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hão de ser as regras por onde hão de gouernar sua repu-
brica. E a fora estes & outros muylos proueytos parti-
culares que calo da historia por não ser prolixo. Tem
tambem outro com que os reys deue muyto de folgar, que
he saberem o que fizerão seus naturaes: pera que sayba
se forão bõs, que te por vassalos a seus filhos q se hão de
parecer cổ seus pays, & que os hão de seruir bể: & os
anime pera isso, com lhe fazerem merces (que he pro-
prio dos principes) o que não faze muytas vezes por não
sabere ho merecimento de seus vassalos, que se ho sou-
bessem lhas farião, o que polas historias podem saber muy
particularmente. E por todas estas rezões deuião de ocu-
parse ao menos hua ora cada dia em lição tão necessa-
ria & proueytosa. No q V. A. principe muy esclarecido,
he digno de muyto louuor, pois em idade tã pequena quer
ter esta lição dos feytos tå memoraueis como fizerão os
seus Portugueses por mandado do inuictissimo rey dom
Manuel vosso auo de gloriosa memoria, segundo se mos-
trou na continuação que teue de ouuir ho primeyro li-
uro que fiz da historia do descobrimento & conquista da
India: no que recebi tamanha & tão singular merce, que
a fora me ficar por galardão do immenso trabalho que
leuey em a fazer, me fez nouo deseio pera com mais
breuidade do que posso sayr a luz com os outros liuros
porque logrem de tamanha merce como fez ao primeyro,
& os que hão de ser vossos vassalos a recebão, em que
Vossa A. sayba as façanhas que fizerão: não soomente
com esforço & valentia, mas com conselho de muyla pru-·
dencia, & de grande viueza de engenho. E sayba que se
em Athenas ouue hi Themistocles, hum Alcebiades, &

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hu Miltiades, & em Macedonia hu Alexandre, & em Epiro hu Pirho, & em Thebas hú Epaminódas, & em Roma hu Iulio Cesar, hu Fabio maximo, dous Catões tres Scipiões, & outros muytos em geral, mas de cada hú dous tres em espicial: q tem vassalos, que não em hũ, dous, & tres no particular: mas geralmente quando he necessario, sam todos cada hum destes Gregos & Romãos, assi no esforço, como no conselho, como na presteza da execução dele, de que a mesma historia dá muytos testemunhos. E pois nosso senhor quer que vossa alteza suceda em ser senhor de taes vassalos, como esperamos em sua grande misericordia que será, despois de muytos annos. Assi auerá por seu seruiço que sucederà em se fazerể em seus tempos tão notaueys feytos darmas contra mouros, como sam feytos, & se fazem cada dia no do muyto alto & muyto poderoso rey dom Ioão vosso pay nosso senhor, que em grandeza, espanto, & fama tem muyto grande auantagem aos de seus ante

cessores.

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CONQVISTA DA INDIA.

Em que se contem o que os Portugueses fizerão, sendo della Visorey Dom Francisco Dalmeyda, do anno de mil & quinhentos & cinco, ate ho de mil & quinhentos & noue.

E assi ho que fizeram neste tempo na costa Darabia, & da Persia sendo capitão mór Afonso Dalbuquerque.

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De como partio pera a India por Viso rey dela Dom Francisco Dalmeyda: & do que passou na uiagem ate chegar a cidade de Quiloa.

Sendo

Dendo el rey de Portugal certificado os reys de Cochim, de Cananor, & de Coulão estauão certos em sua amizade não soomente em seus reynos, mas em outros estranhos fez grandes esmolas a muytos mosteyros & a outros templos, como que pagaua os dizimos dos frutos que lhe nosso senhor daua de seus sanctos trabalhos. E pera que os negocios da India fossem feytos com môres forças, & mais autoridade do que se ateli fizerà lhe pareceo bem de mandar a ela hû capitão mór & gouernador questeuesse dassento por algus annos. E tendo escolhido pera este officio hu fidalgo chamado Tristão da Cunha que cegou neste comenos, escolheo outro chamado dom Francisco dalmeyda filho do primeyro conde

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Dabrantes, que tinha feita assaz experiencia de sua pessoa em feitos que fez desforçado caualeyro assi na coquista do reyno de Grâda, como em outras partes em que se tinha achado. E estando ele a este tempo na cidade de Coimbra co ho bispo dela seu birmão, be descuidado de ta honrrado trabalho, ho mandou el rey chamar, com engeitar muytos fidalgos de sua corte que lhe pedião este carrego q ele deu a dom Francisco co palauras muy fauoraueis da confiança que tinha em sua pessoa: & lhe fez merce de grande ordenado des que partisse de Portugal ate que tornasse: & pera goarda de sua pessoa na India lhe ordenou ce alabardeiros: & assi capela & outras cousas, pera q teuesse tamanho estado como conuinha ao grande cargo q leuaua: porque por ser ho primeyro q hia coele, queria que lhe não falecesse nada pera parecer hu principe. E deulhe poder pera que em seu nome podesse cadanno tomar certas pessoas no foro que lhe bem parecesse, & conforme a ele lhes daria a moradia. E assi lhe deu mero & misto imperio na justiça, & na fazenda. E os capitulos de seu regimento forão estes que do dia q partisse de Portugal ate que chegasse à India & fizesse fortalezas em Cananor, Cochi & Coulão se chamaria capitão moor & gouernador: & feitas se chamaria visorey, & esta codicam lhe pos pera que posesse deligencia em as fazer & que de caminho deixasse em çofala hu fidalgo chamado Pero danhaya (que auia dir coele) pera fazer hi hua fortaleza, & que fizesse outra e Quiloa pera moor segurança do trato de çofala, & inuernarem ali as suas naos se não podessem passar aa India: & que fizesse outra em Anjadiua porque se a India esteuesse de guerra lha fizesse dali. Ou se tambem os reys de Cananor, Cochim, & Coulão não quisesse consentir as que mandaua fazer que terião os seus aquela onde se acolhessem & dali os conquistaria, & não auendo disso necessidade aproueitaria pera trazer ali algus nauios darmada que tomassem as naos de Meca que hião pera ho Malabar, & pera os

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