Imagens das páginas
PDF
ePub

por

ho ajudaria & fauoreceria de maneyra q não somête teria segura sua cidade, mas poderia conquistar outras, & cresse que tudo aquilo del rey de Calicut erào feros, porque dali diante auia de ter tanta guerra com os Portugueses que faria muylo em se defender quanto mais fazela a outrem. Então lhe disse a armada que auia de ficar na India pera fazer guerra a el rey de Calicut, & de Cananor a mandaria pera Cochim, por isso q não receasse os feros del rey de Calicut. E despedido del rey, se partio pera Cananor com dez naos carregadas, porque lá auia de carregar as tres de treze que leuaua. E sabedo os mouros que leuaua as naos carregadas, cuydarão que não se poderia ajudar da artelharia & que ho tomarião, & por isso sayrão do porto de Pandarane vinte noue naos que ho esperauão coessa determinação, todas bem cheas de mouros apercebidos de suas armas, & forano cometer tres legoas ao mar: sobre que logo madou arribar seus capitães: & Vicente sodré que ya diante com Diogo pirez, & Pero rafael forão os primeyros q começarão de pelejar com os immigos, aferrando duas naos que tambem yão diante afastadas das outras, & Vicente sodré aferrou com hua, & Diogo pirez & Pero rafael cò outra. E como os mouros virão juto de si os Portugueses, quis nosso senhor que The ouuerão tamanho medo que se deitarão ao mar, & porque ja se chegaua dom Vasco com os outros capitães desparado sua artelharia, de cujo estrondo se os mouros das outras naos espantarão tanto que arribarào fugindo deixando as duas naos em poder dos Portugueses, que nos bateys matarão os mouros q se lançarão ao mar que forão trezentos: & dom Vasco madou descarregar as naos em que foy achada muyta riqueza, principalmente hu idolo douro q pesou trinta arrates de monstruosa figura, & tinha por olhos duas finas esmeraldas com hua vestidura douro & pedraria com hu robi nos peytos do tamanho da roda du cruzado que daua grande claridade, & muytos guindes, & perfumadores & cospidores de

prata & seys talhas grandes de porcelana fina de ter agoa. E queymadas estas duas naos, partiose dom Vasco pera Cananor, onde se vio com el rey com que acabou dassentar a feytoria que tinha dada: & obrigouse el rey de dar a el Rey dom Manuel toda a especiaria que fosse necessaria pera carregação de suas naos a hu certo preço logo nomeado, & que seria amigo del rey de Cochim, & não ajudar contrele el rey de Calicut sopena de os Portugueses lhe fazerem guerra. E dom Vasco se lhe obrigou em nome del Rey de Portugal de ho ajudar contra todos aqueles que por sua causa lhe fizessem guerra: & de tudo isto se fez hu contrato assinado por ambos, & em Cananor ficou por feytor Göçalo gil barbosa, & por escriuães hu Bastião aluarez & hu Diogo godinho, & por lingoa Duarte barbosa, & ficarão mais na feytoria Francisco correa, Ioão da vila q eu ainda conheci em Cananor, Gaspar homem & outros que por todos forão vinte que el rey tomou sobre si com a fazeda da feytoria. E carregadas aqui dom Vasco tres naos madou a Vicente sodré que se fosse com a armada dos seys nauios que lhe ficaua pola costa do Malabar onde andaria ate Feuerey ro, & se teuesse certeza que el rey de Calicut auia de fazer guerra a el rey de Cochim que inuernasse em Cochim & ho ajudasse: & não auědo guerra fosse ao cabo de Goardafum a fazer presas nas naos dos mouros de Meca que fossem da India. E partido Vicente sodré, ele se partio pera Portugal com treze naos a vintoyto de Dezebro de mil & quinhentos & tres, & no cabo das corrêtes passado Moçambique lhe sobreueo hu temporal de vento, com que se apartou dele a nao Desteuão da gama, & sem mais outro contraste chegou a Lisboa ho primeyro de Setembro do mesmo anno, & todos os grandes da corte del Rey dom Manuel ho forão receber ao cays, & ho leuarão ao paço: onde ho el Rey recebeo cô muyta hõrra, & lhe fez merce do almiratado do mar Indico, & o fez code da vila da Vidigueira.

[ocr errors]

CAPITOLO XLIX.

De como foy sabido e Cochim q el rey de Calicut lhe auia de fazer guerra.

