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perjuyzo querem assentar na terra, mais pera a tomarem & destruyrem, que pera lhe fazerem proueito: do que derão assaz de sinais nesses poucos de dias que aqui esteuerão, assi como foy em me ho capitão mór prender os meus embaixadores, & em fazer nouas leys en minha cidade que carregasse primeyro suas naos que os mouros as suas, & sobrisso lhe reteue hua nao que foy causa de lhe os mouros fazerem o que fizerão, q eu cuydo que foy ordenado de Deos por sua soberba: & não lhe tendo eu nisso culpa me queymou dez naos em meu porto, & me destruyo a cidade com sua artelharia, ate me fazer fugir de neus paços, & despois aida me queymou duas naos, o que na fizera se viera pera tratar, antes me mandara fazer queixume dos mouros, & esperara que os castigara & não fazer o que fez, que mais parece de ladrões como eles sam, que de mercadores que se querem fazer pera coessa cor se podere senhorear desta terra: o que el rey de Cochim com quanto lho mandey dizer nunca quis entender: & sendo meu vassalo, & sabendo o q me eles tem feyto, os recolheo, & recolhe, & lhe deu carregação pera suas naos, & agora lhe deu feytoria, o que lhe per muylas vezes mandei rogar q ho não fizesse. Pelo que determino de ho destruir, & pera isso vos mandei pedir que vos ajuntasseis: & tabe vos peço q me digais se tenho rezão de ho fazer assi. » Oqa todos pareceo muyto bem, & louuarão muyto sua determinaçã, principalměte ho señor de Repeli, porq tinha grade odio a el rey de Cochi por The ter tomada bua ilha chamada Arrul: & ho mesmo fizerão tres mouros pricipais. Contra o que foy hû irmão del rey chamado Nambeadarim q era principe herdeyro por sua morte: & logo ali disse a el rey. «Ho paretesco q tenho contigo, & outras muytas cousas te podem certificar que sobre todos quatos aqui estão ey de desejar tua hõrra & proueito, & por isso ha de ser mais verdadeyro meu conselho que ho seu, porque eles como não tem tamanha obrigação pera te aconselhar co

mo eu tenho, mais parece que te cõselhão segundo a vontade que te vem pera a cousa, sobre que te dão conselho, que segundo a rezão que ha pera a fazeres. E se eles sem lijõjaria, & tu sem ira quiserdes julgar a causa dos frangues achareis que ainda ategora não ha nhũa pera não serem muyto bem agasalhados nas tuas terras, & nas outras do Malabar, & na deitalos delas como a ladrões o que se lhe não pode chamar posto que qua viessem, pois de todas as partes do mundo se ajuntão aqui a comprar as mercadorias que não ha nelas, & assi trazem as que não ha nesta terra. E desta maneyra vierão os frangues, & segudo costume de mercadores te trouuerão da parte do seu rey ho mais rico presente que te nuca foy dado, & a fora suas mercadorias trouuera muyla moeda douro & de prata, o que não traz quem vem pera fazer guerra: que se eles pera isso vierão não dissimularão a fugida que quiserão fazer os arrefes, a que chamas embaixadores a que prêderão porque querião fugir estando ho seu capitão mór ẽ terra, & reconciliandose logo contigo como gête sem sospeita forão tomar a nao que leuaua ho alifante, q te entregarão com quanto leuaua, o que os ladrões não costumão, ne menos pagar tambem, nem tratar tanta verdade como tratauão. Que nunca no tempo que esteuerão em Calicut se ninguem aqueixou deles, se não os mouros que por sere seus imigos, & com enueja de os verem participates no ganho que ganhauão, lhes assacauão q tomauão por força a pimenta a seus donos, sendo eles mesmos aqueles que ho fazião, porque os frangues a não podessem auer pera carregação de suas naos. E por isto ser muyto notorio lhe deste licença que lha tomassem: & coesta licença mandou ho seu capitão mór fazer represaria na nao dos mouros que estaua carregada & tendo eles toda a culpa se aleuantarão côtra os frangues, & fizerão o que se sabe. E com tudo eles como homens pacificos esperarão todo hu dia pera ver se querias darlhe algua desculpa: & vedo que não então se

