Hor.l.1.od. 4. Pallida mors æquo pulfat pede turres. lho,em quem esta vam libradas do lhe foge os peyxes no már: nas còvas mais escondidas da Lybia ardente,nos prados mais deleytofos da fresca Palestina, vay a morte a conquistar ao Leâm rompente,& ao cordey-ranças: pouco havia que no laro innocente: nem os ceptros neyro paffado tinha celebrado reaes, nem as purpuras fobera- os defpoforios com a Princela nas,nem as coroas cerradas, & D.loanna, filha do Emperado mitras pontificaes, deyxam de Carlos Quinto & ainda que aos vinte do mefmo mes de la pagar tributo a este cruel tyranno da morte, que igoalmen- neyro pario aquelle tam defejate bate, como o outro gétio di- do,& tam efperado Rey Don zia, nachoça do pobre pedin- Sebaftiam, que em parte enxute,& na torre do Rey poderofo. gou as lagrimas del Rey feu 2 A certeza indubitavel avo,logo no feguinte anno de bernas,Re- Jefta inviolavel verdade vemos 1555.fe renovàram coa morte gumque ada dia, & a experimentamos do Sereniffimo Infante Dom muyto à noffa cufta dentro do Luis,em idade de quarenta & noffo Reyno de Portugal, no nove annos,fendo digno de viqual vemos, como em theatro, da le termos,& gloria sẽ limite reprefentarle o jogo infolente 3. Por caufa da morte do la fortuna pertinàs. Tiveram Princepe D.loàm,fe foy o Car- Vay a Lifas felicidades de Portugal o feu deal D.Henrique a Lisboa af boa o Carnais fubido auge em os tempos fim pera cõfolár a el Rey feu ir-deal Infalitofos do felicifsimo Rey Do mao como,àRainha,& Princefa, Manoel: começaram a ter fua em tam graves, & crucis defgofeclinaçam nos ultimos annos ftos. E vendo que fua afsiftecią la vida del Rey Dom Ioàm III. era neceffaria na corte, aonde (nam por culpa do Rey,que era tudo andava perturbado, pela de vida fancta, mas por caufa da falta de filho herdeyro, & q as fortuna que foy cruel) morre efperaças de Portugal eftavam The finco filhos varoens. E nam pendentes do parto pendentes do parto da Princela contente a morte com tal ef D.Ioanna (que como era o pritrago,continuou com feu tyran- meyro, & lhe tinha precedido nico imperio,matandolhe nefte tam grave defgofto,com muyto anno de 1554. & roubandolhe fondamento fe lhe podia teenvejofa no fegundo dia do mes mer algum perigo) julgou que de laneyro aquella riquiffima the era neceffario deyxarjoya o Princepe D. Ioám feu fi-le ficar em Lisboa. E como no te. Reytor em Collegio de Evora, pera nelle រ Pera em effeyto se dar à execuçam a ordem do fancto fundador,mandou o Padre Provincial chamar de Coimbra a Humildade do P. no anno feguinte focedeo a no. 4 Eltandoas coufas nefta S. Ignacio conformidade; vendonoffo glomanda fer riolo Patriarcha Sancto IgnaEvora op. cio quam bom faceflo tinha o Leám Hê- Padre Leam Henriques no goriques. verno do Collegio de Coimbra, quiz, como pay cuydadofo repartir efta bençam com o Collegio de Evora, que tambem era feu filho muy amado,como o de Coimbra; & da maneyra que Iacob folicito do bem de fua familia, com particular af fecto deytou a melhor bençam aos feus dous mais queridos filhos Iofeph, & Benjamim,afsim ordenou que o Padre Leam Henriques deyxaffe o governo Gen. c. 49. nnm.26. lhante que o Padre M. Simám do Collegio de Coimbra, em aprovado) o avifou do fim pera que fora chamado, o qual nam P. Leán Hèriques Evora. muyto feu companheyro, dizendo em que 0 a p.q.78.3 5. fect.4. na cozinha, mas hir pera Evo-, cafa ra a fer Reytor no Collegio nohia fazer hua