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to certo a gente ho não auia de consentir. Ao q ho Catual repricou que não dissesse aquilo porque se auia de fazer o que ele mandasse. E com tudo Vasco da gama não quis escreuer a carta, porque receaua de mandar chegar os nauios pera terra pela rezão que ja disse.

CAPITOLO XXII.

De como Vasco da gama se foy pera os nauios, & do que se passou despois disto.

Nisto

isto se passou todo este dia em qos Portugueses esteuerão è grande agonia: & vinda a noyte os meterão em hu patim ladrilhado, & cercado de paredes baixas, & veo ho dobro da gente q os goardou de dia, pera os goardar de noyte. E Vasco da gama os esforçaua porque sentio q receauão de os apartarem hus dos outros no dia seguinte: & ele tambem receaua ho mesmo, mas não ho daua a entender: & mostrauase muyto confiado que como el rey de Calicut soubesse que eles assi estauão que os madaria logo soltar. E por se mostrar desagastado ceou coeles galinhas, & arroz que mandou comprar de dia. E ho Catual estaua espantado de ver quão pouco lhes daua de os terem assi, & da constancia de Vasco da gama não querer madar chegar os nauios a terra, nem conceder em nenhủa das outras cousas que The pedia: & pareceolhe que era por de mais telo preso pera o fazer: & quis Deos que determinou de ho soltar com medo del rey saber q ho tinha preso, sobre ho mầdar ir liuremête. E ao outro dia q foy sabado dous de Junho, disselhe que pois dissera a el rey que tiraria sua mercadoria em terra que a mandasse tirar, porque ho seu costume era: q qualquer mercador que vinha a Calicut punha logo em terra sua mercadoria & gente: & não tornaua aos nauios se não despois de a ter vendida : & que como a mercadoria viesse ho deixaria tornar aos nauios. Eainda que pareceo a Vasco da gama q lhe não

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falaua verdade, disselhe q logo madaria pola mercadoria, que lhe desse almadias pera a trazerem: porq seu irmão não quereria que os seus bateis viessem a terra ate ele não ir aos nauios. Do que ho Catual foy contente, porque esperaua de se entregar na mercadoria, cuydando erão cousas de muyto preço como Vasco da gama dizia, q despachou hû dos seus co carta a seu irmão, q dizia como ficaua, & q não tinha outra má vida se não estar metido em hua casa, q do mais a tinha muyto boa, & q lhe madasse algua pouca de mercadaria pera contentar ho catual que ho deixasse ir: & q teuesse sua prisam por verdadeira se ho não visse nos nauios despois da mercadoria ser em terra: & se assi fosse q não agoardasse mais & se partisse logo pera Portugal, & contasse a el rey o q tinha feito & como ficaua, porq côfiaua em sua alteza q lhe desse tal armada de gête com q tornasse a liuralo: q não ouuesse medo q ho matassem neste tempo porq ele estaua disso seguro. E vista esta por Paulo da gama madoulhe logo a mercadoria co outra carta, em q dizia q nunca deos quisesse q tornasse sem ele a portugal, que quando os îmigos ho não quisessem soltar, que esperaua em nosso senhor de dar tato esforço a esses poucos q estauão na frota, q co a artelharia q tinhão ho fossem liurar, & que disto cô fizesse conta & não doutra cousa. E chegada a mercadoria a terra, & entregue ao catual, & assi Diogo diaz qficaua por feytor: & Aluaro de braga por seu escriuão: & foise Vasco da gama aos nauios, & não quis mais mandar nenhua mercadoria ate ver como se vendia aqla, në quis mais ir a terra por não se ver noutra afronta, do q pesou muyto aos mouros por desesperare de ho podere matar. E não lhe podendo fazer outro mal zombauão da mercadoria que deixara è terra & fazião que não se vendesse do q se ele mandou queixar a el rey, & assi do q lhe ho catual fizera, dizendo q por essa causa não fora mais a terra: porë q estaua a seu seruiço co ağla armada: & el rey se mostrou muyto menêco

