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Gomes Coelho prestou provas em 19, 24 e 29 de Janeiro e 5 de Fevereiro de 1864.

Tirou para ponto da sua primeira lição o seguinte tema: «Fisiologia. Sciência. Arte. Obje

cto. Método. Filosofia.»

Sôbre êle faremos, num dos próximos capítulos, algumas observações, pois entre os seus manuscritos conseguímos descobrir apontamentos que lhe dizem respeito.

Em 1855, em novo concurso para a secção médica, conseguiu, finalmente, Gomes Coelho alcançar o primeiro lugar em mérito relativo, sendo despachado em 20 de Julho do mesmo ano. Tomou posse a 8 de Agosto.

Dêste concurso falaremos daqui a pouco com o desenvolvimento que merece.

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OMO dissemos, a dissertação inaugural para o acto grande, a última prova académica que devia dar a carta de médico-cirurgião a Gomes Coelho, foi apresentada em 1861, no ano em que concluiu o seu curso.

Trabalho esquecido pelos seus biógrafos, bem merece ser exumado dos arquivos.

Foi defendida sob a presidència do lente da oitava cadeira (Clínica Médica) António Ferreira de Macedo Pinto. Saíu impressa da tipografia de Sebastião José Pereira, rua do Almada, 641, Pôrto, no ano de 1861. Intitulava-se: «Da importância dos estudos meteorológicos para a Medicina e especialmente de suas aplicações ao

ramo cirúrgico» (1). Foi publicada em grande formato (2) e tem 67 páginas, afóra as dedicatórias.

É livro hoje muito raro. Em Lisboa não o encontrámos nem na Biblioteca Nacional, nem nas da Academia ou Faculdade de Medicina. Tivemos de recorrer ao Pôrto, onde existe não só na Biblioteca da. Faculdade de Medicina, mas ainda no Ateneu Comercial. O exemplar desta florescente instituïção, que pudemos consultar, tem um oferecimento do autor ao «<seu amigo Joaquim Marques Nogueira Lima» — a quem Gomes Coelho se refere bastas vezes nas suas cartas a Custódio Passos e que era um dos seus melhores amigos.

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A escolha do assunto deve ter obedecido, em parte, à relação dos estudos meteorológicos com os da tuberculose, de que padecia.

Os médicos, ao saírem das escolas, dão, em geral, preferência ao estudo dos problemas que mais de perto lhes tocam com os achaques. E como, por vezes, é doloroso tratar a questão fundamental, particularmente quando ela é destinada à discussão pública, a atenção dirige-se para os assuntos que lhe são afins.

(1) A tiragem, segundo consta de um apontamento que encontrámos entre os manuscritos do autor, foi de cem exemplares. Custou ao autor 36000 réis.

(2) Em quarto.

Gomes Coelho não ousa abordar, na sua tese, o problema da curabilidade da tuberculose pulmonar, ou do seu tratamento. Seria demasiado impressionante, sobretudo em quem poderia, sem querer, no amálgama que havia de vir a fazer-se entre o doente e o médico, resvalar para a apreciação directa e contundente, podendo. na discussão, chegar a lances quási dramáticos. Naturalmente, inconscientemente talvez, Gomes Coelho desviou-se dêsse perigo, mas, tanto na escolha do assunto como nas doutrinas apresentadas em algumas passagens do seu estudo, sente-se a preocupação do autor em face do seu mal.

Nas seis proposições que completam o seu trabalho e que tinha, por lei, de apresentar ao júri da Escola, há uma que se refere à tuberculose. Gomes Coelho não ousa ainda aí pôr qualquer questão que possa atingí-lo directamente como doente. Contorna a dificuldade, e embora se meta dentro do assunto, só o faz de uma maneira discreta, marcando, por sinal, a boa posição na discussão de um problema ao tempo muito em voga e que êle enuncia desta maneira: «Entre as escrófulas e os tubérculos existe identidade de natureza.»

A dissertação de Gomes Coelho é ainda um apêlo a um ramo novo da sciência médica donde êle, no seu intimo, esperava que viesse alguma indicação terapêutica valiosa para a doença que

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