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ram,& carregáram tanto hūs so

5

8 Efta foy aquella memo

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a

fes manus.

bre os outros, q sò có os q cahi-ravel,& illuftriffima victoria, q ram dentro daquelle horrendo precipicio,le encheo,& igoalou de tal maneyra, que lhes ficou fervindo aos que vinham atraz, de hua nova,&horrivel eftrada, nam de pedras juntas, mas de corpos defpedaffados; cahindo todos naquella altiffima cóva, q logo lhes ficava servindo de fepultura, em que parece que toda Angola se vinha a enterrar:pifandofe, & atropelandofe a fy mefmos,os que queriam fujugar,& fopear aos outros: cahindo fobre mortos os que vinham demandar a vida: achando a morte debayxo dos pès, cuydando que lhe fugiam por The vir nas coftas. E foy tam grande a mortandade, que nam falado nos que ficaram naquelle immenfo defpenhadeyro, & fepultura univerfal, conta em húa fua carta o Padre BaltheGrande zar Barreyra,que ao outro dia mortadade entraram vinte negros noffos, muy valentes, carregados de narizes,que com hũa cruel curiofidade cortaram aos mortos, que ficaram no campo; que demanda fem duvida fer grande o numero dos que morrèram, confiderando tambem, que ordinariamente aquelles negros, nam fam tam pro vidos de narizes, como outras naçoens de Europa.

alguns doutos querem, que foy a mais admiravel,que os Portuguefes tiveram em Africa, com que de todo ficaram quebrantadas as forças do Rey Angola, & timido,& celebrado o nome do novo Ggovernador Paulos Dias de Novaes,o qual,com todos os que nefte fucceffo fe achâram,atribuìram, commuyto fundamento,efta milagrofa vietoria às òraçoens defte grande fervo de Deos; ficando confirmada de novò a maravilha da Exod.c. 17 victoria dos Ifraelitas, na qual * n. ii. Củn foram mais valentes as mãos de leuaret Moy Moyfes, levantadas no monte, vincebat Ique as de Iofuê armadas no ca-rael. po., Sucedeo no anno de mil quinhentos oytenta & tres, em dous de Fevereyro, dia da Purificaçam da Senhora, que foy o principal favor naquella bataIha;& ainda hoje em Maçangano,aonde naquelle tempo eftava o affento dos 'governadores, fe faz fefta todos os annos, naquelle dia,a noffa Senhora da Victoria,em acçam de graças defta,que foy tam gloriofa, & milagrofa. (:)

n's barba

ros.

CA

CAPITVLO XXX.

Torna o Padre Baltbezar Barreyra de Angola, afsifte alguns annos na Corte de Madrid; dally fe vem a Evora: tratam,de o mandar em outra missam a Guine,referefe huma carta que fobre ifto eforeveo ao Padre Pro vincial.

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Ste admiravel fuceffo da victoria que conrey no capitulo paflado, fe atribuio entam, por todos os Portuguefes,ao bom Padre Balthezar Barreyra, & nam havia por aquellas partes, quem nisto admitiffe algua rezàm de duvidar,ou porque realmente a vietoria fe alcançou por òraçoes, & confelhos do Padre, ou porq era tal a opiniàm de fua Sanctidade, que le perfuadiram todos, que so por via de hum homem tam virtuofo, fe podia alcanfar victoria tam milagrofa. Chegou a Portugal a fama defta fama defta Boa fama tam celebrada batalha, & de que havia outros fuceffos nam menos gloem Portu riofos, de que darâ noticia que gal do P. ao diante de propofito efcrever toda a vida defte infigne Padrejdaqui paffou a mefma fama

Balthezar

Barreyra.

à Madrid a elRey Phelippe:dadofe infinitas graças a Deos,naquella corte, & na de Lisboa, nam sò pelas victorias tam glo

riofas, mas tambem pelos innumeraveis bautifmos,que por via do Padre Balthezar Barreyra, & dos mais feus companheyros fe faziam em Angola, & muyto em especial,tambem por meyodo Padre Balthezar Affonio, grande fervo de Deos,de quem fe podem adiante fazer grandes lembranças.

