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to lhe acõselhaua aquilo pera the fugir, & porisso ho mandou logo preder: & madou tirar cô as bobardas q hião nos bateis aos das barcas. E ouuido Paulo da ga ma as bõbardas na frota, cuydado q fosse outra cousa acodio logo no nauio berrio em q se fez á véla: & vẽdoo os mouros vir, como ja dâtes fugião fugirão muyto mais, & acolherase a terra: & não os podedo Vasco da gama alcaçar tornouse co seu irmão onde as naos estauão surtas: & ao outro dia sayo co a gête em terra & ouuio missa & todos comulgarão co muyta deuaçã estado cõfessados da noite passada. E feito isto se embarcarão & partirà no mesino dia: porq Vasco da gama desesperou de poder auer ho piloto q lhe ficaua em Moçãbique, & mandou soltar o outro q leuaua, q parece q por se vingar dele, determinou de ho leuar á ilha de Quiloa era de mouros, & dizer ao rey dela como aquela frota era de christãos, pera q os matasse todos: & disse a Vasco da gama q se não agastasse por ho outro piloto por ele ho leuaria a hua grade ilha q estaua dali ce legoas, q era pouoada a metade de mouros a metade de Christãos, q tinhão guerra hûs co outros, & qali tomaria pilotos q ho leuassem a Calecut: & ele lhe prometeo grades merces se ho leuasse onde dizia. E seguido por sua viage co veto muyto escasso á terça feira seguinte q fora treze de março a vista de terra vinte legoas donde partira lhe deu calmaria, q durou a terça & quarta feira. E na noite seguinte co vento leuante & pouco se fez na volta do mar: & quando veo á quinta feira pola menhaa achouse co toda frota a ré de Moçã biq quatro legoas: & aqle dia adou ate a tarde q foy surgir iuto da ilha onde ouuira missa ho domingo passado: & por lhe ser ho tepo por dauate pera sua nauegação esteue ali esperado por vento oyto dias, & neles veo ter á frota hu mouro branco q era caciz dos mouros, q em nossa lingoa quer dizer clerigo, & disse a Vasco da gama ho çoltão estaua muyto arrepedido da paz q quebrara coele, & q tornaria de muyto boa võtade a

confirmala & ser seu amigo. E ele lhe madou dizer q não faria paz coele, ne seria seu amigo ate lhe na tornar ho piloto q lhe tinha: & coesta reposta se foy ho Caciz & nuca mais tornou. E despois de ido este Caciz veo hù mouro q trazia consigo hû menino seu filho, & disse a Vasco da gama q se ho quisesse leuar na frota q iria coele ate a cidade de Melinde q auia dachar nalla rota q leuaua, porq ele se queria tornar pera sua terra q era juto de Meca dõde viera por piloto & hua nao a Moçabiq, & disselhe q não esperasse, reposta do çoltão, q nã auia de fazer paz coele, porq era christão. E Vasco da gama folgou muyto coeste mouro, porq ho eformasse de estreito do mar roxo, & assi dos lugares q auia pola costa por õde auia de nauegar ate Melinde: & madou ho agasalhar na sua nao. E por quato o tepo tardaua pera fazer viage, & a agoa da frota faltaua determinou com os outros capitães dêtrar no porto de Moçambique pera fazer agoada, & que estaria com grande vigia, porque lhe não posessem os mouros ho fogo á frota. Isto determinado entrarão no porto a bua quinta feyra, & como foy noyte forão os bateys lançados fora pera irem por agoa, que ho piloto mouro de Moçambi que disse q estaua na terra firme, & que ele a iria mostrar: & por isso Vasco da gama ho leuou, & partio aa mea noyte indo coele Niculao coelho, & Paulo da gama ficou na frola. E chegado onde ho piloto dizia que estaua a agoa nunca a pode achar: porque ho piloto como andaua mais pera ver se podia fugir q pera mostrar a agoa, enleouse de maneyra que nunca pode dar coela, (ou não quis) em todo aquele espaço que estaua por passar da noyte. E vinda a manhaa vendo Vasco da gamana achaua agoa, não quis mais esperar porque leuaua pouca gente, & temeose q dessem os mouros sobrele, & quis se ir reformar de mais gente á frota pera poder pelejar com os immigos se lhe quisessem defender a agoa, porque fez cota que melhor a acharia de dia que de noyte. E tornandose a reformar á frota, tornou

