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Manuel paçanha, & a Iorge paçanha seu hirmão. A do castelo dauate deu ao feytor da armada q se chamaua Frãcisco de nouaes. E nisto se vinhão chegando as naos dos Rumes tirando muytas bombardadas a dom Lourenço. E vendo ho contra mestre que estaua no paraò como se ele não queria saluar, não quis mais esperar com medo dos immigos, & foyse pera onde estaua os outros capitães surtos, que por a agoa decer rija & não auer viração não podião ir socorrer dom Lourenço: posto que ho desejauão muy to, principalmete Payo de sousa que ainda então trabalhaua ao logo de terra se co a reuessa dagoa ho poderia socorrer. E Pero barreto que estaua acima dos outros capitães que estauão surtos foy ho primeyro que vio ir ho contramestre no paraô, & preguntoulhe como hia assi. E ele por na dizer que fugia disse que lhe mandaua dizer dom Loureço que ho socorresse: então chegou a bordo & lhe contou como ficaua. E logo Pero barreto se foy no paraó â galê de Diogo pirez, onde tambe foy Duarte de melo: & sabendo como dom Lourenço estaua, determinara de ho ir socorrer na mesma galé: dizendo Duarte de melo a Diogo pirez que em sua mão estaua a saluação de dom Lourenço q remassem todos & que lhe iria socorrer, & saluarião a ele & a gente, & deyxariño a nao ou a estarião defendendo ate que viesse tempo pera se sairem. & Diogo pirez chorando muytas lagrimas pedia a todos que socorressem do Lourenço, o que he de crer pois ele ho criara: & que não podendo ir dereytos â nao por a corrente ser grande, atrauessarão a terra pera ir ao longo dela, parecêdolhe que não seria laa a agoa tão tesa que os remeyros a não vencessem: mas não foy assi, porque como eles hia muy to cansados do dia passado, & deles feridos, não poderão fazer cousa com q surdissem auante: ho que vendo Pero barreto & cuydando que ho fazia acinte começou de os ferir com a espada, & não aproueytou que eles não podia mays: & nisto matou obra de sete deles, & assi ferio algus dos nossos, que quisera

fazer remar que tampouco nã poderã, & entã nã curou de mais perfiar, & tornouse pera a sua nao pera esperar a viração com que ele & os outros iria socorrer a dom Lourenço, a quem em quato a galé de Diogo pirez assi andaua, os mouros derão tãta bõbardada que lhe desfezera todalas obras mortas da nao. E era cousa de pasmo como se os nossos defendião a tanta multidão dimigos & de tantas frechadas que cobrião ho ceo & assi de tantos tiros dartelharia, cuja fumaça era tamanha que tudo cercaua de neuoeiro, & a grita dhus & doutros era tam grande, que parecia que estaua ali todo ho mundo. Mirocem que era chegado com a sua frota estaua espantado da valentia dos nossos: & porque tambe The matauão dos seus com a artelharia os quisera abalroar, mas não pode, porque dom Lourenço com os seus lho tolherão, que pelejauão, como homes que se querião vingar antes q morressem, & matauão, & ferião muytos dos imigos. E se a outra frota os podera ajudar aquele dia acabarão os rumes. E nesta reuolta foy dom Lourenço ferido dhua bõbardada que lhe leuou hua coxa, & cayo: os seus ho leuatarão muyto tristes por ho assi vere: & ele os esforçou, & mandou que ho assentassem em hua cadeira ao pê do masto, & dali esforçaua os seus. E nisto lhe deu outra bombardada nos peytos que ho matou. E logo foy leuado junto do fogão, onde se foy lançar sobrele hu seu camareiro chamado Lourenço freyre, chorando sua morte: & hi foy tambẽ morto. E a nao estaua ta rasa que mais parecia pote que nao: & toda estaua cuberta, assi ho cõues, como a tolda & a proa, de pernas & braços, & de muytos corpos mortos, assi dos nossos, como dos îmigos, q nesta peleja quatro vezes entrara a nao & outras tantas os deitarão os nossos fora: que aquele dia forão todos tam valetes, & fizeram taes finezas, que parece que as não crerâ se não quem as vio. E por derradeiro não ficando mais que muyto poucos dos nossos, & estes muyto feridos, foy a nao etrada dos Rumes que começarão

de bradar, Canalha debayxo de cuberta senão todos andareis a espada, ho que algus dos nossos fizerão, & outros se auenturarão a ficar encima. Entrados os Rumes na nao forase logo obra de cento & tantos debayxo de cuberta pera a roubar que não auia quem a defendesse. E como ela tinha muyta agoa com ho peso desta gente assentou na area, ficando descuberta dagoa ho conues, tolda & proa: & por isso os que ficarão encima forão saluos: & os que forão abayxo assi Rumes como nossos todos se afogarão. Meliquejaz como vio a nao assentada acodio logo, & saluou os nossos que forão dezanoue, & estes estauão tão feridos que nào sentiào nada: & Meliquejaz os tomou pera si, & assi a hum marinheyro natural do porto chamado Andre fernandez que foy dos que ficarà encima de cuberta, & se acolheo â gauia da nao onde todo aquele dia & parte do outro seguinte se defendeo tambem dos Rumes, que nunca ho poderão tomar: ne nunca se dera se lhe Meliquejaz na madara hum seguro â gauia. Assi acabou dom Lourenço & os oytenta Portugueses que com ele morrerão, antre os quaes forão, Ioão rodriguez paçanha, Iorge paçanha, Antonio de são payo, Diogo velho, ho foytor darmada, & hum hirmão de Pero barreto. E assi outros a que não soube os nomes, & dos que escaparão hum foy Tristão de Gaa: & outro Bastião rodriguez que agora he escriuão da casa da moeda.

