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ele não tinha gète com que se defendesse que seria bõ desembarcar essa que tinha, & a artelharia, & que em terra se defenderia melhor. E ele não quis, dizendo que esperaua em nosso senhor de se defender dos mouros com aquela pouca de gente que tinha. E ao outro dia dezaseys de Dezembro amanheceo a baya de Cananor cercada da armada del rey de Calicut, que era de cento & tantas velas assi naos como paraós tudo cheo de mouros bem apercebidos, de frechas, de lanças, & despadas & de muytos arremessos. Ioão da noua tanto que vio esta armada, chamou logo os capitães, & disselhes. Se os mouros nos aferrão segundo sam muytos & nos poucos, não temos saluação: & pera nos saluarmos he necessario com a esperança em nosso senhor resistirlhes com a artelharia que nos não cheguem, por isso senhores tende cuydado, & ponhamos as naos huas a par das outras em proporção que todas juntamente possam jugar com sua artelharia: o que logo foy feyto. E nisto começa a nossa artelharia de desparar com hum brauo estrondo cubrindo tudo de fumo, & desaparelhando, & espedaçando muytos nauios dos mouros, & metendo outros no fundo, & matando em todos muyta gente, o que os mouros não podião fazer aos Portugueses por não terem artelharia, & toda sua peleja era com frechadas com que perfiauão detrar os Portugueses como que esperauão de ho fazer, & assi perfiarão ate ho sol posto. E vendo que de cada vez recebião mais dano, leuantarão hua bandeira branca em sinal de paz, que se teuerão vento pera fugirem bem ho fizerão segundo estauão destroçados: & loão da noua que tambem tinha a sua gente cansada & algüa ferida, & a mayor parte da artelharia arrebentada, folgou muyto quando vio a bandeira, & porem receou que os mouros farião aquilo pera verem como estauão os Portugueses, & receou tambe que respondedolhe ele com bandeira de paz cuidarião que estauão desbaratados, & por isso a desejauão, pelo que trabalharião polos aferrar pera os tomare: & coeste

receyo mandou leuantar ho seu guião não deixando de tirar sua artelharia. E os mouros q tinhão necessidade tornarão a leuantar a bandeira branca: & parecendo a Ioão da noua que a paz era de verdade, mandou leuantar outra. E despois disto assentarão tregoas ate ho outro dia com codição que os mouros descercassem a baya: & ela descercada sayose João da noua pera ho mar & por vetar a viração surgio perto dos mouros sem poder ir mais auante, & de noyte lhe quiserão os mouros queimar a frota indo em alinadias: o q sentido pelos capitães mandarão alargar as amarras & yão se afastado, & os îmigos os yão seguido, o q eles vedo tiraralhes co a artelharia & os fizerão afastar. E desesperados os mouros de podere fazer dano aos Portugueses, em ventado ho terrenho derão ás velas & foranse pera Calicut. E Ioão da noua deu muytas graças a nosso senhor por lhe escapar tanto a seu saluo. E deixando ho feytor que disse com feytoria em Cananor, se espedio del rey & partiose pera Portugal, onde chegou a saluamento sem mais carrega qa q disse. Eel rey de Calicut quãdo vio qa sua armada não pode tomar a dos Portugueses por força, atentou de a tomar por manha, & per hu Fernão peixoto dos catiuos ficarão e Calicut de Pedraluarez cabral, madou dizer a loão da noua, que lhe pesara muyto do q os mouros de Meca fizerão aos Portugueses sobre o q dera grade castigo aos culpados, & q faria disso toda a satisfação q lhe be parecesse, porq desejaua muyto de ser amigo del Rey de Portugal, & q teuesse trato è sua cidade, & se lá quisesse ir carregar q lhe daria carrega. E quando se Fernão peixoto partio coeste recado, lhe disse Cojebequim secretamente que dissesse ao capitão mór dos Portugueses, que por nhữ modo fosse a Calicut, porque el rey ho queria matar, & a quantos yão coele, & por isso Gonçalo peixoto se deixou ficar em Cananor.

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CAPITOLO XLIIII.

De como do Vasco da gama tornou á India por capitão mór de hua armada.

