Nova Castro: tragedia

Capa
Livraria portugueza de J.P. Aillaud, 1858 - 114 páginas
 

Páginas seleccionadas

Outras edições - Ver tudo

Passagens conhecidas

Página 106 - Bem puderas, ó Sol, da vista destes, Teus raios apartar aquele dia, Como da seva mesa de Tiestes, Quando os filhos por mão de Atreu comia! Vós, ó côncavos vales, que pudestes A voz extrema ouvir da boca fria, O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes, Por muito grande espaço repetistes.
Página 102 - Estavas , linda Ignez , posta em socego , De teus annos colhendo doce fruto, Naquelle engano da alma, ledo e cego, Que a fortuna na"b deixa durar muito ; Nos saudosos campos do Mondego, De teus formosos olhos nunca enxuto, Aos montes ensinando , e ás hervinhas , O nome que no peito escripto tinhas.
Página 107 - Assi como a bonina , que cortada Antes do tempo foi , candida e bella , Sendo das mãos lascivas maltratada Da menina , que a trouxe na capella , O cheiro traz perdido , ea cor murchada ; Tal está morta a pallida donzella , Seccas do rosto as rosas, e perdida A branca e viva cor, co'a doce vida.
Página 104 - Traziam-na os horrificos algozes Ante o Rei, já movido a piedade; Mas o povo com falsas e ferozes Razões á morte crua o persuade. Ella com tristes e piedosas vozes...
Página 106 - Queria perdoar-lhe o Rei benino, Movido das palavras que o magoam; Mas o pertinaz povo e seu destino (Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Página 106 - Mas ela, os olhos, com que o ar serena (Bem como paciente e mansa ovelha), Na mísera mãe postos, que endoudece, Ao duro sacrifício se oferece...
Página 107 - As filhas do Mondego a morte escura Longo tempo chorando memoraram, E, por memória eterna, em fonte pura As lágrimas choradas transformaram.
Página 104 - ... Se já nas brutas feras, cuja mente Natura fez cruel de nascimento, E nas aves agrestes, que somente Nas rapinas aéreas têm o intento, Com pequenas crianças viu a gente Terem tão piedoso sentimento, Como co'a mãe de Nino já mostraram...
Página 108 - De raras perfeições anniquilado Por mãos do crime, á natureza opposto : Tu és copia de Ignez, encanto amado; Tu tens seu coração, tu tens seu rosto . . . Ah! Defendam-te os céos de ter seu fado ! Longe do caro esposo Ignez formosa Na margem do Mondego As amorosas faces aljofrava De mavioso pranto.
Página 106 - Taes contra Ignez os brutos matadores No collo de alabastro, que sostinha As obras, com que Amor matou de amores Aquelle, que despois a fez Rainha, As espadas banhando, e as brancas flores, Que ella dos olhos seus regadas tinha, Se encarniçavam, fervidos e irosos, No futuro castigo não cuidosos.

Informação bibliográfica