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a Nuno vaz de castelo branco que ficasse vigiado com oyto homes em huas casas grandes que descobrião ho descampado ate onde seguira ho encalço, pera ver se tornauão os immigos: que por serem muytos se temia de tornare. E ho capitão moor com toda a outra gente se foy a mezquita questaua no meo do lugar, onde achou q nhû deles faltaua, & que dezasete forão feridos na batalha, q foy cousa milagrosa segudo a pouquidade dos nossos, & a multidão dos imigos. E segundo despois se soube nosso sñor fez ali milagre pelos nossos, porq despois de partido ho capitão mor ido â vela lhe pregûtou hû mouro horrado q Nuno vaz de castelo braco tomara nas casas em q ficara vigiando, que se fizera dhû caualeyro que na batalha andaua e hû caualo branco armado darmas brancas com hu sinal vermelho no peyto, & q pelejaua co hua facha darmas, & que fazia tamanha mataça nos mouros que nhu ousaua de ho esperar. E q cria que com medo deste soo forão desbaratados. E por estes sinaes teue ho capitão moor pera si que aquele era ho apostolo Sãtiago em que ele tinha muyto grande deuação. E por não dizer ao mouro ho que era, & cresse que sempre aquele caualeyro ho ajudaua lhe respodeo q aquele caualeyro hia na frota, & era hu capitão que se chamaua loão da noua: que tinha huas armas brancas assi como as q ele dizia, de que ho mouro ficou muyto espantado. E disse ao capitão moor q não era muyto vencer qualquer poder de gente, quem tinha taes caualeyros. Pois tomada a cidade ho capitão moor ficou nela oyto dias, em q a mãdou saquear: & ho principal despojo foy de mantimentos. E assi mandou recolher a artelharia, & queymar a trãqueyra, & naos que estauão varadas: & dar fogo â vila que ardia muy bem, & mãdoulhe derribar a mezquita, qera hua casa muyto grande daboboda co hû eirado por cima, & sostinhase a aboboda sobre grandes piares de pedra. Eandando tres bombardeyros cortando os piares pera lhe poerem barris de poluora, & não an

dado dentro outra nhua pessoa, supitamête se deyxou vir a aboboda ao chão q era pera matar mil homes se tantos acolhera debayxo, mas parece que quis nosso se nhor que se visse quanto lhe aprazia de ser derribada aquela maldita casa. E quis goardar os q a derribauão que sem os ninguem desacaruar debayxo das pedras sahirão viuos, & sem aleyjão nhữa nem pisadura como q não caira sobreles cousa algua: de que ho capitão moor, & todos receberão muyto prazer, & derão muytos lou→ uores a nosso sñor por aqle milagre.

CAPIT V LO LVII.

De como a fortaleza de soar foy entregue ao capitão moor. E de como tomou por força a uila Dorfãcão, Sse partio pera Ormuz.

Partido daqui ho capitão moor foy surgir aos dezaseis

de Setebro diante de hua vila de mouros chamada çoar do señorio del rey Dormuz posta em costa braua, q ti nha hua fortaleza cercada de muro, bem prouida de gente de pê & de caualo. E ao presente não estaua nela ho proprio capitão q era ido: a ver el rey Dormuz, & deyxou nela por alcayde hu seu cunhado: que ja sabia o que ho capitão mòr tinha feyto nos lugares a tras, & cỡ medo de lhe fazer outro tato, determinou de lhe entregar a fortaleza ho mais a seu saluo que podesse. E surto ho capitão mòr (que surgio ao mar por amor da costa que era braua) mandoulhe preguntar per hũ mouro que leuou hua bâdeira de paz, que era o que queria daquela fortaleza. Ao que ele respodeo q vinha per mandado del rey de Portugal, cujo vassalo era por descobridor & conquistador pera assentar paz & amizade co que a quisesse com el rey seu señor, que visse ele se a queria, & que logo lhe madasse a reposta. Que tornou logo a madar polo mouro: dizedo que ele estaua naquela fortaleza por hu seu cunhado que era alcayde mòr

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dela: & com tudo q folgaria co a paz poys ele lha queria dar. Ao que ho capitão mór respodeo que poys ele queria paz, que ele lhe daua sua fê de em nome del rey seu señor lhe fazer todalas honrras & mercês q podesse: & que cresse q acertaua muyto em fazer o que dezia, & que erraria fazendo outra cousa: porq acharia nele ho contrairo do q lhe madaua ofrecer. E a esta reposta mandou ho alcayde pedir seguro & arrefes, porque se queria ver co ho capitão mór. E ele lhos mandou por hû fidalgo chamado Iorge barreto crasto. E entregues os arrefes trouue Iorge barreto ho alcayde ao capitão mòr que ho recebeo co muyto prazer & lhe fez muyta honrra. E ho alcayde lhe disse pelo lingoa, Muyto forte no mar, & na terra, capitão moor do grande rey de Portugal, que he mais poderoso q todolos reis, a minha noticia veo a destruição que fizeste em Curiate, & a quatos mouros tiraste a vida em Mazcate, porque não quiserão aceytar a paz que lhe ofreceste como piadoso, ho que eles de soberbos não conhecerão, & ta engeytarão. Pelo qual a tua espada se tornou irosa contreles espedaçando os de Mazcate, & ho teu fogo cõsumio os de Curiate. Que como perfiosos não querendo seguir aos de Calayate (que logo aceytarão tua amizade) ouuerão ho pago de sua contumacia, ainda que estauão tão fortes que erão mais pera serê temidos que pera temere. Mas tu que es forte sobre os fortes derribaste sua soberba, & os tornaste como fracos: & sem nhu poder. Ho que parece mais ordenado per deos que feyto per homes: porq os mouros muyto mais gête erão do he a tua. E estauão detras de fortes tranqueyras co mais artelharia do que era a tua. E vemos que tudo desbaratas tudo vences & destrues: pelo qual conhe cendo eu que deos ho quer assi: não quis pelejar contrele, porque queredote resistir a ele resistia. E pois he doudice querer resistir contra seu poder, não me quis cofiar e minha gente ne em minha fortaleza. E obedecendo a sua vontade venho assentar paz côtigo em

