2.- Analyse; Mechanica. 3.- Stereotomia; Architectura naval. 4. Optica; Astronomia. 5.* Physica experimental; Meteorologia. 6.- Navegação; Manobra; Tactica naval.

Eschola especial de Bellas Artes, com cadeiras de Desenho, Pintura, Esculptura, Architectura civil, Gravura e Musica.

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Este importantissimo Plano, que em Portugal fôra rejeitado em uma sessão da Academia real das Sciencias, pela sua perigosa novidade suggerida pelo espirito revolucionario, no Brasil encontrou egual opposição dos elementos conservadores; não foi levado á pratica pela hesitação sobre se devia executar-se na capital do Rio de Janeiro, se om San Paulo, como clima mais temperado, expediente mesqninho dos

que temiam que por um tal systema de instrucção deixasse de ser colonia portugueza. O Plano de Stockler derivava das grandes fundações pedagogicas da Convenção, que foram assimiladas por toda a Europa; comtudo Spix e Martius consideravam esse Plano como modelado pelas escholas allemās. Um grande numero d'estas fundações já existiam no fim do seculo XVIII em Portugal. O que faltava era a sua subordinação a um systema pedagogico. Isso comprehendeu Stockler, e não os governos, que se limitavam a decretar cadeiras e grupos ou cursos desconnexos de disciplinas especiaes, em uma anarchia doutrinaria e administrativa, pela ingerencia dos varios ministerios do reino, obras publicas e guerra. Se o Plano de Stockler ficou no papel nem por isso deixou de exercer una influencia decisiva, pelos varios roubos que lhe foram fazendo os que governavam sem idéas. A marcha da Instrucção publica em Portugal no seculo xix tem sido uma realisação inconsciente d'esse Plano, renovando-o na sua fonte originaria da Convenção homens superiores como Mousinho de Albuquerque e Garrett, mas executado fragmentariamente e sem espirito philosophico pelos governos illaqueados pela Universidade de Coimbra ou em reacção contra ella.

Para cimentar a retrogradação politica Bonaparte começou por restabelecer o culto catholico em França; elle revelara ao cardeal Martiniano o desejo de entrar em um accordo com a Curia romana sobre este ponto, e aos seus enviados ao papa recommendava-lhes: «Tratae o papa como se elle tivesse duzentos mil homens em armas.» O ignobil dictador sentia que alli existia uma força que lhe convinha atrelar ao carro triumphal do seu poder pessoal. E para adquirir a cooperação da Egreja estabeleceu as negociações da Concordata, que começaram em março de 1801 e terminaram pela sua assignatura em 15 de julho, sendo apresentada pelo primeiro Consul ao conselho de estado. Bunaparte impoz a Concordata por uma insistencia voluntariosa; dizia aos que sustentavam o negativismo metaphysico do seculo XVIII, que queria uma religião de estado, sustentada pelo governo, como o unico meio de excluir as outras mil superstições que assaltam a sociedade, sendo mais facil regulamentar e policiar só uma! E quando um general lhe apresentava uma representação por parte do exercito, Bonaparte revelava-lhe o seu plano intimo n'esta simples phrase: 0 restabelecimento do culto catholico entrega-me o coração do povo.) Era explorando o automatismo da multidão ignara com que elle considerava avançar para a soberania; os padres eram como os seus sargentos, que cerravam as filas das povoações ruraes. O effeito da Con

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