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menor do que a desta precedente. O privilegio d'El-Rei D. Sebastião, dado em 24 de setembro de 1571, he impresso com caracteres menos grossos; e differe tambem do da outra na partição das palavras, no principio das regras, desde a 22a até o fim. A lettra da licença da Inquisição he mais grossa do que na edição que tenho, e a lettra da assignatura de frey Bertholameu Ferreira he mais miuda.

Assim as duas edições poderão distinguir-se por estes signaes caracteristicos, que o senhor Joaquim de Macedo, assim como o senhor Anastasio Joaquim Rodriguez, a rogo meu, me communicaram de Lisboa.

O padre Thomás de Aquino diz que a primeira edição, impressa depois destas, foi dada por Manoel de Lyra em 1584. Diogo Barbosa Machado não faz della menção, nem eu a vi.

Existe em Lisboa outra de que tenho agora noticia, por hum amigo fidedigno he em outavo tão pequeno que parece 16o.

OS LVSIADAS

De Luis de Camões.

Agora de novo impresso com alguas anotações de diuersos autores. Por Manoel de Lyra. Em Lisboa. Anno 1591. Esta edição tem as outavas numeradas. Não tive occasião de a ver OS LVSIADAS

DE LVIS de Camões.

Polo original antigo agora nouamente impressos. EM LISBOA, por Manoel de Lyra, 1597. A custa de Esteuão Lopez, mercador de liuros.

Este tinha obtido privilegio em 1595 que vai transcripto no verso da segunda folha, ou na 4a pagina. He

em outavo. Com que autoridade, ou licença, tinha imprimido Manoel de Lyra o poema em 1584?

Diogo Barbosa nota huma edição feita em 1607 por Crasbeeck. O padre Thomás de Aquino refere outra dada á luz em Lisboa, 1609, pelo mesmo impressor, e dedicada por Domingos Fernandez a D. Rodrigo da Cunha. Não vi estas duas, e assim não posso julgar da sua fidelidade, e merecimento.

Tenho porém a que imprimio o sobredito Pedro Crasbeeck em Lisboa, no anno de 1613, que tambem he dedicada a D. Rodrigo da Cunha por Domingos Fernandez, seu livreiro, com os commentos de Manoel Correa, em so largo. He bem provavel que esta faça pouca, talvez nenhuma differença da de 1609, de que falla o padre Thomás. Se assim he, a affirmação do mesmo padre, que a dita edição concorda com a de Manoel de Faria e Sousa, he inexacta.

Igualmente tenho presente a edição, em pequeno 18°, dada por Pedro Crasbeeck, no anno 1631, corrigida por Joam Franco Barreto, em razão dos vicios, diz elle, que tão corrupto andava (o poema) nas outras edições.

com

LVSIADAS de Luis de Camoens, commentadas por Manuel de Faria i Sousa. Quatro tomos folio, año 1639. En Madrid, por Juan Sanchez. (Inclusas 5 folhas inteiras, e debaixo de cada marca A, B, etc.)

LUSIADA, poema epico de Camoes, etc., illustrado com varias, e breves notas, e com hum precedente apparato do que lhe pertence, por Ignacio Garcez Ferreira; 2 tomos em peq. 4o.

Em Napoles o 1o 1731, em Roma o IIo 1732.

OBRAS de Luis de Camões. Segunda edição, da que,

na Officina Luisiana, se fez em Lisboa, nos annos de 1779 e 1780; 5 vol. 12° Lisboa. Na Offic. de Simão Thaddeo Ferreira. Anno 1782. Desta foi editor o padre Thomás Joseph de Aquino.

LUSIADAS de Luis de Camoens

em pequeno 16o. Coimbra, na imprensa da Universidade. 1800.

Nenhuma destas edições pode comparar-se com qualquer das muitas e boas, aindaque reputadas ordinarias, que todas as nações possuem copiosamente dos seus classicos (2).

As que acabo de numerar são todas mal impressas, sobre hum papel muito inferior, com typos mal abertos e muito mediocres, e com pouca correcção typographica.

Deste defeito grave nenhuma dellas he isenta, nem mesmo as de Manoel de Faria, e do padre Thomás de Aquino, que aliás se jactam da sua correcção; de forma que ainda neste sentido, não tem razão de tanto declamarem contra as primeiras, nas quaes verdade he que se encontram erros typographicos, mas em menor numero do que elles pretendem.