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nome del rey de Portugal: por cujo vassalo fico doje por diante com todos os de çoar, com condição que assentãdo tu amizade com el rey Dormuz eu fique liure, & não assentado por culpa del rey Dormuz: eu fiq vassalo del rey de Portugal da maneyra que digo. Ho capitão mor folgou muyto douuir esta fala por ser dhû barbaro, & seu imigo que bem via que a necessidade lhe fazia fazer ho que fazia. E disselhe a principal cousa em que se neste mudo conhecião os homes sesudos, era em conhecerem os tempos, & andarem coeles: especialmete se parecendolhe que conhecião a võtade de deos conformarse coela. E porque ho ele assi fazia era dino de muyto louuor por sua discrição que por ela, & não por couardia estaua craro fazer o que fazia, quanto mais que ne quantos pelejauão erão valetes, senão os que ho fazião quando era necessario. E que aqueles que pelejauão sem tempo mais se podião chamar doudos que esforçados. E pois ele teuera tão boo conhecimento ele veria quão boo amigo achaua nele, & quanto melhor The era a vassalajem que fazia que a resistencia que The podera fazer. E ali assentarão logo que ele alcayde mandaria apregoar vassalajem: assi na fortaleza como na vila, & pera mais abastança mandasse ele capitão moor lâ hua bandeyra com as armas de Portugal a qual trarião quando dessem ho pregão. E que ficando a vila & fortaleza del rey de Portugal, pagaria de tributo o que podesse abastar â gente de goarnição que a goardasse. E de tudo isto foj feita hua escriptura em arabigo, que tornada em portugues dezia, Encomendamonos a deos ho alcayde & moradores da fortaleza de çohar, & nos metemos nas mãos de Afonso de albuquerque capitão môr del rey de Portugal, & senhor das Indias, que aos desaseys dias de Setembro chegou ao nosso porto pera nos destruir, & nos nos fomos lançar a seus pês pedindolhe que nos não fizesse guerra, que queriamos ser vassalos del rey de Portugal, & se quisesse a fortaleza que lha entregariamos logo posto q fossemos delrey dor

muz: mas pois nos não defendia, q queriamos ser vase salos delrey de Portugal, que nos defendesse assi del rey de Ormuz, como de quaesquer outros reys, ou senhores, q nos quisessem fazer mal. E ele nos recebeo por vassalos del rey de Portugal, & nos deu seguro, & a sua bandeira que recebemos sobre nossas cabeças, & posemos sobre a fortaleza. E doje por diante promete-, mos destar aa obediêcia del rey de Portugal, & sermos seus vassalos, & entregarmos a fortaleza quando virmos seu madado, ou de seus capitães, & não obedecermos, a outro rey se não a ele. E assi prometemos de fazer sempre seruiço a suas armadas dalgus mantimentos que tiuermos: & fazendo ho côtrairo q ele nos possa destruir, com matar nossa gente, & queymar nossas fazendas. Porem concertado ele capitão môr co elrey de Ormuz que obedeça, a, elrey de Portugal, obedeceremos a el rey de Ormuz, & se não ficaremos por vassalos del rey de Portugal. E quato aos lauradores da terra ele capitão mòr lhe pode pôr ho tributo q quiser de mantimentos, porque não te outra cousa que pagar. E eles pagara ho tal tributo âs armadas del rey de Portugal quado aqui vierem, E porque disto somos contentes mandamos fazer esta carta que assinamos todos. E assinada ho alcayde a deu ao capitão mòr: & ele lhe deu bu capuz dezcarlata de sua pessoa, & hu bacio grande de prata; & assi outras peças, que lhe derão os fidalgos & caualeyros que hião na frota. E Nuno vaz de castelo branco lhe deu hu moçafo, que era hu liuro do alcorão de Mafamede, que foy aualiado e dozentos pardaos. E por ser ja noyte ficou a badeira que lhe auião de leuar pera o outro dia, que lha leuou forge barreto crasto acopanhado dalgus fidalgos, todos vestidos de festa, & das trombetas do capita mòr. E ho alcaide ho saio a receber be acompanhado aa praya, onde assi os nossos como os mouros caualgarão em fermosos caualos, & com as trombetas diante abalarão pera a fortaleza: ido pregoado diante, real real por el rey dom Manuel de

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