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E das cincoenta &c. (Liv. 6. pag. 58, lin. 17). Este lugar foi tirado da Ethiopia, ou Verdadeira Informaçao das Terras do Preste Joao pelo Padre Francisco Alvares, impressa em 1540, Cap. 85, donde se colhe que a ordem do Preste era de lhes darem só para a farinha, e vinho cincoenta mulas, e escravos, fóra as mulas, e escravos necessarios para levarem o fato; porém a ordem foi mal executada. Na See de Cochim (Liv. 6.° pag. 166, lin. 26). Na Edição original se achao riscadas estas palavras, e em lugar dellas por letra antiga de mão, que se parece com a da assignatura do Autor, o seguinte: «no mosteiro de santo antonio da ordem de sam francisco». E assim he, que de Santo Antonio se chamava esse Convento, como diz Fr. Jacinto de Deos, Vergel de Plantas, pag. 76. Barros, Decad. 3. Liv. 9.0 Cap. 20, tambem affirma que o Governador fora enterrado no Mosteyro de S. Francisco Se arrifaua muyta gete (Liv. 6.o pag. 196, lin. 1). Occorre ao Leitor que será erro por arriscava, e he realmente o que significa; mas póde ser que naõ seja erro, porque rifa se deriva do Grego ripsis (mudado ops em f, como fizemos noutras palavras), que corresponde ao projectio Latino, e se applicou ao lanço dos dados. Confirma-se isto com o Auto dos Escrivães do Pelourinho (obra, que pelo estilo, e contexto se vê ser do seculo 16, e foi reimpressa em Lisboa na Officina de Bernardo da Costa, 1722, em 4.o, que he a ediçao que tenho á vista), onde se introduzem dous patifes, Duarte, e Gonçalo, que se convidao a jogar, e diz:

TOMO I.

Duart. E q jogo jugaremos?
primeirinha a descartar!
Gonçal. Jorei de não jugar,
mas aos dados rifaremos,
qhe jogo singular....

Duart: quanto auemos de jugar?
Gonçal: cada rifa hum vintem

***

E veja-se tambem o Cap. 44 da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, que por mais vulgar se nao copia. E nós ainda hoje dizemos a estou jogado aos dados " frase , que já se acha em Sá de Miranda, como adverte Moraes, e he tambem de A. R. Chiado, na obra citada, fol. 4, lin. 2.a

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E mandando desenxarceur ho jugo ho madou meter no fundo (Liv. 8. pag. 106, lin. 17). Do que se segue parece colligir-se que o junco nao foi destruido; mas ou fosse mettido no fundo, como aqui diz o Autor ? ou queimado, como diz Andrade, Chronica del Rei D. Joao 3.o Parte 2.a Cap. 73, a restituiçaõ que se pertendia, era do seu valor, segundo conta o mesmo Andrade, que nestas cousas da India se servio muito da Historia manuscrita de Gaspar Correa (V. Cap. 66, e 68 da citada Parte 2.2).

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Leua (Liv. 8. pag. 147, lin. 30) he termo conhecido no Téjo, e significa hum chapuz, ou escudete de madeira, que depois de encaixado o leme, se pregava no cadaste, ou casco da embarcação, obra de quatro dedos acima da machafemea fundeira do leme, para este não poder saltar fóra.

Priuilegio que ho muyto alto, & muyto poderoso Rey do loão ho terceiro deste nome deu a Fernão lopez de Castanheda pera os liuros da historia do descobri mento & conquista da India pelos Portugueses.

V el Rey faço saber a quatos este meu Alluara virễ, q Fernão lopez de castanheda, Bedel da faculdade das artes da vniuersidade de Coimbra me euiou dizer q ele tinha feytos dez liuros da historia da India, q começauão do descobrimeto dela: dos quaes tinha impressos â sua custa ho primeyro luro, & queria imprimir os outros. E porq auia mais de vinte annos q andaua ocupado no fazer da dita historia: & tinha leuado nisso muyto trabalho, & feyto muyto gasto de sua fazenda me pedia q ouuesse por be, à pessoa algua não podesse imprimir os ditos liuros se não ele Fernão lopez, ně os vender, ne trazer de fora do reyno polo tempo, & sob as penas q me bem parecesse. E visto seu requerimento, & auedo respeyto ao trabalho q tem leuado em fazer os ditos liuros, & a despesa nisso te feyta, me praz por těpo de dez annos q se começarão da feytura deste em adiante, pessoa algua de qualqr qualidade que seja, não possa imprimir, ne mandar imprimir os ditos liuros da dita historia da India, ne cada hû deles: nem os possa trazer, nem mandar vir impressos de fora do reyno, se não ho dito Fernão lopez, ou quem seu poder pera isso teuer. Sub pena de qualquer impressor, ou liureiro, ou pessoas qos ditos huros ou cada bu deles imprimir, où věder, ou teuer e sua casa, ou trouuer imprimidos de fora do reyno, perder os volumes lhe forem achados & pagar cincoenta cruzados, a metade pera os catiuos, & a outra metade pera que os acusar. E este se imprimira no principio de cada hum dos ditos liuros. Pelo qual mãdo a todos os corre

gedores, juyzes, & justiças, officiaes & pessoas de meus reynos & senhorios q assi ho cuprão & goardem, & fação inteiramente cuprir & goardar, porq assi ho ey por bê. E este me praz q valha, & tenha força & vigor, como se fosse carta feyta e meu nome por mim assinada & passada por minha chacelaria: posto q este não seja passado pola dita chacelaria, sem ebargo das ordenações do segůdo liuro, q ho contrairo dispõe. Ioão de seyxas ho fez e Almeyrim, a quatorze dias de Iunho de M. D. LII. Manuel da costa ho fez escreuer.

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PROLOGO

NO PRIMEIRO LIVRO DOS DEZ DA HISTORIA do descobrimento & conquista da India pelos Portugueses. Dirigido ao muyto alto & muyto poderoso Rey do loão nosso Senhor deste nome ho terceiro Rey de Portugal & dos Algarues, daquem & dalem mar em Africa, senhor de Guiné, Da conquista, nanegação & comercio de Ethiopia, Persia, Arabia, & da India.

Em

Per Fernão Lopez de Castanheda.

m grande obrigação sam os homes aos historiadores muito alto & muito poderoso Rey nosso Senhor, principalmente os princepes peraquem parece que è especial se fez a historia, cousa tão proueitosa pera a vida humana insina o q façamos & do q auemos de fugir, o q conue muito mais aos princepes aos outros homes, porq qualqr home priuado q faça hu erro não he nada pois não dana mais q a si mesmo, & hu princepe se ho faz dana a todos os q te debaixo de sua gouernaça, porq dela ser boa ou mâ depẽde ho bem & mal de todos os de sua Repubrica, Pelo q he muito necessario ser ho princepe mais virtuoso, mais sabedor & mais prudente que todos, & peraque aprenda estas cousas não te me-. Thor preceitor q a historia, porque? que doutrina q dis-crição q prudêcia ha pera boa gouernança da Repubrica assi na paz como na guerra que a historia não insine com experiêcia de exempros, que sam muito mais do que hû homě pode ver em sua vida por mais comprida seja, & porisso todos esses princepes famosos assi Barbaros como Gregos & Latinos forão tão dados a ler historias. E por a historia ser tão necessaria aos princepes

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