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Anno de

porque fuas gloriofas façanhas Chrifto de teram ao diante campo mais di15.56. latado.

0

que the

focedeo no
caminho
pera Lif
boa.

2 Começou fua vida Balthezar Barreyra estudando na Vniverfidade de Coimbra, & vindo ter huas ferias, em Lifboa,entrou em cafa de feu pay, hum fidalgo que hia pera o Peù,o qual diffe tantos louvores daquellas terras, que fe refolveo Balthezar Barreyra a deyxar os textos,em que andava occupado, pelos grandes defejos, emá entrou,de ver terras,& alcançar riquezas. Chegou a Sevilha,aode em hu fermam que ally ouvio,fe refolveo em deyxar a prata das Indias pela pobreza do Evangelho voltou logo a Portugal mais rico,por vir refoluto a fer pobre.Nefte caminho(coforme nos confta pelo que elle mefmo contou ao Padre Manoel Alvres feu companheyro, em Guinè,& feu grande amigo em o Senhor, o qual o deyxou efcrito,em hu livro de màm,em que faz hua defcripçam geographica de Guinè.)

3 Nefte caminho, pois, contava o Padre, que defemparado do mesm › homem, que o acompanhava, encontrou com hum mancebo,que fe lhe poz a dizer grandes bens da Companhia:mas nam vinha ainda Balthezar Barreyra, tam fòra do mundo,quando dizia que o vinha fugindo,que de todo apro

Anno da

17.

vaffe os louvores, que o mancebo lhe dava da Companhia, di- Copanhia zialhe que lhe nam contentava tanto, porque nam deyxavarnos a noffos religiofos falar co feus parentes (tam pouco defapegado andava ainda dos homens, quem cuydava que vinha buf car a Deos)a efta inftancia lhe refpondeo logo o mancebo cō aquellas divinas palavras do Evangelhoa. Qui non odit patrem, & Mat. c. 26matrem,non poteft meus effe difcipulus: n.41. & tanto que as diffe, o deyxcu com bastante fundamento pera cuydar,que era Anjo,quem lhe dava confelhos tam Angelicos.

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4 Mas nem ainda fe acabava de refolver de entrar na Companhia,porque lhe contetava mais a pobreza do habito em Sam Francisco, que o odio dos parentes na Companhia. Refolveofe com tudo de entrar em huma daquellas duas religioes, & que feria na em q primeyro o recebeffem. Vayfe a ComoDeos Coimbra (cuydando feus pays o trouxe â que tornava a continuar o eftu- Copanhia do)foy logo pedir o habito a S. Francifco: mas ordenou Deos ́as cousas de maneyra, que hindo muytas vezes ao mofteyro da ponte com efta pertençam, nunca nelle achou o Padre Comiffario: foyle entam ao noffo Collegio,no qual era Reytor o Padre Leàm Henriquez, & logo da primeyra vez achou o P. Provincial Miguel de Torres,

que

Anno del que o recebeo de muy boa võ-trando a vifitalo o Mettre dos Anno da Christo de tade; porque quando Deos he noviços, lhe perguntou (confor- Copanha 1556. autór da vocaçam facilita os me feu costume) como eftava? 17. meyos, & desfaz as difficulda-confrangeofe o apoftado exer

des.

Luc. e. r

citante,& refpondeo com as pa5 Recebido na Copanhia lavras de Chrifto a feus difcipuBalthezar Barreyra,logo na pri-los.a Spiritus quidem proptus eft, caro meyra provaçam deo moftras autem infirma: nam entendeo lo- n.26. de feu elpirito fer de prova: to-go o Padre o fegredo da répolmou os exercicios de noffo glo- ta; porêm porque lhe pareceo, riofo Padre S.Ignacio, com gra- que nam carecia de myfterio, de aproveytameto de fua alma: The tornou a dizer, que fe de& quando elle mais cuydadofo claraffe mais:entam fe explicou andava nesta fãcta occupaçam, muy bem onoviço, dizendo, q le defcuydou o noviço, que ti- o corpo por nam comer aquelnha a feu cargo levarlhe o ne- les tres dias eftava fraco,porèm ceffario, por fe ater a outro (co- que o efpirito com a graça divimo por vezes tem fuccedido a na estava tam animado, ĝ nam noviços, que ainda que far os tornaria atraz no caminho comais modeftos, nam coftumam meçado,ainda que lhe fucedeffer os mais cuydadofos) Efte o fe morrer à puta fome:& dizendeyxou tres dias inteyros femdo ifto nam pode o noviço recomer bocado & poftoque a dias fem fome a todos he muýto ruin de comer por levar, muyto mais infofriu padefcuydo. rece aos que nam fam mur en trados na idade,& acoftunados a penitencias elperou Bithe-zando todos,que hua paciencia zar Barreyra o primeyroliasate tam generofa, em tam breves anoyte (que nam deva levar dias de religiam,demandava ao muy confolada)efperovo lega- diante grandes progreffos na do,&cotinuou o terceyo dia,& virtade. por mais q a fome ladava, elle muy paciente calava, om propofito de fofrer aquela pena, q fe lhe dava a calo, cudando el He que vinha muy de cuydado, em rezâm de fer alama expe riencia da religiam

