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Anno del Chrifto de 1553.

1.p.l. 3. ca.

30.1.7.

CAPITVLO IIII

Como neste anno de 1553. fe affeytuou a missàm pera a India do Padre Vrbano, o qual tinha fido o quinto Reytor do Collegio de Coimbra; & como Deos foy fervido de o levar pera fy na viagem: & do mais que focedeo aos noffos, que no mefmo anno fe embarcaram pera a India.

I

A primeyra a parte diffemos, como fendo Reytor do Collegio de Coim

bra o Padre Vrbano, pedio com tanta inftancia a mifsâm da India, que lha concedeo o Padre Provincial Diogo Miràm, ficando continuando com o feu Reytorado o Padre Manoel Godinho (que d'antes era o Miniftro do Collegio)atè lhe focedero Padre Leàm Henriques;& com ferem muy grandes os defejos que tinha defta mifsàm o Padre Vrbano, & com le partir logo pera Lif boa, cm rezàm de a effeytuar, com tudo nam foy poffivel, hir nenhum noffo pera a India, n'aquelle anno de mil qui

Anno d Copanhia

14.

Da arma

da que foy

pera a in

nhentos fincoenta & dous. Po. rèm logo no anno feguinte de 1553. fe embarccu em a nao-capitania Sam Bento, em que hia por Capitam mòr de quatro naos de viagem Fernam d'Alvres Cabral, filho de Pe- dia no an dralvres Cabral (que tinha no 1553. também fido Capitam mòr da fegunda armada, que foy á India) & de Dona Ilabel de Caftro. Os Capitaens das outras

b

de

naos foram Melchior de Souza Lobo, filho de Diogo Lobo, & de Dona Philippa de Souza; Dom Payo de Noronha, filho de Dom Sancho de Noronha, & de Dona Guiomar Correa; & Ruy Pereyra da Camara, que ficou fervindo na India, & foy filho de Antonio Rodrigues da Camara. Conforme a ifto deve fer erro da Impressàm o que diz Diogo de b Couto na fua feylta Decada, que efte fidalgo Fer- Dogo CoutoDec. nam d'Alvres Cabral foy por 6.1.10.c.13. Capitam mór pera a India, no Vide Franc. anno de mil quinhentos fin- de Ancrai. coenta & dous, porque confta que no dito an no de mil qui nhentos fincoenta & dous, foy com efte cargo de Capitam mòr pera a India, Fernam Soares de Albergaria, filho de Ioam Soares de Sequeyra, & de Dona Phil ppa de Lima; & que o dito Fernam d'Alvres Cabral partio nefte anno de mil quinhentes fincoenta & tres &

d)

le per

C

chron.Reg.

toan.3.4. p. cap.103. Vice Maff.

d

infra citatù.

Anno

Anno dele perdeo na terra do Natal,
Chrifto de
x553.

e

de Rebus

tro em a nao, fobre as agoas

Anno da

voltando pera o Reyno. Com do mar, no meyo da confu- Cipanhia o Padre Vrbano le embarcâ-fám de tanta variedade de

ram tambem na mesma nao o Vide Maffe P. Balthezar Dias, & o Irmam Indicis,1.16 Aleyxo Dias. em a nao Sancta Cruz,de que era Capitàm MelPadres, a chior de Souza Lobo, hia o Pa aquelle andre Francifco Vieyra, peffoa de no foram muy conhecida virtude, & de pera alnmuytas letras, que tinha fido fuperior em Santo Antám, les vava em fua companhia a hum Irmam por nome Antonio Al

dia.

Lisboa oP. Francifco Vieyra.

vres.

A

2 Todas estas quatro naos Arribou a disferindo as vélas, fahiram do porto de Lisboa, em vinte & quatro de Março do dito anno 1553.velpora da Annuciaçam da Virgem Sanctiffima, no qual dia,no anno atraz tambem partira pera a India com as fuas naos Fernám Soares de Albergaria.. Porèm a nao de Melchior de Souza Lobo, em que hia o Padre Francisco Vieyra, obrigada da muyta agoa que fazia, por caufa de hum temporal, que lhe fobreveyo, arribou a Lisboa. Vinha efte fidalgo, & todos os mais d'aquella nao muy edificados dos. procedimentos dos noffos dous Religiofos, em particular da muyta charidade, que uzaram com os enfermos. A dous fidalgos da arribada foy o Padre Francifco Vieyra, difpondo pouco a pouco, pera que den

