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nas variantes sobre o mesmo tema: Falsos amigos, que supomos inéditas:

«Como a sombra, amigos temos,
Que nos segue em claro dia;
Mas que da vista perdemos
Assim que o sol se anuvia.»>

É esta a outra versão:

«Vós sois a minha sombra
Se o sol me luz brilhante...
Atrás, ao lado, adiante,
Encontro-a junto a mim!
Porém se nuvem negra
A luz do sol me tira,

A sombra se retira...

Vós sois também assim...»

É bem possível que Júlio Denis também ti

vesse conhecido alguns dêstes amigos!

XII

POESIAS ÍNTIMAS

O entrarmos na intimidade do poeta e de sua família, queremos apenas mostrar a atmosfera literária em que Júlio Denis se criou.

O pai de Júlio Denis era poeta, poeta era seu primo José Joaquim Pinto Coelho, poetisas as irmãs dêste, D. Rita de Cássia e D. Ernesta Guilhermina Pinto Coelho.

Pudemos haver às mãos uns manuscritos de D. Rita, em que há noticias elucidativas e documentos comprovativos do que afirmamos.

Ao abrir um pequeno livro que faz parte dêsses manuscritos, encontram-se as seguintes palavras do punho de José Joaquim Gomes Coelho, pai de Júlio Denis:

«Talvez excedesse os limites da confiança ousando, sem licença da dona, escrever neste livrinho êstes versos que, destituidos de todo o merecimento literário, têm contudo seu fundo de verdade.

«A esperança de obter o perdão foi que me levou a tal extremo de ousadia.»>

A estas palavras segue-se a poesia, que, pelo próprio assunto que versa, foi por certo escrita sem preocupação de passar à posteridade.

Não nos condenem por a trazermos a público. Lê-se com agrado e mostra que o seu autor era dado a versejar. Isso mesmo consta do referido livrinho, como daqui a pouco se verá:

«A UMA MARIPOSA

«Com as àsas prateadas,
Adejando em tôrno a mim,
Porque vôas, mariposa,
Porque doidejas assim?

«És má nova? Não, de-certo,
Não é negra a tua côr.
Revela-me o teu segredo,
Revela-o seja qual fôr...

«Mas em vão na mente volgo
Que nova me possas dar!
Não sei, não sei, mariposa,
Nada tenho que esperar.

«Porém agora que vejo!
Neste livro vens poisar!
Já sei a quem te referes,
Menos falta a adivinhar.

«Essa pessoa que dizes,
Que terá? Ah! Já suspeito:
Há de ver em muito breve
Seu desejo satisfeito!.

«Volves de novo a afagar-me?
Decifrei-te a linguagem...:
Pobre inseto! Eu t'o agradeço!
Quero pagar-te a mensagem;

«Vou livrar-te dessa chama
Cujo brilho te seduz;

Antes que nela te abrases,
Depressa, extinga-se a luz!»

O livro em que a borboleta poisa é o de D. Rita Pinto Coelho. Donde se deduz que nela se faz alusão a qualquer segrêd íntimo de sua' jovem prima.

O final da poesia revela uma boa intenção, em que se respira aquela bondade que, sendo saliente apanágio do filho, igualmente transparece no pai.

Em seguida, diz D. Rita Pinto Coelho que tem muito gôsto em transcrever duas outras poesias do «Il.mo Sr. José Joaquim Gomes Coelho, uma dedicada a António Augusto da Silva Ferreira, no dia do seu aniversário, e outra a ela própria.»

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