Não são porém estes defeitos os de que eu arguirei os editores sobreditos; mas sim os accusarei todos perante o publico, do attentado escandaloso de terem alterado e corrompido o texto original das primeiras edições, impressas debaixo dos olhos de Camões, e publicadas com a sua autorisação, e isto sem allegarem hum só fundamento solido, nem plausivel, para lhe ser perdoada huma tal liberdade (3).

Não ignoro que corre huma tradição vaga, de que a primeira edição original fora viciada na impressão, e que por essa causa Luis de Camões fizera imprimir a segunda corrigida por elle. Esta tradição originou-se, ou

tomou mais consistencia do lugar acima citado de Manoel de Faria. Mas nenhum editor allegou esta razão, mostrando as lições varias das duas edições originaes, e caracterisando a primeira e a segunda (4). Pelo contrario será evidente a todos os que consultarem a edição de Manoel de Faria, que elle, quando deo esta em Madrid, não tinha noticia alguma de duas edições de 1572, mas só de huma, que chama em muitos lugares el original; o que não lhe obstou para deixar de separar-se delle.

De tudo quanto se tem publicado nesta materia não pode colligir-se certeza de qual das duas edições de 1572 seja a mais correcta; e de quanto eu pude averiguar não resulta outra noticia, senão que differem na sua orthographia, a qual não estando fixada ainda em Portugal, he cousa de pouco momento; e que fóra disso não são grandes, nem muito essenciaes as differenças. He positivo que Manoel de Faria não sabia, quando publicou o poema, que existiam estas duas edições. De mais, o que elle diz no § 27 da segunda vida, não he sufficiente para distinguir qual he a primeira ou segunda edição nesses exemplares de 1572.

O que será evidente a todo o homem versado em litteratura, e na lição da boa poesia, examinando os exemplares deste original de 1572 que tenho presente, e o que poderá dizer, he, que não ha huma estancia, huma pagina, em que não se reconheça ter sido feita a impressão sobre o manuscripto de Camões. Até a sua pontuação singular de certo modo o denota, mostrando onde o poeta queria se fizesse huma maior ou menor pausa, sem lhe importar ás vezes a construcção da phrase, sendo (se he licito servir-me desta expressão) como notas da musica com que elle queria fossem recitados os seus ver(4) Veja-se a prefação.

sos. Faz-se difficil de crer que esta apparente irregulari'dade procedesse da negligencia do poeta, ou da culpa do impressor, ainda que deste notei varios erros evidentes nesta parte; assim como a falta dos caracteres do ponto e virgula, e do ponto de admiração, que não se acham nesta edição.

He inaudito pois, e não ha hum só exemplo na historia da litteratura, que editores subsequentes, sem allegarem hum só fundamento, senão o pretexto das duas edições, e o de ter algums erros de impressão o primeiro original (no que convenho), sem nos citarem hum manuscripto autographo, ou authentico de Camões, sem ainda notarem hum exemplar dessa segunda edição, que pretendem corrigida por elle, ousassem mudar e alterar o seu texto original. Todos são culpados, e sobre todos o famoso Manoel de Faria e Sousa.

Manoel de Lyra cumprio a promessa da sua edição ser feita sobre o original antigo, pois o segue assaz fielmente, com poucas excepções, e até na pontuação; o que he huma prova que em 1597 aquella primeira edição, que acima notei e caracterisei, era considerada o melhor original. Mas aos ouvidos timoratos de Lyra, ou de Estevam Lopez, e ao seu debil juizo pareceram offensivas as est. 36 do canto II, e dous versos da est. 99 do canto VIII, c as est. 71, 82 e 83 do canto IX, pelo que ousaram substituir-lhe outras, que são superlativamente más de poesia, e por extremo ridiculas.

Domingos Fernandez, ou Pedro de Mariz, porque não devo accusar Manoel Correa, que era morto quando imprimiram os seus Commentos, tambem se atreveram a alterar o texto de Camões em partes, sem mesmo se dignarem dar as razões dessa alteração.

João Franco Barreto pretendeo corrigir tambem o

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