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rão hua entena com hu reposteiro por cima de q fizera tranqueira & ali se defendião. E achando ho comendador aqui menos a Iorge botelho preguntou por ele, & sabendo ondestaua entendeo ho porque ho fazia, & foythe pedir perdão de ihe não dar nhua capitania na nao, & leuouho â peleja, em que ele ajudou de maneyra q forão mortos os immigos que estauão na nao & dos outros não entrou mais nenhu: mas vendo que achauão tamanha resistencia, desaferrarão os nossos, de que não ficou nenhum que não fosse ferido. E partido dali ho comendador deulhe tamanha tormenta por ser ja inuerno que escorreo Cochi, & foy ter ao cabo de Comorim, & acolheose detras dele. E por terra foy noua ao visorey que estaua ali aquela nao, & não quem era ho capitão dela, & que tinha muyta gente ferida, & que estaua em grande necessidade. E pareceo ao viso rey que seria Afonso dalbuquerque: & porque sabia que não podia tornar a Cochim se não em Setembro, & que auia dinuernar ali, rogou a Garcia de Sousa que fosse lâ leuarlhe mézinhas pera os feridos, & hu estrem da nao de João da noua pera a nao estar mays segura no mar. E com quanto a ida era muy perigosa q era inuerno, Garcia de sousa se partio por ser seruiço del rey, & deulhe nosso senhor tam bom tempo, que chegou onde estaua a nao, & deu hua carta do viso rey ao rey daquela terra pera que mandasse dar mantimento aos nossos & lhes fizesse bom gasalhado, & ele ho fez assi. E de tudo isto mandou Garcia de sousa recado ao viso rey por terra. Que aquele inuerno se apercebeo pera pelejar com Mirocem no verão seguinte, que ele dilatou, porque não podia hir a buscalo por terra. E por quebrar ho coração aos mouros, com cuydarem que tinha muyta certeza de vijrem aquele anno muytas naos de Portugal, & mais que tinha grande tesouro, mandou com licença del rey de Cochim lançar pregão em sua cidade, que quem quisesse leuar pimenta aa feytoria que lha pagarião logo, & que ninguem a desse fiada aos mouros so

pena de a perder. Com o que lhes a eles pesou muy to, assi por cuydarem o que ho visorey queria que cuydassem, como porque perdião muyto em se lhe não vender a pimenta fiada, que tinhão em costume de a comprarem assi aos gentios, & despois regatauão coela, & a vendião na nossa feitoria, onde ganhauão grossamente. E coeste ardil ouue ho visorey assaz de pimenta, & deu mà vida aos mouros.

CAPITOLO LXXXIIII.

Do que aconteceo aos capitães mores que inuernarão em Moçambique.

Tristã da cunha como atras fica dito partio de Cana nor pera Portugal a sete de Dezembro, chegou a Mo çãbique aos noue dias de Ianeyro de mil & quinhentos & oy to co tres naos da sua frota, onde achou os quatro capitães môres que hi inuernauão. E a nao de Lionel coutinho que hia com Tristão da cunha se achou tão a→ berta que por não ser pera nauegar a deixou em Moçambique com recado a Anrrique nunez de lião que baldeasse no seu nauio a carrega que ela leuaua, & se fosse pera Portugal: pera õde se Tristão da cunha partio a dezasete de Ianeiro: & de caminho descobrio a ilha da Ascensam, & chegou a Portugal. E despois de sua partida chegou a Moçãbique lob queymado capitão da sua côserua, & assi ho nauio sancto Antonio: & partirão em companhia Danrrique nunez de lião pera Portugal a onze de Feuereyro: & do cabo das correntes, arribou Iob queymado a Moçambique, & pos a sua nao a monte & tornouse a partir a noue de Março. E antes disto estando Iorge de melo pereyra, Diogo de melo, & Martim coelho que hi inuernauão esperando, pera com os primeyros ponentes partirem pera çacotorá a visitar Afonso dalbuquerque, chegarão Fernão soarez, que partira de Portugal ho anno passado, por capitão

mór de Ruy da cunha, & de Gonçalo carneyro que tambem chegarão coele. E Felipe de crasto capitão mòr de Iorge de crasto seu hirmão. E chegados estes capitães, porq era em março & esperauão cada dia por ponentes com que podião nauegar pera ho cabo de Goardafum & pera a costa Dadem, acordarão todos que seria bem que fizessem hua cabeça que os regesse, & fossem fazer algum seruiço a el rey de Portugal pois auião dinuernar seys meses em Moçambique: & que fossem tomar Adem, como Tristão da cunha tomara çacotorà. Porem forão muy discordes na eleyção que Fernão soarez disse que fosse a cabeça feita por vozes. Iorge de melo pereyra que por sortes, Iorge de crasto q gouernasse cada hu deles âs somanas pera que não ficasse nenhu descontente, & coisto se não poderão concertar. E tambem jurarão os mestres & os pilotos que não sabiao yr a Adem, & que não tinhão ancoras në amarras & os capitães se forão coeles, & assi não fizerão nada. E por ventarem ponentes partiranse Diogo de melo, & Martim coelho pera ho cabo de Goardafum a treze de Março, cinco dias andados da quaresma: & Iorge de melo não foy coeles por ho seu piloto estar doente, & ficou co os outros capitães.