2 Movido com estas noti cias elRey Phelippe, ordenou aos governadores de Angola, q nenhua cousa se affentaffe naquellas conquistas, affim no governo da paz,como nos incide tes da guerra,fem primeyro cofultar ao Padre Balthezar Barreyra, perfuadindofe que acertariam, fe fe deyxaffem governar por hum homem, a quem autorizava a virtude, & a quem affiftiam os Anjos.

3 Quatorze annos andou o Padre Balthezar Barreyra,fazendo por aquellas terras eftas, & outras femelhantes maravilhas,alumiando como hum noyo fol aquellas gentes tam res montadas da luz do verdadeyro Sol,fepultadas nas trèvas de fua ignorancia,obrando fempre coufas tam milagrofas, que defejou muyto elRey Phelippe emMadrid conhecer por preleça a que tanto lhe aereditavam

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Efteve 14 annos em Angola.

reyra.

por

coufas tam prodigiofas.

fama; tambem o movia o Occafiam defejo,que tinha de tomar pleque houve pera vir naria noticia das coufas de Ande Angola gola.que le entendia poderem o P.Balthe fer de grande cofideraçam,nam zar Bar- sô pelos innumeraveis bautifmos que ally fe faziam, senam tambem pelo grande proveyto, que podia refultar a eftes Reynos,& aos de Caftella, por caufa das minas da prata, & em rezàm do refgate das peças, que dally paffavam âs Indias. Foy esta vinda do Padre Balthezar Barreyra,no anno de mil quinhentos oytenta & nove, sendo elle entam de fincoenta & oyto annos de idade.Sahio de Angola com grandes faudades, & univerfal fentimento nam fó dos Portugueses, mas tambem de todos aquelles negros (que atê eftes, por mais infenfiveis q pareçam, fentem a auzencia de hum homem fancto) porque o tinham por pay, & unico remedio em todos feus trabalhos. Chegou a Portugal (depois de vencer os perigos daquella coprida navegaçam aonde foy recebido como hum Anjo vindo do céo:partio pera Madrid, falou

por vezés com fua Mageftade catholica, deolhe muy larga informaçam das coufas de Angola,& foy delle muy bem ouvido,eftimado de todos naquella corte, porque olhavam pera elle, como pera hum homem fancto,de quem tinham ouvido

4. Depois de dar em Madrid a devida informaçam,& al- Vemfe pera o Collegio fiftir naquella corte,afguns ande Evora, nos,aos negoceos 'defta provin- fazeno M. cia, que lhe entregáram, pela de novicos boa entrada, que tinha com o Rey,& com os do feu coselho, fe voltou a Portugal, & ficou morador no Collegio d'Evora, aonde o fizeram meftre de noviços,pera criar os filhos daCōpanhia,em efpirito de devaçam com Deos, & com desejos de miffoens aos gentios. E na verdade nâm he pera mim materia de pouca consideraçam, nem pequena prova da grande virtude defte efclarecido fervo do Senhor, que depois de andar quatorze annos metido entre negros de Angola, entre barbaros gentios;affiftindo em exercitos,prefidindo nas batalhas, & tratando com gentes tam destrahidas,em tratos illicitos, & em comercios prohibidos, com tudo affim loubesse conservar a dévaçam,que vindo de Angola, nos vieffe enfinar o efpirito em Portugal; porém o certo he,que affim como o lugar bom nam faz fancto ao que era peccador, affim o lugar diftrahido nam empede à virtude de quem he fancto. Agora me nam cfpanto dos bautifmos admiraveis, das victorias milagrosas, pois nam podia Deos deyxar de affiftir muy favoravel a quem affim o f ab

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Era o P.

todos.

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tam nos governava, de mandar mifsâm às partes de Guiné, em efpecial à còfta de Caboverde. Era nefte tempo Provincial da Companhia em Portugal o Padre Antonio Mafcarenhas, de quem jà faley, & ainda no anno de mil feifcentos quaréta & fete, em que ifto estampamos,

a

mente com Deos efte negoceo, & depois tratou em fua confulfobre a peffoa, que mandariam à esta missàm, a qual ainda que parecia fer de muyto ||fruyto espiritual, tambem se represētava cheya de muy grãdes difficuldades:porq o clima daquella ilha, he muy doentio, as gentes do lertàm muy barbaras,&algus mais reprefentam coftumes de brutos irracionaes que natureza de homens cam rezâm;negros nas cores, disformes nas feyçoens, & mais abominaveis nos erros das almas: por humà parte requeymados dos rayos do fol, & por outra fepultados na escuridade de sua ignorancia.

