Iverfos cafos, varios penfamentos Me trazem taó confufo o entendimento, Que em nada vejo já contentamento, Senaó quando fe vaó contentamentos. Em varios cafos, varios fentimentos. Succedem, por moftrar ao fundamento Que he o que fe defeja tudo vento, Pois pinta haver defcanfo em vãos intentos. Ve-fe em grandes difcurfos o defejo, Quando as occafióes os tempos mudam, Naó ha coufa impoflivel a hum cuidado: O injufto co'o jufto he já trocado: Os duros montes feus aflentos mudam, Eu fó nao poflo ver meu mal mudado.
D Se por mais longo tempo me durára
Oce fonho, fuave, e foberano,
Ah quem de fonho tal nunca acordara Pois havia de ver tal defengano !
Ah deleitofo bem! Ah doce engano ! Se por mais largo efpaço me enganára, Se entao a vida misera acabára, De alegria, e prazer, morrêra ufano.
Ditofo, nao eftando em mi, pois tive Dormindo o que acordado ter quizera. Olhai com que me paga meu deftino! Em fim, fóra de mim ditofo estive, Em mentiras ter dita razao era " Pois fempre nas verdades fui mofiro.
Dan Prata que do claro Phebo ardente, Iana prateada efclarecida.
Por fer de natureza tranfparente, Em fi como em efpelho, reluzia. Cem mil milhões de graças lhe influia, Quando me apparecco o excellente Raio de voflo afpecto, differente Em graça, e em amor, do que fohia. Eu vendo-me tao cheio de favores, E tao propinquo a fer de todo voffo, Louvei a hora clara, e a noite efcura : Pois nella déftes côr a meus amores Donde collijo claro que nao pofso De dia para vós já ter ventura.
ALá en Monte Rei, en Bal de Laça,
Biolante bi beira de hum rio
Tan fermofa em berdá, que quede frio De ber alma inmortal em mortal maça: De hum alto, e lindo copo á feda laça A Paftora facaba fio a fio,
Quando lhe diffe, morro corta o fio, Bolveo, nae cortarei, feguro paça:
E cómo paflarei, fe eu acá quedo ? Se paffar, refpondi, nao bou feguro, Que efte corpo fem alma morra cedo.
Com a minha, que lebas, te affeguro Que nao morras, Paftor. Paftora ei medo; O quedar-me parece mais feguro.
Porque me faz amor inda acá torto, O' mal te faga Deos desbergonçado, Rapaz bil, descortez, que me has guiado A ber a biolante, que me ha morto. Bila, por más non berme tomar porto En repofo ningun desbenturado Mas para chorar fempre que abado As agoas dos meus olhos fom conforto. Bem vir fer tua madre Cyprianá Una mundana aftrofa, deshonesta, Cruel, falfa, fem lei, dura, e tyrana:
Que a bós ella fer outra, e nao fer efta, Nao tiberas bontá taó deshumana,
Nem fora contra mi taổ cruda besta.
M quanto Phebo os montes accendia Do Ceo com luminofa claridade, Por confervar illefa a caftidade Na caça o tempo Delia defpendia. Venus, que entao do furto defcendia Por captivar de Anchifes a vontade, Vendo Diana em tanta honeftidade, Quafi zombando della, lhe dizia:
Tu vás com tuas redes na efpeffura Os fugitivos cervos enredando Mas as minhas enredam o fentido.
Melhor he refpondia a deofa pura) Nas redes leves cervos ir tomando, Que tomar-te alli nelles teu marido.
SE E de voflo formofo, e lindo gefto Nafcêram lindas flores para os olhos, Que para o peito fao duros abrolhos Em mi fe ve mui claro, e manifefto: Pois vofla formofura, e vulto honesto Em os ver, de boninas vi mil mólhos; Mas fe meu coração tivera antolhos Nao víra em vós feu damno e mal funefto. Hú mal visto por bem, hú bem triftonho, Que me traz elevado o penfamento Em mil, porém diverfas phantafias:
Nas quaes eu fempre ando, e fempre fonho; E vós não cuidais mais que em meu tormento Em que fundais as voflas alegrias.
"Hum tao alto lugar de tanto preço Efte meu pensamento pofto vejo, Que desfallece nelle inda o defejo, Vendo quanto por mi o desmereço. Quando efta tal baixeza em mi conheço, Acho que cuidar nelle he grão defpejo E que morrer por elle me he fobejo, E mór bem para mi do que mereço. O mais que natural merecimento
De quem me caufa hum mal tao duro, e forte, O faz que vá crefcendo de hora em hora. Mas eu nao deixarei meu pensamento, Porque inda que efte mal me causa a morte, Un bel morir tutta la vita honora.
Uantas penas, amor, quantos cuidados Quantas lagrimas triftes fem proveito, De que mil vezes olhos, rofto, e peito Por ti, cego, me vifte já banhados? Quantos mortaes fufpiros derramados Do coraçao, por tanto a ti fujeito? Quantos males, em fim, tu me tens feito, Todos foram em mi bem empregados. A tudo fatisfaz (confeflo-te ifto) Huma fó vifta branda, e amorofa, De quem me captivou minha ventura. Oh fempre para mi hora ditofa! Que poffo temer já, pois tenho vifto Com tanto gofto meu, tanta brandura
Tempo acaba, o anno, o mez, e a horá, A força, a arte a manha, a fortaleza : O tempo acaba a fama e a riqueza, O tempo o mesmo tempo de fi chora:
O tempo bufca, e acaba o onde mora Qualquer ingratidao, qualquer dureza; Mas naó póde acabar minha tristeza, Em quanto nao quizerdes vós Senhora.
O tempo o claro dia torna efcuro, E o mais ledo prazer em choro trifte, O tempo a tempeftade em grão bonança. Mas de abrandar o tempo eftou feguro, O peito de diamante, onde confifte pena, e o prazer desta esperança.
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