Christo 1552 de ComoelRei por obrigaçam de contrato,por o novo. 4 Os primeiros meftres, que deram principio às claffes de S. Antam foram quatro va foffe Collegio com efcholas, na forma que a Companhia vfaua ja em Italia, Sicilia, &outras partes, com notaveis proveitos na virtude,& muy grandes progref fos nas letras, pera o qual effeito offerecia tres claffes de Latim; a primeira de Rhetorica, a segunda de Humanidade, & a terceira de Grammatica, com mais huma de cafos de confciécia. Recebeo o Augustißimo Rey, com grande fatisfaçam, aceitou a efta offerta da Companhia; & offerta das claffes. logo baixou hum decreto feu, pelo qual mandou propor á camara da cidade elte negocio; afsiftia nella Francifco Correa fenhor de Bellas, filho de Chriftovam. Correa commendador de Colos, & de Alualade; era efte illuftre fidalgo o Vreador nais velho (que naquelle bom tempo. dos fidalgos cidadãos fenero de fciencias, efcolhiam os Vreadores pera aquella infigne Camara) & era muy affeiçoado à Companhia, & como a tal fempre reconhe-braicas, q todas leo muitos anos, ceremos grandes obrigaçoens; cõtinuando no Collegio de Copropos elle em Camara onego- imbra,de cujas efcholasfoy por cio da Collegio, & efcholas de muito tempo o Principal,a que Sãcto Antam, as quaes os Vrea- agora chamamos Prefeito, godores recebèram com grande vernandoas com muita authoapplaufo,pondo somente a cida- ridade, inteireza, & prudencia, A Camara de por condiçao,que os da Cōque de todas eftas boas partes aceita as panhia foffem obrigados a receha de fer dotado o que tiver o clases da berem fuas efcholas os filhos de cargo de Prefeito, nas efcholas de Lisboa Copanhia 13a. roes assinalados,nam menos nas Copanhia. Lisboa primeiro que os foraftei-daCompanhia; depois se paffou, ros: aceitamos a condiçam po por ordem da obediencia, ao mente Chrifto de 1552 b Tullius in prol. Rhet. mente veyo a morrer com no depois com o mesmo applaufo Copanhia me de Mestre douto, & com fa-a leo em Roma, & na Vniver- 13. ma de varàm fancto. De fua grande erudiçam nam temos outra memoria, mais que os tres livros de Rhetorica, que com maduro juizo, & notavel diligencia, recolheo dos tres Principes da faculdade oratoria Ariftoteles, Cicero, & Quintilia no. 5 O fegundo mestre, que P. Pedro lia a humanidade, foy o Padre de Perpi Pedro de Perpinham, de naçam nham foy Valenciano, famofo erador infigne 0rador. naquelles tempos, como adiante veremos, porque nelle fe viam, em grào muy fuperior, todas as partes, por onde Ciceroь definia a hum perfeito Eloquentia Orador,porque as palavraseram eft idoneo muito boas, as fentenças bem rum,& fen- accommodadas, a pronunciapronuntia çam excellente, a voz,o rosto,o gesto, o meneo, tudo muy encontinens graçado, & bem proporcionavocis, vul- do. Delle temos hoje varias ómoderatio- raçoens impreffas, que andam venuftate. em hum volume, muitas dellas rum verbo tétiarum ad tionem ac comodatio, tus. geftus nem, cum em louvor daRainha fancta Ifabel, tidas diante da Vniverfidade de Coimbra; de cuja grande eloquencia, & particular erudiçam puderamos escrever outro livro mayor que o das fuas òraçoens:elle foy tambem dos primeiros que lèram Rhetorica no Collegio de Coimbra, quando nos entregàram aquellas efcholas, como adiante contarey; & fidade de Paris, aonde acabando hum dia de ter huma òraçam, com grande admiraçam dos ouvintes, confolaçam dos. Catholicos, efpanto, & confufam dos hereges (aos quaes confundio com grande pezo de rezoens, efficacia de fentenças,copia de palavras,impeto,& vehemencia de afectos) & recolhendose pera cafa, com huma dor de ilharga(como fucedeo depois de femelhante acçam ao outro famofoOradorRomano Lucio Craffo) veyo a dar fim a fua vi- id, ul. da, mas nam â gloria, que com feu fancto zelo, & admiravel eloquencia immortalizou. 6 Nefte eloquentiffimo Vid.M.Tul. ratore. d Greg. lib.6. moral. Ille bene loqué di facundia percipit,qui tè vivendi ftudia exté dit: nec loquenté cóf cientia pra pedit, cùm vita lingua Padre fe viam bem as boas partes,que S. Gregorio Magno demandava em hum bom orador, quando diffe, que sò aquelle percebe a facundia de bem fa-inum corlar, que tem no coraçam a arte dis per recdo bem viver, porque fó entam nam pòde haver embaraço nas palavras, quando o teftemunho da vida precede a eloquencia da lingoa. Muito puderamos dizer de fuas grandes virtudes; entre outros exemplos que nos de Perpideixou de edificaçam,nam heo nham foy menor, que lendo elle a primei-infigne na ra claffe de Rhetorica em Co-humildade. imbra,co louvor de toda a Vniverfidade,pera dar lugar a outro meltre, que lia a fegunda claffe B4 havia antecedit. P.Pedro 1532 que tamfyn Chrifto de havia annos, pedio com tam fyncera humildade ao Padre Provincial que melhoraffe ao outro Padre, fubindoo á primeira, & elle ficaria atras na