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estaua esperando á porta da casa q estaua rodeada de dez mil Naires todos com suas armas com q fazia grande arroido. E el rey em dom Vasco chegando a ele abraçouho & foranse assentar e duas cadeiras despaldas que do Vasco mandou leuar pera isso, & el rey se assentou na cadeira por amor de dom Vasco posto que era contra seu costume: & dom Vasco lhe apresentou dous bacios dagoas mãos cheos de ramos de coral grosso, cousa fermosa de ver, & despois assentou coele amizade em nome del Rey do Manuel de Portugal: & despois que assentasse feytoria em Cochim, a assentaria em Cananor. E isto feyto partiose do Vasco & foy surgir no porto de Calicut pera ver se podia auer restituição da fazenda q se hi tomara quando matarão Aires correa: & em chegado tomarão os da armada ate cincoenta pescadores que andauão pescando: o q el rey logo soube & ficou espantado de ver tamanha frota, & com medo q The faria muyto dano se quis saluar com madar pedir perdão a dom Vasco co disculpa que os mouros de Meca fizerão aquela treição sem ho ele saber: pedindo a do Vasco que assentasse trato & feytoria em Calicut como tinha começado: & mandou este recado por hû mouro da terra que foy vestido em hû abito de frade q ficou dos q yão com frey Anrriq: & em chegando a bordo da capitaina falou per Deo gracias, & então conhecerão que era mouro, que ateli cuydauão que fosse frade: & ele disse que vinha assi por lhe não tirarem com a artelharia. E dado ho recado a dom Vasco, respondeo q não auia de falar è cousa damizade, në de trato ate que el rey não pagasse tudo quanto fora tomado a Aires correa. E sobre como isto auia de ser se gastarão tres dias sem se tomar concrusam, ate que dom Vasco dagastado mandou dizer a el rey, que se dali ao meo dia lhe não mandaua a fazenda que fora tomada a Aires correa que lhe auia de fazer guerra a fogo & a sague, & auia de começar em mandar enforcar os seus pescadores: & assi ho fez porque el rey na comprio, & em sendo meo

dia a hũ tiro que desparou hûa bombarda forão enforca→ dos todos os cincoêta pescadores q estauão repartidos pelas naos, muyto espantou aos de Calicut que ho virão da praya: E despois de mortos os eforcados lhes fora cortados os pés & as mãos, & forão leuados a terra em hu paraó com hua carta de do Vasco pera el rey em arabigo que dizia q lhe mädaua aqle presente por sinal de quão be lhe auia de pagar as metiras que lhe tinha dito: & a fazeda del rey seu senhor ele a cobraria a cento por hum: do que el rey ficou muyto injuriado & corrido de não se poder vingar, ne ousaua vědo tamanha frota. E dom Vasco chegadas as naos ho mais perto de terra que pode, mandou varejar a cidade com a artelharia q fez muyto grade dano & destruição, & derribou ho çarame del rey contra quem ho pouo fazia muyto grande cramor, pedindolhe que fizesse paz com os Portugueses. E feyta esta destruição, dom Vasco se partio pera Cochim & deixou hua armada de seys nauios naquela costa pera que fizesse guerra a Calicut tomãdo as naos que saissem do seu porto & quisessem entrar nele & ficou por capitão mór hu Vicente sodré seu parente de Portugal vinha dirigido pera isso, & os outros capitães forão Bras sodré seu irmão, Pero rafael, Diogo pirez, Fernão rodriguez badarças & Pero dataide.

CAPITOLO XLVI.

De como do Vasco da gama chegou a Cochim, & do mais que passou.

Chegado dom Vasco ao porto de Cochim Goçalo gil

barbosa, & Loureço moreno ho forão logo ver, & lhe disserão ho escandalo q el rey teuera de Pedraluarez cabral se ir sem lhe falar, mas que sempre os tratara muyto bem. E el rey ho mandou visitar, & dadolhe arrefes desebarcou & se vio coele, & lhe deu hua carta del Rey dom Manuel em que lhe agardecia o que fizera a Pe

