CCLVII. Embranças de meu bem, doces lembranças, Que taó vivas eftais nefta alma minha, Nao queirais mais de mi, fe os bées que tinha Em poder vedes todos de mudanças. Ai cego amor! Ai mortas efperanças, Co' a vida acabaraó, pois a ventura De ganhar-fe com ella máis victoria. CCLIX. Formofos olhos, que cuidado dais A' mefma luz do Sol, mais clara, e pura! Que fua efclarecida formofura, Com tanta gloria vofla atraz deixais! Colhei, colhei do tempo fugitivo, E a mi, que por vós morro, e por vós vivo, Fazei pagar a amor o feu tributo, Contente de por vós lho haver pagado. CCLX. Ues fiempre fin ceffar, mis ojos triftes Pero della affeguro, fi es fingida, CCLXI. Em feito os olhos nefte apartamento Que póde dar faudade à faudade , Em dor vai convertido o foffrimento Em pena convertida a piedade'; A razaó taó vencida da vontade ? Que escravo faz do mal o entendimento. A lingua nao alcança o que a alma fente; E affi, fe alguem quizer em algum'hora Saber que coufa he dor não comprehendida Parta-fe do feu bem, porque exprimente, Que antes de fe partit, melhor me fora Partir-fe do viver para ter vida. CCLXII. CCLXII. Peregrinaçao de hum penfamento, Leva a dor de vencida ao foffrimento; Mas já conheço, (oh nunca o conhecera!) A CCLXIII. Cho-me da fortuna falteado E cada inftante mais defefperado. Trocou-fe o meu defcuido em tal cuidado Que donde a gloria he mais, he mais penofo: Nem vivo, de perder-me, receofo; Nem, de poder ganhar-me, confiado. Qualquer ave nos montes mais agreftes, Qualquer fera na cova repoufando Tem horas de alegria; eu todas triftes. Vós, faudofos olhos, que o quizestes, (Pois com tormento amor me eftá pagando) Chorai, como que vedes, o que viftes. , CCLXIV. E no que tenho dito vos offendo, Que inda que nao pertenda merecer-vos, Mas he meu fado tal, fegundo entendo, Qual deftas firva a mi, diraó os danos, Atéqui os Sonetos que fe acham na edição de Ma. noel de Faria e Soufa. Jofeph Lopes Ferreira, imprimindo em Lisboa, no anno de 1720, em hum volume, de folba, todas as Obras de Luis de Camões accrefcentou os que fe feguem, fem nos dizer onde baviam fido achados. Na edição Parifienfe do anno de 1759, e na que pofterior a ella fe fez em Lisboa, fe acham tambem os mesmos; mas nem por iso ficamos por fiadores de que todos fejam de Luis de Ĉamões: os Leitores intelligentes, que forem verfados na lição das Obras do Poeta, farao feu juizo. CCLXV. Doce contentamento já paffado Em que todo o meu bem fó consistia; Quem vos levou de minha companhia E mé deixou de vós tao apartado ? Quem cuidou que fe vifle nefte estado Naquellas breves horas d'alegria, Quando minha ventura confentia, Que de enganos vivefle meu cuidado? Fortuna minha foi cruel, e dura, Aquella que caufou meu perdimento, Com a qual ninguem póde ter cautella. Nem fe engane nenhuma creatura Que nao póde nenhum impedimento Fugir do que lhe ordena fua eftrella. CCLXVI. Empre cruel, Senhora, receei Quanto cu encobri fempre o que vos dei. |