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Anno

da dita Emperatriz;& nefte of- Copankia
ficio de camareyra mòr servio 15.
tabem a Infante Dona Maria(q
també foy Emperatriz de Ale-
manha) & foy aya delRey Do
Philippe o fegundo,nam tendo
ella mais que vinte & quatro
annos de idade. Foy fenhora de
muy grande estima, & de vir-
tudes muy raras, Nunca quiz
calar,& fez difto particular vo-
to estimando mais o esposo do
céo,que os muytos que a prete-
diam no paço.Debayxo das ga-

Ammo de carenhas,& Antonio Malcare-, & foy muy estimada, & valida Arro da Chrifto de nhas,que ainda hoje vive, dos 1554 quaes fiz mençám nesta 2. parte defta Chronica. Tinha fido Dom Ieronymo Mafcarenhas capitam de Ormuz, donde naquelle tempo de ouro,fe tirava muyto ouro, de todo deyxou por herdeyra fua alma, fundandonos a Igreja da cala profeffa || da Companhia em Goa, & recolhendofe na mesma casa,aõle morreo, depofitado feu corpo na capella mòr da mefma Igreja,em hum mageftofo fepulchro,no qual eftam efcon-las, que era obrigada a trazer didos feus offos, pofto que a fa- como dama, cingia afperos cilina de fuas illuftres façanha scios, como penitente. Era graninda efpalhada pelo mundo de o rigor de fuas difciplinas; todo, porque foube viver como muy continua fua òraçam. Nuvalente, & foube morrer como ca estava ociofa, & tinha feyto virtuofo. voto(&o cumpria muyto bem) que tudo o q lavraffe por fuas mãos ella, & fuas criadas fofle pera o culto divino,& pera fuftento dos pobres, & nifto perfeverou até a morte.

5 Nam he menos eftimaDonalea da entre nôs a memoria de D. nor Maf carenhas. Leanor Mafcarenhas, filha de Fernam Martins d' Almada, & de Dona Ifabel da Veyga, neta de Valco de Almada, Alcay de mòr d' Almada, & de Dona IsabelMafcarenhas,filha de Martim Vaz Mafcarenhas o velho,commendador de Aljuftrel, a qual Dona Leanor Mafcarenhas foy dama daRainha Dona Maria, fegunda molher delRey Dom Manoel, & acompanhou a Emperatriz D. Ilabel filha do mesmo Rey por camareyra mòr, quando foy a Alemanha no anno de 1526.

6. Como era tam inclina-Foy muy devota de da a fazer bem,era muy devoS.Ignacio. ta das peffoas virtuofas, & particularmente foy devotiffima de noffo Sancto Padre Ignacio de Loyola, o ajudou muyto, (cõforme acho efcrito) na fundaçam da Cõpanhia, que nam he pequeno louvor desta illuftriffima Portuguefa ter ella tido parte em obra tam gloriofa; & nam sò ajudou a noffo San&to Patriarcha, & a feus pri

mey

Anno de
meyros companheyros com fa-
Chrifto de
vores, que lhes grangeou dos
1554 mayores Princepes da Igreja,
& dos mayores potentados do
mundo; fenam que tambe lhes
acudio com groffas efmolas, &
a ella, entre outras grandiolas
obras, devemos os principios
da fundaçam do real Collegio
de Madrid, que
ella começou:
no qual foy feu primeyro Rey-
tor,no anno de 1560. o Padre
Duarte Pereyra Portugues,que
tinha fido pagem da dita Dóna
Leanor. A qual fempre em fua
vida perfeverou no amor à Co-
panhia,& trato muy intimo, &
muy efpiritual com S. Ignacio,
& por iffo a ella particularmete
The communicou a revelaçam
que tinha de fua morte; como
bib.4.c. 16. escreve o Padre Pero de Riba-

deneyra, ana vida de S. Ignacio.
Foy tam caritativa,que quanto
podia haver repartia co os po-
bres, & fempre tinha em fua
cafa algus dos mais enfermos,
com doenças alquerofas,
eftes curava, & alimpava por
fuas mãos.

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& a

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Anno da

& penitencia, era a mais recolhida,& devota freyra que ha- Cepanhia via. Foy tal a devaçam que ti- 15. nha ao Sanctiffimo Sacramento,que alcançou hum breve de Sua Sanctidade pera poder ter o Sanctiffimo Sacramento em o feu oratorio,aonde quer que eftiveffe,como o teve atè le acabar de fazer o feu mofteyro dos Anjos,coufa que admirou a todos, porque atè aquelle tempo a ninguem fe tinha concedida:mas be era que foffe fingular nos favores, que foy tam fingular na sanctidade.

dos.