5 Eftando o Padre Balthezar Barreyra em Evora, prefidindo na efchóla do efpirito,cohe vivo. Tratou elle primeyramuyto a grande cofolaçam lua,& muyto mado de mayor do Collegio todo (por àlem de elle fer muyto amado, & eftimado de todos, por fua grande benevolencia,& por feu exterior tam composto, & tam digno de toda veneraçam, que re prefentava hum rofto de homem fancto)muytos o vinham demandar pera le confolarem com elle,& tambem pelo golto, q tinham de lhe ouvir as coufas,que contava de Angola, & dos mais Reynos, por onde ti nha andado. Eftando,digo,o P. Balthezar Barreyra defcanfando nefte fancto ocio, nefte remanfo de vida retîràda,& nesta || Nova oc bella paz,& quieraçam de efpi- || cafiao que rito, lhe tocâram outra vez a re- || pera hir a bate,& de repente lhe foou nos ouvidos hum novo repique de guerra,com que fe deo o bom velho por obrigado a tornar á tomar armas, que jâ algué cuy-go tratandose da pessoa à quem daria que tinha dependuradas: fe havia de encomendar empre o cafo foy, que trataram os Pa fa tam trabalhofa,lhe occorreo dres desta Provincia, no anno ao Padre Provincial offere cela de mil feifcentos & quatro,á pé- ||ao Padre Balthezar Barreyra: tiça del Rey Phelippe, 4 en-era elle entam de idade de 66.

teve o P.

Guine.

a

6 Refolveramle em fim os Padres na consulta, que le ceytalle à milsam, por fer muy conforme a noflo inftituto. Lo

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boverde.

CARTA DO P.
Balthezar Barreyra pe-

ra o Padre Provincial
Antonio Mafca-
renhas.

annos, & da Companhia quarenta & oyto, tinha eftado em Angela quatorze annos com innumeraveis trabalhos, & parece que mais era aquelle tepo, pera ter ferias em Portugal,que pera hir trabalhar a Guinê; co tudo quando Deos quer dar no mundo femelhantes exemplos, move aos fuperiores, a fahir co Am poffo encarecer acçoens,que parecem condenacom palavras a con- Carta em das pela prudencia humana, sẽfolaçam, que em mi- que fe offe rece pera a do affim que entam vam mais nha alma causou a missåm de Offerece reguladas pelas infpiraçoens do fignificaçam, que U. R. me deo, de fe Caboverde The a mif- eo.Efcreveo o Padre Provin- querer o Senhor fervir de mim na miffam deca-cial Antonio Mafcarenhas a jám de Caboverde, pelo qual beneficio Evora ao Padre Balthezar Bar-dou a fua divina mageftade infinitas reyra, fignificandolhe como fe graças, a V. R. agradeço quanto tratava defta missâm de Guinè, palo o por os olhos, pera efta empresa & pondolha em fuas mãos, fe a em mim tam indigno della. O Padre quizeffe aceytarza propria car loam Correa me offereceo tambem outa,que o Padre Balthezar Bartras miffoens, tambem ultramarinas, reyra refpondeo ao Padre Provincial Antonio Mafcarenhas, efcrita à quarenta e tres annos, tenho eu hoje em meu poder, & a eftimo por húa reliquia de fummo preço, affim pela mão, a efcreveo,como pela materia, que em fy contem ; & pera que fique nefta Provincia em lembrança hum exemplar de tam grande edificaçam, porey aqui o treslado, fielmente tirado do original,que confervo hoje em minha

mâm.

(2.)

pofto que eu pera nenhuma me neguey, fempre pedido Senhor q as defviaße, fe havia outra de mayor gloria fuá, em que quizeße fervirse de mim, & quanto mais via que Deos hia dado defvio às outras, tanto me perfuadia mais, que me guardava pera efta, q eu eftimo mais que nenhua de quantas tem a Companhia, porque quanto mais

noticia tenho de Guiné, tanto tenho

mayor magoa do defemparo de tantos
milhares de almas,que nenhum conhe-
cimento tem do beneficio ineftimavel de
fua redeçam porque atégora nam che-
gou a elles a luz do fancto Evangelho,
estendendofe cada vez mais por aquel-
las partes a maldita feyta de Ma-
famede.

Eu,

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