gen- 14

ts, tomaffem os exercicios efpirituaes de Sancto Ignacio, que nam ha nenhum lugar, que nos efcufe de buscar a Deos, affim como Deos em nenhum se escuza de nos defirir. Tambem se aproveytâram os dous nobres exercitantes, que hum d'elles em desembarcando no primeyro caminho le foy meter Capucho, vindo mais aproveyta do defta arriba da, com a pobreza que efco Theo, do que fe vieffe muyto rico da viagem da India; pois com aquelle habito pobre affegurava fua falvaçam, que com as riquezas podia arrifcar. O outro exércitante, ainda que nam tomou o mesmo estado, em rezam do que jâ tinha, procedeo fempre como homein, que vinha muy aproveytado em efpirito, ganhandole na arribada, em que muytos fe perdem.

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Anno de Chrifto de

1553.

Das gran

autoridade,& governo; por outra parte era tam humilde, que chorou muytas lagrimas,quando o declararam pera Reytor do Collegio de Coimbra, affirmando com muytas vèras, que nam tinha fufficiencia pera aquelle cargo, & q Deos o que ria caftigar com lhe dar aquelle governo; & fentia ifto tanto o bom Padre, que era neceffario darlhe os pézames, que elle efperava,em lugar dos parabens, que outros aceytam. E á volta difto inftou tanto que o tiralsẽ do governo, & o mãdassem pera a India, que finalmente alcaçou por huma vez, o que por tantas tinha pretendido.

4 As incomodidades que des incom- fofreo na navegaçam, foram modidades muy grandes, porque alem de q teve em acudir com exceffiva charidade

a nae.

.

a todos os doentes, & affligidos da nao,se lhe acrecentou o trabalho com o grande incomodo do biliche, que levava junto do fogam,ardendo de dia có quentura,& de noyte vigiando, fem poder tomar fono, sofrendo tudo com tanta paciencia, que todos fe efpantavam, magoados de ver arrifcada fua vida, tam importante ao bem da Companhia,& tam neceffaria ao proveyto das almas do Oriente. Adoeceo finalmente de febres muy ardentes, mas nem por iffo largou o cuydado de fua òraçam mental, & devaçoens ordi

Anno de Coparhia

narias,atè que no dia onzene, chamando com muyto affecto, & fuavidade pela Virgem Ma- 14. ria,noffa fenhora, & affentadofe fobre a pobre cama, fez vir feus companheyros junto de fy, dizendolhes, com grande alegria,que le hia defta vida muy confolado, pelo tomar a morte no caminho da India,em demáda da falvaçam das almas; & depois de os abraçar, & confolar,pedio hum Crucifixo, que beyjou,& adorou com muytas lagrimas,& devaçam, & finalmente fazendolhe hum devoto colloquio,no fim d'elle se abraçou com o Sancto Crucifixo,& acabou a vida, In ofcula Domini, como outro Moyfes, posto que nam em hum monte, à vista da terra da Promissàm, mas no meyo do mar, com os olhos no céo,pera onde fe partio a gozar do premio de fuas esclarecidas virtudes.

5 Foy homem o Padre Vrbano de grande autoridade, & prudencia conhecido,& efti mado por tal. No anno feguinte de 1554 tratando o Sereniffimo Rey Dom loâm de madar pera a India por Viforrey a D. Pedro Mafcarenhas (como logo diremos) aquelle que fenda Embayxador em Rom, teve a boa forte de trazer configo por copanheyro da jornada o Apoftolo do Oriente Sam Francifco de Xavier & procurando efte

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De ut.c.34.

Boas par

tes do P.

Vrbano.

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Anna de fidalgo,com todas as forças et
Chrifto de cufarfe defte cargo, & jornada,

1553.

de Coim

Vrbano.

cias que fiz,outro nome, nem Anno da fobrenome, mais que o de Vr Capanha

h

h

1.p.l.2.c.19

i Luc.io. nu:

