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Chrifto de detro em Lisboa tinha ja outra 1552.

Ao Collegio des. An tam Je de ve as claf Jes que el Rey nos deo em Coimbra.

Vniverfidade,como a de Paris,a-
onde elle estudára; muito gostou
o fereniffimo Rey de ouvir tam
boas novas, vendo quam valen-
te fucceffo tinham as efcholas
d'efte Collegio, & a grande fa-
tisfaçam q havia em toda a cor-
te de feus mestres,os quaes mui-
tas vezes hiam a difputar, &ter
oraçoes diate defua real presēça,
e d'aqui le moveo a nosentregar
Collegio Real das Artes da
Vniverfidade de Coimbra, co-
mo adiante veremos; de forte,
nam sò foy efte o primeiroCol-
legio que em Portugal teve claf
fes, mas tambem foy o que deo
mestres a Evora, & a Coimbra,
por feu refpeito fe nos deo o
Collegio das Artes, & eftudos
menores em Coimbra.

&

4

Outra excellencia tam

torizasse as fuas regras. Foy sẽ-Copanhia
pre o monte Sinai tido do povo 13.
de Deos em fingular venera-
çam, por aquelle fer o primeiro
lugar, em que Deos manifeftou
aos homens as leys,, com que Exod.c.24.
queria fer venerado; na mesma
devemos ter a efte fancto Col-
legio, pois foy o lugar, em que
fahíram a publico leys tam fan-
ctas,& eftatutos tam fagrados.

&C.34.

DeS. Anta fahiramos

5 Tambem he gloria notavel d'efte Collegio fer elle o primeiro que em fy recolheo,& Padres, q agafalhou os Padres que fundà fundáram ram a cafa de S.Roque, porque a cafa de d'aqui fahíram, com o feu pri- S. Roque. meiro Prepofito (que foy o incomparavel varám Dom Gonçalo da Sylveira) & d'aqui leváram parte emprestados, & partes dados os moveis, & alfayas, com que aquelles bons Padres, No Colle- bem muy notavel te efte Colle- como verdadeiros pobres de ef giodes.An tam fe cogio, porque nelle mandou S. Ig-pirito, entam fe remediáram, nacio que, nefta Provincia,fe co donde fe vè a obrigaçam, & renefta Pro- meçaffem a publicar as Confti- conhecimento, que a cala de S. vincia a tuiçoens da Companhia (como Roque deve fempre ao Collepublicar logo diremos) porque affum co- gio de S. Antam. D'aqui tambẽ as Conftituiçoens. mo nefte Collegio começou a fahiram os que foram fundar o Companhia com o real empa- Collegio de Coimbra, & nam ro do fereniffimo Rey D. Ioam, sò agafalhou entam aos primeiafsi també quiz oSãcto,q as Co- ros Padres, que vinham pera S. ftituiçoens da mefma Compa- Roque, fenam que ainda agora nhia fahiffem a luz com appro- he efte Collegio o commum vaçam, & beneplacito do mef- hofpicio de todos os ditofos mifmo Auguftifsimo Rey, que en- fionarios, que os mais dos annos tam eftava em Lisboa, pera que manda esta Provincia pera a Infeu real favor juntamente hon-dia,pera a China, pera o lapám, raffe a Companhia, & lhe au & pera as mais partes tranfma

meçaram,

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Chrifto; afsim o Collegio de S.
Antam, com igual rezám, fe glo
ria de ter no mesmo tempo por
feu primeiro Reytor outro tam
infigne varàm, & provincial de

Copankia

13.

Chfi dermas; ette he o cavallo Troyano cheyo de foldadefca do céo, donde todos os annos fahem os conquistadores das almas. Nam houve no Oriente martyr gloriofo da noffa Companhia, fahi-Martyres,dos quaes logo brevedo de Portugal, que nam expe- mente falarey, deixando a relarimentaffe primeiro a muita çam mais larga pera diante, em charidade que fempre houve que haverá melhor occafiàm. nefte Collegio, pera com hofpe- 7 Eftà hoje este real ColElado pre des femelhantes; & em quanto legio muy atrazado no tempo- fente do nelle efta charidade durar, he ral com dividas, caufadas pela collegio de certo que lhe nam ha Deos de innocencia de alguns Padres, S.Antam. faltar; antes he bem que fe per- que com perdas proprias, tomáfuadam os fuperiores do Colle- ra fobre fy obrigaçoes alheyas, gio de S. Antam, que nam com- experimentando nôs muy roins prirám com as obrigaçoens de pagas de quem lhe estava em feu cargo, fe faltarem na chari- grandes obrigaçoens, cujo fucdade com os hofpedes, ceffo a feu tempo fe contará mais por menor, pera que ao mundo todo confte de noffa verdade, & de nossa justiça, & pera que fe veja a innocencia de de huns,& a pouca gratidam de outros; & le acautelem os Religiofos,em fe fiarem de promeffas de gente poderofa, perfuadindofe os da Companhia, que fua obrigaçam nam he bufcar dinheiro pera empreftar, mas buscar almas pera falvar: agora nam he ainda tempo pera bulir nefte fogo, que está debaixo da cinza enganadora. Eltà cō tudo por outra parte oCol legio autorizado,&acrecentado nas Cadeiras, porque (àlem da liçam do Moral, Mathematicas, Philofophia, & nove claffes de Latinidade) tem hoje duas Ca

OP.Igna

Reytor de
S.Antam.

