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grade exame, porq se sam estranjeiros despense & hữa casa perante quatro escriuães, os quaes escreue quâtos sinaes te no corpo, & sua cor, & idade, & ho seu nome, & de sua terra, & de que nação he, & de que ley & despois ho assenta em soldo de tres, quatro, ate quinze pardaos douro q val cada hu trezētos & sessenta rs: & assentado em soldo fica obrigado a não poder sair do reyno sem licença del rey, a qual ele da poucas vezes: & a fora seu soldo lhe dão hu caualo, & hu moço pera ho seruir, & hua escraua pera lhe fazer de comer: & pera ho caualo mada cada dia por de comer a cozinha del rey, a qual ha côtinuamête, ou em Bisnegar, ou no arrayal se el rey anda no campo, ou em outra parte posto que el rey laa não ande, & nelas se faz de comer pera os caualos, & alifantes, de grãos, arroz & outros ligumes cozidos com jagra, q he açucar de palmeyras, porq não ha naquela terra ceuada, & aos soldados, è cujo poder medrão os caualos que lhe dão, tomanlhos & dão lhe outros milhores, & pelo côtrairo se desmedrão: & se estes lascaris ho fazê bem na guerra acrecentalhe ho soldo, & se despois ho fazem melhor danlhe capitania de gente, & assi vão acrecentando os bos caualeyros q ve a ser grades capitães, & assi tem cẽ mil homes de caualo, os quaes andão armados de laudeis acolchoados dalgoda muyto grosso, & ceruilheiras, & de coyros de bufaros, & deles sã as outras armas, & te tatas peças como os nossos arneses, pelejão com agomias, lanças, & zagunchos: os piaes sam sem conto, porque logo se ajuntão em hû exercito hu côto dous cotos de homes por ser a terra muyto pouoada, & estes nã te mais armas defensiuas q escudos, soomente os frecheiros que os não trazem, & por isso morre muytos nas batalhas, nas quaes êtrão tambem muytos alifantes armados co cubertas de coyros de bufaros, ou datas as quaes os cobre ate os pes & todas muyto pintadas, & assi leua testeiras dos mesmos coyros, & cubertas as trombas de hüas argolas largas de cobre ou a

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rame, & nos dentes atadas duas espadas largas, & agudas de cada parte hua, pera q rompendo pelos îmigos os mate: sobrestes alifates vão postos hûs castelos de madeira em que cabe ate oyto homes que dali pelejão com frechas, & vão os castelos apertados com huas cilhas, tato que não pode cair por mais que os alifates corrão, & he muyto fermosa cousa hu exercito coestes alifantes, & com tanta gente. Quado estes reys hão dir a fazer guerra em pessoa sae primeyro hu dia ao campo sobre hû alifante acopanhado de muyta gête de pê & de caualo, & com seus alifantes acubertados de sedas & de borcados, & lâ caualga ê hû caualo, & tira hua frecha péra a parte a q quer ir fazer guerra, & logo diz dali aquatos dias a de partir & assenta seu arrayal onde estâ ate se acabar ho prazo que põe: neste tempo mâda despejar a cidade de quata gente ha nela, saluo daquela que he ordenada pera a goardar que fica nos seus paços, & assi nas casas dos senhores, porq as da gete comu que sa palhaças sam todas queymadas despois de despejada a gente: & porque assi as queymão de cada vez q el rey vay a guerra as não faze de telha & a causa porque as el rey mada queymar he porq quer que todos vão coele a guerra com suas molheres & filhos, credo coestes penhores que te no arrayal porq os não percão não fugirão aos îmigos: costumão estes reys de trazer em seus arrayaes ate quatro mil molheres solteiras de partido, a que pagão soldo primeyro q a nhữa outra gête, & dize q coelas faze mais guerra que co seys tantos homes, porque por sua causa pelejão os homes com mais esforço, & que os caualeyros macebos se chega mais onde ha molheres que onde as na ha: & antrestas adão molheres muyto ricas de dinheiro, & de joyas de pedraria, & cada hua traz cõsigo muytas moças fermosas, & como anoytece vanse as estancias dos caualeyros mancebos, & tanjem, cãtã, & danção ao seu costume que ho sabe muy bem fazer, & dalhe por isso muyto dinheiro, & assi por lhe deixarem aquela noy te

a moça que lhe mais contenta, & desta maneyra të sẽpre estes reys muytos lascaris estrajeiros. E sabendo ho rey que reynaua a este tempo as grandes façanhas que os nossos tinhão feitas na coquista da India co quanto era tão poderoso, & não tinha necessidade dos nossos, nem eles lhe podião fazer nojo se não naqueles portos de mar que tinha, desejou de ter paz & amizade co el rey de Portugal sobre que mãdou ho embaixador que dissera ao visorey qstaua e Cananor.

CAPITOLO XVII.

Da embaixada que foy dada ao Visorey da parte del rey de Narsinga, & de como ho Visorey concertou com el rey de Cananor que fizesse fortaleza em sua cidade: & começada o uisorey se partio pera Cochim.

