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Chrifto de

1553

CAPITVLO XVII.

Da occafiám que houve, pera
o Infante Dom Luis efcrever
ao noffo B. Padre Francif-
co de Borja, poemfe a
fua carta, & a re-
pofta do mef-

Ι

Apotamfe I os pays do B.P. Fran cifco de Borja

mo Pa

dre.

VMA das mais affinaladas peffoas que teve esta minima Companhia de IESV, foy o Beato Padre Francifco de Borja, Duque que tinha fido de Gandia, Marqués de Lombay, & filho primogenito do Duque Dom loam de Borja,& de Dona Ioanna de Aragâm, néta d'elRey Catholico DomFernando. Antes de entrar na Companhia teve Dom Fracifco de Borja grande estado, o qual veyo finalmente a deixar por amor de Deos, eftimando mais o improperio de Chrifto, que as riquezas do Egypto, coAd Hebr.c. mo de Moyfes diffe S. Paulo. iores diviti Foy o Duque Dom Francisco

II.n. 24. Ma

a

Copanhia

Torràm, & do Sabugal, & de
Dona Isabel de Menefes, filha 14.
Foy primei
de Nuno Barreto, Alcayde mòr
ro cafado
de Fáro; a qual Dona Leonor có D. Leo
tinha fido dama muy eftimada nor deca-
da ferenifsima Emperatriz Doro.
na Isabel, filha del Rey Do Ma
noel, & tinha hido com ella de
Portugal.

2 Era efta fenhora dotada
de todas as boas partes,& entre
ellas tinha a principal de fer
muy virtuofa, & muy dada às
coufas de Deos; & d'aqui lhe
Affeiçoou
veyo fer muito devota da Com-je à Copa
panhia,&por iffo temos por no-nhia, por
ticia certa, que o Duque Dom caufa da
Duquefa
Francisco de Borja, feu marido,
fua molher
fe affeiçoou tanto à nofla Reli-
giám, que finalmente veyo a en-
trar nella (depois da morte da
dita Dona Leonor) tomandoa
Deos por inftrumento, pera
af-
feiçoar tanto o Duque à Com-
panhia, & pera nos dar por efta
via huma das mais abalifadas,
& infignes peffoas em fanctida-
de,& em nobreza, que tivemos
em noffa Religiam, que atè efle
bem dève a Companhia toda a
Portugal, entre outros muitos,
como nefta Chronica temos vi-
fto. E nam faça alguem dúvida
desta verdade, nam fazer d'elli
menfam alguma o Padre Pedro
de Ribadaneyra,na vida que ef

as aeftimans calado com Dona Leonor decreveo do Beato Francifco de

thefauro E- Caftro Portuguefa, filha de pa

gyptiorum improperiù Chrifti.

ys illuftrifsimos, de Dom Alva

ro de Caftro, Alcayde mòr do

Borja, porque, ou nam teve d'i-
sto noticia,ou nam a quiz com-
municar & geralmente falando

elte

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Chrifto de 1553.

0 P.Pedro de Ribada neyra he muy eleaf

jo em fallar dascou jas de Por tugal.

efte noffo tam infigne autor,
com fua boa licença, foy muy
efcaflo em fallar das liberalida-
des dos Reys de Portugal com
a Companhia, & em contar as
coufas mais illuftres defte Rey-

no,

trou na Co

panhia.

do efpirito divino, & abrazado Copanhia defejo de fua falvaçam, com hu 14. animo mayor que o feu ducado, fez livre renunciaçam del- Como o B. P.Fracif le, & de todos feus eftados, & co de Borja bens no Marqués de Lombay renunciou fendo assim que foram fem- Dom Carlos, feu filho primoge- Jeu Ducapre as que mais avultáram nanito,em o anno de 1551. abra-do, & enquelles tempos, & elle nam po-çandofe com a pobreza, & hudia deixar de as faber: & dilata-mildade de Chrifto nefta minidofe muito em referir outras de ma Companhia de IESV,comemenos fultancia, deixa as de çando, com grande efpirito, a Portugal de mayor porte. E porque alguem nam cuyde que fem fundamento diffemos, que o Beato Padre Francifco de Borja fe affeiçoou àCompanhia por refpeito da Duquefa Dona Leonor fua molher, àlem de algumas noticias particulares que diffo temos,o affirma afsim Efte-daneyra. Eftevam de vam de Garibay no feu ComCompendio pendio hiftorial, no lugar que Shift. lib.30. aqui aponto à margem, & como tambem era autor Efpanhol, & quafi do mesmo tempo, temos mais rezàm pera lhe dar credito ao que elle conta, que pera affentarmos no que o outro cala.

b

Gatibay in 1

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3 Depois da morte da Duquefa, eftando ainda o Duque Dom Francifco quafi na flor de fua idade, no melhor de feus valimentos, & privanças co o Emperador Carlos quinto,primo feu,& nèto tambem delRey Catholico Dom Fernando, gozando de feu estado com toda a profperidade, levado fomente

exercitar os minifterios de nof
fo inftituto, fazendo miffoens,
pedindo efimola pelas portas,
prègando, & confeffando com
raro exemplo de humildade, &
fanctidade,como mais largamē-
te fe contem na sua vida,que es
creveo o Padre Pedro de Riba-

