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CXVIII.

NAó vás ao monte, Nife, com teu gado
Que lá vi que Cupido te bufcava:
Por ti fómente a todos perguntava,
No gefto menos placido que irado.

Elle publica, em fim, que lhe has roubado
Os melhores fatpões da fua aljava;
E com hum dardo ardente affegurava
Trafpaffar effe peito delicado.

Fuge de ver-te lá nefta aventura Porque fe contra ti o tées irofo,

,

Póde fer que te alcance com mão dura.
Mas ai, que em vão te advirto temerofo
Se á tua incomparavel formofura

Se rende o dardo feu mais poderofo !

CXIX.

A No valle por efmalte da verdura

Violeta mais bella que amanhece

¡A

Com feu pallido luftre, e formofura,
Por mais bella, Violante, re obedece.
Perguntas-me, porque? Porque apparece
Em ti feu nome, e fua côr mais purad 3G
E eftudar em teu roito fá procura

Tudo quanto em beldade mais florece.

Oh luminofa flor! Oh Sol mais claro!
Unico roubador de meu fentido,

Naó permittas que amor me feja avaromata
Oh penetrante fetta de Cupido!
Que queres? Que te peça por reparo
Ser nefte valle Enéas defta Didov

1

T

CXX.

Ornai effa brancura á alva affucena
E ella purpurea côr ás puras rofas:
Tornai ao Sol as chammas luminofas
De effa vifta que a roubos vos condena,
Tornai á fuaviffima firena

De efla voz as cadencias deleitofas:
Tornai a graça ás Graças, que queixofas
Eftao de a ter por vós menos ferena.
Tornai à bella Venus a belleza ;

A Minerva o faber, o engenho, e a arte;
E a pureza á caftiffima Diana.

Defpojai-vos de toda essa grandeza
De does; e ficareis em toda parte
Comvofco fó, que he fó fer inhumana.

.CXXI.

E mil fufpeitas váas fe me levantam Trabalhos , e defgoftos verdadeiros. Ai, que eftes bées de amor fao feiticeiros, Que com hum naó sei q toda alma encantam! Como ferêas docemente cantam Para enganar os triftes marinheiros: Os meus affi me attrahem lifongeiros, E defpois com horrores mil me efpantam. Quando cuido que tómo porto, ou terra, Tal vento fe levanta em hum inftante, Que fubito da vida defconfio.

Mas eu fou quem me faz a maior guerra, Pois conhecendo os rifcos de hum amante 2 Fiado a ondas de amor, dellas me fio.

M

CXXII.

Il vezes determino naó vós ver, Por ver fe abranda mais o meu penar : E fe cuido de affi me magoar, Cuidai o que ferá, fe houver de fer. Pouco me importa já muito foffrer Defpois que amor me poz em tal lugar; E o que inda me doe mais he fó cuidar, Que mal fem efta dor poffo. viver.

Affi nao bufco eu cura contra a dor, Porque buscando alguma entendo bem, Que neffe mefmo ponto me perdi. Quereis que viva, em fim, nefte rigor? Sómente o querer voffo me convém. Affi quereis que feja? Seja afli.

CXXIII.

A Chaga que, Senhora, me fizeftes,

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Não foi para curar-fe em hum fó dia;
Porque crefcendo vai com tal porfia,
Que bem defcobre o intento que tiveftes.
De caufar tanta dor vos nao doeftes ?
Mas a doer-vos, dor me nao feria,
Pois já com efperança me veria

Do que vós que em mi viffe nao quizeftes.
Os olhos com que todo me roubaftes
Foram caufa do mal que vou paffando;
E vós eftais fingindo o nao caufaftes.
Mas eu me vingarei. E fabeis quando è
Quando vos vir queixar porque deixaftes
Ir-fe a minha alma nelles abrazando.

SE

CXXIV.

E com defprezos, Nympha, te parece Que podes defviar do feu cuidado Hum coraçao conftante, que fe offrece A ter por gloria o fer atormentado. Deixa a tua porfia, e reconhece Que mal fabes de amor defenganado, Pois nao fentes, nem vês, q em teu mal crece Crefcendo em ini de ti mais defamado.

O efquivo defamor com que me tratas, Converte em piedade, fenao queres Que crefça o meu querer, e o teu defgofto. Vencer-me com cruezas nunca efperes : Bem me podes matar e bem me matas, Mas fempre ha de viver meu prefuppofto.

CXXV.

Senhora minha, fe cu de vós aufente
Me defendêra de hum penar fevero,
Sufpeito que offendêra o que vos quero,
Efquecido do bem de eftar prefente.

Traz efte, logo finto outro accidente,
E he ver que fe da vida defefpero,
Perco a gloria que vendo-vos cfpero,
E affi eftou em meus males differente.
E nefta differença meus fentidos
Combatem com tao afpera porfia
Que julgo efte meu mal por deshumano..
Entre fi fempre os vejo divididos;
E fe acafo concordam algum dia,
He fó conjuraçao para o meu dano.

CXXVI.

NO regaço da mái amor estava

Dormindo tao formofo que movia
O coraçao que mais ifento o via,
E a fua propria mái de amor matava.
Ella co' os olhos nelle contemplava
A quanto eftrago o Mundo reduzia:
Elle porém, fonhando lhe dizia
Que todo aquelle mal ella o caufava.
Solifo, que graduado em feus amores,
De faber de ambos mais teve a ventura,
Affi foltou a dúvida aos Paftores:

Se bem me ferem fempre fem ter cura
Do menino os ardentes paffadores,
Mais me fere da mãi a formofura

CXXVII.

Ste terrefte cáos com feus vapores

ENão pode condenfar as nuvées tanto,

Que o claro Sol naó rompa o negro manto
Com fuas bellas, e luzentes cores.

A ingratidao efquiva de rigores
Oppofta nuvem he, que dura em quanto
Nos nao converte o Ceo em trifte pranto
Suas vaas efperanças, feus favores.
Póde-fe contrapôr ao Ceo a terra,
E eftar o Sol por horas eclipfado,
Mas nao póde ficar efcurecido.

Póde prevalecer a voffa guerra;
Mas a pezar das nuvces, declarado
Ha de fer voffo Sol, e obedecido.

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