Imagens das páginas
PDF
ePub

diate dele olhouho muyto carregado, & preguntoulhe que queria tão mal assõbrado, que Diogo diaz ouue medo q ho mandasse matar : & dandolhe o recado quando The quisera dar ho presente não ho quis ver: & madou que ho dessem a seu feitor. E a reposta que deu pera Vasco da gama foy q pois se queria ir q se fosse mas que primeiro lhe auia de dar seys cetos xerafins (que val cada hu ccc. rs) q assi era costume da terra. Tornado Diogo dias co esta reposta acopanharâno muytos naires, q ele cuydou q era por be: mas chegado á feitoria eles se poserão á porta, guardando q não saisse ele ne outrem. E forão logo dados pregões pela cidade, que sopena de morte nenhua almadia não fosse abordo da nossa frota. Pore antes disto Botaibo foy dizer a Vasco da gama em segredo, q não fosse a terra ne madasse, porq ele sabia certo dos mouros q se fosse ele ou os seus lhes auia el rey de mâdar cortar as cabeças: & q todos aqles côprimentos que ateli fizera coele assi de lhe dar casa de feitoria em Calecut, como de bỡ tratameto dos nossos fora dissimulações pera ho acolhere coeles è terra, & os matar a todos: & isto por induziměto dos mouros, q tinhão feito crer a el rey q erão ladrões, & andauão a furtar, & que não forão a seu porto se não pera roubar os mercadores & fosse a ele, & espiare a terra: & ire despois tomala co grade armada, & ho mesmo disserão a Vasco da gama dous malabares. E estado ele cuydando no q faria por este auiso q tinha por verdadeiro, ex q muyto de noyte chegou á capitaina hu escravo de guiné de Diogo diaz q era Christão, & sabia be a lingoa Portuguesa : & disse como ele & Aluaro de braga ficauão presos, & a reposta que el rey dera ao seu recado: & do mais que fizera à cerca do presente: & dos pregões q mandara dar: & que Diogo diz teuera maneyra como ho mandara, dãdo dinheiro a hu pescador que ho leuasse a bordo em anoytecedo & por não ser entendido não escreuera. Vasco da gama ¶ isto ouuio ficou muy agastado, & esperou pera ver e q

aquilo paraua, & passouse hû dia sem ningue ir a bordo. E ao outro dia que foy quarta feyra quinze Dagosto, foy hua só almadia a bordo da capitaina em q forão quatro moços que leuauão a vender pedras finas, & parecendo a Vasco da gama que yão por espias pera verem o que lhe fazião, & pera se saber como estauão co el rey, os agasalhou como dantes, fazendo que não sabia nada da prisam de Diogo diaz, & na quis lançar mão destes porque viessem outros mais & de mais preço em que faria represaria, ate cobrar os seus que estauão presos em terra a quem escreueo hua carta por estes moços com palauras dissimuladas, que querião dizer como ele sabia sua prisam, porque se fosse as mãos doutrem que a não entendessem. E os moços lhe derão a carta, & contarão a el rey ho bo gasalhado que lhes fora feyto: que lhe fez crer que Vasco da gama não sabia da prisam dos nossos, co que folgou muyto, & tornou a mandar que fossem a bordo: & com grâde auiso que não descobrissem como ho feytor & os outros estauão presos, porque fazia cota de deter assi Vasco da gama ate poder armar sobrele, ou que viessem as naos de Meca & que ho tomarião. E dali por diante forão os malabares a bordo, & Vasco da gama lhe fazia bo tratamento sem lançar mão de nenhù, porq não via home de preço, ate q ao domingo seguinte forão seys homes honrrados com dezanoue que leuauão côsigo em hua almadia. E parecendo a Vasco da gama que por estes aueria ho feitor & ho escriuão, fez neles represaria, somente deixou dos remeiros na almadia, porque madou hua carta escrita em lingoa Malabar ao feytor del rey em que lhe dezia que lhe mandasse ho seu feytor & escriuão & que lhe madaria os seus. E vendo ho feytor del rey a carta deulhe disso conta: & ele lhe madou que fizese logo leuar os presos a sua casa, pera ali os mandar chamar & fazer que não sabia nada de sua prisam, & dali os mandar a Vasco da gama, porque the desse os Malabares, cujas molheres lhe yão chorar a

prisam de seus maridos: & por isso ele queria soltar os nossos, que ainda esteuerão algus dias em casa do feytor.

CAPITOLO XXIIII.