fegunda, que o Padre Provincial pela confiança, que tinha de fua virtude,aceitou a offerta; & affim fucedeo, que depois de ter lida a primeira, deceo a ler a fegunda claffe, que com tal meftre em tudo ficou primeira; tam confiada he a eloquencia, & tam generofa a humildade: defte excellentifsimo orador falaremos ainda ao diante. P. Manoel 7 O terceiro mestre foy o Alvares infigne varâm Manoel Alvares foy o tercei Portugués, natural da ilha da rometre. Madeira Reytor que foy do Collegio de Coimbra, & Évora,& Prepofito da Cafa de Sam Roque, o qual nefte principio começou a enfinar Grammatica no Collegio de S. Antam, cõ tam feliz fucceffo, & em tam boa hora, que ainda agora de pois de morto a enfina por quafi toda a chriftandade, com a arte de Grammatica, que com Gramma- tanta diligencia, & excellente difpofiçam, & com tam acertado juizo compos, pera proveito de todos os que começam a aprender a lingoa latina. Porém porque as fingulares virtudes, & raros exemplos de hum Padre tam infigne,pedem particular narraçam, ao diante le fará delle a lembrança, que nos me Compos a Arte de tica. rece hum tal meftre univerfal,& noffo muy particular, ao qual todos eftamos em grandes obrigaçoens. Copanhia 13 P. Frácif 8 O quarto mestre foy o Padre Francifco Rodriguez o co Rodri Manquinho, de quem jà falaguez foy o mos na primeira parte, varàm quarto me de muita doutrina,prudencia,&re. Lib. 2.c.26. governo, do qual tambem ao diante neceffariamente hemos de fazer a devida lembrança, quando o embarcamos pera a India com o Padre Patriarcha de Ethiopia. Elle foy o primeiro que no Collegio de Sancto Antam começou a ler duas liçoens, huma de Mathematicas, & outra de cafos de confciencia, com tam grande applauso, & concurfo dos ouvintes, que trazia na liçam de moral quatrocentos difcipulos, porque aode lhe faltavam os pès pera poder andar, the fobejavam as boas partes pera faber enfinar. 9 Eftes foram os primeiros mestres que começaram a cultiuar aquellas tenras plantas dos filhos de Lisboa, que ordinariamente cuftumam ter lindos engenhos, & indoles excel· lentes, em cujas aureas naturezas melhor luftram os trabalhos da Arte, & o emprego dos meftres, como no mais nobre metal o mais polido buril. Era naquelle tempo tanta a curiafidade dos difcipulos,& a paciencia dos mestres, que durava a claffe Chrifto de 1552. claffe tres horas pela menhã, & acima do jogo da pella, junte Copanhia por feu Architecto Balthezar que nam fey como hoje os eftu-modidade; & mandando logo dantes de Lisboa fofreriam ef ta penitencia; & aos Domingos a tarde acodiam todos às melmas claffes, a ouvir a doutrina, que os mestres lhes enfinavam, que vinha a responder ás praticas, que no tempo d'agora lhes. fazem às feftas feiras: durou efte bom cuftume aquelles primeiros tempos introduzido por eftes quatro primeiros meftres, nos quaes, como em quatro colunas, fe fundâram as efcholas do Collegio de Sancto Antam; atè que pello tempo adiante, vendo o Sereniffimo Infante Cardeal, & depois decimofeptimo Rey de Portugal, o grande fruito que fe tirava d'eftas efcholas, nam sò nas letras humanas, mas tambem nos cuftumes fanctos, que principalmente aprendiam os eftudantes, tomou à fua conta a fundaOccafiam cam d'aquelle Collegio; & porque houve que o fitio de S. Antam o velho, de nos mu darmos pe em que estauamos, àlem de oura S.Anta tros inconvenientes, era muito CAPITVLO V. Das obrigaçoens que todos | Chrifto de tria. efte Collegio, & a Sancto An- dos, por terem a prerogativa de & invento feu, nam poderà dei-dos, & fempre fam os mais favo- 2 Copankia 3 Nam pàram aqui as grandezas, & prerogativas d'e- Collegiode fte Collegio, elle foy, como vi- S. Antam mos, o primeiro que nefta Pro- foy o primeiro qtevincia teve efcholas publicas; veclaffes. & pera que digamos tudo,oCollegio das Artes, & as claffes de Obrigaçã os homens Humanidade, que o magnifico O amor que os homens que os hotem à fua patria, he muy natu- Rey Dom Ioam nos entregou mens tem ral, & he muy bem fundado, na Vniverfidade de Coimbra, á fua pa porque a patria he a primeira, fe deuem ao Collegio de Sanque em fy nos recolhe, & aga- &to Antam, porque vindo hum falha,quando nacemos, & fahi-dia ver os noffos meftres de fanmos das entranhas de noffas &to AntamD. Antonio Pinheiro, mãys: nasceo a Companhia em que era muito valido delRey, Roma, que foy como mãy de & foy Bifpo de Miranda, & noffa Religiàm; porèm a pri- ultimamente de Leiria, & era meira parte aonde, como em homem doutiffimo, & muy erupatria,foy recebida,& agafalha- dito em letras humanas, ficou da, he o Reyno de Portugal, no tam fatisfeito de ouvir os nof Collegio de Sancto Antam; por fos quatro meftres de S. Antam, onde bem fe vè a grande obri- que foy dar grandes parabens a gaçam, que a todos nos corre a fua Alteza dizendolhe que , den |