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que ho seu. El rey lhe prometeo o que pedia, se ho tirasse. Então atou ho apostolo hu cordão, trazia cingido em hu esgalho do tronco: & tirado por ele leuouho ate ho lugar onde queria. Do que todos sespantarão: & muytos se tornarão Christãos: & el rey lhe deu lugar pera a igreja, que ele logo começou de edificar. E por ser costume na terra, que quando se começa algûa obra, antes que os officiaes lhe ponhão mão lhe dão certo arroz : & despois q começão lhe da cada dia á noyte hua moeda chamada fanão q val dezaseys reays. Quado ho apostolo ouue de começar a obra chamou os officiaes, & deu a cada hu tanta quantidade darea quanta lhe auia de dar darroz, que por virtude de nosso senhor se tornou nele. E despois q começara de trabalhar daua á noyte hua cauaca a cada official, & tornauase fanão: de que todos ses patauão muyto: & dizião que aquele homem era santo, & chamaualhe Martama: & cada dia se conuertião muytos. E ainda agora antre os gentios deste reyno auera bem doze mil casas de Christãos, que de geração em geração procederão destes. E te antre si alguas igrejas: & isto no sertão. Assi acabou ho apostolo a sua igreja, que mandou enmadeirar dağle tronco. E vendo el rey de Coulão quantos se conuertião por seus milagres, mãdouho lançar fora de sua terra. E ele se foy a hua cidade chamada Malaipur, na mesma costa, & do senhorio del rey de Narsinga. E ainda aqui por ser persseguido dos gentios, segudo dize os Christãos de Coulão, se apartaua soo pelos matos. E andando assi dizem que hu gentio que andaua caçado vio estar muytos pauões jutos no chão: & antreles hu muyto mór que todos, q estaua sobre hua lagia, a q'ho caçador fez hu tiro co hûa frecha, & atrauessouho: & leuâtandose cỡ os outros tornouse no ár corpo domě. Do q ho caçador espantado se foy contalo á cidade: de que veo ho gouernador dela velo: & vio q ağle corpo era ho de sam Thome: & na lagia estaua figuradas duas pegadas domě. E ho gouernador ho mandou entrar em hua igreja que

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ali fabricara. E enterrarano seus discipulos: & eles le-
uarão a lagia que tinha as pegadas, & poserana junto
da coua. E quando ho meterão nela nunca lhe poderão
meter debaixo da terra o braço dereyto, E assi esteue
por muytos annos ate que ali forão Chis em romaria
ho terem por santo. E quiseranlhe cortar ho braço pera
ho leuare em reliquias pera sua terra: & e ho queredo
fazer ecolheose ho braço pera detro & nunca mais foy
visto. Esta igreja onde foy sepultado he feyta como as
nossas co cruzes no altar: & hua grande no meyo da
abobada com pauões por diuisa: & está muyto dânefica-
da & cercada de mato, porq a cidade he despouoada,
& hu mouro pobre te cuydado dela por não auer na ter-
ra derredor Christãos: & pede esmola aos q ali vão ẽ
romaria assi Christãos como gêtios: & os mouros lha
dão tabe por estar na sua terra. Chegado A fõso dalbu-
querq ao porto desta cidade, & sabedoho os regedores
forão assetar coele paz a sua nao, q se fez cô côdição
qos nossos teuesse feytoria na cidade: & q pera ağlas
naos lhe dessem carrega: no q se logo etêdeo. E no
tempo q aqui esteue em quãto hua nao carregaua an-
dauão duas, duas legoas ao mar: vigiando as q passa-
uão doutras partes & a todas fazião por be: ou por mal
q fossem seus donos falar a Afonso dalbuquerq, & dar-
The obediencia como a capitão mór del rey de Portugal:
& não lhe fazia nhu dano soměte ás dos mouros do mar
roxo, & a estas queimaua despois de saqadas por vin-
gança do que fizerão a Pedraluarez cabral: do que os
de Coulão auião gràde medo. E acabada a casa da fey-
toria, & carregadas as naos deixou Afonso dalbuquerq
nela por feytor a hu Antonio de sá com dous escriuães.
s. Ruy daraujo, & Lopo rabelo, & ho Madeyra por li-
goa, & frey Rodrigo por capelão, & Ruy dabreu, Pero
loureço, & Göçalo gil: & outros que per todos forão
vinte, & deixadoos em paz, partiose pera Cochim.

CAPITOLO LXII.

De como se assentou paz antre Francisco dalbuquerq & el rey de Calicut, & como foy quebrada.

