Como ex ercitava o officio de cofeffor. da boa confciencia: acertado mediador entre Deos, & entre tratando com zelo as coufas de contar nòvas,qué melhor he ferDeos com os homens,& com a- b a mor às coufas dos homens com t b 1. Medius Greg. Naz. Apul. Orat. inter homiconftitutus, pro illis vimicas, huic culiare populum coiungens. nes, ac Deu delicet di autem pe ilas,& ad 7 Toda efta perfeyta fabrica de devaçain, & exercicio de fanctas virtudes eftava fundada em hũa profunda humildade,com a qual fempre bufcava feu proprio abatimento, & defprezo, daqui lhe nacia, que podendo applicarse a prégar, & a outras occupaçoens mais luftrofas(que pera todas tinha grãdes talentos) com tudo mais fe entregava a outros exércicios humildes,& muy em particular fe dava ao fancto minifterio de ouvir confiffoens,que he menos luftrofo, mas cuftuma fer mais proveytofo. Notavel era o modo com que tratava os peniten-cal; de qualquer coufinha, que vida. tes, porque por huma parte nam havia mayor afperefa,& por oura nam acharieis igoal brandura: humas vezes lhes eftranhava,&agravava os péccados, movido com zelo de ver a bõdade immenfa offendida,outras vezes chorava com os mesmos peccadores,& diante da divina mifericordia os defculpava, intercedendo por todos os que elle fe confeffavam,fazendo officio de verdadeyro pay efpiri. tual, que juntamente ha de fer 8 Quem affim eftranhava 4 grande os peccados alheyos, tambem vigia que tinha foera contra fy muy rigurofo fibre fua nam fosse muy ajustastada com fez 1. Mach. c. 6.n.12. fez nelle, que nam sô em acabando de a fazer, mas em toda a fua vida fempre chorou, & acufou efte defcuydo,com tantas vèras, & magoas de fua alma, como fe fora hum graviffimo peccado, da màneyra que Sam Pedro fempre chorava a fua negaçam:que affim fazem os Sǝn&tos que choram fempre o mal que huma vez fizeram ; & nam como outros defcuydados,que goardam a contriçam de fuas culpas pera a hora da morte,como del Rey Antiocho conta fagrada Efcritura, que sò en tam,depois de tanto tempo, fe lembrou dos males, que tinha feyto em Hierufelem: Nunc reminifcor malorum,quæ feci in HieruSalem. Porèm affim fam efquecidos os peccadores, & affim fiam delgado os homes justos,& tam mimofas tem as almas,que mais pejo lhes faz nellas qualquer falta, que na minina do olho qualquer argueyro. d Nam quiz Deos nóffo Senhor deyxarnos por mais largo tempo tam grande efpirito na terra,porque o levou a gozar do premio, que co fua fan&ta vida tinha merecido,confirmandonos nito o melmo Senhor,com hum calo tam evidéte, que quando duvidaffemos, nam ferá fem agravarmos fua divina bondade. Adoeceo o P. Francifco de Navarra, & continuando a enfermidade, veyo a entender que aquella era a ultima: & logo efte fiel fervo do Doque lhe Senhor tratou de fe aparelhar a ultima Jocedeo em muyto de propofito: em parti- doença. cular pedio muytas vezes, com grande efficacia ao Senhor, que pera fua alma,logo em fahindo do corpo,ter vista de fua divina effencia, foffe fervido commutarlhe nefta vida o purgatorio da outra. Quanto mais a doença continuava, tanto cổ mayor instãcia repetia o Padre a mel ma petiçam:caso certo admira vel,toma, ò Senhor as redeas à morte,fala parar, & eftende ao enfermo o prazo da vida, reve lalhe,com toda a clareza, que tinha ouvida fua petiçam, & q nesta vida teria feu purgatorio: Comutachama logo o ditofo Padre feu lhe Deos o confeffor,declaralhe, como ti purgato. rio em penha por defpacho do cèo a co nas defta mutaçam da pena do purgato-vida. rio,em outra defta vida; & que pofto que nam fabia qual havia de fer,com tudo, que pelos tormentos que as almas tem naquelle lugar, entendia que nam poderia deyxar de ter algũ extraordinario; pelo que The pedia inftantemente, que antes de entrar nefta agonia,fizeffe óraçam a Deos, & entrado,o nam defempare,antes o acompanhe, o anime, & esforce todo o tempo que durar aquelle grave coAlicto, pera que o efpirito fempre efteja prompto,ainda quando a carne ficar mais enfraque Mat.ca. 26. conftriftari, & manus effe. com infinito amor, & vontade cida:ifto pede,ift o ròga,ifto encomenda huma, & muytas vezes a leu confeffor, que jà pare-eterno, pera morrer pelo munce anatureza arreceava a luta,& do, trefpaffando em fy nolla temia a batalha : como fucedeo fraqueza,pera nas mayores adao Senhor no horto de Geth- verfidades participarmos de feu n.37 Capit femani, antes de entrar a lidar esforço,pofto que tremeo à vifcom as penalidades de fua mor- ta dos tormétos de fua payxam, te fagrada. & fuou fangue,só com os imaginar;deo com tudo tal animo a efte feu fervo Francisco,que bë víram os circunftantes, com quanta conftancia lutava, & a grande força que punha em vẽcer a natureza fraca, pera que fofreffe aquella commutaçam de penas. Entra em grandes tormentos. ΤΟ 10 Foy coufa muy nota- II Aqui le estava vendo, por huma parte,o esforço que o Senhor nos