6 Todas eftas grandes excellencias finalmente fe coroáram com a illuftriffima laureola de martyrio do feu primeiro cio de Aze Reytor defte Collegio,o infigne vedo foy varam Ignacio de Azevedo,que primeiro nam so na voz do povo he tido por martyr, mas por capitàm efclarecido de Martyres gloriofos,pera que esta gloria nam faltafle a quem tantas outras fobejavam; & pera que tambem co esta, como em outras muitas prerogatiuas, pudeffe affemelharfe com a cafa de S. Roque, a qual afsim como com tanta rezâm fe jacta de ter por feu primeiro Prepofito aquelle ineftimavel varàm, & Padre muy efclarecido,o P.Gonçalo daSylveira, que deu a vida pela fé de

Chrifto de

1552.

pa

de Sá

Codeffa de

agora vay continuando, ferà
hum dos mais grandiofos edifi
cios de Europa.

CAPITVLO VI

part.1.lib.1.

25 Anno da deiras de Theologia efpecula-Lisboa nefte mosteiro de San-Copanhia tiva; & efperamos em Deos, &to Antam, nam tinha máis 13. que que cedo fe acabarà o feu fa- o nome de Superior. Foy o Pamofo templo, fundado pela dre Ignacio de Azevedo em tuD.Phelip illuftriffima fenhora Condeffa do o primeyro Reytor d'aquelde Linhares Dona Phelippa de le Collegio, primeyro na òraLinhares, Sà, que poderà competir com çã,e na mortificaçam;primeyro fundado-as bazilicas mais celebradas em no illuftre fangue, que herdou ra do teplo Helpanha toda ; & fe a obra do de feus avós, & muito mais illude S.Antä. Collegio fe acabar, conforme ftre pello fangue,que derramou pela fê Catholica. Na primeira parte d'efta Chronica fizemos mençàm de quem era, de fi ac.39.a n.7. nobreza, de fua entrada na Cċpanhia,& de feus louvaveis procedimentos nos primeiros annos da Religiâm. Mas porque agora nos convida o lugar, pois o temos neste mesmo anno de 1552(em que himos fallãdo neftaChronica Reytor deS. Antàm,nam quero paffar fem fazer delle,aindaque brevemete,mais algua comemoraçam,pelo muito q lhe deve efte Collegio, & toda a Provincia de Portugal, deixando as mais largas noticias. de fuas coufas,pera que escrever os fuceffos do anno de 15.70.no qual aos 15.de Iulho cô 40.copanheiros deo a vida pela profiffam da fé Catholica.

Foy OP.Ig nacio de

Das virtudes do Padre Igna-
cio de Azevedo, primeyroRey
tor do Collegio de Sancto An-
tam; & de como foy a Ro-
ma por Procurador
da India,& do

I

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Brafil.

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AM he a menor gloria, entre as grandes prerogativas,que temos aAzevedo o pontado defte real Collegio de primeyro S.Antam, a que tocamos no caReytor de S.Antam pitulo paffado do primeyro Reytor que teve, depois de fer Collegio em forma, o qual foy o Padre Ignacio de Azevedo, porque até o anno em que hi mos nefta Chronica de 1552. o que prefidia aos noffos em

2

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Admiravel foy fempre na Companhia o procedi- Foy muy mento defte infigne varâm, era muy continuo na òraçam, & muy dado aos exercicios efpirituaes: atè quãdo caminhava tinha quatro horas de meditaçam, duas pela menhã, & duas C

a tar

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á tarde, & tal vez lhe acon- de inverno, & o frio gran

tecia na cidade o que fuccedia
a fancto Antam no deferto,
punhase à noite em òraçam,
na qual continuava até o Sol,
com fua vinda, trazer a me-
nhã; & entam parece que me-
lhor descaçava os fentidos,quã-
do melhor vigiavam os penfa-

mentos.

