Imagens das páginas
PDF
ePub

ça da India a quem el rey mandaua. Compilarão hua capitulação côtra Afonso dalbuquerque por consentimeto do visorey, porque leuasse auate o que tinha começado, porque tambè receaua que vendo ho pouo como queria gouernar por força se leuantassem com Afonso dalbuquerque, & ho desposessem de visorey. E os capitolos da capitulação fora, que ele era home fora de rezão, & tão fey to de sua vontade q não queria tomar ho conselho de ninguem: & era de muyto mà condição, tato que não auia quem ho sofresse, & q era muyto desmanchado. E q não era pera ser capitão de hua almadia quato mais pera gouernador: & que bem se mostrara a verdade de tudo isto em perder Ormuz, que se não perdera por outra causa se não por seu pouco saber & mà condição, porque os capitães que andauão coele, The aconselhauão que não quebrasse a paz que tinha assentada, & ele não quisera, antes por lho conselharem os prendera & injuriara: no que el rey de Portugal perdera a fora os quinze mil xerafins de parias mais de vinte mil q podera ganhar cadano co sua feitoria. Pedindo ao visorey que por todas estas rezões ho ouuesse por inabil pera a gouernança como era & lha não desse: & assi lhe requerião da parte del rey q ho fizesse: porq se el rey soubera q Afonso dalbuquerq tinha estas qualidades na lhe dera à governaça. E nesta capitulaçao, & reqriměto assinarão Iorge barreto crasto, Diogo lopez de sequeyra, Antonio do capo, Manuel telez barreto, Afonso lopez da costa, loão da noua, & Manuel paçanha com lhe dizer o visorey que a ele auia dentregar a gouernança quando se fosse, & não a Afonso dalbuquerque: & assi assinarão quasi todos os fidalgos que estauão em Cochim. E ate Loureço de brito mandou por terra hu assinado, em que dizia que se avia por assinado naquela capitulação, & requerimento: que despois de assinada foy offrecida ao visorey por Diogo lopez, & Manuel paçanha, ao que ele respondeo que determinaua de se partir na entrada do verão, & que então en

r

tregaría a gouernança a quem elrey mandasse: porq ele estaua na India muyto contra sua vontade. E a causa de não ser ido pera Portugal fora não chegar a nao em que ho el rey seu senhor mandaua ir, & se não entregara a gouernança a Afonso dalbuquerque que ho fizera por lhe el rey mandar em sua prouisam que a não entregasse em quanto esteuesse na India: porem que seu proposito era irse pera Portugal, ou de là viesse armada, ou nã: & coesse fundamêto varara certas naos pera se ir nelas: & que no que lhe requerião ele não podia fazer nada, porque em parte parecia aquela causa ser sua, & por isso se daua por sospeyto: que ho conselho da India ho julgasse co se dar primeiro a vista a Afonso dalbuquerq, & assi lhe foy dada. Mas como ele entendia ho jogo, & sabia que ainda que fizesse milagres não auia dauer que ho dissesse tendo ele tão principaes immigos, como tinha. Não quis responder, dizendo que não respondia, porque tudo aquilo era compilado por seus immigos: & mais que aquilo não pertecia julgarse se não por el rey seu senhor, pera quem apellaua de tudo ho que se julgasse por aquela capitulação. E todauia coesta reposta, & pelo que na capitulação dizia foy julgado per todos geralmète que Afonso dalbuquerque era inhabil pera gouernar, & por tâto se lhe não êtregasse a gouernança. O que sabido por A fonso dalbuquerque ho recebeo com muyta paciencia sem se aqueixar do visorey, se não atribuindo tudo a seus pecados. E ja a este tempo ninguem não hia comer coele, ne ousaua de o ir ver,

CAPITOLO CVIII.

Do que Duarte de sousa coselhou a Afonso dalbuquerque que fizesse contra ho uisorey, & do que se fez sobrisso.

