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as teve muy boas pera conhecer o zelo com que os Padres da Companhia naquellas partes ferve a Deos. Vindo a Portugal, corrèo sẽpre co a Copanhia, co grade amifade, fundada na boa opiniàm, ý concebèra de noflos procedimentos. Era efte fidalgo de muy nobre cōdiçam,era peffoa de grade autoridade,bé quiIto,& amado de todos;& alcançando com fua muita prudencia, de quanto ferviço de Deos era efta obra do Collegio de Sancto Antam,nam sò pelas ef cholas, que aly haviamos de ter, & mais ministerios, que fe haviam de exercitar, fenam tambem por haver de fer aquel la cafa o commum hofpicio, & como efcala dos gloriofos mif Gionarios, que quafi todos os annos manda efta Provincia pera a India, aonde elle tinha fido teftemunha de vifta, dos grandes ferviços de Deos, que Notaveis os da Copanhia lá faziam; moviamor à Codo por eftas rezoens efte illupanhia, triffimoPrefidente,tomou muidava Dom to à fua conta efta obra; elle Pedro de em peffoa acodia ao campo Almeyda. do curral, & chegava a tomar

moftras de

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a enxada na mám pera nos abrir os aliceffes do muro da cerca, tal era a amifade que nos tinha, & tam grande a confiança que mostrava; & na verdade peffoas illuftres autorizam as acçoes mais humildes,& he pri vilegio de verdadeiros fidalgos

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muy confiados.

I I

cias.

Tambe as

A vifta de tal peffoa,do como fe àqual, como de Prefidete da Ca-cabaram mara, tanto dependiam os mo- as refiften radores do Curral,começaram a ceffar as pedradas, & finalmente parte por força, com que effectivamente os ameaçava, parte, com brandura,com que os obrigava, fe veyo a mitigar o furor daquella gente; os quaes fem duvida fe enganavam em cuydar que pretendiamos defalojalos do feu bairro, porque ainda hoje aly continuam, fem os defa poflarmos delle, como a imaginaçam lhes reprefentava; tam bem as muy religiòlas Madres fe vieram aquietar, & o tempo lhes enfinou, que nada Religiofas fe aquietá perdéram com nos ter por ram. bons vifinhos. Do Padre confeffor nam fey nada, mas tambem devia de feguir o parecer dos mais, ceffando com fuas excommunhoens, ás quaes, fegundo he de crer, fó o movia,nam a paixam contra o nof fo Collegio, mas o zelo pelo feu convento. Tendo em toda efta boa paz tata parte efte graviffimo fidalgo D. Pedro d'Almeyda, ao qual,e a feus illuftriffimos def cédentes fempre confeffaremos muy grades obrigaçoes: vendofe bem nefte fuceffo, quanta efficacia tem a prefença de hum varâm autorizado, pera aquietar hum povo furiofo.

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Da muda

ça pera S.

Antam o

novo.

vo,

12 Continuàram d'aly por diante as obras, & no anno de 1593 em 8. de Novembro nos mudamos pera o Collegio noaon de entam havia feffenta Religiofos, todos pertencentes ao dito Collegio, álem de dez, ou doze, que em Almeyrim af fitiam acompanhando o corpo del Rey Dom Henrique, que eftavam á conta do Collegio de S. Antam(& nam á conta do d'Evora, de qué tan bé era fūdador, por quatoS.Antam eftava sẽ divida nenhũa,tēdo muitas naquel le tempo o Collegio d'Evora) & álem de tres, que estavam fempre na refidencia de Valderozal. Porè n como o Rey que era o fundador nos morreo nos primeiros fervores do edificio, & a traça era tam fumptuofa, foy neceffario quafi parar com tudo, até o prefente; efperando alguns tempos mais favoraveis, em que nos poffamos livrar do que devemos, & do que nos devem,& levar adiante o edificio, que fe chegar a fe acabar, ferá hum dos mais grandiofos de toda Hefpanha.

13 O mais que refta do Collegio de S. Antam,ficarà pera fe contar pelo tempo adiate; agora entraremos a referir os fuceffos do anno de 1553.começando pela hida do P. Luis Gonçalves a Roma.

CAPITVLO XII.

Vay a Roma, em nome desta Provincia,o Padre Luis Gonçalves da Camara, fobre al

I

guns negecios de muita im-
portancia; apontamfe
as cartas que le-
vou delRey.