4 Deo efte raro exemplo
tam grande brado por todaHes-
panha, que nenhuma coufa ma-
es fe fallava com mayor edifi-
caçam pelas cortes, & cafas de
Princepes, & grandes fenhores,
porque em todos caufou nota-
vel efpanto,& admiravel fruito,
movendofe muitos à imitaçam
do illuftre exemplo defte illuf-
trifsimo Duque, como
le pòde
ver em fua vida, que compos o
Padre Pedro de Ribadaneyra.
Entre os Princepes
em quem lib.2.c.9.
caufou mayor abalo efta glo-
riola mudança de eftado, & de
vida, foram o piedofifsimo Rey
Dom loam, & os Infantes feu
irmãos, & muy em particular o

1

fere

P. Ribadan.

lo de ferenilsin o Infante Dom Luis 1953. (Princepe de esclarecida me

Dom Luis

2010

moria) por ter ja d'antes conhe

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deßeter effeito, fem algum desgosto feu; Copanha
porque que o fazer feme importe
muito, pelos fundamentos, que nesta
obra tenho lançados, nenhuma coufa
minha me pode tanto importar, como
confolaçam, & contentamento, que
Sempre nos tempos pallados defejei
V.R. como me he Deos boa teftem
nha; & fe o nam moftrey tanto exte-
riormete em muitas cousas, em ğ defe-
jey moftralo, tambem fabe Deos nam

la

emu

cimento, & amifade com o B. O Infante Padre Francifco de Borja, do foy muy de tempo que foy aos Reynos de do B. Caftella, pera ver a Emperatriz P.Fracifco D.Ifabel fua irma, & pera se ade Borja. char na jornada de Tunes, com o Emperador Carlos quinto feu cunhado. E pera que fe veja a grande piedade defte Chriftia-foy, nem por falta de amor, nem de bo niffimo Princepe, & o princi- defejo, & vontade, que tenho pera pio, & difpofiçam, que teve pe- com os pasados, & prefentes da cafa ra,com a vinda,& vifta do Bea- de U. R. a qual tendes feita muito to Padre Francisco de Borja, mais illuftre com a deixar: & esta so tratar de deyxar o mundo, & rezám basta, ainda que nam houvera feguir o fancto exemplo do outras pera que eu feja mais obrigado, mefmo Padre, porey aqui huma carta que lhe efcreveo, que temos no Cartorio de Goimbra.

Efcreve

InfanteD.
Luis ao B..

P.Frácifco

de Borja.

defejofo de lhe dar todo o contentamento, pois já fe vé que agora nenkumas outras cousas o dam a U. R. fenam as que contentam a Deos noffe Senhor, elle feja por isso muito louva

a

CARTA DO do
6. Maravilhoso he Deos em
Infante Dom Luis,pera feus fervos, & fuas mifericordias nam
o Beato Padre Fran- tem fim, delhe V. R. infinitas graças,
cifco de Borja, de-
pos fua converfam faz mayores frui-
tos do que U.R. pode cuydar de mim
pois de renunciar
The fey certificar, que fuas palavras.
o Ducado de muitas vezes me foam nas orelhas, co-
Gandía.
mo fe as estivera ouvindo de fua boca,
&confidero feus paffos como feprefen-
te o tivera. O bemaventurado fervo Notavel
de Deos, que em tempo de tam grandes affecto, &
Outras tenho efcritas perturbaçoens, foube achar a paz do piedade do
a U. R. & ao pre-homem interior, deixando o mundo em Luis.
fente somente acrecen-branco ao melhor do jogo, que elle co
enganos armava, & recolhendo os fen-
tidos, & potencias á vontade pura,

VITO Reverendo P.

tarey, que receberey gram contentame
to, fe o que por ellas tenho pedido po-

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com

&

Infante D.

Anno de

Chrifto de 1553.

Pedro deRi bad. na vida do: B.P. Ftá cifco de Bor

ja, lib.2.c.3.

Parte fegunda.

Livro quarto. Cap.XVII.
Cap.XVII.

jufta do Senhor, no qual confifte
efte pouco de felicidade, que fe póde ar-
remedar nesta vida, & o que fem me-
dida, & fem fim se deseja gozar na
outra, por tanto, fenhor, peço encare-
cidamente a V. R. que d'aqui por di-
ante tenha de mim lembrança,&fem-
pre me encommende em fuas devotas
óraçoens,& facrificios, pera que o Se-
nhor me enfine o proprio caminho de
fua vontade, & fem nunca outra ter
viva, & acabe nella, aonde, & como
fua divina Mageftade for fervido. E
fe V. R. de mim mandar alguma cou-
fa, entenda que o farey com muito
fto de lho dar em tudo. De Almeyrum
4 x 3. de Iulho de
1551.

I

7

go

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CARTA DO
Beato Padre Francifco
de Borja,pera ofere-
nifsimo Infante
D.Luis.

