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sem medo. E sabedoho el rey de Cochim não quis, dizendo que se enforcassem aquele, os outros se amotinarião logo, & não aueria matimentos na cidade, porque eles os mandauão trazer por mercadoria, por isso q seria melhor dissimular. E vendo Duarte pacheco q el Rey não queria, disselhe que queria fazer bua pratica aos mouros: & q tinha cuydado hû ardil pera q se não fosse ningue da cidade, q mandasse aos seus que lhe obedecessem no q lhes mandasse. Ho q el rey mãdou perante ele mesmo: & isto mandado, ele se foy com obra de corenta dos nossos a Cochim a casa de Belinamacar, hu mouro mercador hõrrado q moraua perto do rio: & rogoulhe q mãdasse chamar certos mouros que The nomeou: porq lhes queria dar conta de hua cousa que releuaua a todos, a que os mouros forão logo, porq The auião grade medo, & vindo eles lhes disse.

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Mandeyuos chamar hõrrados mercadores, pera vos dizer o porq fiquey na India, porq quiça ho na sabeis todos, & por isso dize algus que fiquei pera recolher a feytoria, & leuala a Coulão: ou a Cananor: & porque saybais que não he assi vos quero dizer a verdade. Eu não fiqi pera outra cousa se não pera goardar Cochim: & se for necessario morrer com quantos ficarão comigo sobre vos defeder del rey de Calicut: & isto vereis claramente se ele vier, à vos prometo que ho hey de csperar no passo de Cabalão, per onde me dizem q quer entrar: & ali se ousar de pelejar comigo predelo pera ho leuar a Portugal. E ate que nã vejais ho côtrairo disto, vos rogo muyto q não vos vades de Cochim donde sey que estais abalados pera vos ir, & aluoroçais ho pouo pera isso & como soys os principais, tomão os outros de vos exemplo pera ho fazer: & eu me espanto muy to de homes ta sesudos como vos, qrerdes deixar as casas em q nacestes, & a terra em q morais ha tanto těpo, não co medo do que vistes, mas do que sóměte ouuis, q ainda pera molheres he cousa fea, quãto mais pera -vos, que se vos quisereis ir com me verdes desbarata

go,

do, na vos posera culpa, mas fazerdelo se me verdes dar batalha, ou he por couardia, ou por malicia: pois sabeis que ainda onte tão poucos Portugueses věcemos a esses milhares dimigos, q agora nos hão de vir buscar, & se me dizeis eramos mais do q agora somos, assi então auiamos de pelejar em capo largo, onde era necessario sermos muytos: & agora e passo estreyto tanto auemos de fazer poucos como muytos, pois se eu sey pelejar, bem ho ouuerieis dizer: porq eu fuy ho que fiz mais dano aos îmigos, & be ho sabe el Rey de Cochim, q mais perderá q vos se eu fosse vencido. E confiado e mi & nos ficarão comigo, espera ate ver em q para este feyto que esperamos, & pois ele ele espera, vos porque vos ireis. Lebreuos q eu & os que ficarà comificamos na India tã lonje de nossa terra pera defeder el rey de Cochi. E vos seus vassalos, & naturais da terra quereis deseparar a ele & a ela: cousa muy vergonhosa he esta pera poleás: quanto mais pera homes tão horrados como vos: peçouos muyto q na façais tamanha deshonrra a vos mesmos, nem a mim tamanha injuria, em descõfiar q vos defenderey, porque vos dou minha fé, q vos poso defender doutro poder mayor q ho del rey de Calicut, & por isto me escolhera pera este feyto: q bem sabia os q me deixara na India a guerra que el rey de Calicut auia de fazer, & ho poder q tinha, por isso vos torno a rogar que creais q sendo eu viuo que nunca el rey de Calicut metera pé em Cochi. E rogouos ningue bula consigo, porq quem fizer outra cousa saiba certo q se ho tomo que ho ey denforcar, & assi ho juro por minha ley, & sabe que ningue me pode escapar: porq aqui ey destar neste porto vigiando de dia & de noyte, & agora veja cada hù o que The cupre: & se fizer o q lhe rogo termeha por amigo, & se não por immigo, & mais cruel do que espera q ha de ser el rey de Calicut: & cada hu diga logo o que quer fazer. E dizêdo isto acendeose tanto e ira, que sem atentar por isso falaua tã alto como q pelejaua cỡ

algue: & tinha o rosto tão vermelho que parecia verter sague, com que aos mouros se lhe dobrou tanto ho medo q tinhão dele, que cuydauão q os queria logo enfor car, & começarão de se lhe disculpar do que lhes dizia. E ele os não quis acabar douuir, pera lhes fazer mór medo. E mandou logo surgir a nao defrôte de Cochim, & hua das carauelas, & os dous bateis, postos ẽ tal compasso, que ningue podesse sayr de Cochi per mar, que não fosse visto: & tinha tabem muytos, paraós esquipados, com q de noyte vigiaua os rios q cercauão a cidade. E como era sol posto, tomaua todos os barcos