Ntramos com efte capitulo no anno de 1553. em o qual jà fe conta

Coparkie

14.

ves hir a

Roma.

vam 14.da Companhia,& logo no principio defte anno trataram os Padres de mandar a Roma ham Religiofo de autoridade, que defle conta a nosso fundador S. Ignacio do estado em Occafioes, ficavam as cousas defta Pro-q houve pe que vincia, depois que o Padre me- rao P. Lu ftre Simam Rodrigues deixára isGençalo governo alla, & pera diante de fua Sanctidade acodir a alguns negocios de importacia da mefma Provincia, é efpecial fobre o mofteiro de Sam Ioam de Longavares (que elRey nos tinha dado, como diflemos na 1. par.lib.3. primeira parte, & fe moviam. 19. duvidas nas bullas da uniám) & tambem fobre a Igreja de Sam Martinho de Alvoredo, porque como della nam tinhamos atè aquelle tempo mais que a no

mea

Chryfta de 1553.

1. lib.1.c. 39.a n.7.

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meaçam,

estava esta annulada, & caffada pelo Papa Iulio terceiro, & era neceffario acodit em Roma a esta renovaçam, & revalidaçam da graça concedi da pelo Papa anteceffor, que foy Paulo terceiro. Pera ifto efcolheram o Padre Luis Gonçalves da Camara, irmám do Conde da Calheta, de quem por vezes fallamos na primeira parte, peffoa em quem concoriam todos os bons talentos, de letras,de autoridade,de virtude, pera poder levar femellate embaixada.

2. Ajuftouse muito esta refoluçam dos Padres com os penfamentos, & defejos dos feDefejava reniffimos Rey, & Infantes de berascou- Portugal, que fummamente deelRey Ja- ! Jas de S. lejavam mandar a Roma huma Ignacio. peffoa muito de feu feyo, que notaffe, & advertiffe todas as accoens de noflo Patriarcha S. Ignacio, porque como era tam notavel a opiniam, que pelo mundo corria da fanctidade, & prudencia defte admiravel varàm, defejavam muito aquelles piedofiffimos Princepes,faber ao certo da conversam do Sancto, de fuas milagrófás vifitações, de feus gloriofos trabalhos, & dos mais intimos fegredos de fua vida: pera iffo encommendàram com grande cuydado ao Padre Luis Gonçalves, de quem faziam toda a confiança,que lhes puzefle em lembrança tudo o

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O P. Luis

que advertiffe,& notaffe em varám tam fancto, o que o Padre 14 Luis Gonçalves comprio muito â rifca, porque efcreveo hum diario muy comprido, que tiveGonçalves mos em noffas mãos, no qual apontava aponta, dia por dia, tudo o que todas as ac via fazer a efte grande fervo de coens des. Deos; era materia de particular gnacio. confolaçam, & fancta curiofidadé afsim ver a miudeza comque o Padre Luis Gonçalves notava eftas coufas, como porque nam fazia o Sancto acçam alguma ainda das mais ordinarias, en que nam tiveffemos muito que aprender.

3 Lévou nesta occafiám o Padre Luis Gonçalves cartas de grande favor, & abonaçam da Companhia, & de fua peffoa, q lhe deo o benignifsimoRey, das quaes porey aqui algumas tref ladadas das que temos no Cartorio de Coimbra, pera que vejamos a opiniàm que efte grande Princepe tinha de noffa Religiam, & entendamos o amor com que tratava noffas coufas, &;d'aqui tiremos a rezàm que temos de correfponder a semelhantes obrigaçoens; primeiramente escreveo fua Alteza ao Papa Iulio terceiro a carta feguin

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Chrifto de 1553

Carta pera oPapa lulio 111.

CARTA DELREY Dom Ioam o terceiro, pera o Papa lulio terceiro,em que lhe encommenda a Companhia, & o PaLuis Gon

4

çalves.

VITO fancto em Chrifto Padre, & muito bemaventurado Senhor: o voffo devoto, to,& obediente filho Dom loam, por graça de Deos,Rey de Portugal, dos Algarves, dáquem, & dàlem mar em Africa, fenhor de Guiné, & da Conquifta,navegaçam, comercio, Ethiopia, Aràbia,Perfia,& da India,&c.com odá humildade envio beijar feus fantos pés. Muito fancto em Chrifto Padre, & muito bemaventurado fenhor. O Padre Luis Gonçalves da Companhia de IESU, vay communicar com o Padre Meftre Ignacio de Loyola, Prepofito geral da dita Companhia, algumas coufas della, pera bemde feu regimento nestes Reynos. Pelo muito frui to que os Padres da dita Companhiatem feito, & fazem neftas partes, nas da India,Brafil,& Guné, & pelo bom exemplo que de fy atégora tem dado,me obrigam aos favorecer no que poffo, & pedir a vosa Santidade,como peço muito por merce, que em tudo