obra de O P.Leam charidade,se foy com elle fora Heriques estado em vay fervo,que com tanto gofto tratava da cidade, pera aquella parte Evora apRestor do o Sereniffimo Infante Cardeal aonde fica o molteyro de S.Be-pareceoem Collegio de de augmentar. Obedeceo o P. Lean Henriques á ordem ex- to:logo fe apartou delle, dizen-Lisboa. preffa do Sácto fundador Igna- dolhe que o efperaffe,em quan to fe retirava hū pouco a orar; cio,pofto que de melhor vonnefte mesmo tempo em que fe tade aceytara continuar na cozinha,que começar o Reytora- deteve orando,ou foffe obrando Deos o milagre de por feu corJo. Foy tomar a bençam ao bevirtude nignissimo Cardeal,que eftimou po em dous lugares, por haver de ter no feu Col- reproductiva,como os Theolo- D.Thom.3. legio tal Reytor, & logo fe par-gos explicam(da maneyra que 78,5; lemos do noffo Portugues San-in 3.p.d.so tio pera Evora;aonde fez feu of ficio na forma, em que o tinha eto Antonio, que pera livrar feyto em Coimbra. E porque feu pay,no mesmo tempo apafoy neceffario acudir a Coim- receo em dous lugares, em Pabra o Padre Marcos Iorge, que dua,& em Lisboa)ou foffe, que lia os Cafos; elle ficou conti- veyo por virtude adductiva,conuando, como fizera em Coim- mo os mesmos Theologos enfibra,o officio de Reytor,& a oc- nam (da maneyra que focedeo ao Propheta,a quem cupaçam de Lente defta cahum Anjo levou de Palestina a Babylonia Jeyra:focedeo isto jà no fim do anno de 1556. com o focorro de mantimento Dan. cap. 4. a Daniel, que éftava no lago dos Leoens)o que fabemos he, que naquelle breve tempo appareceo em Lisboa o P. Leàm Henriques. 7 Nefte tempo cotinuava › Cardéal em Lisboa co aquelles feus trabalhofos accidentes de malenconia; foube OP.Leâm Henriques da enfermidade do fundador do feu Collegio,& logo ordenou que fe fizeffem oraçoens, & facrificios a Deos por todos feus fubditos, pelafaude'de fúa Alteza. Estando elle nefmo fazendo a Deos óraçan, ō a mayor efficacia que pode, The deo o Senhor a fentir, que foffe vizitar o Cardeal enfermo.Sahiose do Collegio con b 8 Vayle ao Paço,èntra na Camara,chegale à cama aonde estava muy apertado de dores o Cardeal enfermo, na hora em que a affliçam era mayor; & com rofto alegre lhe diffe: Nam he iẞo nada, Senhor, Uoffa Alteza tenha bom animo, que por mifericordia do Senhor ferá livre defte mal, de forte, que logo fe possa Sur. in eius vita. b num.35. Saude mi lagrofa do Infante. levantar defsa cama. PerguntouThe logo, aonde tinha a dòr, & dizendolhe que no coraçam, The fez fobre selle o final da Cruz;eysque de repente fica o enfermo fem dôr alguma, começa logo a repouzar quieto,& o Padre le voltou ao feu Collegio de Evora Efpertando o Infante fe achou totalmente fam (que quando Deos: quer em hum inftante communica fiude milagrofa) manda logo recado à casa de Sam Roque, que lhe chamem o PadreLeám Henriques, que havia poucas horas o vifitára, pera lhe agradecer a mercè, que por feu meyo o Senhor lhe fizera. Primeyramente le espantou muyto ofey Camareyro mór Martim Affonfo de Miranda, filho de Diogo de Miranda, & de Dona Violante de Caftro, a quem fe deo cfte recado, affirmando nam ter vifto o dito Padre; admiroufe tambem o Princepe do que lhe dizia Mar tim Affonfo, & muyto mais fe efpantou quando o avisàram de Sam Roque, que o Padre Leàm Henriques estava governando o feu Collegio em Evora, que difta de Lisboa quafi vinte legoas. Ficou o Cardeal Infante fummamente confolado, quando cahio na conta defte fucceffo, entendendo que a faude fora milágrófa, & que o Padre era Sancto. 