CCLXXXIII. L vaso relusiente', ý crystalino ,
olorosa , De blanda seda ornado, y frelca rosa , Ligado con cabellos de oro fino :
Bien claro parecia el don divino Labrado por la mano artificiosa De aquella blanca Nynpha graciosa , Mas que el rubio luzero matutino :
Nel vaso vuestro cuerpo se afigura , Raxado de los blandos miembros bellos, Y en el agua vuestra anima pura :
La seda es la blancura, y los cabellos Son las prisiones, y la ligadura Con que mi libertad fue afida dellos.
CCLXXXIV. CHorai, Nymphas os fados poderosos
Daquella soberana . Onde foram parar na fepultura Aquelles Reaes olhos graciosos?
Oh bens do mundo falsos, e enganofos! Que mágoas para ouvir , e que figura Jaza fem resplandor na terra dura Com tal rosto, e cabellos taó formofos !
Das outras que será ! pois poder teve A morte sobre cousa tanto bella, Que ella eclipsava a luz do daro dia.
Mas o Mundo naó era digno della Por isso mais na terra nao esteve Ao Ceo subio , que já se lhe devia.
CCLXXXV.
CCLXXXV. Enhora ja desta alma , perdoai
De hum vencido de amor os desatinos, E sejam voffos olhos tao beninos, Com este puro amor, que d'alma sai.
A minha pura fé somente olhai, E vede méus extremos se fao finos ; E se de algúa pena forem dinos, Em mim, Senhora minha , vos vingai.
Nao seja a dor que abraza o triste peito, Causa
por onde
penie o coraçao, Que tanto em firme amor vos he sujeito.
Guardai-vos do que algúus , dama, dirao , Que sendo raro em tudo vosso objeito Pofta morar em vós ingratidao.
CCLXXXVI. Vem vos levou de mim, saudoso estado , Que tanta sem razao comigo ufaftes?
usastes? Quem foi, por quem tao presto mo negastes, Esquecido de todo o bem passado ?
Trocastes-me hu descanso em hum cuidado Tao duro taó cruel, qual me ordenaftes; A fé, que tinheis dado , me negastes, Quando mais nella estava confiado.
Vivia sem receo deste mal ; Fortuna, que tem tudo á sua merce, Amor com desamor mé revolveo.
Bem sei que neste caso nada val, Que quem nasceo chorando , justo he, Que pague com chorar o que perdeo.
CCLXXXVII.
CCLXXXVII. Iversos casos , varios pensamentos
Me trazem taó confuso o entendimento Que em nada vejo já contentamento, Senaó quando fe vao contentamentos.
Em varios casos, varios sentimentos Succedem, por mostrar ao fundamento Que he o que se deseja tudo vento, Pois pinta haver descanso em váos intentos.
Vê-se em grandes discursos o desejo, Quando as occasióes os tempos mudam Nao ha cousa impossivel a hum cuidado :
O injufto co'o justo he já trocado : Os duros montes seus allentos mudam, Eu só naš poslo. ver meu mal mudado.
CCLXXXIII. Oce sonho, suave, e soberano,
Se por mais longo tempo me durára , Ah quem de fonho tal nunca acordára , Pois havia de ver tal desengano !
Ah deleitoso bem! Ah doce engano Se por mais largo espaço me enganára , Se entao a vida misera acabára, De alegria, e prazer , morrêra ufano.
Ditolo, nao estando em mi , pois tive Dormindo o que acordado ter qnizera. Olhai com que me paga meu destino !
Em fim, fóra de mim ditoso estive, Em mentiras ter dira razaó era , Pois sempre nas verdades fui mofiro.
CCLXXXIX.
.
CCLXXXIX. Iana prateada esclarecida
Por ser de natureza transparente Em si como em espelho , reluzia.
Cem mil milhões de graças lhe influia , Quando me apparecco o excellente Raio de voslo aspecto, differente Em graça., e em amor,
do Eu vendo-me tao cheio de favores , E tao propinquo a fer de todo volto, Louvei a hora clara , e a noite efcura :
Pois nella destes côr a meus amores Donde collijo claro que nao poslo De dia para vós já ter ventura.
CCXC.
; A Biolante bi beira de hum rio, Tan fermosa em berda, que quede frio De ber alma inmortal em mortal maça :
De hum alto, e lindo copo á seda laça A Pastora sacaba fio a fio, Quando lhe disse , morro corra o fio , Bolveo , nao cortarei, seguro paça :
E como passarei , se eu acá quedo? Se passar , refpondi , nao' bou seguro Que este corpo sem alma morra cedo.
Com a minha , que lebas , te alleguro Que nao morras, Pastor. Pastora ei medo ; O quedar-me parece mais seguro.
CCLXXXXI.
CCXCI. Porque me faz amor inda, acá torto,
Omal te faga Dcos desbergonçado, Rapaz bil, descortez, que me has guiado A ber a biolante, que me ha morto.
Bila, por más non berme tomar porto En reposo ningun desbenturado , Mas para chorar sempre que abado As agoas dos mieus olhos fom conforto.
Bem vir ser tua madre Cypriana Una mundana astrofa, deshonesta , Cruel, falsa, sem lei, dura , e tyrana :
Que a bós ella ser outra , e naó fer esta , Nao tiberas bontá taó deshumana Nem fora contra mi tao cruda besta.
CCXCII. M quanto Phebo os montes accendia
Por conservar illesa a caftidade Na caça o tempo Delia despendia.
Venus , que entao do furto descendia , Por captivar de Anchises a vontade , Vendo Diana em tanta honestidade, Quasi zombando della , lhe dizia:
Tu vas com tuas redes na espessura Os fugitivos cervos enredando Mas as minhas enredam o sentido.
Melhor he respondia a deosa pura) Nas redes leves cervos ir tomardo, Que tomar-te alli nelles teu marido.
CCLXXXXIII.
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