8. Por eftas notaveis virtudes foy Dona Leanor Mas carenhas tam estimada em to- Quam efda Europa, que quafi todos os timada Summos Pontifices, que houve foy de to. em feu tempo, lhe escreviam, fazendolhe muy particulares favores,era vifitada de todas as peffoas reaes, muy favorecida dos Reys de Portugal, & lhe escrevia muytas vezes elRey Dom Ioàm,o Infante Do Luis, & a Infante Doua Maria feus irmãos,& a Rainha de França, may da Rainha D. Ifabel. Ella fundou, & acabou o Mofteyro dos Anjos, aonde fe recolheo a fazer vida angelica, vestida de habito de penitete, com aquellas muy exemplares religiofas. Veyo finalmente a morrer dētro defte feu mofteyro,com hu ma morte digna de vida tam fancta, fendo de idade de oyteTt 4

P

ta

Anno de Chrifto de IS54.

parentes

ta

& dous annos, no anno de

1584. E quãdo dally a dous an

dada fua affeyçam: todos elles Anno da
procedèram fempre,& procede Copanha
hoje com grande exemplo, &
& 15.?
com muy religiofa edificaçam;
honrandonos com fuas muy il-
luftres peffoas,& edificandonos
com fuas muy exemplares vir-
Moftrando ao mundo
todo nesta acçam, que nam sò

nos admitiam no titulo de ami-
gos, fenam que tambem nos
contavam emo numero de ir-
mãos, pois fe fizeram filhos de
nofla mesma may, & membros
do melmo
corpo,que he a mel-

nos lhe foram tresladar feu cor-
po,pera a lua Igreja nòva do di-
to mofteyro dos Anjos, o achà-
ram incorrupto, exalando hum
cheyro fuaviffimo, & todo com
huma cor viva,& aprazivel; fe-tudes.
guindo a incorrupçam do cor-
po a inteyreza da alma: como
fe a morte nam ouzaffe corro-
per, a quem fempre a pureza
defendeo, que privilegio he de
caftos ferem immortaes, como
Anjos. Confervafe muy viva
entre aquellas religiofas a me-
moria fuaviffima de D. Leanor
Mafcarenhas,com dous officios
que le lhe fazem cada anno, &
& com huma prégaçam no dia
de feu falecimento: & bem hé
que feja immortal a memoria
quem tambem foube conte-pofto que nam sò Portugal The
tar a Deos, & agradar aos ho-
mens. Efta foy Dona Leanor
Mafcarenhas, devotifsima de S.
Ignacio, coadjutora, & coope
radora na fundaçam da Com-
panhia de IESVS, garfo dig-que
nifsimo do illuftrifsimo tronco
Jos' Mafcarenhas, honra de
Portugal,a onde naceo, & orna-
mento das Cortes em que vi-

de

veo.

Muytos 91 Muytos defta illuftrifsima feus entra profapia tem entrado em nofla ram na co Religiam, tomado o habito, copanhia. forme empregàram o amor,dā

dofe todos a quem já tinham

ma religiam. Todos eftes bens,
como de lua fonte manáram
defte illuftrifsimo Viforrey Do
Pedro Malcarenhas, cuja muy
affectuofa lembrança eftarà sé-
pre viva entre nós,em quanto a
Companhia viver em Portugal;

tem efta obrigaçam, mas tam-
bem o Oriente, o Brazil, & as
Provincias de Hespanha, que
pera todas eftas partes fe repar-
tiram os filhos defta Provincia,
procedéram daquelles dous
primeyros,que a efte Reyno
trouxe o Viforrey D.
Pedro Mafcare-
nhas.
(?))!

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\Anno del Chrifto de

1554

and
CAPITVLO LILY

Contafe a gloriofa morte que
nefte mefmo anno os Indios do
Brazil deram a dous irmãos
da Companhia, chamados Pe-
ro Correa,& Ioam de Souza,
que naquellas partes an-
davam doutrinando os
mefmos Indios.

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I

Ontamos no capitulo paffado a viagem que fizeram pera a India dous Religiofos da Companhia: demos agora hua chegada ao Bra zil,aonde veremos outros dous noffos,honrando a Deos com a vida que por elle deram dos quaes aqui farey hũa breve me. çám,porque nefte melmo anno de 15 54.fucedéram fuas dito

las morte no Brazil, & no melmonos chegaram tam boas novas a Portugal, chamavamse ef tes dous bemaventurados Ir Irmám Pemãos,& Religiofos noffos Pero ro Correa, & loám. Correa,& Ioam de Souza, o Ir de Souza ram Pero Correa,antes de enr trar na Companhia,refidia, no Brazil, empregando o esforço de feu braço (pelo qual, era co nhecido, & temido.), em fazer injufta guerra àquelles gentios,

outros, conforme o danado cul- Anno da
tume de:
muytos Portugueżes, Cipanhia
naquelle tempo. Mas trazendo 15.
Deos àquellas terras os Padres
da Companhia,como era nobre
por géraçam, & naturalmente
bem inclinado, communicando
com elles, o trocou Deos de tal

maneyra, que de Saulo perfe-
guidor,o fez Paulo Prègador,&
de lobo carniceyro, o tornou
em cordeyro humilde.