Elleve tres

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6 Depois dos es dias, en

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ter as lagrimas, que a devaçam,
& por ventura que tambem a
fome lhe caufava. Muy edifica-
dos ficaram os prefentes, ouvin-
do femelhante resoluçam, ajui-

Nem fe enganàram eftas boas promeffas,& tam bem fundadas efperaças, porqué efte foy aquelle Padre Balthezar Barreyra, digno com rezàm de fer contado entre os mais benemeritos fogeytos defta Provincía de Portugal:efte he aquelle

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Anno deiluitre Apofiolo de Guiné,tam, Chrifto de celebrado nefta Provincia, pe1556. los grandes ferviços, que fez a Deos noffo Senhor, & pelos innumeraveis trabalhos, que padeceo em Angola, em Caboverde,na Serra Leoa, & em toda a còsta de Africa, que vay correndo por muyta parte daquella Ethiopia inferior.

CAPITVLO XXVII.

He efcolbido o P. Balthezar
Barreyra pera hir à missàm
de Angola,com o Governador
Paulos Dias de Novaes da
fe noticia daquellas

I

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dado ao

Jabrazados defejos de conver- Anno da
ter Gétios, & de fartar a fede de Cipanhia
falvar as almas, porque o man- 17.
dáram ao Reyno de Angola,em
Companhia do muy celebra- Foy man-
do,& valente Portugues Paulos
Reyno de
Dias de Novaes, que foy neto Angola.
(como consta da provifam real
que tenho em meu poder, paf-
fada por elRey Dom Sebastiam
no anno de 1571.) daquelle
famofo defcubridor do Cabo
de boa efperança Bertholameo
Dias de Novaes.

2 As milagrofas obras, que
em Angola fez o Padre Balthe-
zar Barreyra, & as prodigiofas
victorias,q ally alcaçou aquel-
le admiravel capitâm, deman-
dam hum grande volume, pore
porque atègora nam andam im-
préffas em noffo vulgar, & eu
cabado o tempo aqui me encontro com o Padre
do noviciado, co- Balhezar Barreyra,me pareceo
tinuou Balthezar refeir alguas breviffimamente,
Barreyra com grã-poisem todas elle teve tanta

terras.

de edificaçam, crefcedo fempre
nelleos defejos de fervir a Deos
nas miffoes da Copanhia,& nas
partes mais remotadas de Por-
tugal,aonde viveffe mais unido
com Deos,& mais apartado de
feus parentes,que dates amava,
como homem, & jâ avorręcia
como religiofo:que estas muda-
ças caufa a religiam naquelles,
que de propofito feguem a bã-
deyra de Chrifto. Offereceofe-
the hua boa occafiam, em que
podeffe dar â execuçam feus

party&pera iffo quero primey-
ro,con a mefma brevidade dar
alguanoticia defta monarchia
Angoina, que ainda que à al-
guns paeça menos nóva, poffo
affegura que nam ferá a me-
nos certa & nos fervirâ muyto
pera comecimento dos bautif
mos,queez o Padre Balthezar
Barreyra,& das victorias que
alcançou aulos dias de No-

vaes.

3 Prineyramente a monarchia de Angola eftâ na nòva

Sitio do Reyno de Angola.

Nome de
Angola.

Ethiopia, Norte Sul, entre o
Reyno de Congo, & o de Ben-
guela; Lefte Oefte co Pernam-
buco,na còfta do Brazil, quafi ||
nove graos de altura do pòlo
Auftral, debayxo da zona tor-
rida. E nem por iffo deyxam a-
quellas terras de fer muyto ha-
bitadas; antes poltoque os lu- |
gares maritimos de Angola, vi-
finhos ao Coanza, por ferem
a paulados,fejam doentios, com
tudo o mais do Reyno be pelo
fertàm detro,gofa de âres fauda-
veis,& temperados, de fermofas
fontes,& ribeyras frefquiffimas;
& geralmente fam aquellas ter-
ras ferteis,& abundantes,fenam
he nas partes aonde eftam as
minas de prata, que pera tudo o
mais sam efteriliffimas, como lego,houve em Portugal noticia noticia q
a natureza ally meteffe todo defte Rey,de fuas terras, & das
coufas de
feu cabedal juto, pera fahir em minas de prata, q ally ha, cujas Angola.
fuas entranhas com hum parto primeyras moftras confagrou a
tam precioso, & por iffo fe def Deos elRey Dom Henrique,
cuydaffe,ou efqueceffe de pro mandando fazer hum calix, &
duzir todos os mais fruytos, nam fe tem continuado nefte
4 Nam fe chama efta ter- défcubrimento,pela resistencia,
ra Angola (como entre nos cor- que a iffo faze os naturaes, per-
re)más consta de muytos como fuadidos, que defcubertas eftas
Reynos,cujos naturaes por no- minas, nòs lhe apanharemos a
me commum se chamam Am- prata, & elles perderàm as ter-
bundos, & tem feus Reys, ou ras. Houve tambem occafiam
Regulos, que le dizë Sobas,que pera o Rey Angola Inéne ter
eram mais de letecētos & trint algum conhecimento da fé de
ta, cujas povoaçoens, & fenho Chrifto; & com eftes intentos
rios, fe chamam Morindas: & por elle affim o pedir,lhe foram
tendo antigamente cada hum mandados, por duas vezes, de
deftes Regulos jurdiçam fobre Sancto Thomè alguns facerdo-
feus vaffallos, fem dependentes,& entre elles hum religiofo

