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das lhe tomarão q poderia ser que daria a pimenta a troco. Ao q Duarte pacheco disse, que pera tão pouca pimenta lhe parecia muyto grade preço ho das bõbardas & paraós, & pore que tudo faria por ele ser satisfeyto, &q fosse ver as bobardas: & isto dizia indose coeles pera os bateis & chegando a eles disselhe que êtrasse no seu pera ir ver as bõbardas que estauão nas carauelas. E ele co medo sem saber de que não quisera entrar: mas Duarte pacheco ho fez entrar por força ao que os outros fugirão pera Cochi. E chegado Duarte pacheco a sua carauela co çamalamacar, mandouho acoutar, & despois picar com hù caniuete, dizendolhe q como lhe teuesse dado muytos tormentos ho auia logo de mandar enforcar, pola treyção que lhe quisera fazer, & contoulhe como a soubera, picadoho sempre co ho caniuete: co ho que ho mouro pagou bem ho q tinha feyto. E estando pera ho enforcar foy dito a Duarte pacheco da parte del rey de Cochim, que lhe pedia que não fizesse nada ate ele ir, que ja ya de caminho: porque The ya muyto em se fazer assi. E a causa deste recado The chegar tão cedo, foy achareno no caminho os mouros que fugirão, que ya visitar Duarte pacheco: de que se lhe queixarão, dizedo que leuaua çamalamacar ás carauelas pera ho matar, prometedolhe se tal fosse de se irem todos de Cochim. E como este era hum dos grandes medos que el rey tinha naquela guerra pola falta de mãtimetos que aueria mandou este recado tão depressa, & Duarte pacheco por amor dele não mandou enforcar çamalamacar, posto q lhe pesou muyto de ho não ter feyto: & ate q el rey veo ho atormentou fortemente que nhu cabelo lhe deixou na barba. E chegado el rey cotoulhe toda a treyção que ordenara, pedindolhe muyto que lho deixasse enforcar: o q ele não quis conceder pela rezão que disse, pedindoThe por isso muytos perdões, & certificandolhe que leuara tanto gosto como ele em ser enforcado, porque ho merecia: & vendo Duarte pacheco isto lho deu. E

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el rey ho leuou consigo a Cochim reprendendoho muyto do q fizera.

CAPITOLO LXXXI.

De como hu mouro inuentou a el rey de Calicut hús castelos de madeira, com que podessem aferrar as nossas

carauelas.

Vendo el rey de Calicut quão pouco lhe aproueitauão

seus ardis: & que co quanto poder tinha não podia fazer que tendo os nossos tão pouco deixassem ho passo, quisera leuantar ho arrayal, & irse se não fora pelos mouros que ho reprenderão disso, & assi esses reys & senhores que estauão coele: & quasi q ho deteuerão por força, com lhe affirmare que Duarte pacheco não podia estar ali muyto: & q como se fosse entraria ho passo, & tomaria Cochim. E el rey estaua ja tão quebrado dos espiritos, que posto que via que aquilo não auia de ser, deixauase ir com o que lhe dizião. E sabedo Duarte pacheco o que disserão a el rey de sua partida, pera que soubesse quão de vagar estaua, mandou fazer huas casas em hua ponta que entraua muyto no rio: & mandou abrir hua caua pera que ficasse em ilha, porq ho não podessem entrar pola banda da terra firme. E na põtinha da ponta mandou fazer hum bastião muyto forte de terra, & de madeira, cercado de caua, em que mãdou poer dous falcões com que varejaua ho rio: & ali junto tinha sua armada, em q saya muytas vezes aos paraós dos immigos, que por The fazerem sobrançaria se lhe mostrauão: & quando lhe fugião os ya buscar por esses rios, & esteiros: & fazialhes tanto dano que os immigos não ousauão da parecer se não muytos: & porem poucas vezes por estarem ja muyto cansados & quebrados de vere tatas vitorias aos nossos, & eles não podere alcançar nhua. E por isso lhe não sayão se na quando lho el rey mãdaua: o que nã esperauão da primeyra. E coesta

