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mais desmayaua, & muyta morria de pura sede que se The secauão os bofes & outra adoecia. E era medonha & piadosa cousa de ver os gemidos & clamores q todos fazião contra ho gouernador polos leuar a morrer sem fazer nenhu seruiço a Deos ně a el rey: & assi chegou a Camarão em Mayo, que se mais tardara hu dia quasi toda a gente lhe morrera, porq algus nauios chegarão sem bocado dagoa. E se passarão na viage trabalho de sede, em terra passarão immeso de fome: porque como a ilha estaua despouoada não se acharão mãtimentos, & na frota hião tão poucos que ninguem não comia mais que arroz cozido & hua vez no dia, & que podia pescar algu pescado inesturado coele: & coesta fome lhe morreo aqui grande soma de gente principalmente da do remo, & cayão mortos como que fora péste, & de fracos não podião os viuos soterrar os mortos, & nunca se tamanho desbarato vio de gête como este foy. E cuydando ho gouernador q podesse auer algus mantimentos da terra firme mandou lá, & os mouros q erão immigos & sabião como ho gouernador não pelejara em Iudá não somele não quiserão dar os mantimentos, mas ainda matarão algus Portugueses, & ho mesmo aconteceo na ilha de Dalaca, mandado ho gouernador ho carauelão a Maqua a saber se poderia hi mandar Duarte galuão pera ir da hi ao Preste, & antre os mortos foy ho capitão do carauelão, por cuja morte deu ho gouernador a capitania ao piloto q se chamaua Pero vaz deuera, & não foy necessario madar o gouernador Duarte galuão, porque foy nosso señor de ho leuar deste mundo, nesta ilha tão apartada de sua natureza, que foy grande perda por ser home de tanto preço como disse no liuro terceiro.

CAPIT V LO XIIII.

De como Eytor rodriguez de Coibra cổ liceça da rainha de Coulão fez hua casa de feytoria em Coulão.

Eytor tor rodriguez q hia por feytor a Coulão, despois q

partio de Cochim chegou a Coula ho primeyro dia de feuereyro de mil & quinhetos & desassete, & logo foy falar á raynha de Coulão, a que deu bû presente & lhe leuaua da parte do gouernador, & outros aos seus regedores. E estando jutos ela & eles lhes requereo como leuaua por regimento q per virtude da capitulação das pazes estaua feyta mandassem logo fazer a igreja do apostolo sam Thome, & pagassem cento & sessenta & seys báres de pimeta q ficarão deuedo do anno passado dos quinhetos que auião de pagar como disse atras. E responderão q estauão muyto prestes pera coprir toda a capitulação das pazes, porem que logo não podia ser porq a rainha estaua pera partir ao outro dia a fazer guerra a el rey de Tranuancor seu vezinho que a tinha desafiada, & por isso não podia deixar aquela empresa, & tambem por ter sua gete junta & os pulás que auião dir coela: & que em quanto fosse deixaria dada ordem pera que se ajuntassem os materiaes pera edificação da igreja q se auia de fazer. E a mesma rainha disse apartadamente a Eytor rodriguez que lhe rogaua q em quanto ela fosse á guerra não apertasse sobre os dereytos & redas da igreja que se auia de fazer, que ela era obrigada a restituyr por tudo ser dado a Pulás & Naires muy principaes que ho não auião dalargar sem ela ser presente. E apertando sobrisso em sua ausencia poderia suceder hu mao recado de que lhe pesaria muyto, por isso lhe aconselhaua esperasse ate sua tornada, porque ela compriria tudo como era obrigada: & que nisto descansasse, porque ela desejaua muyto de coseruar a paz que estaua assentada, & que era grande ser

uidor del rey de Portugal. O que lhe Eytor rodriguez agardeceo muyto de sua parte, & se lhe offereceo muyto pera a seruir: & vendo a boa vontade que achaua nela pera ho seruiço del rey de Portugal pediolhe apousentamêto pera pousar com seu escriuão & homes da feytoria, em que podesse bem agasalhar as mercadorias q leuaua, & quando não ouuesse este apousentameto The desse lugar pera fazer hua casa pera isso, que assi ho leuaua por instrução do gouernador, de quem sabia em segredo que determinaua de fazer ali hua fortaleza trazendo ho Deos do estreito, por isso que se lhe dessem licença pera fazer a casa a fizesse em lugar que fosse boo pera fortaleza. E a rainha lhe respõdeo, que posto que aquilo era fora da capitulação, das casas, que ela desejaua tanto de seruir a el rey de Portugal, & de ter paz coele que era contente de dar lugar pera se fazer a casa õde lhe a ele parecesse bě, & ao outro dia lho assinaria co os regedores q a isso auião de ser presentes. E com quanto a rainha isto prometeo tão leuemente, teue grandes contradições pera se comprir: porq como os mouros da terra ho souberão & lhes pesaua em estremo de os Portugueses ali assentarem, porq tinhão certo deitalos fora, conselharão aos regedores q por nenhů modo cosentissem fazerse aquela casa, porque com nome de feytoria se auia logo de tornar fortaleza com q os Portugueses lhe auião de tomar a terra, que assi ho costumauão os Portugueses, & co nome de feytorias tinhão feytas todas suas fortalezas, & fizerão com outra rainha a se chamaua de Comorim por ser irmaa del rey de Comorim, & com dous filhos seus & conselhassem ho mesmo á rainha de Coulão & aos regedores. E com tudo nunca poderão mouer a ela ne a eles, porque elá por desejar muyto a paz os abrandou de maneyra que forão muyto contentes de dar liceça pera se fazer a casa: & tambem a grande diligencia que pos Eitor rodriguez em os peitar & persuadir & lhe dessem lugar pera fazer a casa. E juntos com a rainha lhe derão a licença, mos