cia dos outros, fucedeo, que hu
delles herdando o fenhorio do
outro, ficou tam poderoso, que
começou a conquistar seus vi-
finhos,co ajuda dos Portugue
fes,que de Congo hiam a fuas
terras ao refgate dos elcravos:
efte Rey le chamama Angola
Ienène, que quer dizer o grāde
Angola,o qual appellido foram
confervando os mais, que lhe
fucedêram no Reyno (da ma-
neyra que de hum Prolomeo,
os de mais Reys do Egypto le
chamaram Ptolomeos) & daqui
tomàram occafiam os Portu-
guefes de chanar Angola a
eftes fenhorios.

Por via dos noffos Por-
tugueses, que ja estavam emCo- Primeyra

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da

houve das

da muy esclarecida Ordem do
gloriofo Padre Sam Bernardo:
porem (como o tempo depois
moftrou)mais pertendia o An-
gola o comercio de Portugal, q
o bautifmo de Christam,atê que
finalmente eftes facerdotes,fem
effeyto algum,ou morrèram,ou
fe tornaram a Portugal.

6 Porèm vendo o Rey, q
The faltava o comercio com os

xador,& aos Padres da Compa-
nhia, tomando toda a fazenda
aos Portugueses,nam permitin-
do,que fahiffem de feu Reyno,
& nefte modo de cativeyro
morreram muytos d'elles, &
dous Padres da Cōpanhia dos
quatro,que levou cõfigo o em
bayxador.

7 Paffados feis annos per-
mitio efte Rey ao embayxador
tornaffe a Portugal, deyxãdo Torna
lá ainda dous Padres, como em Rey de An-
refés, dando grandes desculpas gola a pe-
do fucedido,& prometendo a el dir Prega-
Rey de Portugal, que se bauti.
zaria com todo o feu Reyno,&
entregaria as minas de prata, q

Portugueses (porque o intereffe era o Deos, governava a eftes q Reys,& ainda agora por noffos peccados,predomina em alguns Princepes Chriftãos) cuydando que ceffava, por nam ter em fuas terrras facerdotes,como dates, os mandou pedir por feusally tinha. Poftoque em Portuembayxadores a elRey Dom Ioám o Terceyro, affirmando, que fe queria bautizar; quando efta embayxada chegou a Portugal jà governava a Rainha mifsam da Dona Catherina,à qual lhe mãCopanhia dou(como adiante fe contarà, pera An- no anno de 1560. quatro Pagola.

Primeyra

dres da Companhia, & comelles por embayxador a Paulos Dias de Novaes chegando todos a Angola, junto ao rio Coanza, fouberam dos moradores da terra,que era jà fale

gal fe entendeo, que o Angola
fazia ifto fingidamente,com tu-
do como lá tinha em refens os
dous padres da Companhia, &
a piedade dos Reys de Portugal
era muy grande, juntandofe a
isto a certeza das minas de pra-
ta,& outros metaes, que ally ha-
via, paréceo a elRey D. Sebaf
tiam mandar de novo a efta co-

quifta efpiritual algus Padres da
Companhia, & hum Capitâm
mor,ou Governador, com gente
de armas,pera q podeffem refi-

cido o Rey Angola Inêne, & qftir às infolecias daquelles bar-
em leu lugar governava Dambi
Angola, o qual ao principio
moftrou bom gafalhado ao em-
bayxador,& aos Padres: porém
dahi a pouco arrebatado da co-
biça,mãdou prender ao embay-

baros, & ajudalos no be de fua falvaçam;pera ifto efcolheo ao mefmo Paulos Dias de Novaes, co o qual fe embarcou tãbě o P. Balthezar Barreyra, co o fucelfoq veremos no capit. Teguinte.

СА

dores.

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