Camões e o platonismo: (um problema de crítica literária)

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Companhia Editora do Minho, 1926 - 95 páginas
 

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Passagens conhecidas

Página 91 - E sobe à pátria divina. Não é, logo, a saudade Das terras onde nasceu A carne, mas é do Céu, Daquela Santa Cidade Donde esta alma descendeu. E aquela humana figura Que cá me pode alterar Não é quem se há-de buscar : É raio da Formosura Que só se deve de amar.
Página 91 - Mas ó tu, terra de Glória, se eu nunca vi tua essência, como me lembras na ausência? Não me lembras na memória, senão na reminiscência. Que a alma é tábua rasa, que, com a escrita doutrina celeste, tanto imagina, que voa da própria casa e sobe à pátria divina.
Página 58 - Filodcrno, esta fala irónica: ... todos vós outros, os que amais pela passiva, dizeis que o amor fino como melão não há-de querer mais de sua dama que amá-la ; e virá logo o vosso Petrarca eo vosso Pietro Bembo, atoado a trezentos Platões, mais safado que as luvas de um pagem de arte, mostrando razões verosímeis e aparentes, para não quererdes mais de vossa dama que vê-la; e ao mais até falar com ela.
Página 49 - Presença moderada e graciosa, Onde ensinando estão despejo e siso Que se pode por arte e por aviso, Como por natureza, ser fermosa ; Fala de quem a morte...
Página 89 - Me faz grau para a virtude, E faz que este natural Amor, que tanto se preza, Suba da sombra ao real : Da particular beleza Para a beleza geral.
Página 58 - Pois inda achareis outros escodrinhadores de amor mais especulativos, que defenderão a justa por não emprenhar o desejo ; e eu (faço-vos voto solene) se a qualquer destes lhe entregassem sua dama tosada e aparelhada entre dous pratos, eu fico que não ficasse pedra sobre pedra. E eu já de mi vos sei confessar que os meus amores hão-de ser pela activa, e que ela há de ser a paciente e eu agente, porque esta é a verdade.
Página 63 - Que só se deve de amar. Que os olhos, ea luz que ateia O fogo que cá sujeita, Não do sol, nem da candeia, É sombra daquela ideia Que em Deus está mais perfeita.
Página 49 - Rara e suave, em fim, Senhora, vossa, Repouso na alegria comedido; Estas as armas são com que me rende E me captiva Amor; mas não que possa Despojar-me da gloria de rendido. LXXIX. Bem sei, Amor, que he certo o que receio; Mas tu, porque com isso mais te apuras, De manhoso mo negas, e mo juras Nesse teu arco de ouro; e eu te creio.
Página 62 - Quem do vil contentamento cá deste mundo visível, quanto ao homem for possível, passar logo o entendimento para o mundo inteligível, ali achará alegria, em tudo perfeita e cheia de tão suave harmonia que, nem por pouca, recreia nem, por sobeja, enfastia.
Página 56 - Transforma-se o Amador na Cousa Amada por virtude do muito imaginar: não tenho, logo, mais que desejar, pois em mim tenho a parte desejada.

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