20.Gaudete auté quòd homina ve

sut in cælis:

por caufa de fua idade, que pal- ||bano(&o mesmo contamos na 14-
fava de 70, annos; finalmente primeyra parte, do P. Mauri-
houve de aceytar, & obedecer
& obedecercio,confeflor d'elRey Dom Se-
às ordens reaes, & aos rogos de
& aos rôgos de baltiam)efquecendofe do mun-
feu grande amigo, & fenhor,o || do,& de fuas vaidades, & dey-
Infante Dom Luis,dizendo elle xan doas tanto de propofito, q
qo que mais o animava,& con- nem de feus nomes fe queriam
folava naquella jornada, era lembrar,contentandofe,como o
cuydar que acharia na India o
Senhor dizia a feus Difcipulos
Padre Vrbano,de cuja madura com os terem efcritos no livro
prudencia,& acertado cofelho da vida. Efte foy o despacho,
efperava valerse muyto; porem que alcançou o quinto Reytor fra fcripta
chegando Dom Pedro Mafca do Collegio de Coimbra, foce-
renhas à India, fentio muyto, deo elle no Reytorado áo Pa-
quando foube que o bom Padre Luis de Gram; o qual tam-
dre acabàra a vida, antes de a-bem nefte melmo anno, em
cabar a viagem.
que himos, de 1553. alcançou
outro femelhante defpacho de
hir em mifsàm ao Brazil, como
fedo contaremos, porque na-
quelle bom tempo os mais gra-
ves,& mais autorizados, como
bem temos visto nefta chroni
ca, eram os primeyros pera re-
querer as miffoens, & pe-
ra empolgar nos
trabalhos.
(.)

་་

Daobriga 6 Muyta obrigaçam tem cam quete o Collegio de Coimbra a efte Collegio Padre Vrbano, porque álem de bra 40 P. fer nelle o quinto Reytor, que igualmente governou, & edificou leus fubditos, & ajudou muyto nas obras que le faziam, foy tambe nelle mestre de noviços, os quaes criava com notavel cuydado: foy dos primey ros que entraram naquelleCol Vide1.p. 1. legio,no anno de 1544.8 & lẽ3.c.30. n.7. do homem nobre,& letrado, & tendo jà grande nome naquella Come efte Vniverfidade, elle o foube encubrir de maneyra, que mudadoo quando entrou, pera nam fer conhecido como fez o gloriofo Sacto Antonio noffo Portuguez) nunca na Companhia The alcancey, por mais diligen

P. mudou

o nome.

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I

Itofo foy efte anno de 1553. em miffoens tam conformes com noffo inftituto,porque àlem das trafàlem das traf marinas,fe fizeram muytas por todo o Reyno, entre as quaes foy de grande ferviço de Deos P. Miguel a que, por ordem del Rey Doin de Souza Loam, fez o Padre Miguel de foy fogeyto muvto il Souza,o qual foy hum dos illaluftre. Ares fogeytos,em langue, & em virtude, que tivemos na Companhia em feus primeyros annos;foy filho de Ayres de Souza, Commendador de Santa Maria de Alcaceva,& de Alcanede, da ordem de Aviz, & de Dona Violante de Mendoça, fua molher;entrou no Collegio de Coimbra movido do bom exemplo que davam aquelles noffos primeyros Religiofos, os quaes fendo poucos,& julgados por idiotas, fizeram abalar a fe

guir feu exemplo os mais illuf- Anno da tres mancebos d'aquella Vni- Copanhia verfidade,como vimos na pri- 14. meyra parte, entre os quaes be merece fer cotado o Padre Mi-1.p.1.1.c... guel de Souza, que depois mor- & fæpe alireo fendo Reytor do mesmo Collegio de Coimbra, como a

diante veremos.

muy

bi.

2 Foy elle neste anno em miffám,como diziamos, â vill. de Tomar, & a todo o feu termo; & nesta sancta occupaçam fe deteve por efpaço de quatro mefes. Aqui foy grande a charidade com que o receberam os moradores d'aquella nobiliffima villa, os quaes estavam bem lembrados,, & com grandes faudades de feu fancto miffionario,o Padre Dom Gonçalo da Sylveyra, de quem jà falamos no quarto livro;& com a chegada do Padre Miguel de Souza, & de feu companheyro, era o Padre Marcos Iorge, de quem logo falaremos, le refrel-Tomar. cáram eftas lembranças, & renovàram os ferviços a Deos noffo fenhor, que fe cuftumam fazer nas miffoens da Companhia;acudindo os dous Padres com todo o cuydado ás confiffoenis,& ás prègaçoens, & a todos os mais minifterios da Co. panhia, com grande gloria divina,& proveyto das almas.

3 Nam sô acudiram os noffos Religiofos este anno cõ miffoens ao Reyno, & à India,

como

Fruyto q colheram defta miffám na villa de

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