Júlio Denis e a sua obra, Volume 1

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Casa Ventura Abrantes, 1924

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Passagens conhecidas

Página 251 - IV Defronte do campo, d'onde, com as melhores intenções d'este mundo, o reitor estava espionando, e separado apenas d'elle pela estreita e humida rua, de que já falámos, estendia-se um tracto de terreno inculto, muito coberto de tojo e de giestas e d'essa espontanea vegetação alpestre, que, no nosso clima, enflora ainda os montes mais áridos e bravios. Dispersas por toda a extensão d'este pasto, erravam as ovelhas e cabras de um numeroso rebanho, de que eram unicos guardadores um enorme e...
Página 120 - Amor, como aquelas aldeias que ele mesmo desenha escondidas no fundo dos vales sob o ramalhar dos castanheiros ; os seus livros serão procurados como lugares repousados, de largos ares, onde os nervos se equilibram e se pacifica a paixão. Foi simples, foi inteligente, foi puro. Trabalhou, criou, morreu : mais feliz que nós tem o seu destino afirmado e para ele resolveu-se a questão.
Página 238 - Não é pois conveniente enfeitar demasiado o estilo no diálogo. Quem o fizer tirará às personagens da acção o colorido de vida e apresentá-las-á aos olhos do leitor como meros manequins, por quem fala o artista oculto nos bastidores.
Página 118 - O seu espírito porém nunca se desprendeu de uma certa contemplação sentimental, idealista: não se atrevia a por, nas páginas gentis, os severos, os crus aspectos da realidade: de modo que, copiava de longe, com receio, retocando os contornos duros, dando 'o pálido desbotado do 'sentimento sobre as cores fortes e salientes. As suas aldeias são verdadeiras; mas são poéticas: parece que ele as ve e as desenha, quando a névoa outonal idealiza, azula, esfuma as perspectivas.
Página 238 - E necessário acomodá-lo à índole, à posição social e especialíssimas condições do indivíduo que fala, para que na leitura dele a alma vibre como se assistisse a uma cena real.
Página 118 - Júlio Denis amava a realidade: é afeição viril, digna, valiosa do seu espírito. Copiava finamente, com um cuidado de miniaturista, as suas figuras ternas e joviais, e os planos esbatidos das suas paisagens. «O seu espírito porém nunca se desprendeu de uma certa contemplação sentimental, idealista: não se atrevia a por, nas...
Página 257 - Dispersos aqui e ali, e entremeados com a verdura, grupos de casas campestres, alvejantes à luz do Sol, moinhos e azenhas, noras, toldadas de ramadas cónicas, eiras, pontes rústicas, as mesmas talvez que com mau humor...
Página 338 - Olhe, senhor — continua ela, avivando por meu respeito a labareda no lar — eu bem sei que sou uma ignorante ; mas toda a minha vida vi tratar as bexigas com agasalho e chás para fazer suar; porque, vê o senhor ? com o suor sáem cá para fora todos os maus humores eo veneno que anda na massa do sangue.
Página 120 - ... romântico dos seus livros. Era, sobretudo, um paisagista, as figuras estavam ali para dar expressão, vitalidade à paisagem: os seus campos de searas, os montes, as claras águas, os céus profundos não são nos seus livros uma decoração à vida fortemente sentida: as suas mulheres romanescas, os seus galãs violentos e ternos, as meigas figuras de velhos, até as suas caricaturas — é que foram colocadas assim para povoar, dar eco sonoro, movimento, calor, à paisagem e fazer destacar...
Página 44 - Bem sei que passou já da moda esta crença tão arreigada nos mais severos espíritos de outros tempos; mas por mim, ainda me não pude resolver a romper com ela de todo. Penso eu que o moral eo físico da humanidade andam sob o império de forças multiplicadíssimas, muitas das quais ainda estão por descobrir ou estudar, e não vejo que se possa desde já excluir do rol delas a luz desse planeta pálido, tão querido de amantes e de poetas.

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