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Sendo Luiz de Camões honta e gloría

de Hespanha, tão mat tornâmos por elle

que, se são poucos os que o leem, são menos s que o entendem.

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Este trabalho, começado sem o intuito de o dar um dia á estampa, foi organisado como elemento de estudo para meu. uso e explicação oral aos alumnos da 4.a e 5.a classe do Lyceu Nacional de Nova Goa. Considerando, porem, que a sua publicação pode ser proveitosa não só ás escolas, como tambem a todas as pessoas para quem a leitura e intelligencia dos «Lusiadas» offerecem difficuldades, resolvi coordenal-o em tantos volumes quantos os cantos do poema.

Até hoje, as simples notas mythologicas e de geographia antiga que acompanham a maioria das edições escolares não dão uma comprehensão exacta do texto, porque a analyse litteraria continua difficil em muitos pontos; e, mesmo essas notas, são por vezes tão incompletas, d'uma explicação tão defficiente que deixam o leitor ainda mais confuso do que antes de as lêr. Outras edições mais modernas desenvolvemi-nas um pouco e entram mais consienciosamente na explicação do texto. Creio, porem, essas tentativas ainda defficientes para alumnos, e, talvez, mais ainda, para qualquer individuo pouco lido em classicos e que porventura um dia pense em querer entender o nosso grande epico. Para esses é, em especial, a presente edição. Para esses não è admissivel, em certos pontos, o laconismo, quando não acontece ser a ausencia completa da interpretação do texto. E, sob o ponto de vista de applicações da grammatica e da estylistica, pouco ou pouquissimo se encontra do que conviria apontar-se e que tanto aproveitaria aos alumnos de portuguez, que iriam achar em exempls repetidos o que d'antes, a maior parte d'elles, abstractamente, estudavam nos seus compendios com um ou dois exemplos, repisados de continuo e proferidos já como uma toada conhecida, sem ideia clara a ligal-os á definição

ou regra.

Não terá grande valor o que fiz; creio, porem, que algum proveito deve ter, porque auxilia os que desejam ler, com comprehensão, o nosso primeiro poema nacional, e, para as escolas, é um guia que facilitará de muito o trabalho dos alumnos, encaminhando-os e dirigindo-lhes melhor o estudo. Cuidei, para isso, da interpretação das passagens difficeis; da explicação de alguns termos pelo desenvolvimento da ideia ou pelo emprego de synonimos de sentido mais claro ou usó mais vulgar; de notas sobre nomes mythologicos ou de geographia antiga; das applicações grammaticaes e estylisticas; e, finalmente, de alguns commentarios que o texto exigia. Como base principal do meu estudo, servi-me da obra de Manoel de Faria e Souza (1); mas nem só d'ella me utilisei, nem me cingi sempre á opinião do auctor. Faria e Souza escreveu ha mais de duzentos annos, numa epocha de dominação estrangeira, sob um regimen que o considerava suspeito, senão adverso. Resentiu-se, pois, a sua obra de apreciações feitas n'um tempo tão distante do nosso, do desejo de cahir no agrado real e desarmar a desconfiança com que era olhado, attenuando porisso nos seus commentarios as considerações que elle receava podessem desgostar o supremo poder. D'essas attenuações advinha prejuizo para bem se poder julgar da belleza de certos trechos, como por vezes tambem alguns exageros injustificados, mas que elle calculava devêrem sêr bem acceitos, davam mais importancia a passagens que não requeriam tal. Por outro lado, Faria e Souza torna-se ás vezes prolixo e outras dogmatico. Quando assim o encontrâmos, deixamos de o acompanhar, por não nos convencerem as suas asserções, ou porque o nosso trabalho não comporta desenvolvimentos escusados.

A obra critica do sr. Gomes d'Amorim, (2) principalmente rica na parte que diz respeito ás correcções do texto, tão a

(1) «Lusiada de Luis de Camões» commentada por Manoel de Faria e Souza. 2 vols.

(2) «Os Lusiadas de Luiz de Camões» edição critica e annotada, por Francisco Gomes de Amorim, 2 volumes.

dulterado por successivas edições, me foi egualmente dum grande recurso, embora por vezes discorde da latitude que o auctor usa nessas correcções, sem fundamento apreciavel que as justifique, aparte o seu proprio criterio; o volume relativo aos Lusiadas da collecção do Visconde de Juromenha (1); o Diccionario contemporaneo, de Caldas Aulete e Souza Valente, tão cheio de exemplos do nosso poema epico, apenas defficiente em não trazer indicadas as passagens d'onde esses exemplos foram colhidos,-e, ainda outras obras (2) constituiram

(1) Obras de Luiz de Camões, vol. VI.

(2) Instituições elementares de Rhetorica» por Borges de Figueiredo. «Elementos de oratoria, por Jose Gonçalves Lage;

«Lições elementares de eloquencia nacional por Francisco Freire de Carvalho;

«Lições elementares de Poetica nacional» por Francisco Freire de Carvalho;

nhas.

«Petit traité des figures et des formes du Style», par B. Jullien, «Dictionnaire des littératures», de G. Vapereau.

«Theoria da composição literaria», por J. Simões Dias.

«Noções elementares de estylistica», por A, A, Torres de Mascare

«Dictionnaire d'Histoire et de géographie», de M. N. Bouillet,
«Diccionario da lingua portugueza, de Constancio;

«Dictionaire mythologique universel». pelo Dr. E. Jacobi e Th.

Bernard;

«Diccionario classico», traduzido do inglez por Francisco de Paulo

Jacou;

«Grammatica portugueza» de A. Epiphanio Dias da Silva ;
«Grammatica portugueza» de Bento José de Oliveira;

«Grammatica portugueza» de A. Ribeiro de Vasconcelloz;
«Subsidios para a leitura dos Lusiadas» por J. Barboza de Betten-

court;

«Lusiadas» edição para as Escolas, por Mendes dos Remedios; «Os Lusiadas» para as Escolas e para o povo, por Josè Agostinho -Canto I.

«Os Lusiadas» edição annotada para leitura da infancia e do povo por F. de Salles Lencastre.-Canto I

«Camoens et les Lusiades», par Clovis Lamarre;
«Flora dos Lusiadas» pelo conde de Ficalho;

«Passos dos Lusiadas» por G. de Vasconcellos Abreu;
«Fontes dos Lusiadas» pelo Dr. José Maria Rodrigues;
«Selecta camoneana», por Antonio José Viale;
«Poetica portuguez», por José Simões Dias,

Etc. etc.

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