Parnaso Lusitano: ou, Poesias selectas dos auctores portuguezes antigos e modernos, illustradas com notas. Precedido de uma historia abreviada da lingua e poesia portugueza, Volume 3,Parte 1

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J. P. Aillaud, 1827
 

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Página 177 - Ali a vida cansada, que melhora, toma novos espritos, com que vença a Fortuna e Trabalho, só por tornar a ver-vos, só por ir a servir-vos e querer-vos. Diz-me o Tempo que a tudo dará talho; mas o Desejo ardente, que detença nunca sofreu, sem tento me abre as chagas de novo ao sofrimento. Assi vivo; e se alguém te perguntasse, Canção, como não mouro, podes-lhe responder que porque mouro.
Página 155 - Na tristeza parecia Que lhe convinha morrer. Os seus olhos de me ver, Como furtados, tirou, Depois em cheio me olhou. Seus alvos peitos rasgando Em voz alta se aqueixando, Disse assi mui só sentida: —'Pois que mor dor ha na vida Para que houve ahi morrer?
Página 175 - Aqui me achei gastando uns tristes dias, tristes, forçados, maus e solitários, trabalhosos, de dor e de ira cheios, não tendo tão somente por contrários a vida, o sol ardente e águas frias, os ares grossos, férvidos e feios, mas os meus pensamentos, que são meios para enganar a própria natureza.
Página 168 - Até no derradeiro despedir-me. Mas a mor alegria Que daqui levar posso E com que defender-me triste espero É que nunca sentia, No tempo que fui vosso, Quererdes-me...
Página 12 - Nize? Nize? onde estás? Aonde espera Achar-te uma alma, que por ti suspira; Se quanto a vista se dilata, e gira, Tanto mais de encontrar-te desespera! Ah se ao menos teu nome ouvir pudera Entre esta aura suave, que respira! Nize, cuido que diz ; mas é mentira. Nize, cuidei que ouvia; e tal não era. Grutas, troncos, penhascos da espessura, Se o meu bem, se a minha alma em vós se esconde, Mostrai, mostrai-me a sua formosura.
Página 196 - Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, de expressões grosseiro, Dos frios gelos e dos sóis queimado. Tenho próprio casal e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela!
Página 152 - Por estes olhos mesquinhos, Que tem abertos caminhos, Pelo meio do meu rosto. E já não tenho outro gosto Na grande desdita minha. O que* eu cuidava que tinha Foi-se-me assim não sei como, D'onde eu certa crença tomo, Que pera me leixar veiu.
Página 151 - Alli morrer quizera ante Que ver por onde passei. Mas eu que digo —passei! - Antes inda heide passar, Em quanto hi houver pezar, Que sempre o hi hade haver. As aguas, que de correr Não cessavam um momento, Me trouxera...
Página 37 - Triste de facha, o mesmo de figura, Nariz alto no meio, e não pequeno; Incapaz de assistir num só terreno Mais propenso ao furor do que à ternura, Bebendo em níveas mãos por taça escura De zelos infernais letal veneno...
Página 176 - Somente o Céu severo, As Estrelas eo Fado sempre fero, Com meu perpétuo dano se recreiam. Mostrando-se potentes e indignados Contra um corpo terreno, Bicho da terra vil e tão pequeno.

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