Imagens das páginas
PDF
ePub

couidar pera a cea, o que Afonso dalbuquerque fez como surgio: & foy recebido do visorey com muyto prazer, & despois de cea se tornou a dormir a sua nao. E ao outro dia indo a terra ouuir missa com ho visorey pera jantar coele soube dos capitães que aquele anno vierão de Portugal, & assi de Loureço de brito a carta que tinha del rey pera entregar a fortaleza a dom Afonso de noronha, ou a Afonso dalbuquerq se ele não esteuesse na India. E assi em acabado de comer ficado sô com ho visorey ele lhe disse como el rey ho mandaua ir aquele anno pera Portugal, & que The entregasse a gouernança & isto era em hu capitulo dhua carta missiua, porque na nao sam Ioão vinha a via em que vinha tudo o que se auia de fazer, & a nao pera se ir nela: & que se a nao viesse que ele se hiria pois lho el rey mandaua. Ouuido isto per Afonso dalbuquerque determinou de mostrar a prouisam que tinha, & requerer ao visorey que lhe entregasse a gouernaça da India, & se fosse: & mandando á nao por a prouisam, pedio a Lourenço de brito, Fernão soarez, & a Ruy da cunha q fossem coele ao visorey pera perate eles & Datonio de Sintra, que seruia de secretario por Gaspar pereyra que ficaua em Cochi lhe dizer hùa cousa que compria a seruiço del rey: & eles forão â nao onde ho visorey estaua a que Afonso dalbuquerque disse q ele tinha dito que el rey seu senhor ho mâdaua ir pera Portugal, & que ele ficasse por capitão mór & gouernador da India: ao q ho viso respondeo que era verdade que em hũ capitulo dhua carta geral lhe dizia que auia por bem que aquele anno se fosse pera Portugal: & com tudo que aquilo não fazia ao caso porque ele mädaua a nao sam João em que vinha a via do q se auia de fazer, q se viesse veria o S. A. mandaua, & assi ho faria. Deu enta Afonso dalbuquerq a sua prouisam a Antonio de sintra, & disselhe que a abrisse por virtude do sobrescripto q dezia q se abrisse aqla prouisam quãdo A főso dalbuquerq ho requeresse: & isto era assinado co ho si

nal del rey de Portugal, & a prouisam vinha çarrada & asselada. Abrio Antonio de sintra a prouisam que era pelo teor da do visorey, & com ho mesmo ordenado q erão seyscētos mil rs cadano, & que empregasse dous mil cruzados despeciaria cadano carregados ao meyo: & q quãdo fosse pera Portugal podesse carregar despeciaria a camara do cirne de pagaria em Portugal quarta & vintena. Lida a prouisam per Antonio de sintra, ho viso rey disse o q ja tinha dito. E vedoo Ant. de sintra agastado disse, q ainda q ağla prouisa viesse çarrada, & fosse vista, q se calasse, & q ele a tornaria a çarrar como vinha. Ao q Afõso dalbuquerq respõdeo q se ele aquilo costumara & costumaua q não queria que ho costumasse naquela prouisam, porq os poderes & prouisões de S. A. quado se abria não se auião de tornar a cerrar sem ho ele mandar. Respõdeo então ho visorey q ele estaua de caminho cô ajuda de deos pera ir pelejar cô a armada do soldão q estaua è Diu, où onde quera achasse: a qual esperaua è deos de desbaratar, & vingar a morte de seu filho, onde esperaua de fazer muyto seruiço a deos & a el rey: & q ainda corria ho tepo de sua gouernaça ate todo janeyro qra ho tempo q as naos da carrega tinhão pera podere ir a Portugal, & q ainda estaua na entrada de Dezĕbro. A fonso dalbuquerq lhe disse q quanto ao que dezia que queria esperar pela nao sam Toão pera fazer o q el rey mandasse, que isso era escusa pera o na fazer, pois ho não fazia mandandolho el rey duas vezes, hua na sua prouisam, outra na carta q dezia que lhe escreuera, a qual chamaua géral, que sendo del rey não motaua mais ser geral que especial pera se auer de fazer o q nela mãdasse, quanto mais que a vinda da nao estaua muy incerta de ser aqle ano porquanto na tinha vindo ate li, sendo todas as outras naos vindas auia tanto. E que se qria coprir ho madado del rey, tinha ali & em Cochi cinco naos de carga, & Bele que viera ho outro anno q era de cccc. toneis, e que podia ir be agasalhado, &

leuaria as outras debaxo de sua capitanía, & q ele iria pelejar co a armada do solda, & vingaria a inorte de seu filho. E co tudo ho viso rey respôdeo q não auia de ir sem vir a nao sam loa pera saber inteiramête o q el rey mãdaua q fizesse. Afonso dalbuquerq disse que ja tinha dito oq auia de dizer, & recolheo sua prouisa, dizedo a Antonio de sintra q fizesse assento do q requerera ao viso rey, & assi foy feyto, & nã quis gastar mais pratica sobre aquilo que vio q era por demais: pore ofreceose ao viso rey pera ir coele naquela viage: & ele não quis, dizedo que vinha casado, que seria bě descasar ali em Cananor, onde ficaria na fortaleza, porq Loureço de brito folgaria de ir coele, ou e Cochi. A fonso dalbuquerque disse que como não fosse co sua señoria que antes queria ficar em Cochim.

CAPITOLO XCIII.

carga.

