de Bragança ainda hoje seria rei de Portugal, porque a sua acclamação fôra rica, luxuosa, pomposa e com profusão de galas e de brilhantes. A austeridade e simplicidade são os melhores titulos de engrandecimento dos reis, como mostra o exemplo do sr. D. Pedro v e da sua esposa, a sr.a D. Estephania, que pelas suas virtudes, simplicidade, e grandes qualidades evitaram a apresentação de propostas analogas e se fizeram amar e respeitar do povo portuguez 1. (Continúa). M. C. 1 Diar. das Sess. da Cam. dos Deput., cit., p. 728, col. 1. s. ha de ter logar um phenomeno No decurso do corrente anno celeste, a passagem de Venus sobre o disco do Sol, que os astronomos de todos os paizes se propõem observar, o mais rigorosamente possivel, porque d'elle se deduz um dos elementos mais importantes da Astronomia a parallaxe do Sol. É, com effeito, muito importante a determinação da parallaxe solar, d'onde se infere immediatamente a distancia do Sol á Terra, dado muito precioso, não só porque faz conhecer as dimensões reaes e verdadeiras do astro radiante e dos outros corpos do systema do mundo, mas tambem porque do seu conhecimento se concluem as distancias dos outros planetas ao Sol e á Terra; e ainda porque esta distancia é a que os astronomos costumam tomar, para servir de unidade de medida a todas as outras distancias do universo sideral. 1 A 8 de dezembro. São estas razões que têm movido todos os astronomos, tanto antigos como modernos, a propôr-se o problema da distancia do Sol á Terra, ou, melhor ainda, a determinação da parallaxe solar. Porém, como as operações necessarias para conhecer este elemento são muito delicadas, pois que a parallaxe solar é um angulo muito pequeno 1, os antigos astronomos pretenderam deduzil-a, comparando a distancia do Sol com a da Lua, que já era approximadamente conhecida no tempo de Hipparco, astronomo grego, que viveu ha 2:000 annos em Alexandria 2. Aristarco de Samos, notando que, quando a Lua está em quadratura, o centro do Sol, o centro da Lua e o olho do observador collocado na superficie da Terra, formam os vertices d'um triangulo rectangulo; medindo, em qualquer dos quartos da Lua, o angulo formado pelos raios visuaes, conduzidos pelo olho do observador para o Sol e Lua, e achando-o egual a 87°; Aristarco de Samos, dizemos nós, (260 annos antes de Christo) concluiu que o Sol está 19 vezes mais afastado da terra que a Lua. Este methodo, porém, não é susceptivel de precisão; porque é impossivel, em virtude das irregularidades produzidas pelas montanhas lunares sobre a linha de separação de sombra e luz, dizer exactamente quando esta linha é recta 3; e d'aqui provém ser muito pequena a distancia do Sol & Terra, assim deduzida por este notavel astronomo. Hipparco, tres seculos depois Ptolomeu, e muito mais tarde. ainda Copernico e Tycho-Brahé pretenderam deduzir a parallaxe 1 Com effeito, este angulo é tão pequeno, que não chega a 9". Resulta d'aqui ser preciso conhecel-o com differença apenas de centesimas de segundo, para obter com uma approximação suficiente a distancia do Sol á Terra. Cada centesima de segundo, ajunctada ao valor da parallaxe, diminue a nossa distancia ao Sol de 26 vezes o raio terrestre. 2 Aristarco de Samos calculou a distancia da Lua pelo methodo trigonometrico da medida das distancias inaccessiveis, e achou-a comprehendida entre 35 40 diametros terrestres. Hipparco avaliou está distancia em 32 diametros terrestres. O seu verdadeiro valor é de 30 diametros. 