Sabido

Dabido por el rey do Manuel o q el rey de Calicut fizera a Pedraluarez cabral, determinou de madar hua grossa armada pera se poder vingar dele: & tendo dada a capitania mór dela a Pedraluarez cabral lha tirou por algus justos respeitos & a deu a dom Vasco da gama, que com ho regimento do que auia de fazer se partio de Lisboa a dez de Feuereyro, de mil & quinhentos & dous leuando em sua conserua dez naos grossas, das quaes a fora ele forão capitães dom Luys coutinho, Pero dataide, Francisco da cunha, Ioão lopez perestrelo, Antonio do campo, Pedrafonso daguiar, Gil matoso, Ruy de castanheda, Gil fernandez, Diogo fernadez correa que ya por feytor da armada & de Cochim, & cinco nauios redondos que auião de ficar na India em goarda da feytoria, de que forão capitães Vicête sodré, Bras sodré seu irmão, Antonio fernandez, Pero rafael, Diogo pirez & loão rodriguez badarças a quem se auia de dar na India hua carauela que ya laurada na mesma armada, & lá se auia darmar, & a fora estas quinze velas se ficauão aparelhando cinco naos de que ya por capitão mór hũ Esteuão da gama primo de dom Vasco da gama que partio aos cinco do Mayo seguinte, a q não soube o que acôteceo na viagem. E do Vasco da gama despois que partio de Lisboa que dobrou ho cabo de boa Esperança, madou a Pedrafoso daguiar do cabo das corrêtes com a mayor parte da armada pera Moçâbique, & ele ficou com quatro nauios em q foy a cofala & vio ho sitio da terra que era pera fortaleza, & resgatou algu ouro em vinte cinco dias que hi esteue em que assentou amizade co el rey de çofala. E partindo pera Moçã bique se perdeo ao sair do rio ho nauio Dantonio ferna

dez com se saluar a gente. E chegado a Moçambique, & deixando hi feytoria pera as naos que ali fossem achare mâtimētos, se partio pera Qúiloa, cujo rey leuaua em regimeto q fizesse tributario a el Rey dom Manuel pois na queria sua amizade. E chegado a seu porto chegou tabe Esteuão da gama com as cinco naos: & dom Vasco teue maneyra como ho rey de Qúiloa lhe foy falar ao mar, & como sabia q era metiroso não se quis fiar em sua palaura, & prendeo ho & com ho mandar meter debaixo dagoa, lhe prometeo de se fazer tributario del Rey dom Manuel & lhe pagar de pareas cadano dous mil miticais douro, & polos dağle deixou è arrefens hu mouro principal que auia nome Mafamede alconez, a que queria mal secretamente por se temer dele que lhe auia de tomar ho reyno que ele tinha vsurpado ao proprio rey, & não mandando ele as pareas por cuydar que do Vasco matasse Mafamede alconez, que vendo q tardauão as pagou aa sua custa, & assi se liurou.

CAPITOLO XLV.

De como dom Vasco da gama chegou ao porto de Calicut, & do que fez.

De Quiloa se partio do Vasco da gama pera Melinde, & visitado el rey prosseguio sua viage pera a costa da India, & a monte Deli topou hua nao de mouros de Meca q yão pera Calicut, & serião trezetos todos de peleja, a fora molheres & meninos, & esta foy tomada por força pelos capitães da frota em que os mouros pelejarão be. E queredo os senhores da nao & outros negar a do Vasco q não leuauão nhữa fazêda na nao, mandou deitar dous no mar, & logo os outros confessarão q leuauão muyta & boa fazêda, de a melhor foy entregue a Diogo fernandez correa pera el Rey que a tirou logo da nao, & a somenos foy dada a escala fraca aos Portugueses, & os meninos filhos dos mouros mandou

dom Vasco goardar & despois os fez frades em nossa senhora de Belem, & logo foy posto fogo á nao estando os outros mouros metidos debaixo de cuberta & fechados: & isto por vingança do q os mouros de Meca fizerão a Pedraluarez. Os mouros como sintirão ho fogo, trabalharão tanto q se soltarão, & ho apagarão co muyta agoa que a nao fazia polos buracos das bombardadas, que lhe derão na peleja. E dom Vasco que estaua na nao desteuão da gama acodio logo & aferrou a não dos mouros, que como homes determinados acodirão logo defendedose co muyto esforço, & deles trazião tições acesos com q tiraua aos Portugueses pera os queymarem & tåbem se defendião que ainda q muytos forão mortos nunca lhes poderão entrar a nao, & por anoytecer cessou a peleja, que mandou do Vasco que cessasse, & que desaferrassem a nao: & mandou aos capitães que a cercassem com as suas. E assi a teuerão toda a noyte em que os mouros com grandes clamores se encomendarão a Mafamede que os liurasse: & como foy de dia dom Vasco tornou à mandar dar fogo á nao por Esteuão da gama, que lho deu co algus bombardeiros, por mais que lhe os mouros contrariarão: & ho fogo pegou de maneyra que ardeo a metade da nao, & parte dos mouros se afogarão nela com se ir ao fundo, & parte forão mortos no mar onde se deitarão, & assi forão todos mortos. E daqui se foy dom Vasco a Cananor assi pera ver ho feytor q hi deixara loão da noua, como pera se ver com el rey: de que ho feytor lhe disse muyto bem, & q era verdadeiro amigo del Rey de Portugal. E despois de lhe dom Vasco mandar ho embaixador que lhe leuara Pedraluarez cabral se vio coele, em hua casa de madeira q el rey mandou fazer junto do mar pera esta vista, co hu cais muyto metido no mar todo toldado de panos ricos, em que dom Vasco desembarcou indo acompanhado de todos os capitães da frota, & de muyta gente darmas com muytas trombetas, & atabales, & bateis toldados & embandeirados, & el rey ho

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