fraqueza dos immigos tinhão os nossos tepo de fazer ĕ suas terras muyto grande destruyção co ferro & fogo. Com que andauão os moradores tão espantados que nã ousauão de dormir nos lugares, porque os nossos os salteauão de noyte: & yãose dormir ao campo, por estare mais seguros: & tinha tamanho medo que yão clamar a el rey de Calicut que lhes valesse, & que acabasse de destruyr os nossos, ou fizesse paz coeles: porque ja não podião sofrer as fadigas daquela guerra: & se não q ihes seria forçado ire buscar outra terra em que morassem. E coisto estaua muyto triste, & na se sabia dar a côselho porque se queria falar na paz, ameaçauano os mouros, que se irião de Calicut: o que ele temia muyto pola reda que nisso perdia: & doutra parte via perder sua terra com que perdia seu estado. E sem se poder determinar estaua em grande agonia, & ela ho pos em tal estremo que determinou de querer paz com Duarte pacheco, & tão secretamente que se não soubesse se não despois de feyta. E a ninguem deu então conta de seu pensamento se não a dous mouros mercadores de Cochim, de que hu auia nome Chirina marear, & ho outro Mamalle marear. E estes instruidos por ele dissimuladamente disserão a Duarte pacheco antre outras cousas que se ele quisesse paz com el rey de Calicut. q na faria mais guerra a Cochim, & que logo se iria co toda sua gente. E isto dizião, dando a entender que el rey de Calicut não sabia nada disso, se não que se ele quisesse negociarião aquilo com el rey polo seruir. E ele que bem entendia sua roindade, lhes respondeo muy secamente que não podia crer que hum rey tão poderoso & tão rico como se cuydaua no Malabar q era el rey de Calicut, estando tão acopanhado de reys & grandes senhores, & de tanta gête de guerra, quisesse fazer paz cổ que não tinha mais q seteta & quatro companheiros, ne quisesse deixar por seu medo o que tinha começado: & pois eles erão tamanhos seus seruidores como sabia q não dissessem cousa de que ele receberia tamanha ver

gonha, nem lhe deuião dacõselhar que desistisse da guerra como sabia que lhacõselhauão que não desistisse: porq a ele não lhe daua nada dela, nem queria paz ainda que el rey quisesse, se nå seguilo ate entrar em Calicut: o que soubessem certo que auia de fazer ainda que se el rey fosse, & que eles assi lho fossem dizer: porque lhe prometia que se não fora por el rey de Cochim q lhe dera a paga dos tratos em que andauão, & que se fossem logo, porque lhe não daua nada de serem quão roins erão. O que eles fizerão mais rijo que de vagar, & teuerão em muyto irense sem outra pena: & não ousando de ir a Calicut mandarão dizer isto a el rey: q coesta reposta desesperou de poder fazer paz, & não quis falar nela. E nestes dias tornou ao arrayal a doença q se aleuatara os dias passados, & tornou a matar muyta gente, & co medo dela fugia tambem muyta: & esteue ho arrayal em risco de se leuâtar de todo. Porem os mouros mandarão trazer de Cananor & de Termapatão seys mil & quatrocentos homes os̟ mais deles frecheiros, & algus espingardeiros: & assi refizerão a frota com corenta paraós, q trazia cada hu duas bombardas, & ainda despois veo muyla gente. E porque com tudo isto entendião os mouros que el rey tinha vontade de desistir da guerra por quão mal lhe ya nela, acharão hua enuenção pera q podessem aferrar as nos sas carauelas. E esta deu hu mouro de Repelim cha mado Coge alle, que andara por muytas partes do mudo, õde vira muytas cousas: & por isso, & por ter bo natural era de muy sotil engenho. Este fez hû castelo de madeira sobre dous paraós, lançado duas vigas da proa & popa dû, a proa & popa do outro, & de tamanho comprimêto camanha auia de ser a largura do castelo que foy feyto em quadra. E antre estas duas vigas yão outras tão jūtas que fazião hu sobrado: & de cada quadra auia hua andaina de vigas daltura dua lança ou pouco menos, encaixadas as cabeças e conchas de madei& pregadas com grades pernos de ferro; & nos cor

ra,

pos das vigas auia tres ordes de furos fechados com barões de ferro, q ao parecer era cousa muy forte. E neste castelo podião ir ate corenta homes com algûs tiros dartelharia, & por amor dos paraós sobre que era fundado podia ir polo rio & aferrar as carauelas por sua altura: de que el rey ficou muyto ledo quando ho vio, & fez muyto grande merce a Coge alle. E por a vitola daquele castelo mandou fazer ainda sete pera q coeles aferrassem os seus as nossas carauelas: o que tinha por muyto certo que auia de ser assi.

CAPITOLO LXXXII.

Do ardil que inuetou Duarte pacheco pera q lhe não abalrroassem as carauelas co os Castelos.

Destes

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estes castelos foy logo Duarte pacheco auisado per suas espias: & mais auia os immigos de fazer balsas de fogo pera queimarem as carauelas: & quando as não podesse queimar as a ferrarião com os castelos. O q ouuindo a gente de Cochim ho creo logo, & foy toda muy toruada de medo: & co o que lhe os mouros fazião, dãdolhe por certo ho desbarato dos nossos, & q auião os immigos de tomar Cochim aluoraçandose perà se irem. Do que el rey de Cochim foy assaz triste, & mais tão desconfiado que lhe parecia que com aqueles castelos auião os nossos de ser desbaratados. E dissimulando isto por amor dos seus, mandaualhes polos esforçar, que fossem preguntar a Duarte pacheco se esperaua poder resistir a el rey de Calicut: o que eles fazião assi pera verem o que ele dizia, como pera saberem de que maneyra estaua. E ele lhes dizia, que porq lhe preguntauão aquilo: pois el rey de Calicut ja fora com outros medos tamanhos como aqueles & leuara a cabeça quebrada, que assi seria então, & que sespâtaua muyto domes que sabião tambe quão couardos erão os de Calicut crerê logo qualquer medo que lhes fazião: & que es

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