Serenifsimo feñor.

que

L Efpirito fancto, que es llamado Padre de pobres, y es remunerador de las mifericordias, a ello: Se hazen, retribuya a V. Â, la merced, que con fus cartas he recebido de fu muy poderofa mano; porque no fue pequeña averfe fervido de acordarfe defte fu fiervo, y tan miferable peccador. I màs queriendofe fervir de mi, en cofa,que es toda de V.A. pues tan

Até aqui a carta do fe-
reniffimo Infante, da qual bem
fe colhe a boa difpofiçam, que
havia naquella alma, pera fe en-
tregar de todo a Deos noflo Se-
nhor, & fazer huma vida per-particularmente toda la Compañia de
feita, o que muito fe lhe acref- IESU, hafta el minimo della, que foy
centou com a reposta,que teve yo, nos gozamos mucho en el Señor
do Beato Padre Francifco de nuestro de llamarnos, y tenernos por
Borja, que aqui aponta- fiervos de U.A. Veo tato en las car-
rey da maneira que tas de V.A. y por la mano que las
a tras o Padre Pe-
efcrive, la mano interior del Señor eter-
no, que no fe como diga, y explique lo
que en ellas fe me trasluze.

dro de Ri-
badanei-

ra.

(?)

8. Bien sè dezir, y affirmar, que mı alma se hà consolado mucho más de lo que fabria encarecer; y aunque estava de antes muy rendida al fervicio de V. A. por las mercedes recebidas, fe ha de nuevo rendido a deßear mâs fervir, y mostrarfe agradecida a ellas. Į aßi efpero en el Señor me darà gracia

para

14.

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Chrifto de para que continuamente me emplee en el dolor es, que fe pone tanta industria, 1553. Suplicar a fu immenfa bondad enfalce ay diligencia en los unos, y tantani tanta negligeV.A. en lo exterior, y le kumille en lo interior, para fublimarle mas en el cie

Pf. 75.n.13.

f

Pf. 5o.n. 14.

с

cia en el otro.

10 Y por efta caufa fe dan tan

porque le condenan fin llamarle, "lin conocerle, y fin oyrle. I figuese, y creefe el proprio efpirito,que es ciego, y terreno, y nos lleva a tantos despenaderos: pediendo la razen, y la verdad de

lo. Bendito fea aquel Señor, e Quitas fentencias contra el buen espirito,
aufers fpiritum Principum, que
fi en esto es terrible con los otros Prin-
cipes,no lo ha fido con U. A. fino muy
piedofo, y benigno, en quitarle aquel ef
pirito,que algunos de los Principes fue-
len tener, que es espirito levantado, def-Dios, que efte fe dexaffe, y olvidaffe,
conocido, y ingrato a fu Dios y en lu- Se
gar defte le ha dado el espirito princi-
pal,del qual deseava, pedia fer con-
firmado el fancto Principe,y Propheta
David. f

mo

9. O ferenißimo, y ChriftianißiSeñor y que buenas, y dichofas ferias ha hecho U. A. y quan mejorado ha fido en tercio,y quinto, entre los otros Principes ó quanto deve Portugal a Dios, por averle dado Principes fin efpirito de Principesó Señor, y quien Supieffe entender, que cofa es faltar en el Principe el espirito de Principe, fer confirmado de espirito principal. O quien fupieffe dizir la diferencia que ay del uno al otro; y como el uno es de guerra, y el otro de paz: el uno defconfuela, y enfada, y el otro es confolador: y al fin el uno es efpirito humano, y el otro divino. O que ganancia feria fi la diligencia, que fe pone en provar los ufos ta o conhe del mundo, y de la carne, fe pufieffe en cimete dos provar, y experimentar los del espirito diverfos ef celestial, como nos lo aconseja el Apopiritos. ftol,diziendo, que provemos los efpiritos, y conofcamos fi fon de Dios. O quantos fe defengañarian de fus errores, y en gaños, que los traen tan ciegos. Mas

Quantomo

buscaffe, y procuraffe el espirito principal. Vendrà dia quando fe aya de paffar el golfo deste figlo, en que eftes engaños fe conozcan: donde muchos fe hallarán burlados, y llenos de espirito, que era de tenieblas, vanidad, y falfedad, y vazios del espirito de Dios, que los deviera llegar al puerto de la eterna felicidad.

II

Copanhia

14.

g Pl. 54.n.9.

h

Y por efto, poderofo fenor, doy yo muchas gracias a nuestro Señor, viendo a U. A. ran ageno, y apartado del mal espirito proprio y tan deffeofo, y anfiofo por el espirito principal. Efte es el que haze rendir al efpirito proprio, como lo experimentava aquel fancto Rey, que dezia: 8 Expectabā eum qui falvum me fecit a pufilanimitate fpiritus, & tempeftate. Efte es aquel divino espirito: h Qui Ioan.3.1.8. ubi vult fpirat, que entra, y vivifica, donde, y como, y quando le plaze: efte es aquel efpirito, al qual el mal mundo no puede coger : porque no fe quiere recoger. Efte es aquel, en el qual, y con qual clamamos, i Abba Pater, por- Ad Rom.s. que es efpirito de adopcion: efte es el n.15. que devemos entender fiempre con los mano os de olores , y obras hechas en

CA

el

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