coele Niculao coelho a fazer agoada: & leuando tâbem ho piloto mouro, que vendo q não podia fugir, mostrou logo ho lugar onde estaua a agoa, que era juto da praya: na qual andauao obra de vinte mouros escaramuçando a pé com azagayas, & fazedo mostra de quererem defender a agoa: & Vasco da gama lhes mandou tirar tres bombardadas pera darem lugar que os nossos podessem saltar fora. E espantados os mouros das bôbardas se embrenharão logo no mato, & os nossos fizerão agoada pacificamête, & quasi sol posto se recolhera á frota, õde acharão fugira pera os mouros hu negro de loão de Coimbra piloto de Paulo da gama. E ao sabado que forão vinte quatro de Março, vespera da Annüciação de nossa senhora, logo pela manhaa apareceo hû mouro em terra bem defronte da frota: & disse em voz alta , que se os nossos quisessem agoa que fossem por ela : & isto com hu som que estaua lá quem os faria tornar. E com a menencoria Vasco da gama ouue deste desprezo se The acrecentou a que tinha da fugida do negro do piloto: de maneyra que determinou de esbôbardear a pouoação dos mouros por vingaça. E dizendo ho a seus capitães se embarcarão todos nos bateys armados, & coessa gente q tinhão forão côtra a poucação, õde os mouros ao longo da praya tinhão feyta hùa paliçada de tauoado tam basto que se não podião ver os que esteuessem detras dela: & por fora desta paliçada antrela & ho mar andauão obra de cem mouros armados descudos agomias, azagayas, arcos, frechas, & fundas. E sendo os nossos bateys a tiro de funda lhe começarão de tirar ás pedradas: & os nossos lhe responderão logo com muytas bombardadas, com cujo medo os imigos deixarão a praya, & se recolherão pera dentro da paliçada que com as bombardadas foy toda desfeyta, fugindo os imigos pera a pouoação, de q ficarão dous mortos na praya. Desfeyta a paliçada & despejada, Vasco da gama se tornou com os seus, & por ver q os mouros fugião daquela pouoação com medo que auião dos nossos & se

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yão por mar pera outra que estaua da outra banda, & despois de jätar se foy nos bateys com seus capitàes pera ver se podia tomar algus mouros, cuydando que tomando os aueria por eles ho negro do piloto, & assi dous Indios que lhe disse ho piloto mouro que estauão catiuos em Moçambique. E nesta ida só Paulo da gama tomou quatro mouros em hua almadia, & posto que muytas leuauão outros muytos, vararão em terra, & fugirão, sem os nossos os poderem tomar, & nas almadias acharão muytos panos finos dalgodão & liuros do alcorão de Mafamede. E com quanto andou aquele dia ao longo da pouoação, nunca pode auer fala de nenhů mouro, & não ousou de sayr em terra porque tinha pouca gente. E determinando ja de se partir sem ho negro nem os Indios, ao outro dia fez agoada se lha ningue contrariar, & à seguda feyra seguinte tornou a esbombardear a pouoaçao dos mouros & destruyo ha de maneyra que eles se recolherão por dentro da ilha. E a terça feyra vinte & sete de Março se partio do porto de Moçambique, & foy surgir junto dos ilheos de sam lorge, que assi lhe pos nome quando ali chegou, onde ainda se deteue por lhe ser ho vento contrairo pera sua viagem, & despois de partido por ser ho veto fraco & as correntes serem grandes tornou atras.

CAPITOLO VIII.

De como Vasco da gama se partio de Moçãbiq, & ho nauio sam Rafael deu e os baixos, q agora te ho mes

mo nome.

E prosseguindo sua viagem muyto ledo porque achara

que hû dos quatro mouros q Paulo da gama tomara era piloto ho saberia leuar a Calicut, hù domingo primeyro Dabri foy ter a huas ilhas que estauão bề junto da costa, & á primeyra foy posto nome a ilha do açoutado. E a causa foy porque foy nela açoutado ho piloto mou

ro de Moçambique por dizer q aquelas ilhas erão terra firme, & como ja Vasco da gama ya inchado dele de quando lhe não quisera mostrar a agoada de Moçambique, como ho acolheo na metira das ilhas, parecendolhe que o leuaua ali pera se perdere as naos antrelas, mandouho açoutar muy cruamente, & ho mouro confessou a pera se perder ho leuaua. E as ilhas erão tantas & tão juntas que se não podião estremar hûas das outras. E visto como erão ilhas fez se Vasco da gama a lamar delas, & assi foy & a quarta feyra que forão quatro Dabril fez sua rota ao noroeste: & antes do meo dia ouue vista de hüa terra grossa, & de duas ilhas que estauão junto coela, & derredor delas auia muytos baixos: & chegado julo com esta terra que os pilotos mouros a reconhecerão disserão que a ilha dos Christãos (q era a de Quiloa) ficaua a ré tres legoas, de que Vasco da gama ficou muyto agastado, cuydando verdadeyramente que era de Christãos, & quisera pingar os pilotos, parecendolhe que a cinte a escorrerão, porque a não tomasse. E elles se desculpauão co ho vento ser muyto, & as corrêtes grãdes, & que singrarão as naos mais do que elles cuydarão. E porem a elles pesou mais de a não tomarem que a elle, porque esperauão de se vingar ali dele & dos nossos, com morte de todos: de que os nosso senhor liurou milagrosamête, que se lá forão nenhů escapara: porq Vasco da gama cuydando q a terra era de Christãos ouuera de sayr fora: & co ho pesar que tinha de a escorrer quis tornar atras pera ver se a poderia tomar: no que se trabalhou be aquele dia, mas nunca poderão por The ser pera isso ho vento contrairo & as correntes serem grandes. E então ouue Vasco da gama conselho com os outros capitães que arribassem á ilha de Mombaça, que os pilotos mouros lhe dizião que era pouoada de mouros & de Christãos em duas pouoações apartadas, o que dizião por enganare os nossos, & os leuarem a matar, que a ilha era de mouros como ho era toda aquela costa. E sabendo que dali a Mobaça erão setenta &

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