3 Assim o angulo, que Aristarco tinha encontrado egual a 87o, é na realidade de 89°50'. do Sol da parallaxe lunar, pela largura do cóne da sombra terrestre no ponto em que é atravessada pela Lua nos seus ecclipses; o que os conduziu a suppôl-a egual a 3'; e, portanto, a concluir que a distancia do Sol á Terra era, pouco mais ou menos, de 1:200 raios terrestres. Kepler, fundando-se em simples considerações theoricas, e prescindindo de calculos directos, elevou esta distancia a 3:500 raios terrestres 1. Pela sua parte Riccioli duplicava arbitrariamente esta distancia, a que Hévelius ajunctava apenas 1:500 raios terrestres. Halley admittiu a parallaxe do Sol egual a 12",5, ou, pelo menos, inferior a 15"; fundando-se para isso em uma consideração bastante singular: se a parallaxe solar fosse egual a 15", dizia elle, a Lua seria maior que Mercurio, o que perturbava a harmonia do systema do mundo. Porém, a sua grande intelligencia fez-lhe descobrir um dos meios, empregados ainda hoje com melhor resultado pelos astronomos, e a que nos referimos no principio d'esta noticia-a passagem de Venus sobre o disco do Sol-para determinar com precisão a parallaxe solar. Durante a sua residencia na ilha de Sancta-Helena, onde foi explorar o céu austral, teve occasião de observar uma passagem de Mercurio sobre o disco do Sol, que se effectuou a 28 de outubro de 1677. Na memoria que publicou a este respeito 2 declara este grande astronomo que observou com differença de menos de 1 o contacto interior de Mercurio e do Sol; e, apoiado em um tão alto grau de precisão, concebeu a esperança de chegar, pela passagem de Venus, a medir a distancia da Terra ao Sol. A comparação das observações de Marte e das estrellas visi 1 Comtudo, Képler tornou possivel uma exacta determinação da parallaxe solar. Uma das leis por elle descobertas, e que são conhecidas em Astronomia pelo nome do seu auctor, diz: «Os quadrados dos tempos das revoluções dos planetas são proporcionaes aos cubos dos eixos maiores das suas orbitas. D'aqui resulta ser sufficiente o conhecer uma unica distancia, para d'ella se deduzirem todas as outras; e fundados neste principio os astronomos procuraram obter a parallaxe solar pela observação do planeta Marte, quando elle está o mais perto possivel da Terra, isto é, em opposição. 2 Acha-se esta memoria no fim da sua obra intitulada: Catalogus Stellarum australium. nhas, feitas pelo estimavel Richer, em Cayenn, com as que simultaneamente fizeram na Europa Picard e Roemer, indicou que Marte em opposição tinha uma parallaxe de 25",5; donde concluiram para a parallaxe solar o valor de 9′′,5. Foi por esta occasião que se principiaram a fazer na Europa observações em um unico logar, para por meio d'ellas se determinar a parallaxe de Marte em opposição. Assim Cassini achou a parallaxe do Sol, deduzida da de Marte, egual a 9,8; La Hire, a 6"; Meraldi, a 10"; Pound e Bradley entre 9 e 12"; e, finalmente, Lacaille, a 10,"25. Era ainda muito incerta a grandeza da parallaxe solar, quando, em 1761, teve logar a passagem de Venus sobre o disco do Sol, annunciada por Halley, a que elle teve a infelicidade de não poder assistir, apezar de morrer em edade assaz avançada. As observações d'esta passagem, feitas no Cabo de Boa-Esperança, na Laponia, e em Tobolsk, na Siberia, deram para a parallaxe solar um valor de 9", approximadamente. Em 1769 repetiu-se esta passagem, e todas as nações da Europa contribuiram para se effectuarem novas observações. Á California, a Otahiti, proximo á Bahia de Hudson, na America, a Madras, na peninsula Indica, a diversos pontos da Laponia Russa, a Wardhus, extremidade do nosso continente, e, finalmente, a Cajanebourg, na Finlandia, acudiram com grande empenho astronomos de todos os paizes a observar a passagem de Venus sobre o disco do Sol. A media das observações feitas ao norte do equador, comparada com a de Taïti, deu de valor á parallaxe solar 8,59, que muito tempo se intendeu differia quando muito uma decima de segundo do seu verdadeiro valor. Encke, revendo os calculos relativos ás observações de 1769, e exercendo sobre ellas a mais esclarecida critica, achou para a parallaxe do Sol o numero 8",57, geralmente adoptado até ha poucos annos; o que dava para a distancia da Terra ao Sol 23:984 raios terrestres; isto é, leguas de 4 kilometros. 38.230:496 |