que

do

Ciparkia

á dua lempanha for necessario, & The OP. Luis Gonçalves pedir pera 14bem della, nefte Reyne, recita de veffa Sanctidade graça,& merce, porque fe confeguirà d'iffo animalos, & esforçalos, pera que tam fanita obra, & de tam fandle ferviço de Deos, vá fempre em crecimento, como de tam bons, & fanctos principios fe efpera, porque, fegundo fou informado de meus Capitaens,& Governadores, que naquellas partes da India, & Brafil tenho, muito fruito que nas almas fe faz por meyo da dita Companhia, parece que noffo Senhor nellas renova a forma da primeyra Igreja, primeyra Igreja, de que voßa Saneti"dade deve dar muitas graças a nofjo Senhor,como eu faço. Muito fanéto em Chrifto Padre, & muito bemaventurado Senhor : Nosso Senhor por muitos tempos conferve a V. Sanctidade em feu fanéto ferviço. Escrita em Lifboa em 30.de laneiro de 1553.

Cardeal.

5. Nam fe contentou o fereniffimo Rey com efta tam af- Tambè effectuofa carta, que em abona creveo elçam çam da Companhia, & recom-Rey a hum mendaçam do Padre Luis Gonçalves, efcreveo ao Papa Iulio terceiro, fenam que tambem efcreveo outra com o mesmo affecto a hum Cardeal, de fua confidencia, que devia de ter entrada cõ S.Sanctidade, a qual porey aqui da maneira que a temos no cartorio do Collegio de Coimbra,pofto que lhe falta jà o fobre efcrito,&por iffo nam me confta que era efte Cardeal.

CAR

Chrifto de

1553.

CARTA DELREY
Dom Ioam o terceiro
pera hum Cardeal,
fobre a melma
materia

em

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to,que no que de minha parte vos dif. Copanhia
fer, & pedir (aßim em acrefcentamento|| 14.
de graças elpiritudes, como com the a u-
dar a negocear as ecufas, que pera fu-
ftentaçam da dita Companhia fam ne-
ceffarias, especialmente nos mofteiros de
&loam de Longavares, & S.Marti-
nho d'Alvoredo) the dets interro credi-
to, porque he pessoa, de cuja virtude,
letras, & prudència muito confio, no
que receberey de vós fingular prazer.
Reverendißimo em Christo Padre, que
como irmam muito amo, nofo Senhor
vos haja sempre em fua fanéta guarda
Eferita em Lisboa, 30. de Janeiro de
1553.

REY.

6. Everendifsimo Chrifto Padre que como irmam mutto a mo Eu Dom foam, por graça de Deos, Rey de Portugal, dos Algarves, daquem, & dalem mar,em Africa; fenhor de Guiné & da Conquista, navegaçam, commercio de Ethiopia, Arabia, Perfid, & da India, &c. vos envio muito fundar. He tam grande o fruito, que os Padres da Companhia de IESU, neftes Rebaixador na Corte de Roma nos, & Senhorios tem feito na falu Gam das almus, & he tam grande a rava o be efperan a que fe tem, que por tam gră

Quanto el
Rey procu

daCompa

nhia.

8 Era nefte tempo (como diffemos na primeira parte)em

Par.t. lib.3

C. IS..

xador em

Dom Affonfo de Lancaftro, D. Afonfo Commendador mòr da Ordem de Lancade Chrifto, & Alcayde môr daro, embai des principios fe fegniram muitos pro-villa de Obidos, o qual era fo- Roma, teveitos, ( ajudus pera alcançar o verbrinho d'elRey,por fer filho de mosthe dadeiro fim, que me pareceo could min- Dom Dinis de Lancaftro, & muitaobri to devida dar diffo conta a fua Sanéti- nèto do Duque de Bragança D. gacam. dude, como faço, à vos rogarvos Fernando o fegundo, & da Inmuito,que pois a obra he tal, & parece fante D. Ifabel, irmã delRey D. bem infpirada pelo Spirito fancto, a aju- Manoel, pay delRey Do loam ders com fua Santidade, pera que fa terceiro; era efte illuftrifsimo voreça as cousas da dita Companhia, fidalgo, como tam parente delque ferá octafiám, pera com novas for- || Rey, muy affeiçoado à Compaças perfeverarem, & nam canfarem nhia, & nos tinha feito na Corim obra tam fanita, & tam neceßaria te de Roma muito bons officios, à Religiam Chrifta. em alguns negoceos de impor tancia, como foy na uniàm do mofteiro de Longavares, que. como appontamos na primeira

7 Eporque o Padre Luis Gonçal es da dita Companhia,vay a eßa Corte, pera as requerer, vos roĝo mui

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parte,

Lib.3.c.35.

n.s.

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