De como el rey de Calicut mandou Diogo diaz & Alvaro de Braga, & do mais que passou.

endo Vasco da gama que lhe não mandauão os presos, quis ver se com fazer que se partia lhos mandauão, & quarta feira vinte tres Dagosto mandou leuar ancora & dar ás velas, & por causa do vento q lhe era por dauante foy surgir quatro legoas a la mar de Calicut, & ali se deteue esperando ate ho sabado pera ver se lhe mãdauão os presos. E vedo q não auia disso memoria foyse na volta do mar, & surgio tâto a ele q quasi q não vião a terra. E estado surto ao domingo esperado pela viração foy ter coele hû Tone co certos Malabares, qlhe disserão q andauão e sua busca pera lhe dizer como Diogo diaz & os outros ficauão è casa del rey pera lhos madar & eles ficauão de lhos leuar ao outro dia, & q lhos não leuarão logo por se não detere & o podere alcançar: & não vedo ele os presos pareceolhe qerão mortos, & qos Malabares lhe metião & dizialhe aquilo pera ho deter, & armare em Calicut contrele & tomareno, ou q esperauão pelas naos de Meca q ho tomarião, & disselhes que se fossem & q não tornasse mais a bordo se os seus homes, ou cartas suas se não q os meteria no fundo ás bõbardadas, & q se logo não tornasse co recado que cortaria as cabeças aos q tinha tomados. Coeste recado se partirão, & vinda a viração Vasco da gama deu ás velas, & perlõgando ao logo da costa foy surgir diante de Calicut è se poedo ho sol: & ao outro dia chegarão a bordo da capitaina sete almadias & e hua vinhão Diogo diaz & Aluaro de Braga, as outras co muyla gente, de q nenhua não ousou detrar nos nauios. E poserão Diogo diaz & Aluaro de Braga

no batel da capitaina, q ainda estaua por popa, & afastaranse logo esperando reposta de Vasco da gama: a q Diogo diaz disse q como el rey de Calicut soubera q era partido madara logo por ele a casa do seu feytor, & the fizera grade gasalhado como q não sabia nada de sua prisam, & q the pregûtara a causa da prisam dos Malabares q tinha presos & sabida lhe dissera q fora bẽ feyto. E q the pregûtara se lhe pedira ho seu feytor algua cousa, dizědo côtra ho mesmo feytor q estaua presente q be sabia ele q auia pouco têpo q madara matar outro feytor, porq leuara peytas a hus mercadores estrageiros: & despois disto lhe dissera, q lhe dissesse q The mandasse ho padrão q dizia q queria q se posesse em terra, q tinha a Cruz & as armas reaes de Portugal, & q se fosse côtente podia deixar a ele Diogo diaz por feytor em Calicut: & q sobre isto lhe dera hua carta pera el Rey de Portugal assinada por ele & escrita por Diogo diaz em hua ola q he folha de palmeyra, em custumão de escreuer as cousas q hão de durar muyto, & dizia.

<< Vasco da gama fidalgo de vossa casa veo a minha terra, com a folguey muyto: e minha terra ha muyta canela, muyto crauo, gingibre, muyta pimenta, & pedraria: o q eu quero da vossa he ouro, prata, coral, & ezcarlata. Vasco da gama que ja não se fiaua del rey, não quis respoder a seus offrecimetos, & mandoulhe os seus Naires & os outros deixou, dizědo q ficauão ate The trazerem a mercadoria que ficaua em terra, & mandoulhe ho padrão que lhe mâdaua pedir: & coisto se forão aqueles q leuarão Diogo diaz, & ao outro dia foy ter Bontaibo com Vasco da gama, & disse q fugia de Calicut porq ho Catual lhe tomara per mandado del rey toda sua fazenda dizendo que era Christão & q fora por terra a Calicut por madado del Rey de Portugal pera ho espiar, & disselhe mais q tudo aquilo vinha pelos mouros: & porq assi como lhe tomauão a fazêda lhe farião mal na pessoa se acolhera antes que lho fizesse. Vasco da gama folgou muy to coele, & disselhe a ho leuaria a

TOMO I.

L

Portugal & lá cobraria em dobro a fazenda, a fora outras merces que lhe el rey seu senhor faria: & mãdouThe logo dar muyto bo gasalhado. E apos isto ás dez oras do dia chegarão a bordo da capitaina tres almadias carregadas de gente & encima das tostes vinhão algus alambeis dos nossos, como q vinha ali a mercadoria, & a pos estas tres vinhão outras quatro que se poserão de largo: & das tres em q yão os alabeis disserão a Vasco da gama que ali vinha a sua mercadoria, qa porião no seu batel: que mandasse ele tambe poer os Malabares q tinha presos, & q dali os tomarião. E parecendolhe a ele que isto era engano disselhes q se fossem, porq não queria mercadoria se na leuar pera Portugal aqueles Malabares pera testemunhas de seu descobrimelo. E q se viuesse q ele tornaria muy cedo a Calicut, & então saberião se erão os Fragues ladrões como os mouros fizerão crer a el rey de Calicut, & por isso lhe fizera tantas cousas mal feytas. E acabado de dizer isto mandoulhes tirar ás bobardadas & os fez fugir. O q el rey sentio muyto quando ho soube: & se as suas naos esteuerão no mar ele mandara sobre Vasco da gama, mas estauão varadas por ser inuerno: o q he de crer q nosso senhor ordenou os nossos fossem lá neste tempo porq podesse escapar, & dar nouas do descobrimento desta terra pera se restaurar nela a sancta fé catholica: o q não fora se os nossos forão no verão, porq podera el rey de Calicut ajuntar seu poder que era tamanho como ja disse, & madar sobreles, & tomalos a todos q nenhu não tornara co nouas a Portugal, ou tambe os mouros de Meca esteuerão e Calicut os matarão a todos segundo erão muytos & lhes querião mal.

« AnteriorContinuar »