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nor, & dahi a Goa : & foy surgir no porto de Baticalá : & sabendoho ho seu rey cuydou q ho hia destruyr por amor dos Portugueses que hi matarão os mouros: & por isso quis temporizar eoele, & mandoulhe muyto refresco, & tres mouros velhos: dizendo que lhos madaua pera fazer deles o q quisese por quanto aqueles forão causa do arroido em que matarão os xxiiii. Portugueses. E coeste comprimeto se ouue ho gouernador por satisfeyto, & se partio pera Goa: o q deu grande ousadia aos mouros pera lhe perderem ho medo. E dali por diante. ouue ladrões pela costa que roubauão os amigos dos Portugueses, & a elles mesmos se os achauão desapercibidos. E ido ho gouernador por sua viagem, lhe deu hum temporal com que se acolheo a Anjadiua: donde mandou do Aleixo de meneses a Ormuz por capitão mór de sete naos carregadas de mercadoria pera a feytoria, & mandoulhe a soubesse se auia noua darmada de rumes no estreito pera os ir buscar: & elle foyse a Goa, cujos moradores, principalmente os casados sabendo que leuaua por regimento q a derribasse se achasse q não era necessaria, lhe derão por apôtamêtos quanto rendia a alfandega, & quãto rendião as tanadarias dos passos, & os dereytos dos caualos Dormuz, & assi as ilhas com arcas. E coisto muy viuas rezões, de quão importante era pera se soster na India ho estado del rey de Portugal, & offerecendose por cima de tudo a defedela & sostentala á sua custa com lhe el rey somente dar artelharia : & por amor disto não quis o gouernador poer em conselho se era be derribarse Goa, & deixou ha estar, & tornouse a Cochim, onde auia dinuernar.

CAPIT VLO IIII.

De como Fernão perez dandrade partio de Malaca pera a China, & de como arribou com tempo.

E de Cochim espedio logo hua carauela pera Moçam

bique co recado aos capitães das naos de Portugal que hi fossem ter ho ano seguinte, q se fossem ajuntar coele em ludá ate õde esperaua de ir buscar os rumes, pera que ho ajudassem se ouuesse de pelejar, porq a gente que tinha era pouca. E partida esta carauela, despachou ho gouernador a Fernão perez dandrade pera ir a Begala & á China: & ouue antreles desgosto muyto grande, porq não leuado Fernão perez de Portugal embaixador dirigido pera elrey da China senão que elle quisesse deu o gouernador este officio a hu Thome pirez que fora boticairo do principe dom Afonso, & deuThe ho gouernador este cargo por ser homem discreto & curioso, & pera conhecer muytas drogas q lhe dizião q auia na China, & com Fernão perez foy hu Antonio lobo falcão por capitão du nauio. E nauegado por sua viage foy ter a Pace na ilha de çamatra, onde auia de carregar de pimenta pera a China, por ser lá de muyto preço. E pera fazer esta carrega estaua ja em Pace loanes impolim que fora co Antonio Pacheco na conserua de Iorge de brito: & hia fazer esta carrega a Pace por valer lá a pimenta mais barata que em Cochim. E chegado Fernão perez a Pace, achou q tedo Ioanes a nao carregada lhe ardera. E vendo Fernão perez q não tinha carrega pera ir á China,& q não podia carregar outra vez por se lhe gastar a moução determinou de ir a Bengala, & primeyro mãdou por Ioanes a el rey de Pace hua carta del rey do Manuel em reposta doutra sua damizidade, rogado lhe q quisesse consentir sua feytoria e Pace, the era necessaria pera ho trato da China: & tambe lhe madou hu presente. E sabedo el rey

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como lhe leuaua Ioanes a carta & ho presete, mãdou ho receber polos principaes de sua corte todos em cima dalifantes co grande magestade, & per sua pessoa ho recebeo muyto be, & se mostrou muyto contente cô a amizade del rey de Portugal, & de querer ter feytoria è sua cidade, pera o q deu consentimeto per hua escriptura assinada por ele & por algûs senhores principaes do reyno. Isto feyto, determinado Fernão perez de ir a Begala foy primeyro a Malaca pera hi tomar a nao espera, q era da ordenança da sua capitania: & chegado lá não achou a nao q era darmada: E Iorge de brito capitão de Malaca quado soube q ele hia pera a China & queria ir a Bengala, lhe reqreo muy estreitamête q em todo caso fosse á China por se presumir q estaua lá preso Rafael perestrelo co os outros q forão no jungo, como disse no liuro terceyro: & posto q lhe falecesse a nao espera, lhe daria a nao sacta Barbora. E co quanto Fernão perez se quisera escusar de ir por ser gastada parte da moução não pode, & partiose leuando a carrega de Malaca, & forão e sua coserua Manuel falcão & Antonio lobo falcão è dous nauios, & hù Duarte coelho ĕ hu jungo: & partio de Malaca a xv. Dagosto de mil & quinhentos & desaseys, & meado Setembro chegou junto da enseada de Caucõchina: & foy de noyte com os outros capitães dar cỡ terra, onde milagrosaměte os saluou nosso senhor q se ouuerão de perder e hûs baixos. E por The ser ja ho vento por dauante pairarão aqui doze dias. E vědo que era por demais por ser a moução gastada, arribarão a Malaca, & Duarte coelho pedio licença a Fernão perez pera ir inuernar a Sião, que conhecia ho rey de quando lá fora co Antonio de miranda & sabia que auia de fazer proueito. E tornado Fernão perez a Malaca achou Rafael perestrelo que era chegado da China co tamanho ganho no emprego q leuou q fez de hû vinte & certificou que os Chis querião paz & amizade com os Portugueses, & q era muyto boa gente.