9 Com efte calo tam notavel fe acrecentou grandemete na alma do Cardeal Infante. o amor à Companhia, & a eftima do Padre Leàm Henriques, a qual foy tam grande,que d'ally por diante o tomou por feu intimo fecretario, & mayor valido, como adiante veremos, pedindo ao Padre Diogo Laines (que focedeo no cargo de Geral da Companhia a noflo S. Patriarcha Ignacio)que nam queria outra gratificaçam de bem que fazia à Companhia mais que darlhe por feu confel foro Padre Leám Henriques pela grande fatisfaçam que ti nha de fua peffoa,tam digna de fer eftimada (de cujas virtudes adiante falaremos.) Heriques. 10 Efte milagrofo apareci-Confirmameritofâlem do teftimunho tam feo appacalificado do mefmo Cardeal recimento da P.Leám Infante, q muytas vezes diante de muytos Padres o referio, & àlem do teftimunho de outras peffoas da Copanhia muy graves,q comumente o contavam) fe confirmou pelo melno Padre Leâm Henriques, o qual quafi no fim de feus dias, fendo perguntado,por ordem de feu superior, pelo P. Fernam Guerreyro, (peffoa tam calificada, &conhecida na Copanhia) nam negou ter affim fucedido, dizendo q c Princepe affim o affirmava,pore que nam fora merecimento, ou virtude fua, que era hun vilif Ft 3 fimo peccador, fenam pela infinita benignidade, & amor com que Deos quiz favorecer a Copanhia,ganhado por este meyo a vontade de hum Princepe tam poderofo em Portugal, pera de todo lhe defarraygar de fua alma as cautelas, & pouco gofto com que ao principio nos tratava. E na verdade os grandes favores que d'ally por diante efte Princepe fez a Compaá nhia,bem mostravam que eram infpirados mais por milagres de Deos,que por merecimentos de homens. CAPITVLO XIX. Da fundaçam, & ereyçam da Vniverfidade de Evora: das Bullas que pera iffo fe passà ram,& da folemnidade com que della fe tomou poffe. Ontinuava em Lif boa o Cardeal Infante,& nam celfavam os defejos de fundar em Evora a fua Vniversidade,porém á vista da grăde refiften ia da Vniverfidade de Coimbra, & favor que lhe dava feu real fundador, perdeo por entam a esperança, mas nam o cuydado defte leu nobre intento: aquietoufe com tudo em fua pretensàm,até que o tempo(que fempre traz mudanças) affezoaffe alguma boa occafiam, pera comprir por effeyto o que tanto pretendia por delejos. 2 He tam ordinaria a inconftancia das coufas defta vi da,que em nenhuma podemos affegurar firmeza: com a morte tam fentida do muyto alto, efclarecido Rey Dom Ioàm c Terceyro de gloriofa memoria (que como adiante diremos, fucedeo em Lisboa aos 11. dias do mes de Iunho, dia de S. Bernabè,do anno de 1557.) foy neceffario ao Cardeal Infante continuar em Lisboa, pera ajudar no governo â Rainha Dona Catherina fua cunhada; & co. mo tinha tanta parte nas cou fas, que no Reyno fe ordenavam, & nas ordens que le davam,se vieram a facilitar, & vẽcer todas as dificuldades, que por parte da Vniverfidade de Coimbra fe capitalàram contra a de Evora,que defejava fundar (que affim focede ordinariamete,que logo ceffam as mayores dificuldades,tanto que le da por parte huma vontade real.) Logo no anno feguinte de 1558. fe fez fupplica por parte do Sereniffimo Infante ao muy San&to Padre Paulo Quarto, pera poder criar em Evora hua Vniverfidade,cujo governo, & direycam eftiveffe à conta daCopaphia; Como fe occafionou a licença pera fefudara vniverfidade. |