DO CANTO SEPTIMO
Por occasião deste famoso descobrimento da India se faz huma notavel, e poetica exhortação aos Principes Christãos, acordan. do-lhes semelhantes emprezas: descripção do Reino do Malabar, em que jaz o Imperio de Calecut, em cujo porto a Armada da fundo: recebe o Imperador, ou Samori ao Gama com honradas demonstrações: apparece o Mouro Monçaide, que informando ao Gama, informa tambem aos naturaes da terra: vai o Catual, ou Governador de Calecut ver a Armada,
OUTRO ARGUMENTO
Dá fundo a frota a Calecut chegada; Manda-se mensageiro ao Rei potente; Chega Monçaide a ver a Lusa armada, E da Provincia informa largamente: Faz Gama ao Samori sua embaixada; le recebido bem da Indica gente: Co'o Regedor o Mouro ao mar se torna, Que de toldos e flammulas se adorna,
Ja se viam chegados junto à terra,
Que desejada ja de tantos fora, Que entre as correntes indicas se encerra, E o Ganges, que no ceo terreno mora, Ora sua, gente forte, que na guerra Quereis levar a palma vencedora; Já sois chegados, já tendes diante A terra de riquezas abundante.
H
A vós, ó geração de Luso, digo, Que tão pequena parte sois no mundo; Não digo inda no mundo, mas no amigo Curral de quem governa o ceo rotundo: Vós, a quem não sómente algum perigo storva conquistar o povo immundo: las nem cobiça, ou pouca obediencial a Madre, que nos Ceos está em essencia:
IHI
Vós, Portuguez poucos, quanto fortes, Que o fraco poder vosso não pezais; Vós, que a custa de vossas varias mortes, A Lei da vida eterna dilatais: Assi do ceo deitadas são as sortes, Que vós por muito poucos que sejais, Muito façais na sancta Christandade: Que tanto, ó Christo, exaltas a humildade de
nome
ara se
Y
Vede-lo duro laglez, que se nomea Rei da velha e sanctissima Cidade, Que o torpe Ismaelita senhorea, (Quem vio honra tão longe de verdade!)
IV
sdc
Vede-los Alemies, soberbo gado, Que por tão largos campos se apascenta, Do successor de Pedro, rebellado, Novo postor, e nova seita inventa: Vede-o em feas guerras occupado, Que inda co'o cego error se não contenta; to Não contra o superbissimo Othomano, Mas por sahir do jugo soberano.
Entre as Boreas neves se recrea, Nova maneira faz de Christandade: Para os do Christo tem a espada nua, Não por tomar a lerra que era sua.
VI
Guarda-lhe pcr entanto hum falso Rei A cidade Hierosolyma terreste, Em quanto elle não guarda a sancta lei Da cidade Hierosolyma celeste. Pois de ti, Gallo indigno, que direi? Que o nome Christianissimo quizeste, Não para defende-lo, nem guarda-lo, Mas para ser contra elle, e derriba-lo!
VII
Achas, que tens direito em senhorios De Christãos, sendo o teu tão largo, e tanto; E não contra o Cinypho e Nilo, rios Inimigos do antiguo nome santo? Alli se hão de provar da espada os fios Em quem quer reprovar da Igreja o canto: De Carlos, de Luis, o nome e a teria Пlerdaste, e as causas não da justa guerra?
VIII
Pois que direi daquelles, que em delicias, Que o vil ocio no mundo traz comsigo, Gastão as vidas, logram as divicias, Esquecidos do seu valor antigo? Naseem da tyrannia inmicias. Que o povo forte tem de si inimigo: Contigo, Italia, fallo, já submersa Em vicios mil, e de ti mesma adversa.
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