Muyto

Luyto pesou aos mercadores mouros de Coulão do assento da nossa feytoria porq a fora ho odio q tinhão aos nossos parecialhes que os auião de fazer ir dali & trabalharão quanto poderão com el rey de Coulão: q não consentisse a feytoria, & não ho podendo acabar meterão por terceyro a el rey de Calicut a quem escreuerão ? que passaua. Mas ta pouco acabou como eles do que cou muyto triste: & mais conheceo que pera lâçar os nossos fora da India lhe aproueitaua pouco não os acolher e seu porto, pois os reys de Cananor, de Cochî, & de Coulão os acolhião nos seus & lhes daua carrega. E vio claramente que não tendo paz com os nossos perderia suas rendas, porq os mouros que lhas dauão nã tratauão como dates co medo dos nossos. E tendo paz coeles tornarião a seus tratos: & ele cobraria seus dereytos, de que tinha perdido muyta parte. Pelo qual e todo caso lhe conuinha ter paz com os nossos. E deitada esta cõta, não quis dar parte dela se não a seu irmão, q the acõselhou q assi ho fizesse, dãdolhe pera isso muytas rezões. E secretamete mandarão recado a Fracisco dalbuquerque sobre as pazes, com codição q pagaria em pimenta a fazěda q fora tomada a Pedraluarez cabral. E co o parecer dos outros capitães, & del rey de Cochim foy assentada a paz cỡ côdição q el rey de Calicut mandasse despejar suas armadas a trazia pelos rios: & pela fazenda fora tomada a Pedraluarez desse quatro mil & quinhentos quintais de pimëta pera os leuare naquelas naos. E que auia de mandar entregar presos em ferros os Italianos arrenegados: & q nhữa nao de mouros de Calicut podesse nauegar pera ho mar roxo: & q auia de ser amigo del rey de Cochim. E

coestas condições foy feyto hů contrato de pazes antre el rey de Calicut, & Francisco dalbuquerque: sómente se tirou a entrega dos dous arrenegados, em que el rey de Calicut não quis consentir. E tirado esta cõdição assinou el rey ho côtrato. E isto foy feyto tão secretamete nunca ho senhor de Repelim, nem nhů dos mouros ho souberão se na despois de feyto: do q eles ficarão muyto escandalizados, & tão sospeitosos del rey q algus se forão de Calicut. E este segredo teue Nambeadarim, porq a paz ouuesse effey to: porq nunca ho ouuera se ho souberão os mouros. Assentada a paz, logo Nambeadarim se partio pera Cranganor: porq hi se auia de dar a pimenta que não quis q se desse em Calicut, por se escusare brigas, ou outras defereças q poderião recrecer antre os nossos, & os mouros: & tambĕ pera dali poder logo recolher as armadas qandauão pelos rios. E a Cranganor mandou Fracisco dalbuquerq Duarte pacheco pera leuar a pimeta q podesse na sua nao: & leuasse a hû caualeyro chamado Rodrigo reynel pera feytor daquela pimeta, & coele dous escriuães. Os quaes Duarte pacheco mandou a terra dandolhe primeyro Nambeadarim arrefens. E como ele desejaua muyto que esta paz fosse por diate fez aos nossos todo ho bo gasalhado q pode. E deu na carregação da pimeta todo ho auiamento q foy possiuel: & deulhe oytocetos quîtais de pimeta. E sabedo Frãcisco dalbuquerq a cousa como ya, porq se desse mór pressa, e quato Duarte pacheco descarregaua mãdou a Niculao coelho q fosse por mais pimëta, & ẽ quanto hu descarregaua ya outro carregar. E andando nisto, leuâdo hû dia hus Malabares hû tone de pimenta por dentro dos rios pera Cranganor, ho feytor de Cochim sem ho saber Fracisco dalbuquerque ho mandou tomar por homes da feytoria, dizendo que el rey de Calicut co dissimulação de dar pimeta aos nossos madaua ao mar roxo contra ho contrato das pazes. E a pimenta foy tomada, & morto hu dos Malabares: do que Nambeadarim se aqueixou muyto a Duarte pa

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checo, porq conhecia a el rey seu irmão por tal que se auia de querer vingar, se Francisco dalbuquerque não desse disso algua emêda: mas ele a não deu. O que sabedo el rey de Calicut madou a Nambeadarim que soltasse pelos rios as armadas que tinha recolhidas, ate cobrar o que valia a pimenta que lhe tomarão. E reuolueose a cousa de modo que os mercadores que leuauão pimenta á nossa feytoria de Cochim a não querião leuar. E Francisco dalbuquerque que via que tinha culpa naquilo, não ousaua de se queixar a Nambeadarim das armadas que soltara pelos rios, & dissimulaua. E mandou dizer aos mercadores que leuassem a pimêta a hù certo passo: & que ele a iria hi receber. E mandou lá Pero rafael na sua carauela, & hu batel armado em sua copanhia. E como forão no passo forão logo sobreles corenta paraós, & pelejarão coeles, & ferirãolhe muytos. E tão mal tratada foy a carauela, que foy necessario ao batel ir pedir socorro a Francisco dalbuquerque, qlhe foy logo acodir: & com sua ida fugirão os paraós, & a carauela ficou tão furada das bombardadas que a leuarão ao porto da nossa fortaleza: & tirarâna a mõte pera a concertarem, & daqui ficarão as pazes quasi quebradas: & nã se deu em Cranganor mais nhũa pimenta, nem Nãbeadarim não quis dar licença a Rodrigo reynel: nem aos outros com quanto lha ele pedio pera se ir pera Cochim, & disselhe que se não fosse porque as pazes não erão quebradas de todo q ele esperaua de as tornar a assentar: & fazialhe ho mesmo fauor q dantes, co todo ho gasalhado que podia ser, & ainda que Rodrigo reynel escreueo a Francisco dalbuquerque que ho mandasse pedir ele não quis, dizendo que se deixasse estar, porque se ho mandasse pedir quebrarseyão as pazes de todo: o que ele nã queria porq esperaua de as tornar a assentar quando passasse por Calicut pera onde estaua de caminho.

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