Como se Afonso dalbuquerque partio pera Cochim, & pera Portugal os capitães das naos de Assentado isto disse ho viso rey q fossem coele Marti

coelho, e do Antonio nos seus nauios, & assi Francisco de tauora na sua nao q chegou dous dias despois Dafonso dalbuquerque, & trouue hùa carta de dom Aföso de noronha ao visorey em q lhe screuia como ficaua muyto; doete, & cô grande necessidade de mantimentos, pedindolhe que ho socorresse coeles. E logo ho visorey quisera mandar hu nauio co mantimentos a socorrerlhe, mas disselhe Afonso dalbuquerque que não mandasse: porq ate todo Ianeyro erão tamanhas çarrações de neuoa sobre a ilha qa não poderia topar: & q ate entã se poderia soster a gête da fortaleza co ho mantimento: q lhe deixara, que era milho & tamaras. E praticado se sobresta fortaleza quão sem proueito era, & quão mao conselho fora poerse ali gête conselhauão Lourenço de brito & Fernão soarez ao visorey qa madasse derribar :

[blocks in formation]

ele disse que ainda q lhe assi parecia & ho na auia de fazer pois lhe elrey não mandaua q ho fizesse. E vendo ele como Afonso dalbuquerq auia de ficar em Cochi, & parecedolhe ho requerimento & lhe fizera de lhentregar a gouernança era co necessidade de dinheiro, ou quiça por ho afagar lhe mandou dizer por Antonio de sintra, q do ordenado & quintaladas q ele visorey auia dauer ağle ano, lhe aprazia darlhe o q lhe el rey orde naua pera quãdo teuesse ho cargo de gouernador da India: o q Afonso dalbuquerq lhe mandou ter muyto em merce & ho visorey, o qual screueo ao feytor de Cochi que lho desse: & assi á Iorge barreto q se A főso dalbuquerq quisesse pousar na fortaleza, q ho agasalhasse. E antes q Afonso dalbuquerq partisse pera Cochi: mãdou ao visorey duas perlas muito ricas que lhe Cojeatar dera em descoto dalgua parte das pareas que auia de dar. E ho visorey preguntou a Gaspar o q fora judeu que valião, & ele disse que muytas vira, mas não taes, ne de tanto preço: & que lho não sabia poer porq valião o q lhe posessem. E ho visorey tornou a mandar as perlas a Afonso dalbuquerq, dizendo que as mãdasse a el rey se lhe be parecesse: & ele as êtregou a Fernão soarez & assi os quatro frecheiros & tomou sobre Ormuz como a tras disse, os quaes lhe deu vestidos de cabayas de borcadilho carmesim, & seus carapuções de cetim carmesim, & suas fotas finas & adagas ricas, co baynhas de prata anilada & dourada: & assi erão as baynhas das limas das frechas, & as citas: & lhe deu mais hu fio de cotas daljofar grosso pera a raynha. E isto ĕtregue partiose pera Cochim leuando Nuno vaz na fusta: & fazia ho cirne tanta agoa que lhe entraua peixes pelas costuras, & seys bõbas lha não podião quasi vencer a agoa, & leuaua por popa a nao que do Antonio tomou aos ilheos de Batecalà, pera se partir em Cochim a carga leuaua. E atraues de Panané o alargou cỡ hữ terrenho lhe deu: & chegado a Cochi não quis pousar na fortaleza, por não pousar co Iorge barreto, por al

gua desauença q auia antreles, posto q lhe acôselharão q se apousetasse nela, porqsteuesse de posse quando ho viso rey viesse, porê não quis & agasalhouse em huas casas de Antonio real. E logo madou fazer outras pera pousar co os seus: & madou as cercar a redor dhua estacada forte. E como Gaspar pereira soube a prouisam q trazia, porq queria mal ao viso rey se ajutou coele, dizědolhe q seria de sua parte, & lhe ajudaria a reqrer ao viso rey q lhe desse a gouernaça. Mas afonso dalbuquerque disse q não tinha necessidade dajuda. & despois de partido A foso dalbuquerq pera Cochim, se partirão os capitães que hião pera Portugal, & perderanse Ferna soarez & Ruy da cunha q nuca mais parecerão, & os outros chegarão a Portugal no ano de noue & todas passarão se não Tristão da silua que inuernou em Moçambique.

CAPITOLO XCV.

De como ho uisorey partio pera Diu em busca dos rumes: & de como chegou á cidade de Dabul. Partidas as naos pera Portugal, partiose ho visorey pera Diu em hùa segunda feira que fora doze dias de Dezebro de mil & quinhetos & oyto, leuou dezoyto velas. s. cinco naos grossas de q erão capitães Ioão da noua, esta era a capitayna, Iorge de melo pereyra, Nuno vaz pereyra, Francisco de tauora, Pero barreto de magalhães. E quatro nauios de gauea, de que erão capitäes Garcia de sousa, Manuel telez barreto, dom Antonio de noronha, & Martim coelho. E quatro carauelas redondas, de que erão capitães Antonio do campo, ho comedador Ruy soarez, Felipe rodriguez, & Pero ca. E duas carauelas latinas, capitães Aluaro paçanha, & Luis preto. E duas galês, capitães Payo de sousa, & Diogo pirez. E hu bargatim de q era capitão Simão martinz. É em todas estas velas irião mil & duzetos ho

« AnteriorContinuar »