rio do q lhe fora feyto, dizědo.q castigaria aqles q lho fizerão: & quanto á mercadoria mãdou sete ou oyto mercadores gentios guzarates a cõprassem. E mãdou a hû naire horado pera q esteuesse na feitoria, & q se hi chegasse algů mouro q ho matasse. Mas ou por isto ser fingido, ou por os mouros peitare os mercadores, eles não coprauão nenhua cousa, ates a abaterão, de q os mouros andauão muyto ledos & dizião que agora verião se eles sós erão os que não querião côprar a mercadoria dos portugueses: & co tudo não ousarão mais de ir á feitoria, sabendo que hi estaua ho naire por madado del rey. E se dates querião mal aos portugueses muyto mais lho quiserão dali por diate: de maneira q como algu ya a terra, parecendolhes q ho injuriauão nisso cospião no chão, dizẽdo Portugal, Portugal. Eeles q ho entedião riase, porq vissem quão pouco lhes daua disso & assi ho mandaua Vasco da gama que ho fizessem. E vendo ele q não cõpraua ningue a mercadoria pareceolbe qera porestar naquele lugar & q em Calicut se venderia milhor, & ho mâdou assi dizer a el rey pedindolhe licença pera a mandar lá: que ele logo deu & por seu mandado & a sua custa foy la leuada: & co tudo nuca Vasco da gama quis tornar a terra pola offensa lhe ho catual fizera. E porq Botaibo q ho ya ver muytas vezes lhe dezia q ho fizesse assi, porq el rey era home mudauel, & poderia ser que os mouros ho mudarião da võtade q tinha pelo muyto credito q tinhão coele. E era Vasco da gama tão recatado que por ser mouro se não fiaua dele, ne lhe daua conta de nenhûa cousa qouuesse de fazer, pore por ho ter de sua mão & lhe dar auisos lhe daua muytas peças & dinheiro.

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De como Vasco da gama quisera deixar em Calicut hu feitor & escriuão & el rey nã quis.

Posta a mercadoria em Calecut ordenou Vasco da gama que todos os da armada fossem a terra pera vere a cidade & comprare o que quisessem, & cada dia mandaua de cada nauio hu home, & vindos aqles yào outros. E quando fazião este caminho os gêtios poresses lugares por onde yão os chamaua a casa, & lhes dauao de comer: & cama se era tarde pera passarê dali, & ho mesmo the fazião em Calecut & daualhe do q tinhão, & os nossos a eles do q leuauão, que erão manilhas de latão & de cobre, estanho & roupa de vestir: & andauão tão seguros como e Lisboa: & muyta gête da terra pescadores & outros gentios yão cada dia aos nauios veder pescado, & figos, cocos & galinhas, que dauão a troco de biscoito & por dinheiro. E outros muytos vinhão co os filhos pequeninos sein trazerẽ nada a vender, se não a ver os nauios. E Vasco da gama os recebia a todos co muyto gasalhado, & lhes mandaua dar de comer: & tudo isto por fazer paz & amizade co el rey de Calecut, & ser deles bem quisto : & coisto erão eles muytos nos nauios, & se deixauão tão de vagar estar neles q se çarraua a noite & não se acabauão de ir ate qos nossos lhe dezião q se fossem. E nisto se passou ate dez dias dagosto que era começo do tempo q podião partir da costa da India, & se ya acabado ho inuerno dela. E vedo Vasco da gama ho assessego da gente da terra co os nossos, & a comunicaçà que auia antreles, & qua seguros andauão por Calecut sem receberê escandalo dos mouros në dos naires creo q todo aquilo vinha por el rey querer amizade co el rey seu senhor que sem sua autoridade não fora possiuel qem perto de dous meses q auia q os nossos conuersauão em Calecut lhe não

fizerão os mouros ou os naires algu escandalo : & por isso determinou de deixar em Calecut o feitor que lá estaua coessa mercadaria que tinha, posto q a menos dela era vendida porq estaria ja ho alicece feito pera outra boa que el rey seu senhor mandaria, deixandolhe nosso senhor leuar nouas daquele descobrimento, & não seria necessario tornar de nouo a fazer assento de feitoria : & cô conselho de seus capitães & principais da armada madou hu presente a el rey de Calecut dalàbeis, corays & outras cousas, mandadolhe dizer por Diogo diaz que Tho leuou, que lhe perdoasse ho atreuimeto de lhe madar aqle presente, porq desejo de lhe mostrar quâto era seu seruidor lho fizera mandar, & não parecerlhe que cousas tão baixas erão pera se apresentar a hủ rey tão poderoso como ele era. E que se ele teuera as que se The podião apresentar, que co muyto melhor vontade lhas mandara do que lhe mandaua aquelas. E por quanto dali por diâte se chegaua ho tepo pera se poder partir pera Portugal, ele queria ordenar sua partida. È se E auia de mandar embaixador a el Rey seu senhor pera confirmação de sua amizade coele, ho podia mandar fazer prestes. E mais que confiado ele na que tinha assetada com S. A. & assi nas merces que tinha dele recebidas queria deixar em Calicut aqle feytor com seu escriuão com a mercadoria que tinhão, assi pera testemunho da paz & amizade, q deixaua assentada com S. A. como pera penhores da verdade de sua embaixada, & do q el rey seu senhor auia de mandar despois que soubesse nouas dele. E tabe pera testemunho de seu descobrimento, & ter credito em Portugal, lhe beijaria as mãos mandar a el Rey seu senhor hu bahar de canela (que sam quatro quintais do peso de Portugal) & outro de crauo & doutra especiaria, & como ho feytor fizese dinheiro q lho pagaria, porq não tinha ao presente pera o pagar. E primeiro q Diogo dias desse este recado se passarão quatro dias sem elrey querer q entrasse a lhe falar indo cada dia ao paço. É quando ho madou entrar

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