Irmám Pe

ro Correa

2. Pedio com inftancia a Companhia, & nella foy rece bido pelo P. Leonardo Nunès, na Capitanía de S.Vicente & defejando fatisfazer com boas obras o mal que tinha feyto aos Brazis; antes pertua lido q tinha lo remedio de fua falvaçam em dar a vida por elles, co grande fervor lhes prégava a fé de Chrifto Senhor noffo,& como eramuy correte,&o melhor grande exercitado na lingoa da terra, Pregador defcorria por hua,& outra parte entre os rompendo matos, atraveflando rios,vadeando alagoas, co grandes trabalhos, com exceffivas fomes,& intoleraveis calmas,co tam abrazada charidade, que de todos aquelles Indios era muy amado,& estimado, & por lhe terem grande refpeyto acabava com elles coulas muy dif ficultofas, prègandolhes de dia nas Igrejas das aldeas, aonde os ajutava,& de noyte pelas choupanas,aonde os bufcava; entoa

salteando a hūs, & gatiyando a 'do (conforme o cuftume dos

Brazis.

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Lim

Anno de Chrifto de 1554.

Occafiam, que houve pera en

trar pelo

Jertam.

6. & 7.

502 Chronica da Companhia de Iefu,em Portugal.

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Brazis)em altas vozes o myfte-bou com elles o que queria, li-Anno da
rio que lhes queria intimar; &
continuava o fervorofo Irmàm
o exercicio deftes feus brados,
pelas portas das choupanas, co
tanto fervor,que muytas vezes
The acōtecia cötinuar da meya
noyte atè romper a alva, & na-
cero Sol; áceytando aquelles
barbaros tam alegres alvora-
das, com tal gofto, q tanto que
huma vez ouviam a sua voz, ¶||
jâ muy bem conheciam, nam
queriam mais dormir, pondofe
todos em vigia, & ouvindo com
grande applicaçam, & filencio
os myfterios de noffa fancta fé,
que lhes prègava, amanhecen-
dolhes,entre as trevas da noyte
elcura,o dia claro do Evange-
lho.

vrando toda aquella gente do Copanha
cativeyro,& da morte; porque
muytos já estavam condenados
pera lhes fervir de pafto nas
crucis melas de fua infaciavel
fome de carne humana.

3 Dava Deos tanta graça a este Irmám, pera com gente tam féra,que offerecendole hua obra de grande charidade, pera libertar a certos Espanhoes, q vindo do Rio da prata, foram ca tivos pelos Indios, nam duvidou o P. Manoel da Nobrega (de quem largamente faley na primeyra parte) de omandar

4 Teve noticia nefte tem-
po o P.Manoel de Nobrega de
hua naçam de gentios, que eftâ
alem dos Carijos, que em fua
lingoa fe chamam Ibirajaràs,
(aos quaes os Portugueles com-
mummente chamam Bilreyros)
dos quaes dizem fer algum tan-
to mais domefticos, & difcipli-
naveis, que os Indios da costa
do Brazil;& pofto que diferiam
algua coufa na lingoa, o Iɩmám
Pero Correa, com feu grande
zelo,tinha ja alcançado o co-
nhecimento de feus vocabelos,
& modos de falar,por via de hū
Indio,que muyto tempo cativà-
ra entre elles. Efta foy a caufa de outra
Occafiam,
da missàm do Irmàm Perc Cor- missam
rea,com mais dous cōpanhey-osandios.
ros; acrecentandofe tambem
comoaccefforio,a efte principal
intento,hua obra de charidade,
qual era levar, em fua compa-

Lib. 3. cap. sò: confiando que sô elle acaba-nhia, certos Caftelhanos no-
ra obra de tanto ferviço de
Deos: chegando o Irmam Pero
Correa,& entrando muyto pe-
lo fertàm dentro, foy dar com
os pobres cativos, & metendofe
pelo feu modo com os Indios;
ora com praticas familiares,ora
comprègaçoes,facilmente aca-

bres, que com fuas familias tor-
navam pera o Rio da prata, &
sò com a presença do Irmàm
Pero Correa fe davam por fe-
guros dos Indios Tupis, que por
ferem contrarios aos Carijos (cō
quem os Caftelhanos tinham
amifade) le temiam effes que

nelles

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