Nem creais, Nymphas, não, que fama desse A quem ao bein commum, e do seu Rei Antepuzer seu proprio interesse, Imigo da divina e humana lei: Nenhum ambicioso, que quizesse Subir a grandes cargos, cantarei, So por poder com torpes exercicios Usar mais largamente de seus vicios
Nenhum que use de seu poder bastante Para servir a seu desejo feio,
E que por comprazer ao vulgo errante Se nuda em mais figuras que Proteio: Nem, Camenas, tambem cuideis que cante Quem com habito honesto e grave veio, Por contentar ao Rei no officio novo, A despir, e roubar o pobre povo.
Nem quem acha que he justo, e que he direito Guardar-se a lei do Rei severamente
E não acha que he justo, e bom respeito, Que se pague o suor da servil gente: Nem quem sempre com pouco experto peito Razões apprende, e cuida que he prudente, Para laixar com mão rapace, e escassa, Os trabalhos alheios, que não passa..
A'quelles sós direi, que aventuraram Por seu Deos, por seu Rei, amada vida, Onde perdendo-a, em famá a dilataram, Tão bem de suas obras merecida. Apollo, e as Musas, que me acompanharam, Me dobrarão a furia concedida,
Em quanto eu tomo alento descansado, Por tornar ao trabalho, mais folgado.
Ve o Governador de Calecut varias pinturas nas bandeiras da Armada, e ouve a declaração que dellas lhe faz Paulo da Gama: origem, do nome Lusitania: feitos gloriosos dos Reis de Portugal (e de seus vassallos) até El Rei D. Affonso V; manda o Samori aos Haruspices, que especulem o futuro a respeito da armada: elles o informão contra os navegantes: pretendem destruir ao Gama, o qual satisfaz ao Rei com huma notavel falla.
Vem-se de Lusitania os Fundadores, E aquelles, que por feitos valerosos, De alta memoria são merecedores, De hymnos, e de versos numerosos: Como de Calecut os Regedores Consultam os Haruspices famosos, E corruptos com dadivas possantes, Tratam destruir os navegantes.
Ja primeira figura se detinha
O Catual, que vira estar pintada, Que por divisa hum ramo na mão tinha, A barba branca, longa e penteada: «Quem era, e por que causa lhe convinha «A divisa que tem na mão tomada?» Paulo responde, cuja voz discreta O Mauritano sabio lhe interpreta.
Estas figuras todas que apparecem, Bravos em vista, e feros nos aspeitos, Mais bravos e mais feros se conhecem Pela fama nas obras e nos feitos: Antiguos são, mais inda resplandecem Co'o nome, entre os engenhos mais perfeitos: Este que vês he Luso, donde a fama
O nosso reino Lusitania chama.
« AnteriorContinuar » |