Vicente sodré & ficou na costa de Calicut, fezlhe a

mais guerra que pode por mar: & co tudo el rey de Calicut não desistia da determinação que tinha de fazer guerra a el rey de Cochim pera que se foy a Panane por ser perto, & ali ajûtar sua gête: o que logo foy sabido em Cochim polas espias que el rey lá trazia, cỡ que seus moradores ficarão muy assombrados de medo por saberem quão poderoso era el rey de Calicut & quão pouco el rey de Cochim: & mais porque crião que não tinha rezão pois queria defender os Portugueses que erão immigos de sua ley, a q por essa causa querião grade mal & lhes rogauão pragas, & querialhe muyto grande mal, & algus priuados del rey lhe conselhauão que deuia dentregar os Portugueses a el rey de Calicut, & que não quisesse guerra coele pois era mais poderoso : & não quisesse perder ho reyno. O que lhes el rey de Cochi estranhaua muyto, & dizia q esperaua em Deos de vecer a el rey de Calicut, porq se lhe fizesse guerra auia de ser sem rezão. E por este aluoroço que el rey via nos seus tinha grade goarda nos Portugueses. Neste tempo veyo ter ao porto de Cochim Vicente sodré com os seys naujos darmada que disse, cujos capitães erão Bras sodre, Pero dataide, Pero rafael, Diogo pirez & Fernão rodriguez badarças que ficou em lugar Dantoniofernandez q se perdeo, & deixaua fey to grande dano na costa de Calicut, assi no mar como na terra. E cổ sua chegada perdera os Portugueses ho medo que tinhão. E chegando ele, ao porto, porq tardaua em desebarcar, lhe mandou Diogo fernandez correa dizer por Lourenço moreno escriuão da feytoria ( mo cõtou) a certeza que tinha da guerra q el rey de Calicut queria

fazer a Cochim & onde estaua, pedindolhe da sua parte, & reqrendolhe da del rey de Portugal que lhe desse algua da sua gente, & com a outra esteuesse no porto & não se fosse dele, porq com sua estada ficarião os Portugueses & el rey de Cochim muyto fauorecidos. Ao q Vicête sodré respondeo, que era capitão do mar & não da terra, & por isso não auia de pelejar se não no mar, q se el rey de Calicut ouuera de fazer a guerra por mar a Cochim, q ele ajudaria el rey, mas que por terra não tinha de ver coisso, q queria ir descobrir ho estreyto do mar roxo pera que ficara na India, o que The Diogo fernadez tornou a mandar requerer q não fizesse, nem se fosse de Cochim, & q goardasse a feytoria del rey de Portugal, pera que ficara na India, & não pera descobrir ho estreyto: porq el rey de Calicut não fazia a guerra a Cochim se não pera tomar a feytoria del rey de Portugal, & os Portugueses q estauão nela, & que el rey de Cochi não tinha gente pera se defender por isso q não se fosse, protestado de ser obrigado a pagar a el rey de Portugal todo ho dano q recebesse por sua ida: & com tudo Vicente sodré não quis se não irse, por esperar de fazer muytas presas onde. qria ir: & partiose com os outros capitães, sem lhe lembrar ho perigo em qficaua a feytoria, & os Portugueses, & el rey de Cochim. E esta he a verdade, ainda q algus digão que Vicête sodré se mandou offrecer a el rey de Cochim pera ho ajudar na guerra se teuesse necessidade, & se não q iria descobrir ho estreyto. E que el Rey lhe respondeo, que por ser entrada de inuerno lhe na auia de fazer el rey de Calicut guerra, në lha poderia ja fazer na entrada do verão seguinte, quando ele auia de vir do estreyto, por isso q bem podia lá ir inuernar, q ho inuerno ho seguraua del Rey de Calicut The fazer guerra. E bem parece q quem isto diz não foy á India, nem soube q ho melhor tepo q el rey de Calicut tinha pera fazer guerra a Cochim era & Março, Abril, Mayo, ate meado Iunho, em q sabia certo

que na auião de chegar á India naos de Portugal, co cujo medo sabia que não podia fazer guerra a Cochim se não no tepo q digo. E be se mostrou nesta guerra que fez como direy a diante.

[ocr errors]

CAPITOLO L.

De como el rey de Calicut declarou aos senhores que ho ajudauão, que queria fazer guerra a Cochim.

Despois

espois que el rey de Calicut foy em Panane, se ajuntara co ele muytos senhores seus vassalos & amigos, que tinha mandado chamar pera ho ajudarem na guerra: & outros forão sem serê chamados, porque sabendo que aquela guerra era por amor dos nossos que estauão e Cochim (que todos desejauão de ver lançados fora da India) hião de muyto boa vontade a destruir el rey de Cochim. Em tãto q ate os seus proprios vassalos ajudauão elrey de Calicut, como forão ho Caymal de Chirabipil, & ho de Cabalão, & ho da ilha grade q está defröte de Cochi. El rey de Calicut tedo estes señores jutos, lhes disse. «Se de boas obras se gera amizade antre as pessoas, eu & vos por minha causa, & è geral todos os malabares a deuemos de ter muyto grande com os mouros, porque ha bem seys centos annos que entrarão no Malabar, & em todo este têpo ate oje nunca ninguem recebeo deles escandalo, não auendo nhûs estrangeiros que os não fação quado nouamente ocupão alguas terras, antes como que forão nossos naturais se derão com a gente com todo amor & amizade q se deue dûs naturais a outros com que a terra foy sempre prouida por eles de muytos mantimentos & mercadorias q foy causa de ho pouo enrriquecer & as rendas do reyno irem em grade crecimento, principalmête nesta cidade em que os mouros fizerão a principal escala de toda a India: pelo que eu tenho muyta rezão de os fauo& desfauorecer aos frangues que com tanto seu

recer,

« AnteriorContinuar »