vingarão, & não com treyção como os mouros, que não forão pera defender as naos, ainda que agora falão muyto, & te conselhão q faças guerra a el rey de Cochim, porq os recolheo em sua cidade: pera o q nå ha nhữa rezão, pois ele os não recolheo por te fazer pesar, se não como a quaes quer mercadores q vão a seu porto, porque ho mesmo fez el rey de Cananor, & quisera fazer el rey de Coulão, o que eles não fizerão se sentirão qos frangues erão ladrões. E se os tu queres desarreygar da India & por essa causa qres fazer guerra a el rey de Cochim, he necessario q a faças tambe a el rey de Cananor: porque de Cananor farão o que receas fazerem de Cochim: & se não deixa el rey de Cochim : & não te digão que te atreues coele, porque he menos poderoso que el rey de Cananor. » E Nãbeadarim falou tão isento a el rey, assi por ser muyto bo homem & caualeyro muy esforçado, como por ter muyto credito coele, & muyta autoridade: & por isso lhe tinha el rey acatamento, & tanto que se os mouros & os Caimais & senhores que ali estauão se não poserão muyto rijo contra ho seu. El rey tornara atras da determinação que tinha de fazer guerra a el rey de Cochim: porem todos perfiarão que seria grande abatimento seu ajuntar ali tanta gente como tinha, & tornar atras, sem cometer nhua cousa, que ao menos deuião de prosseguir auante: porque poderia ser que vendo el rey de Cochim que se chegaua faria com medo o que não quisera fazer rogado. E coeste conselho, preguntou, el rey aos seus feyticeiros que dia seria bo pera a partida, & eles lho assinarão & lhe disserão que auia de ser vencedor naquela guerra: & que ainda se auia dajuntar coele mais gête. E coesta certeza dos feyticeiros que el rey de Calicut tinha por muy grande se partio pera terra de Repelim quatro legoas de Cochim.

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CAPITOLO LI.

Do grande aperto em que estauão os Portugueses cổ medo que el rey de Cochi os etregasse a el rey de Calicut.

El rey de Cochim sabia tudo isto por espias & trazia

com el rey de Calicut: & andaua muy triste não por medo da guerra: mas por não ter gente co que se defendesse, porque todos aqueles de que esperaua ajuda por vassalajem & amizade erão da parte del rey de Calicut: que se forão da sua bem certa tinha a vitoria. E assi estaua em duuida porque tinha muyto pouca gente, & a mais dela ho ajudauão contra sua vontade, principalmente os moradores de Cochim q querião grade mal aos Portugueses, & dizião pubricamête que el rey os deuia dentregar, ou lançalos de Cochim porque se escusasse a guerra: & a fora isto muytos dos moradores fugião & deixauão suas casas com medo da guerra. E coisto tinhão os nossos grande temor que bem vião ho grande perigo em que estauão, com quanto os el rey seguraua. E ho feytor pedio embarcação a el rey pera se irem a Cananor, dizendolhe que hi estarião seguros ate que viesse a armada de Portugal: & que ele ficaria liure da guerra: & os seus desapressados com que el rey mostrou muyto grande tristeza. E disse ao feytor que bem sabia que de desconfiado lhe pedia a embarcação, & por isso lha não auia de dar: & q lhe rogaua muyto que não desconfiasse dele, porque ele lhe daua sua fee que lhe ya tanto em os ter viuos que antes perderia ho reyno & a vida que os entregar a el rey de Calicut: nem a outrem que lhes fizesse mal. E quado sua desauêtura fosse tanta que perdesse Cochim: que lhe não faleceria õde se acolhessem ate & viesse a armada de Portugal: & posto que el rey de Calicut viesse muyto poderoso, ne por isso tinha logo certa a vitoria, porque ela se alcançaua mais vezes pelos poucos & esforçados,

que polos muytos sem esforço: quato mais que a justiça que ele tinha da sua parte lha auia de dar: por isso que descansassem & rogassem ao seu Deos que lha desse. Coestas palauras & com os Portugueses entêderem que el rey as dizia com animo de as comprir: ficarão descansados, & The quiserão beijar a mão, mas ele não quis, nem menos que ho ajudassem na batalha, pera o que se todos offerecerão: & ele respondeo que os não auia de poer em parte perigosa, porque os queria ter viuos pera testemunhas de quanto trabalhara por sua vida. E dali por diante encomendou a guarda deles a algus Naires de que confiaua. E porque assessegasse ho aluoroço que auia contra eles, mandou ajuntar esses senhores que estauão coele, & assi algus Naires principais dos que fazião ho aluoroço, & disselhes. « Não posso deixar destar muyto triste por vos ver tão desleais, & não me espanto da gente baixa, pois sua baixeza lhes fazer vilezas: mas de vos outros que soys Naires, & fostes sempre leaes: estou espantado que me quereis fazer quebrar a fé que dei ao capitão moor dos frangues de lhe goardar os seus como a meus naturais, & por isso os deixou nesta cidade em que me vos outros conseIhastes que os recebesse: & agora por verdes que el rey de Calicut tem algua mais gente que eu, conselhais me que faça hua cousa que se eu fora tão mao que a quisera fazer mo ouuereis destranhar: & vos ho julgay, se estando em poder doutro rey com seguro se ho tirieis em boa conta fazendouos o que me coselhais que faça aos frangues: mormente tendo o que vos pedisse tão pouca rezão pera ser nosso immigo, como tem el rey de Calicut, & ho rey que vos teuesse tão pouca causa de vos entregar como eu tenho pera entregar os frangues. Pois se isto he assi, como me conselhais que faça aquilo que aueis de reprehender a outrem: não me dado pera isso mais rezão que medo del rey de Calicut, sabendo que muyto mais pera estimar he a morte honrrada que a vida com deshonrra: que não podia ser mor pera mim que

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