Que as immortalidades que fingia A antiguidade, que os illustres ama, Lá no estellante Olympo, a quem subia Sobre as azas inclytas da fama, Por obras valerosas que fazia. Pelo trabalho immenso, que se chama Caminho da virtude alto e fragoso, Mas no fim doce, alegre, e deleitoso;
XCI
Não eram senão premios, que reparte Por feitos immortaes, e soberanos, O mundo co'os Barões, que esforço, e arte, Divines os fizeram sendo humanos: Que Jupiter. Mercurio, Phebo, e Marte, Eneas, e Quirino, e os dous Thebanos, Ceres, Palas, e Jure, com Diana, Todos foram de fraca carne humana. XCII
Mas a fama, trombeta de obras tais, Lhe deo no mando nomes tão estranhos, De Deoses, Simideoses immortais, Indigetes, heroicos, e de Magnos. Por isso, ó vós que as famas estimais, Se quizerdes no mundo ser tamanhos, Despertai já do somno do ocio ignavo, Que o animo de livre faz escravo.
XCIII
E ponde na cobiça hum freio duro, E na ambição tambem, que indignamente Tomais mil vezes, e no tope e escuro Vicio da tyrannia infame, e urgente: Porque essas honras våas, esse ouro pure Verdadeiro valor não dão á gente: Melhor he merece-los sem os ter, Que possui-los sem os merecer.
XCIV
Ou dai na paz as leis iguaes, constantes. Que aos grandes não dem o dos pequenos; Ou vos vesti nas armas rutilantes, Contra a lei dos imigos Sarracenos: Fareis os reinos grandes e possantes, E todos tereis mais, e nenhum menos; Possuireis riquezas merecidas, Com as honras, que illustram tanto as vidas.
XCV
E fareis claro o Rei que tanto amais, Agora co'os conselhos bem cuidados, Agora co'as espadas, que immortaes Vos farão, comɔ os vossos já passados: Impossibilidades não façais, Que quem quiz sempre pode: e numerados Sereis entre os Heroes esclarecidos,
E nesta ilha de Venus recebidos.
Convite de Tethys aos navegantes: canção prophetica da Sirena, em que toca as principaes façanhas, e conquistas dos Vice-Reis, dos Governadores, e Capitães Portuguezes na India, até D. João de Castro, sobe Tethys com o Gama a hum monte, desde o qual the mostra a Esphera celeste, e terrestre: descripção do Orbe, especialmente da Asia e Africa: sahem da Ilha os navegantes, e seguindo a sua viagem chegão felizmente a Lisboa.
OUTRO ARGUMENTO
A's mesas de vivificos manjares, Com as nymphas os Lusos valerosos, Ouvem de seus vindouros singulares Façanhas, em accentos numerosos: Mostra-lhes Tethys tudo quanto os mares, E quanto os ceos redeam luminosos, A pequeno volume reduzido,
E torna a frota ao Tejo tão querido.
MUS
as já o claro amador da Larissea Adultera, inclinava os animaes, Lá para o grande lago, que rodea Temistitão, nos tins Occidentaes: O grande ardor do Sol Favonio enfrea Co'o sopro, que nos tanques naturaes Encrespa a agua serena, e despertava Os lirios e jasmins que a calma aggrava.
II
Quando as formosas nymphas co'os amantes Pela mão, já conformes e contentes, Subiam para os paços radiantes, E de metaes ornados reluzentes, Mandados da Rainha, que abundantes Mesas d'altos manjares, excellentes, Lhe tinha apparelhadas, que a fraqueza Restaurem da cansada natureza.
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