Ho qual chegado ho visorey ao porto lhe foy falar ao

outro dia a sua nao, onde ho estaua esperando assentado em hu estrado real q estaua armado na tolda q estaua toldada & embandeirada, & assi toda a frota: ho visorey tinha vestida hua opa de borcado sobre hu pelote de cetim & hu rico colar dobros & hu paje lhe tinha hũ esto rico, & acompanhauano seu filho com todos os fidalgos capitães & caualeyros que hiã na armada, todos vestidos de festa. E chegando ho embaixador a bordo desparou toda a artelharia, de cujo estrõdo ele & os seus se espatarão muyto, & quando entrou na nao tocarão as trombetas & atabales: ho visorey se leuatou ao receber fora do estrado, & ho fez assentar em outra cadeira como a sua: & assentado lhe deu a embaixada, cuja cocrusam foy, q el rey de Narsinga cria q a nossa fè era verdadeira, pelo q os nossos tinhão feito contra tamanho poder como era ho del rey de Calicut, & doutros reys a que tinhão desbaratado, & isto que sabia The fizera desejar de ser amigo del rey de Portugal, a quem de boa vontade ajudaria co muytas naos & em

seus portos lhe consentiria fazer fortalezas tirado ho de Baticalâ, porq ho tinha arrendado, & pera as fortalezas se se ouuessem de fazer daria todo ho necessario, & que pera mais firmeza de sua amizade lhe ofrecia hua hirma que tinha pera casar cỡ ho principe seu filho, no q receberia muyto contentamento, & acabada de dar a embaxada lhe deu hua carta pera el rey de Portugal. em que se continha toda a embaxada: & mais lhe deu pera mandar ao principe hus colares douro & pedraria muyto ricos, & aneys & panos de muyto preço. E despachado logo do visorey pera se ir pera Narsinga quando quisesse se tornou pera terra, onde ao outro dia desembarcou ho visorey pera falar com el rey de Cananor que ho estaua esperando em hua tenda muyto rica, de panos de seda & douro, armada em hû palmar quasi pegada co ho mar: & dele ate ela estaua feyta hua ponte de coprimêto de dez palmos, cuberta & toldada de panos de seda. Leuaua ho visorey diate suas trõbetas & detras delas sua goarda vestida de librê: & a pos ela seus porteiros de maça, co maças de prata douradas, & logo ho visorey, & diante dele hû paje que lhe leuaua hu estoque. Acõpanhauäno todos esses fidalgos & capitães da frota, & hia cô gråde estado de que os malabares estauão espantados: & chegando â tenda foy recebido del rey co muyto grande cortesia. E assentado deuThe ho visorey hu cofre em que hião peças muy ricas do despojo de Mombaça: com que el rey mostrou q folgaua muyto. E a pos este presente lhe disse que desejando el rey seu senhor de assentar por be trato & amizade, co os reys do Malabar, principalmente com elrey de Calicut, de que tinha mais noticia, não quisera ate entã mostrar seu poder, ne vsar de rigor: mas ja que estaua desenganado da contumacia del rey de Calecut em querer antes a amizade dos mouros de Meca que a sua, determinaua de lhe fazer conhecer quanto perdia nisso: & defeder co todas suas forças que ne as naos de Calicut leuassem especiaria ao estreito në as naos do

estreito trouuessem â India as mercadorias que trazião, por nã abatere as suas que erão taes como as q trazião os mouros de Meca, & todas ele auia de mandar em tãta abastãça q as dos mouros se não achassem menos: as quaes queria ter em Cananor & em Cochim pera ẽnobrecer estas duas cidades & enriquecer seus reys: & os defender de seus imigos, em pago de recebere por be sua amizade, & do bo gasalhado que fizerão a seus vassalós, q ja deuião de ter be sabido q não erão ladrões, nem hião a conquistar a terra como el rey de Calicut cria, mas q hia assetar trato & amizade como homes pacificos. E pera se poder tudo isto fazer milhor & cỡ mais possança & autoridade ho mandara el rey seu senhor é seu lugar pera estar na India em quato fosse seu seruiço: & lhe encomendara muyto que de sua parte pedisse a el rey de Cananor que pera segurança de seus vassalos & de suas mercadorias lhe deixasse ali fazer hùa fortaleza, por quanto os mouros erão muyto poderosos: & ja vira em quão pouco esteuera de lhe matar ho seu feytor, & os questauão co elle & roubarlhe a feytoria &q considerasse ele be qua proueitosa lhe seria ali a fortaleza, porq os seus teria força pera lhe defender sua terra: & ho trato de suas mercadorias lha ennobreceria & faria rica. E pois lhe dali resultauão tantos proueitos ĝas mercadorias del rey seu senhor, ne dos seus que se ali vedessem lhe não auião de pagar nenhus dereytos nem das que comprassem. O que el rey concedeo de boa võtade, mostrando muyto prazer com ho trato quel rey de Portugal queria ter em sua terra: porque como ele nenhua cousa estimaua tanto como seu proueyto conheceo bem camanho este era pera ho crecimento de suas rendas. Porque posto que el rey de Portugal & os seus ao vender nem ao comprar lhe não pagassem nenhus dereytos fazia cota que os mercadores da terra pagarião tudo por inteyro, & que daquele trato se ennobreceria muyto sua cidade: & que cô a nossa fortaleza sugigaria melhor os mouros. Deste assento forão feytas duas escri

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