CAPITV LOLXXXI.

Do que fizerão os outros capitães despois da morte de dom Lourenço: & do mais que fizerão os immigos.

Metida

Letida no fundo a nao de do Loureço duas naos dos Rumes passarão logo auate pera ir pelejar co a nossa frota cujos capitães vendo sumir a nao de do Loureço Quue algus q leuarão logo ancora, & derão âs velas & partira, & estes forão Antonio lobo teyxeyra, & Fracis

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co danhaya; & algus querem dizer que picarão as amarras com pressa de se ir parecedolhe que os auião os immigos de tomar. Mas na ho fez assi Pero barreto, & estandose leuado, chegou Payo de sousa donde estaua surto, vendo que ja não aproueytaua estar ali mais: & disselhe que fazia porq não daua â vela que ja não tinhão sobre a terra porque esperaua. Ele lhe respondeo que bem ho sabia por seus pecados mas que não auia de deyxar nhua ancora ainda que os immigos viessem. Eleuada ancora, & dado ho traquete porq ho vento era fraco, deulhe Payo de sousa hum cabo pera ho leuar â toa, porque lhe não acotecesse outro desastre como a dom Lourenço. E indo assi adiantouse hùa nao dos immigos. E determinando Pero barreto de pelejar coela, disse a Payo de sousa que lhe alargasse ho cabo, & esperouha: ho que vêdo os immigos surgirão, parece que com medo de pelejar com os nossos: de q ouue algus que em a nao amaynando se lançara no esquife, o que pareceo a Pero barreto era com medo, & dissimulando, despois que a nao dos Rumes surgio fez recolher os do esquife, & reprendeos da couardia que entendera neles: do q se eles disculparão dizedo que ho não fizera senão pera reuocar à nao se fora necessario. Pore hu castelhano que hia coeles, chamado Gonçalo tareiro disse perante todos a Pero barreto, que todos ho fizerão com medo dos Rumes: porque ho seu fora tamanho q quisera ter asas pera voar, quãto mais batel pera fugir. E vendo Pero barreto que a nao dos immigos se detinha, & q a sua frota se chegaua tornou a dar ho traquete, & partiose com Payo de sousa indo os immigos apos ele: & quando chegarão â barra virão ir os outros nossos nauios bem lonje dela. E se mais tardarão hum pouco em sair não poderão escapar a Mirocem, que parecendolhe que os nossos se hião com medo creceolhe mais a soberba que tinha pela morte de dom Loureço: & quisera seguir os nossos co sua frota sômente, com determinação que se os não podesse alcançar de ir in

uernar â ilha de Goa: porque no verão seguinte se achasse mais perto do visorey pera pelejar coele: & teria de sua mão a cidade de Goa que tinha boo porto, & era abastada de muytos mantimentos. E se alcançasse os nossos & os desbaratasse ir se a Calicut, & ajuntarse com el rey em hu corpo pera ficar mais poderoso. E isto disse a Meliquejaz, q lhe conselhou que ho não fizesse, porq a sua frota estaua muyto danificada da artelharia dos nossos, & como saisse ao mar logo se auia de ir ao fundo, que melhor seria repayrala pera a poder leuar a Diu, õde se aperceberia pera ho verão seguinte, & assi ho fez. E hi ouue algua deferença antre Meliquejaz, & Mirocem sobre quem leuaria os catiuos que escaparão da nao de dom Loureço: porque Mirocem os queria pera os madar ao Soldão pera testemunhas de sua vitoria. E Meliquejaz lhos não quis dar, & ficarão em seu poder. E a todos Meliquejaz mandou curar muyto bem & tratauaos como a liures, porque os estimaua muyto por saber quão bem pelejarão. E trabalhou logo por saber se era algu deles do Loureço: & sabendo q era morto mostrou q lhe pesaua muyto. E mãdou buscar ho seu corpo pera lhe dar sepultura, mas não se pode achar, & tabem quisera tirar fora a sua nao & não pode, porem despejouha da artelharia & de quanto estaua nela per mergulhadores. E repayrada a frota de Mirocem pera poder sofrer ho mar ate Diu partirase. E chegando la lhes foy feyto muy festejado recebimento. E assi el rey de Cabaya, como todos os principaes do reyos mandarão visitar: & despois todos os reys & senhores da India, que a todos foy ter aquela noua, & não que fora hua sò nao nossa metida no fundo, nem da maneyra que foy, senão que fora a peleja com toda a nossa frota de q hia por capitão môr ho filho do visorey que morrera na batalha com todos os de sua companhia, & a sua nao metida no fundo & seus capitães desbaratados & fugidos. Porque os mouros da India como querião mal aos nossos, & deseiauão de ver a terra

no,

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