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peytaua que as dissesse. E vendo todauia os capitães que ele não declaraua capitão, estando ja a torre em altura pera se emadeyrar no primeyro sobrado, fizeralhe hu requerimento per escripto, cuja sustacia foy: q por quato era vida a moução pera ele ir goardar ho cabo de Goardafum pera o q el rey de Portugal lhe dera a armada q trazia, pelo muyto q importaua a seu seruiço goardarse lhe requerião da sua parte como seus capitães qerão, q ele ho fosse goardar, & não gastasse ho tepo e fazer hua fortaleza de que el rey não auia dauer nhu proueyto, ne era seu seruiço fazerse. E este reqrimento lhe foy dado pelo escriuão de sua armada, estado os capitães presentes. A q ele disse q ho requerimeto fora escusado, senão se lhe parecia mal o que fazia acoselharlhe como deles esperaua que ho não fizesse. E pore pois vinhão per requerimeto q ho fizesse eboora, que lhes não auia de respõder, porque não lhe auião eles de tomar cõta do que fazia senão el rey seu señor, a cujo seruiço ele sabia be qual îportaua mais, se ir goardar ho cabo de Goardafu, se fazer aquela fortaleza: porque goardar ho cabo de Goardafu era pera fazer presas, que estauão em vêtura de se fazerë, senão per crua guerra. E que o fim pera que se fazia aquela fortaleza era pera seguraça das pareas del rey Dormuz, & da feitoria que ali esperaua de ter el rey seu senhor: em q estaua ho ganho mais certo que nas presas do cabo de Goardafum: porisso que ho deyxassẽ fazer. E esta reposta na ouuerão eles por boa: porque na verdade ja que desesperauão de cada hu ser capitão da fortaleza, lembraualhes mais ho proueyto particular

farião no cabo de Goardafu nas presas (de què sempre auerião secretamete a melhor parte) que o del rey que lhes ho capitão môr representaua que se faria e Ormuz. E por isso insistirão em seu requerimento, requèrendolhe muy estreytamente que ho côprisse. E ele co menêcoria vendo qo não querião deyxar tomou ho requerimeto, & rompeoho: & roto ho mandou meter de

bayxo de hua pedra do rebate da porta da fortaleza, sẽ lhes dar mais outra reposta: o q eles sentirão muyto. E vendo q não daua por seus requerimetos, në queria responder a eles, crerão mais firmemête que ele se queria aleuantar co a fortaleza & que pera isso a fazia, & assi ho dezião nos ajuntamêtos que fazião côtra ele. E ele pelo que tinhão feyto não lhes mostrou nhua mâ võtade, antes os agasalhaua tambe como dâtes, & lhencomendaua ho seruiço del rey. Pore eles co quanto isto vião, vendo que não podia auer effeyto seu requerimento, & q nisso não tinhão remedio, conceberão grande edio contrele, & procurauão de ho danar posto que fosse acusta do seruiço del rey de Portugal. E não acharão melhor remedio pera lhe impedire que não fosse auante co a fortaleza, & ho fazere ir dali, que metelo è odio co el rey Dormuz & co Cojeatar, que se leuâlassem cotrele. E teuerão maneyra como soubesse ho requerimeto que lhe fizerão pera que se fosse : & que a causa disso era vere como se perdia ho seruiço del rey de Portugal que não lhe madara fazer ali fortaleza, senão goar, dar ho cabo de goardafu. Cojeatar folgou e estremo com aquela noua, porque se arrepedia muyto de dar lugar pera que se fizesse a fortaleza, & tinhão grande dor de a ver fazer, porque sabia que estãdo ela em Ormuz, & assi feytoria que auia logo de ser laçado de todo ho mando q tinha. E como soube a dissensão q auia antre ho capitão môr & os seus capitães pareceolhe que aquele era boo caminho pera se leuatar. E pore porque não tinha artelharia não ousou logo de ho fazer descubertamente. E viose co ho capita môr, & cometeolhe que se fosse dali, porque el rey Dormuz como vassalo del rey de Portugal acabaria a fortaleza e que poderia deyxar a gête que quisesse: & que isto lhe cometia por quato sabia q muytas naos de mercadores q vinhão pera Ormuz deyxauão de vir co medo dele: & como toda a renda del rey Dormuz era dos dereytos q lhe pagauão às mercadorias que vinhão per mar, se elas não viesse