draluarez cabral: & assi lhe deu hum presente, que era hua coroa douro, hu colar do mesino, dous gomis de prata sobre dourados, dous tapetes grandes & finos dous panos darmar deras de figuras, hua peça de cetim carmesim & outra de tafeta, & hua tenda. O que el rey recebeo com muyto prazer: & armada a tenda dentro nela assentou amizade com dom Vasco & lhe deu hua casa pera feytoria, & assi assetarão ho preço a que se auia de comprar a pimenta na feytoria, & de tudo se fez hû contrato assinado por el rey, q lhe deu pera el Rey dom Manuel dous barceletes de pedraria muyto ricos, hua tocha mourisca de prata de dez palmos de comprido, duas toucas de bengala finissimas, hua pedra tamanha como hûa auelaa, muyto proueitosa cotra a peçonha que se acha na cabeça de hua alimaria a que na India chamão bugoldaf. E logo foy apousentado na feytoria Diogo fernandez correa, que como disse foy de Portugal & fora seus escriuães Lourenço moreno q ja lá estaua, & hu Aluaro vaz q ya de Portugal, & do Vasco lhe deu hu lingoa & certos Portugueses pera seruiço da feytoria, & começouse logo de dar carrega á capitaina. E nisto madou el rey de Calicut a dom Vasco per hu bramene q he queria pagar o q se tomara a el Rey de Portugal quando os mouros matarão Aires correa, que ho fosse logo receber. Dom Vasco porq não se fiaua del rey prendeolhe ho bramene pera lho pagar se mentisse: & porq a sua nao tomaua, carrega foy na Desteuão da gama, em q partio logo pera Calicut & não quis que outro nhu capitão fosse coele, posto que lhe todos aconselharão q não fosse assi porque ya a muyto perigo & assi foy, porque vendo el rey de Calicut quão desacompanhado ya quisera ho tomar com trinta & tres paraós darmada que derão sobrele ao quarto dalua, tão de supito que se não acertara destar sobre hüa ancora no mais fora tomado, & a esta mandou ele logo cortar a amarra & juntamente desferir a vela, & cô ho terrenho que ventaua escapou aos paraós que ho seguirão tão apertada

mente que ainda correo risco de ser tomado se lhe não acodirão Vicente sodré & os outros capitães q andauão na costa, que pelejarão co os paraós & os fizerão fugir. E do Vasco se tornou a Cochim & mandou enforcar ho Bramene del rey de Calicut.

CAPITOLO XLVII.

De como el rey de Calicut mandou dizer a el rey de Cochim que não desse carrega a dom Vasco.

Grandemete se ouue el rey de Calicut por injuriado

de lhe dom Vasco enforcar ho seu Bramene: & vědo q não se podia vingar polo medo q tinha da artelharia dos Portugueses, quis atentar se podia fazer com el rey de Cochim que não consentisse na sua cidade a feytoria del Rey de Portugal, nem desse carrega a dom Vasco, & madoulhe por hu Bramene esta carta.

« Soube fauoreces os fragues, & os agasalhas em tua cidade: & lhe das carrega & mantimětos: & quiça que não ves quato dano nos ve disso a todos, & quanto me anojas, rogote q te lembre camanhos amigos fomos ategora, & não queyras anojarme por tão leue cousa como he a amizade dos frangues, q sam hûs ladrões que adão a roubar as terras alheas: & q por amor de mim os não acolhas, nem lhes des nhua especiaria, que a fora fazeres nisso a todos boa obra, a fazes a mim: que ta pagarey no que mandares. Não te encareço isto mais porque creo q ho faras tão leuemente como eu farey por ti outras cousas de mór importancia. "

Vista esta carta por el rey de Cochi como ele era muyto bo, verdadeyro & prudente, não ho demouerão cousa algua ağlas palauras: & respondeo a el rey de Calicut por esta maneyra.

"Não sey como possa ser que cousa de tamanho peso como he laçar os frangues fora de minha cidade, tedo os tomados sobre mim faça tão leuemente como di

zes: tal cousa te não cometi nunca sobre os mouros de Meca, nem sobre outros muytos mercadores que assentarão em Calicut. E e agasalhar os fragues & dar lhe carrega, não cuido que te anojo, nem a ninguem, pois se costuma antre nos veder nossas mercadorias a quem nolas compra, & fauorecermos os mercadores que vem a nossas terras. Os frangues me vierão buscar de muy longe, & por isso os recolhi & emparey, & nã sam làdrões como dizes, porq trazem muyta soma de moeda douro & de prata & de mercadorias, & falão verdade. Tua amizade eu a conseruarey fazendo o que deuo, & assi ho deues de querer, porque doutra maneyra nã seras meu amigo, & a ti nem a ninguem não deue de pesar q ennobreça minha cidade. »

E ficando el rey de Calicut muyto agastado desta reposta, tornoulhe a escreuer esta carta.

« Pesame muy to do bordo que leuas comigo, porque vejo q queres deixar minha amizade pola dos fragues que tenho por immigos, que sera causa de ho ser teu: outra vez te torno a rogar que os não recolhas nem lhes des carrega, & não ho queredo fazer Deos acoime tua culpa: que eu protesto de não ser culpado no dano que se recrecer. »

CAPITOLO XLVIII.

De como indo do Vasco da gama pera Cananor foy cometido de vinte noue naos de mouros.

De todas estas cartas nunca el rey de Cochim quis

dar conta a dom Vasco se não quãdo se ouue de partir, dizendo q lho não dissera mais cedo por lhe não dar má vida e cuidar que faria o que lhe el rey de Calicut cometia, affirmandolhe que era tamanho amigo del Rey de portugal que perderia Cochim se fosse necessario pera mostrar sua amizade. O que lhe dom Vasco agardeceo muyto, certificandolhe que el Rey dom Manuel

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