trandose todos muyto desejosos do seruiço del rey de Portugal: & porq ho lugar onde se auia de fazer esta casa foy deixado e escolha Deitor rodriguez, escolhe ho detras do circuito da igreja que fora de san Thome, & tão perto do mar que se podia chegar a ele com hua pedra, começou logo de fazer hù grande cerco de taipa com-hu poço dentro de muyto boa agoa.

CAPIT VLO XV.

Do risco q correrão os Portugueses que estauão é Coulão em quanto ho gouernador foy ao estreito.

Assinado ho lugar em & Eitor rodriguez auia de fazer

q

a casa a rainha se partio pera sua guerra deixando ho muyto encomendado aos regedores, q ho fauorecessem & ajudassem em tudo o de que teuesse necessidade. E prosseguindo ele sua obra despois de ter feyto ho cerco que digo, começou de fazer hua casa sobradada cổ as paredes de taipa & cuberta dola, & nã ficou pessoa em Coulão que a não fosse ver quando a fazião: & os mouros dizião aos gêtios q aquilo era fortaleza, & que dali auião os Portugueses de tomar a cidade. E como os gentios cre ligeiramente qualquer cousa crião isto, & indinauãose muy to contra os Portugueses principalmente despois que a casa foy acabada, & fazialhe mil sobraçarias & daualhe encontros onde os topauão, & vindo ho inuerno se desauergonharão mais a isso, porque sabião que ho gouernador era ao estreito. E os mouros lhes fazião crer q os rumes ho auião de matar com quantos hião coele: & tanto affirmauão isto q passando por junto dos Portugueses lhes bradião as espadas nos olhos. pera os prouocarem a ira com que desembainhassem coeles pera tere causa de se leuantarem, que doutra maneyra não ousauão com medo dos regedores que estes fazião que se teuessem em si. E como Eitor rodriguez isto entĕdia mandou aos Portugueses q não fossem

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á cidade nem sayssem do cerco da feytoria, & dissimulaua com tudo por não vir a rõpimento & lhe acontecer como a Antonio de sá. E assi esteue nesta opressam ate que veyo noua de como ho gouernador era viuo & ficaua em Ormuz: & q não ousarão os rumes de sayr de Iudá a pelejar coele: & isto quebrou muyto os spiritos aos mouros, & temendo que ho gouernador os castigasse polo passado, não vsarão de mais sobrançarias co os nossos, & tambe os gentios. E neste tepo veyo a rainha de Coulão de sua guerra que tambe fauoreceo Eitor rodriguez, & os que estauão na feytoria & ficarão em paz.

CAPIT VLO XVI.

De como dom Fernãdo de monrroi & Ioão gonçaluez de castelo braco tomarão duas naos de mouros nas ilhas de Maldiua.

Partidos dom Fernãdo de morroi & Ioão gonçaluez de

castelo branco em busca de leronimo de sousa forão ter ás ilhas de Maldiua, & tomando a cada hů por seu cabo como leuauão por regimento do gouernador, não acharão Ieronimo de sousa, mas deràlhe noua q fora ali ter, & q se fizera logo na volta de Melinde, õde se ouue tão mal com ho piloto & com ho mestre do seu nauio lhes fez lembrar como ele hia leuantado, & a pena q tinhão por ire coele, pelo a determinarão de ho prender & leualo ao gouernador. E assi ho fizerão, & preso leronimo de sousa, se partirão com ho nauio pera ho cabo de Goardafum õde esperauão dachar ho gouernador: & neste caminho por ho nauio fazer muyta agoa se mudarão a hua nao, & nesta mudaça se soltou Ieronimo de sousa, & foy despois ter a Goa, & por isso dom Fernando nem loão goçaluez ho não acharão. E andãdo em sua busca toparão duas naos del rey de Cambaya que auia annos que andauão fora de Cambaya tratado por muytas partes, & por isso trazião muyta riqueza,

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