CAPITOLO LXXXV.

De como ho capitão mór Afonso dalbuquerq inuernou em cacotora: & passado ho inuerno se tornou a Ormuz, & de como tomou a cidade de Calayate.

Diogo de Melo, & Martim coelho a hião caminho do

cabo de Goardafu, chegarão a Melide vespera de nossa senhora de Março, onde acharão Francisco de tauora capitão do rey grande q Afonso dalbuquerque mandou buscar mantimentos, & esperarão por ele ate quatro Dabril q partirão dali todos, leuando côsigo Cide Mafamede, & loão sanchez, & Ioa gomez ho jardo, q ainda el

rey de Melinde não tinha mandado ao preste: & leuarannos pera os Afonso dalbuquerque mandar: & indo seu caminho aos sete dias do dito mes, tomara todos tres hua nao de mouros defronte de Magadaxô: a qual se lhe entregou sem peleja: & roubada a queymarão, & partidos dali chegarão ao cabo de Goardafu aos dezoyto Dabril, onde acharão surto ho capitão môr A fonso dalbuquerque, q hia em tres meses que ali estaua: & em todo este tempo se não tomara mais q hûa sò nao de mouros que hia das ilhas de Maldiua pera ho estreito: & hia nela por capitão hu turco que sem peleja se deu a Iorge da silueira, & a Nuno vaz de castelo branco que era quadrilheiro môr das presas. E nesta nao foy tomado hu mouro mercador q despois madou ho capitão mòr a el rey de Portugal pera lhe dar rezão do Cayro, & de Meca, & do Prestejoão, & lâ se tornou Christão, & el rey foy seu padrinho: & chamouse Miguel nunez, como ho seu tesoureyro q entã era. Chegados estes tres capitães ao outro dia que era quarta feira de treuas forão visitar ho capitão mór â sua nao: & ele lhes fez muy alegre recebimento: & assi foy ele muy ledo por sua vinda. E sabendo ele como trazião Cide Mafamede & seus companheiros pera yrem ao Preste ordenou de os mandar, como madou a sesta feira dendoenças que forão vinte hum Dabril, dandolhes cartas que tinha del rey pera ho preste: & assi lhes deu mais dinheiro do trazião pera sua despesa & per Nuno vaz de castelo branco os mandou leuar a hua pouoação de mouros chamada Felix, que està tres legoas do cabo de Goardafum: & madoulhes que dissessem que erão mouros que ele trazia catiuos, & que lhe fugirão naqle esquife: & assi ho fizera: & estes homes fora ter ao Preste, & per eles soube a raynha Helena may do Preste que então era, como os Portugueses adaua na India, & mandou Mateus por embaixador, como direy a diate. Partidos estes pera ho Preste, ho capitão môr se deteue aïda dez dias no cabo pera ver se passaua algua nao: & vendo

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que não vinha por ser ja entrada dinuerno, se partio pera çacotorâ aos dous dias de Mayo, onde chegou aos quatro. E por Fracisco de tauora não trazer de Melinde tantos mantimentos como erão necessarios, mandou recolher as mais tamaras que pode auer da ilha, sobre ho que ouue algua desauença antre os da terra & os nossos. E com tudo se pacificou. E passado ho inuerno que teue em çacotorà deixando a fortaleza prouida ho melhor que pode, se partio em dia de nossa senhora Dagosto caminho do cabo de Roçalcate, co determinaçam de tornar sobre Ormuz, & de caminho vingarse do Xeque de Calayate da descortesia que lhe fizera quando per hi passou da outra vez. E de caminho deu em seco de quatro braços perto da ilha da Maceira: & se ouuera toda a frota de perder: & aos vinte cinco Dagosto foy ter a Calayate. E porque sabia que que a cidade era grande & tinha muyla gente, & ele muy pouca quis vsar de hûa manha. É obra de duas legoas antes de Calayate mandou a Nuno vaz de castelo branco que era capitão de hua fusta q fez em çacotorà, que fosse diante : & se da cidade viessem a ele que pregûtasse pelo capitão mòr del rey de Portugal, se estaua em Ormuz ou õde era, & se acabára a fortaleza & que gente estaua nela. E preguntasse tambe por el rey Dormuz como estaua: & se lhe pregûtassem que naos erão aquelas, que dissesse que era de Portugal, & que detras vinha hua grossa armada: & que pregûtasse se passarão por ali algus nauios de Portugal. E madou que fossem na fusta do Antonio, Iorge da silueira, & outros: porq se fosse cousa que quisessem tomar a fusta que ouuesse quem a defendesse. E indo Nuno vaz caminho da cidade achou a meyo caminho hûa almadia em que vinhão dous mouros honrrados, que madaua ho xeque da cidade a saber q naos erão aquelas. E despois de se saluarem hus aos outros, disse ho comitre da fusta que sabia falar a lingoa persiana, que se chegasse, porque aquelas naos erão de Portugueses que erão gente amiga. E os mouros

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