não teria ele cô q pagar as pareas e que estaua obrigado a el rey de Portugal. E isto cometia ele não pola causa que dizia, mas cổ tẽção de matar os que o capitão moor deyxasse na fortaleza, & roubar a fazĕda que ficasse na feytoria. E assi como ho ele cuydou assi imaginou ho capitão môr q podia ser: & não lhe quis conceder o que pedia, dizědo que el rey seu senhor lhe defedia q se não fosse dõde fizesse fortaleza ate a não acabar: o que Cojeatar sospey tou que podia ser. E posto q segudo a danada teção que tinha podera daqui tomar argumento pera rõper a guerra como desejaua, dissimulou por na estar aparelhado parela, prîcipalměte de artelharia, sem q não podia fazer dano aos nossos. E andando nisto teue maneyra como aquirio dos nossos quatro fudidores dartelharia. s. dous dartelharia de metal & dous dartelharia de ferro: & tres erão gregos & hu Portugues mulato, & natural da ilha da Madeyra: & todos andauão narmada por marinheyros, & estes lhe fundirão secretamête por muy grossas peytas algus tiros de metal & de ferro, & lhe descobrirão mais largaměte a dissensão q auia antre ho capitão môr & os capitães sobre ho fazer da fortaleza: & quão poucos os nossos erão. Ho que deu ousadia a Cojeatar pera se leuantar. E pera auer causa de se rõper a guerra fez cô aqles quatro que ficasse coele, & se fosse pera a terra firme: & q se ho capitão môr lhos mädasse pedir q lhos não daria: & sobristo se rõperia a guerra. E determinado nisto madou fazer gête â terra firme, que entrauão na cidade como mercadores. E tudo isto fazia co tanta dissimulação q ho não entèdia ho capitão môr. Esta dissimulação durou assi algus dias, não somête & Cojeatar, mas nos mouros da cidade, que tambe se ecobrião ate ver e que paraua a fudição da artelharia que os quatro Christãos fundião. E como eles virão feytas alguas peças com ho aluoroço delas começarão logo de se epolar côtra os nossos quando hião â cidade, dandolhe encotros, & encarado neles frechas embibidas nos arcos, en

tão deyxauanas cair: & riase como que lhe qrião fazer medo: & assi lhe fazião outras sobraçarias, em q os nossos atentarão: & disserano ao capitão môr, q consirando o q lhe os seus capitães requererão acerca de sua ida, & oq lhe Cojeatar despois disso cometera, & oq agora os mouros fazião estando dantes coeles muito couersaueis, pareceolhe mal & creo que aquilo era vespera dalgu aleuantamento, & qos mouros deuião de ter sabido qua pouca gête tinha: & por essa causa the pareceo que era têpo de dissimular, & não mandar aos seus se vingassem logo, como â primeira, senã que dissimulasse como co seus amigos, & assi lho mãdou: & eles assi ho fazião porě ele mãdou logo asestar dous tiros grossos e dous paraos, & mandou os surgir junto da terra e que estaua, sem dar conta a ningue da causa porq ho fazia.

CAPIT VLO LXVII.

De como Coieatar se lcuãtou côtra ho capitão mor & se começou a guerra antreles.

Andado

ndado isto assi os nossos q füdia a artelharia a Cojeatar, acabarão de fazer dous falcões pedreyros, & algus berços de metal, & outros tiros de ferro. E pera se Cojeatar aproueytar deles no q esperaua mandou abrir no muro das casas del rey (questaua da parte do mar) bobardeyras pareles, ficado çarrada a face da parede da banda de fora, porq os nossos as não visse & entĕdessẽ o q determinaua. E como ja tinha madado auiso â ilha de Bahare & â cidade de Lara q lhe mandasse armada, & ele tinha na cidade muyta gente & artelharia q lhe abastasse pera começar a guerra, pos e efey to ropela. E pera parecer q a não rõpia sem causa, cometeo aos nossos quatro q se fosse pera elrey Dormuz, & eles ho fizerão. Ho que sabido pelo capitão môr acabou de cofirmar o q lhe parecia do leuatamêto dos mouros: & dis

simulado ainda mandou dizer a el rey & a Cojeatar pelo feytor q se chamaua Pero vaz de caminha q lhe fugirão quatro Christãos pera a cidade o q ele cria que eles não sabia, q lhes pedia q logo lhos mädassẽ. A este recado el rey & Cojeatar se fizerão muy espatados, dizedo q não sabião parte disso: pore que logo ho saberia, & castigaria muyto be que os acolhera & lhos mandarião: & dali a dous ou tres dias mandou el rey dizer ao capitão mór que ele & Cojeatar madarão fazer diligencia sobre se buscare os quatro Christãos q dizia q fugirão pera a cidade, & que acharão q forão lâ ter; pore que logo se passarão a terra firme, & dizião que cô receo de os ele madar pedir & lhos entregarem. Desta reposta ficou ho capitão môr muy descõtěle: porq The pareceo escusa de lhos não dare, q bẽ sabia que sabião fudir artelharia, & por isso lhe pesaua q adeuinhaua ho pera q Cojeatar os queria: & co tudo dissimulou por se achar co tão pouca gête como tinha, & daua pressa â fortaleza se acabar: de que hua das torres era ja sobradada no primeyro sobrado: & tinha è quoadra vite & hu couados de vão. E nisto hu mouro mercador horrado q era grande seu amigo, & se chamaua Coje abrahe lhe deu auiso muy secretamête do q Cojeatar determinaua de fazer, & da artelharia q lhe os quatro Christãos tinha feyta, & quãta era, & da maneyra que estauão as bõbardeyras, & como tinha os Christãos: & que eles forão os q lhe descobrirão qua pouca gête tinha, & a dissensão e questaua co os seus capitães sobre estar ali: & q algus deles forão causa de Cojeatar auer os quatro Christãos. Do que ho capitão môr ficou fora de si dauer antre Christãos tamanha maldade, que por lhe auere enueja ofedião tão grauemente a deos & a el rey. E pore calou este auiso porque sabia quanto os capitães auia de folgar co se os mouros leuantare: os quaes cada vez erão mais soberbos côtra os nossos: & dizialhe-q não auia Mafamede de querer q ta poucos como eles erão fizesse fortaleza em sua terra. Ho q sabido

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