Passados algus dias despois deste acordo que foy feito

côtra Afonso dalbuquerq. Estando ele hu dia na sua pousada praticando com hu Simão diaz hesperico, & com hu criado seu, q tambe sabia da espera, foy ter coele hû fidalgo chamado Duarte de sousa, que sendo degradado em Portugal A fonso dalbuquerque pedira a el rey que lhe mudasse ho degredo pera a India: & ho leuara na sua nao com hu seu filho muy to be agasalhados, & fazendolhe mil hõrras: & despois que começou a conquista do reyno Dormuz lhe perdoou ho degredo por virtude de sua prouisam, dizendo per sua certidão que fizera cousas por onde merecia perda, & ho mãdou assentar em soldo & tornarlhe a moradia de que estaua riscado: & lhe fez assentar hu filho em moradia. Assi que tinha recebidas boas obras dele: porem despois que forão as suas deferenças co ho visorey não ho vio mais, & por isso Afonso dalbuquerque como espatado de ho ver em tal tepo lhe disse, Que nouidade he esta senhor Duarte de sousa que ha tanto tempo q me não vedes, & todauia fazeis bem segundo as cousas anda. E sem Duarte de sousa respoder ao que lhe dizia lhe disse. Venhouos senhor dizer q fazeis pois soys gouernador & el rey mada q ho sejais, & a gête & pouo ho quer, & não desejam senão que mostre vossa merce seus poderes & vâ com hua badeira por hi fora & tome posse da gouernança, & và prender ho viso rey pois quer gouernar forçosamente. O q ouuindo Afonso dalbuquerq & vendo qua fora de proposito vinha, sospeitou q aquilo era echadiço de seus imigos pera q fazedo ele algua cousa do q lhe Duarte de sousa coselhaua teuessem cổ verdade a que se pegar: & receoso desta sospeita lhe

[blocks in formation]

respõdeo, E a isso vindes, enganado estays vos & os que isso cuidão de mi, porque ainda que se agora ajũtassem quantos ha em Cochim, & os clerigos viessem coin cruzes, & as palmeiras virassem as rayzes pera ho âr, & as fraças pera baixo, eu não tomaria por força a gouernaça, nem as fortalezas que me el rey manda entregar liuremente. E folgo muyto de me cometerdes isso perate estes dous homes, porque serão testemunhas se for necessario: & se me vos vindes coisso não venhais aqui mais. E isto disse ja agastado: & Duarte de sousa estando muyto seguro lhe tornou a dizer que falaua de siso, & q deuia de fazer o que lhe dizia, ao que Afonso dalbuquerq lhe disse que se fosse embora, & q lhe nã viesse com tais historias. E coisto se foy Duarte de sousa. E dahi a algus dias cotou Afonso dalbuqrque isto a Nuno vaz de castelo braco q pousaua em sua casa, a q estado doente forão ver Gaspar diaz q na conquista Dormuz fora alferez Dafonso dalbuquerq, que por lhe cortare nela hua mão lhe daua dez mil rs de tença. E assi Duarte amado, & hu Ruy diaz q despois foy enforcado no rio de Pangim em Goa. E estado em pratica disse hu deles a Nuno vaz como Duarte de sousa fizera queixume dele ao viso rey: que na repartição das presas que Afonso dalbuquerque fizera na conquista Dormuz, em que ele Nuno vaz fora quadrilheiro mòr fizera muytas cousas mal feitas, & q tiraua aas partes do que lhe cabia: & q seu filho fora hů dos a que se aquilo fizera. E sabedo ja Nuno vaz ho aluitre co que ele fora a A főso dalbuqrque disse. Esse mao home não se quer ele emedar, prometouos que made chamar ho Timudo, & que The diga que diga ao viso rey ho q ele veo dizer a Afonso dalbuqrque: & disselhe o q dissera. E como quer q entã todos ou os mais q não tinha medraça a querião acquirir por mexericos, fora estes tres contar isto a loão da noua, & a Antonio do capo, & eles ho disserão logo ao viso rey, parecendolhe que seria aquilo cousa por onde fizessem mais mal a Afonso dalbuquerque do que

[ocr errors]
[ocr errors]

The tinhão feito. E ho viso rey mãdou chamar os tres que aquilo disserão, & preguntadolho lho tornarão a contar: & logo ali foy dito que Nuno vaz era amigo Dafonso dalbuquerque, que comunicaua coele seus segredos: & pois ele soltaua aquilo que mais era: & assentarão que fosse tirado por testemunha. E ho meyrinho ho foy chamar da parte do viso rey: & indo ele a seu chamado achou à porta da feitoria Andre diaz, diogo pereira, & Francisco lamprea q era escriuão do judicial: & Andre diaz lhe disse que ho viso rey era no varadouro das naos, & que lhes madara que soubessem dele por juramento ho que Duarte de sousa passara co Afonso dalbuquerque, & ho que lhe Afonso dalbuquerq despois dissera. E nuno vaz ho disse co juramêto, & ho assinou, referindose aos dous estauão co Afonso dalbuquerq Simão diaz, & Afonso gomez, q tambem neste caso forão tirados por testemunhas per mandado do visorey & todos concordarão em seus testemunhos co ho que Nuno vaz dissera. E parece q como esta inquirição era mais pera saber se Afonso dalbuquerq era culpado que pera castigar a culpa emque Duarte de sousa fosse coprendido, não se procedeo contra ele em cousa nhữa, posto foy achado em assaz de culpa: o q vedo A fonso dalbuquerq começou de dizer que be entendia ho jogo, & que ho ordenara, & pois Duarte de sousa tinha tanta culpa que rezão fora que se fizera nele algũ comprimento de justiça.

« AnteriorContinuar »