ganhou,sobrelevando a fraqueza de noffa natureza;& por outra,que nam he poffivel fer leve o tormento que habilita hũa alma, pera o éterno pezo da gloria do parailo, pois hum tam grande fervo de Deos,que viveo em tanta perfeyçam,lendo na vida fobrema Do gran. neyra fofrido, naquelle grande de fentime aperto parece faltava com a pa- to q mo ciencia,gemia,gritava, lançava trava ne ays ao céo, que penetravam as flas dores eftrellas,& quebravam os coraçoens, bradava a Deos, fe lembraffe de fua infinita mifericordia,pera o ajudar em calo tam rigurofo;ifto com vozes tam altas, que eftando d'antes fraquilfimo,fe ouviam por todo oC cl legio, & retumb avam nos pro- f Mat. cap. 14. n. I 2, prios géraes da Vniverfidade, como fe Deos noffo Senhor quizelle com eftes maravilholos bràdos publicar,& fazer patente o despacho da petiçam de fen fervo,os quaes nam menos declaravan o que tocava a comutaçam do purgatorio defta vida,que a gloria que logo teria na outra, pois nam devemos prefumir de fua divina clemenia que concedendolhe os tormentos que fentio, lhe negafle a gloria que lhe pedio, porque foy contrato onerofo, & o Senhor cuftuma fer muy bom correfpondente com os que co elle negoceam. 12 Desta manéyra efteve o animofo lutador fuftentando este duro combate,hum pedaço do dia,& parte da noyte,que parece foy o tempo, que Deos noffo Senhor julgou que correfpondia ao espaço que havia de eftar no purgatorio, ou porque The quiz abreviar este tempo, como diz no Evangelho, fque fará a feus efcolhidos, nos dias tos breui- proximos antes do juizo univerfal. Acabado enfim efte conflicto ficou o Padre de repeComo fe te em huma pacifica ferenidaThe muda- de,tam quieto,tam feguro, tam res. Efpi- alegre,& tam confolado, que fe bem reprefentou as dores das almas no purgatorio, tambem lepois reprefentava a grande alegria das que fahiam pera a propter ele abuntnr di es illi. ram as do rou muy quieto. gloria; & logo no meyo deitas confolaçoens, com grande repoufo,com o rofto alegre, & cô o nome de IESVS na boca efpirou,& repoulou em paz. Ditofa alma, que com tanta fegurança de poffuir o supremo bé, fahio defta vida, na qual todos vivemos com duvidas, & morremos com incertelas. Foy feu ditofo tranfito no Collegio de Evora a fcis de lunho, no anno de mil quinhentos feffenta & hum, deyxando em todo elle, fobre o exemplo da vida fancta, o testimunho da morte ditola; com a qual (fe bem murchandofe efta flor, antes de fe poderem colher os copiofos fruytos que prometia, tendo mais annos de religiam) no breve periodo em que fez feu curfo de. finco annos, que nella somente viveo,podia dizer com o Apof tolo, & Curfum confummaui, & nos th. 4. n. 7. dizer delle, com o Sa bio,h Confummatus in brevi,explevit te pora mul g 2. adŤimo h Sapientiæ 4. n. 13. P.Antonio de Araujo CAPITVLO XXXXVIII. Dos primeyros noviços que en tráram no Collegio de Evora, 3 em particular do Padre Francifco de Gou I vea.. Rezám, & conveniencia pede, que pois no capitulo precedente referimos as virtudes de hum dos primeyros mestres de noviços, defte Collegio de Evora, digàmos quaes foram os primeyros noviços, que nelle aprenderam,& fe criaram nefta efchola de virtude. E ainda que a fundaçam doCollegio começou no anno de 1551.nam houve pore nelle noviciado, por caufa do aperto da habitaçam, até o de mil quinhentos fincoenta & quatro. 2 O primeyro que foy recebido achamos fer o Padre primeyro Antonio de Araujo, natural da novicoem cidade de Leyria. Deo princi Evora. pio a feu noviciado em 13. de Fevereyro do dito anno de 1554. com grande fervor, & defejo de fua perfeyçam, continuou nelle anno & meyo,& depois de estar bem provado em actos de mortificaçam, humildade,& defprefo proprio, & do mundo,pareceo aos Superiores que foffe acabar o tempo, que The faltava, no noviciado do Collegio de Coimbra,pera onquinhentos fincoenta & finco, de partio em Agosto de mil fervindolhe efte caminho de experiencia fobre as mais em que fora provado;peregrinando a pè,lem viatico, mais que o da confiança em Deos, fentindo com gosto os effeytos da pobreza Evangelica, na falta do gafalhado,& do neceffario provimento,quando o Senhor(que proveo aos feus Apoftolos peregrinos, fem lhe faltar cou fa algua)era fervido,q fentiflem os noffos noviços algúa falta, pera na ocafiam de mayor aperto os prover com mayor abúdancia. Nos lugares por onde passava enfinavam elle, & feu companheyro a doutrina christa aos mininos, o melmo faziam aos q no caminho encontravam, achando nelles defejo de faber o que fervia pera fua falvaçam. Chegado a Coimbra,começou com novos fervores (á vista dos exemplos que ally achou) o tempo que lhe faltava de feu noviciado, o qual acabou naquelle Collegio, & nelle foy admittido ao estado religiofo, fazendo feus votos,com grande confolaçam, & fatisfaçam dos Superiores. 3 Acabados feus eftados de latim, & cafos de confciencia, 1e |