podião leuar gente & fato, & mãdauaos amarrar aos seus nauios, & faziaos vigiar: & pola manhaa os tornaua a seus donos. E continuamente corria estes rios, amanhecendo & anoytecendo em diuersas. partes: porq não teuessem dele nhữa certeza: & pera q The ouuessem medo, mandaua prender algus dissimuladamête, & mandauaos acusar pelos nossos q se qrião ir: & tinhaos presos, co dizer q os auia de mandar enforcar. E andando vigiando hua noyte, topou quatro macuas, que são pescadores, pescado sem sua liceça: & fez q sospeitaua que se quirião ir, & prendeos em ferros, dizedo q os auia de mandar enforcar. E sabendoho el rey, & credo que os auia denforcar madoulhos pedir: do que se ele mostrou muyto menencorio, dizendo q não auia de fazer ley pera a na goardar, por isso que lhos não auia de mandar: & que os auia denforcar. E logo os mandou leuar pelo seu meirynho a hua ilha pera q os enforcasse: & secretamente lhe disse que lhos tornasse a trazer, & mandouos meter debaixo da cuberta da sua nao: õde despois de os ter escõdidos algus dias, os mãdou a el rey muyto secretamête, porq se não soubesse que os na enforcara. E coisto lhe ouuera tamanho medo, que ningue ousaua de sayr de Cochim sem sua licençac & com isto se assessegara os mouros & getios. E com todos estes trabalhos q Duarte pacheco tinha, as mais das noytes saya. em terra de Repeli, em que

& bar

queimana lugares, mataua gête, tomaua vacas, cos, & lhe fazia muytos outros danos: de os mouros de Cochi sespantaua muyto, como podia sofrer tanto trabalho, & dizião que era diabo.

CAPITOLO LXVII.

De como o capitão mór Duarte pacheco fez hû salto em terra de Repelim, & de como se partio pera ho passo de Cabalão a esperar el rey de Calicut.

Neste tempo foy certificado el rey de Cochim, & el

rey de Calicut era chegado a Repelim, pera hi ajuntar sua gente, & irse a Cochim pelo passo de Cabalão. E o mesmo recado escreueo Rodrigo reynel, que a este tempo ficaua muyto doěte, & morreo despois. E el rey de Calicut madou tomar quanto lhe acharão. E sabendo os mouros de Cochim q el rey de Calicut estaua em Repelim, quisera aluoroçar ho pouo pera q fugissem: mas ninguem ousou de ho fazer, co medo de Duarte pacheco. E ele que isto sabia, por mostrar a todos qua pouco temia el rey de Calicut, nem a seu exercito & armada, deu hũa noyte em hùa pouoação de terra de Repelim a horas q todos dormião & poslhe ho fogo. E ele bem ateado forão os nossos sentidos, & acodio logo grande multidão de Naires, assi do lugar como dos derredor. E Duarte pacheco se recolheo aos bateis co muyto perigo, & feriraolhe cinco homes: & dos imigos ficarão muytos mortos & feridos: & co tudo os viuos seguirão os nossos hu bo pedaço em se tornando pera Cochi. E tatas forão as frechadas sobre os bateis que as padessadas ya todas cubertas de frechas. E sabedo el rey de Cochim como era chegado á fortaleza foyho ver, porque ouue por muyto grade cousa ousar ele de saltear a terra, em q estaua el rey de Calicut tão poderoso, & assi lho disse. Do q Duarte pacheco se rio, & disse que não queria se não q acabasse el rey de Calicut de che

gar, & que ropesse coele batalha, & ali veria pera quanto erão os nossos. E deixado coisto assessegada a gěte de Cochim, & täbem com fazer hua fala aos principais, ordenou sua gête, que se queria partir pera ho passo de Cabalão. E na sua nao deixou vite cinco homes com ho mestre dela, q se chamaua Diogo pereyra, q deixou por capitão em sua ausencia : & deixoulhe bem darteİharia & munições pera se defeder. E os nomes dos que ficauão coele erão, Christouão pirez escriua da mesma nao, Aluaro vaz, Afonso aluarez, Ioa do porto, Ioão pirez, Ioão girarte, Rodrigo afonso, Simão aluarez, Bertolameu, Antonio vaz, Aluaro dobidos, Diogo de curuche, Fracisco ramos, Afoso do porto, Paulo genues: aos outros na soube os nomes. Na fortaleza ficauão trinta & noue homes, cujos nomes erão: Diogo fernandez correa feytor, & alcaide mór, Lourenço moreno, Aluaro vaz, escriuães da feytoria, Aires lopez alcaide pequeno, ho vigairo Ioão de santiago, Gonçalo fernandez, Simão mazcarenhas, frey Gastão, Diogo fernadez, Ruy gomez, Ioão fernandez, Ioão pirez, Aluaro cotano barbeiro, Andre diaz, Goterre, loa pirez, Aluaro dabreu, Coronel, Pero fernadez, Fernão soarez, Ioão de sogouia mercador Castelhano, ho Teixeira, Lopo de caruaThais, Ioão fernadez, Tristão de repeda cirieiro, Bastia dalmeida, Marti bobardeiro, Christouão jusarte, Ioão caramenho, Manuel martiz criado da Ifante, Diogo fernandez criado do bispo da Goarda, Ioão Luys, Pero ribeiro, Ioão do basto, Rodrigo correa, Diogo rodriguez, Ioão marquez, Lião rodriguez. E os que leuou forão es tes, Pero rafael, q era capitão da carauela santa Elena, leuaua vintequatro homes coele: que fora Duarte fernãdez escriua: Esteueanes mestre, Francisco fernadez, Pedreanes, Ioão, diaz, Loureço, darmada, Pero vaz, Jorge do porto, Gonçalo fernandez, Ioão fernandez, Francisqueanes, Niculao hires, Pero coelho, Pero bras, Maçarelos, Ioão de leça, Ioa de santarem, Bautista genues, Isbrão dolanda, Pero alemão, bõbardeiros, &

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