&o

de: diffelhe o Padre, que
elle o proveria logo; & la-
hindofe o Irmam, defpio el-
le logo o feu jubàm, & o
mandou entregar ao Irmàm,
fem ninguem faber quàm de-
facomodado elle ficava : po-
rèm o frio era grande, & af
fim como apertava d'antes com
o fubdito, trespassava tam-
bem o fuperior, de forte que
lhe veyo efcrupulo, que lhe
poderia fazer muito mal â sau-
de ;

3 Na penitencia foy Defagra tam exemplar, que acho efde mortifi crito, que o cilicio era nelle quafi continuo, & as difciplinas tam afperas, que trazia ordinariamente as coftas todas azuladas, & cheyas de vergoens, & piladuras dos crueis golpes, com que abria fuas carnes, o qa ter alguma enfermidade, particularmente fe advirtia, quãdo fe difciplinava no refeito

De fua uita cha

ridade.

& defejando por huma
parte experimentar faltas, ain-
da no neceffario, & por ou-
tra procurando nam fe expor

tratou de remediar o frio, &
de nam faltar à pobreza; vayle

rio, o que fazia frequentemen-á eftrebaria, aonde tinham

te.

4 Com efte fer pera com fua peffoa o Padre Ignacio de Azevedo, foy notavelmente benigno, & compaffivo pera com todos, affim fubditos de cafa, como pobres de fòra: de tudo pudera contar grandes exemplos: fendo Reytor do Collegio de Braga, como naquelles principios as rendas foffem poucas, neceffariamente havia de ter algumas faltas no provimento da cafa, & dos fubditos; chegoufe ao Reytor hum Irmám, representandolhe que The era neceffario hum jubam, por fer tempo

naquelle tempo hum jumen-
tinho, & tomandolhe hum
pedaço da cuberta, lhe fez
hum buraco no meyo, pcr
onde meteo a cabeça, & a
veftio, & troyxe debaixo da
roupeta ; & affim mal remedia-
do andou por muito tempo,
com esta nova traça de jubam;
que o varàm fancto sò trata de
bufcar (como Sam Paulo a-1.Thim.c.6
moesta ) com que se cubrir, & n.8.Haben-
nam com que fe enfeitar. Mui- &quibus te-
to mais tempo andaria o bom gamur, his
Reytor com tal peffa, se af- mus.
fim como a encubria con gran-
de filencio, a nam manife-
ftaffe o ruim cheiro, por onde

b

ad

b

tes aliméta,

contenti fi

advirtindo niffo hum Padre antiguo, & tratando de o fa-: zer melhorar de vestido, eftranhandolhe o que trazia, The refpondeo o Padre Ignicio de Azevedo, que o deixaffe continuar, porque nenhum vestido lhe convinha mais que aquelle tal era o desprezo proprio defte grade fervo de Deos, defejando, à imitaçam do Veiumentu Rey Propheta, fazerle por fact as fum, humildade tam abatido, como apud te. por natureza era aquelle cujo fora o feu jubam.

PL.72.0.23.

dade.

с

De fuara- 5 Nefte particular de ra humil fua grande humildade fazia exceffos dignos de admiraçam: fendo fuperior, & tendo cargo d'efta Provincia, quando hia vifitar os Collegios, caminhava a pè, ou fobre hum jumento, & em chegando a alguma nofla casa, elle o levava à estrebaria, & o penfava, & lhe dava o neceffario; havendo aquelle exemplo por muy principal acto de fua vifita, perfuadindofe que melhor governa, quem melhor fe humilha & era tal o bom modo, com que acodia a eftes vis minifterios, que nam diminuia, antes acrefcentava fua muita autoridade, que efte he o preço ineftimavel da virtude, que aly acrescenta o valor mais fubido, no que o mundo tem por mais aviltado,

;

6

,

das almas.

á villa de

O cuydado da falvaçam De feu gra das almas nefte fervo de Deos de zelo da foy ferventifsimo; em ne- falvaçam nhum tempo fe efcufava de prègar, de confeffar, & de acodir ao bem dos proximos, como vimos na primeira par-.part.lib. i. te pelo que lhe fuccedeo c.18.n.8. em Braga, quando por caufa de fua continuaçam no con fifsionario, fe moveo aquelle infigne varám Frey Bertholameo dos Martyres, Ar cebifpo de Braga, & Primàs das Hespanhas, a nos fundar o Collegio na fua cidade. de Braga. Sendo aly Reytor, Da mif& pedindolhe a villa de Bar-fam á fez cellos algum Padre pera lhe prégar, & confeffar na Quaresma ; nam havendo jà outro Sacerdote que lhe dar, elle mefmo lhe acodio, deixando o cuydado do Collegio a outrem; eftimando maes o officio de Confeffor, que o cargo de Reytor. Notavel foy o fruito que recolheo nefta nobre, & antigua villa, na qual prégava aos Domingos, às quartas & às feftas feiras, todos os mais dias fe hia com feu companheiro a pé, pelos lugares vifinhos, prègando muitas vezes n no dia, & guardando fempre feu bom cuftume de fahir do pulpito pera o Confifsionario, & nelle continuar até as

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Barcellos.

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