CAPIT V LO V.

Do q acôteceo a Anrrique leme em Pegú. Despois da partida de Fernão perez pera Malaca qu

quisera ir a Bengala, vendo Ioanes q não tornaua foyse a Malaca na nao que hi ficaua carregando, cỡ tenção de fazer lá a mesma feytoria que ouuera de fazer em Pace. E ho capitão de Malaca, chegado elle lá, deu por rogo de Iorge dalbuquerque que ainda estaua em Malaca a capitania da nao a hu Anrrique leme pera que fosse a Martabão porto de Pegú com fazenda del rey, & deulhe sessenta Portugueses pera irem coele, & ido tomou no caminho hu jungo de mouros mercadores de Pegú, & leuouho consigo pera ho mandar a Malaca carregado darroz, & não podendo tomar Martabão arribou á boca do rio onde está Pegú, nouenta legoas por ele acima á borda dagoa: & a dezoito está hua cidade chamada Cosmi que he ho porto de Pegú: onde por cosentimeto do gouernador da terra foy leuada a fazěda que hia na nao com hu feitor, & algus dos nossos pera estare coele ate se acabar de vender & Anrique leme ficou na nao a boca do rio, & com ho jungo em sua copanhia, & começandose a nao de carregar souberão os senhores do jugo que os nossos tomarão que estaua na barra carregadose darroz, & escadalizados disto se forão queixar a el rey de pegú co grandes brados dizendo que os nossos sem nenhû temor trazião ho seu jungo que lhe tomarão sem nenhua rezão pois tinhão paz coeles, pedindolhe q Thes fizesse justiça, & os matasse a todos pois erão ladrões que se ho não forão, não tomarão ho jungo, ně lho trouuerão diante dos olhos, & ouuido isto por el rey, porque queria ter contêtes os mercadores de que lhe vinha muyto proueito mandou logo recado ao regedor de Cosmi que mandasse tomar todos os nossos que estauão na feytoria, & quãdo não que os matassem. E ho rege

dor os quisera auer por maña, mas não pode porque ho feytor se goardaua, que foy logo auisado per mercadores gentios do que el rey madaua. E vendo os mouros senhores do jungo que estauão em Cosmim, que se não podia ho feytor ne os nossos auer por manha, ajuntaranse com outros muytos, & assi algus gentios, & derão na feytoria com grande impeto, em que aueria quatro dos nossos com ho feytor & oyto laos escrauos del rey de Portugal que logo acodirão á porta da feytoria com espingardas, béstas & lanças defendendose tão valentemente, que não somente tolherão aos immigos que entrassem mas ainda matarão algus: o que visto polos mouros poserão fogo á feytoria que logo começou darder por serem as casas cubertas de palha. E vendo ho feytor ho fogo, & que não tinha remedio sayose por detras das casas em que batia ho rio, onde se meterão ate a cinta, que logo os immigos acodirão sobreles com grandes gritas & frechadas sem conto, & pedradas. E era cousa despanto, & milagre euidete como se defendião todos doze sem os immigos lhes podere empecer em espaço de quatro oras que durou esta briga. E no cabo chegou ho batel da nossa nao onde se recolherão & se forão á nao que estaua no rio. E logo ao outro dia aparecerão por ele a baixo obra de quatrocentos paraós cheos de gente armada & com muytas jangadas de rama seca, pera que se não podessem tomar a nao a queymassem coelas. E vedo os Anrrique leme, & conhecendo ao que vinhão deixou ho jugo despejando a gente dele na nao, & em hua champana com que se carregaua, em que mandou logo apôtar toda sua artelharia: & em os paraós chegando perto a madou desparar neles. E os immigos como erão muytos não deixarão de a côbater, tirando multidão de frechadas, cercando a nao de todalas partes. E passando hu pedaço que a artelharia começou de jugar atroouse toda a nao co a furia dos tiros, & por ser podre & passada do bicho começa de cuspir ho breu por onde era furada, & ficauão os buraquinhos descubertos:

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