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Chrifto de 1553.

Par. lib. 1. c. 10.n.9.

Sam Francifco de Xavier, & Mestre Simam Rodrigues pera a India, porque nos queria reter em Portugal, & nos defejava meter na alma; a elle lhe devemos o amor, que nos cobrou o fereniffimo ReyDom Henrique feu irmam;elle foy o que o perfuadio a nos fundar o Collegio de Evora; elle fez acrefcentar as rendas ao Collegio de Sancto Antam; elle teve grande parte na fundaçam da nofla casa de Sam Roque; como veremos em concluindo no capitulo feguinte, com as coufas do B. P. Francifco de Borja.

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a le- Copanhia

1557.

occafiàm,que temos dito; gunda foy no anno de mandado pelo Emperador Carlos quinto, a tratar com a Rainha Dona Catherina fua irmã, & com os mais Princepes defte Reyno, alguns negocios de muita importancia. A terceira vez foy no anno de mil, & quinhentos, & feffenta, fendo elle Commiffario de toda Helpanhá, & veyo logo a Evora,por afsim lho pedir o ferenifsimo Cardeal Infante Dom Henrieftimando muito o Padre darlhe efte gofto, vendolhe aquella fua nova Vniversidade, que aly nos fundára, & enriquecendolha o Beato Padre de excellentes meftres, como adiante diremos, contando as coufas do Collegio de Evora.

que;

14.

2 67127 Defta terceira vez foram grandes os bens, que refaltaram a esta Provincia, com a vinda do Beato Padre Francifco de Borja,& entre outros nam foy o menor a fundaçam do Collegio do Porto, que a elle the devemos; porque hindo no anno de 15 60. de Coimbra a Sam Fins, & paffando pela Na cidade cidade do Porto, & agafalhando Porto dofe, conforme feu fancto cu- fe agafa. stume, no hofpital da cidade,aly thou em o o foram vifitar o Bispo do Porhofpital. to (ģentam era o illuftrifsimo,e reverendifsimo. D. Rodrigo Pinheiro)&os maisgraves cidadãos daólla cidade,os quaes por eftate

muy

T

Chefe de muy bem lembrados do grande 1553 fruito, que nella fizera o Padre Francifco Estrada, como con

2

9. & c. 11.

a

1. p.lib.2.c. tey na primeira parte; pediam ao Beato Padre, lhes déffe dous,ou tres Padres pera, lhes prégarem, & confeffarem naquella cidade:facilmete veyo o B.P.ne ita petiçam, & tabe lhes fez outra,q lhes permitiffem terem os noffos, que em ferviço da cidade Acaffem, alguma cafa, com al gum modo de Igreja, em que adminiftraffem ao povo os facramentos da Confiflam,& Comunham: tambem elta licença le concedeo entam com a mefna facilidade.

liceça que

deram.

c.9.

b

gozavam. Só ficou pela no Copanhia fa parte aquelle grande devo- 14. to,& affeiçoado da Companhia Henrique Nunes de Gouvéa, de quem démos bastante noticia na primeira parte, fallan-1.p. lib. 2. do no Padre Francifco Estrada. Efte nobiliffinio cidadàm, como era de tanta autoridade,sem fazer cafo dos arrependimentos da cidade, largandonos boa Henrique parte de fuas mefmas cafas, de Gouvèa & levantando hum altar com nos dá fua o mais neceffario, pera fe di propria ca Ja. zer miffa, em huma fua pequena lògea, mandou recado ao B. Padre Francifco de Borja (o qual fe tinha retirado ao nof fo mosteiro do Pedrofo,duas legoas antes do Porto) que podia vir pera sua casa, porq tinha jà Igreja feita, & apofentos prepa

3 Porem,cuydando mais Arrepende nito, totalmete le arrepédèram feos cida- os cidadãos do Porto;arreccãdo dãos do Porto da que d'aquella pequena cafa,que elles entam concediam, pera dous, ou tres Padres, fe viria a fazer hum grande Collegio, &q teriamos claffes co estuda& em confequencia diffo, q tes; a mefma Vniverfidade de Coimbra fe mudaria pera o Porto (que o medo tem grande entra da com os que Le tem porzelòfos) & fe lhes reprefentava, que feria ifto em grande detrimento d'aquella cidade, que nam tinha commodo pera agafalhar tantos hofpedes ; & ficariam os cidadãos muy opprimidos, perdendo muytos dos privilegios, de que en tam livre, & pacificamente

rados.

co tomou

Porto.

4 Como eftas coufas hiam infpiradas pelo Efpirito fan- Como o B. &to,acodio logo o B.Padre com P. Frácif feus companheiros, & fe reco lhèram quafi de noite nas cafas pole deCol de Henrique de Gouvéa,na vef legio do pöra de Sam Lourenço, 9. de Agosto, do anno de mil, & quinhentos, & feffenta; & no outro dia diffe logo o Padre miffa, & collocou o fanctiffimo Sacramento em hum pobre Sacrario: d'efta maneira ficou a poffe tomada pelo Senhor confagrado, & elle a confervou tā inteira,que por mais difficuldades q houve,nuca foy possivel H 3

fa

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1553.

Chrifto de tazela perder: ficando nós fempre reconhecendo o bom animo dos moradores do Porto, porq claramente nos diziam,q a rezam q tinham, pera nos nam quereré naquella fua cidade, nã era por nam eftimarem muito a Companhia, & feus filhos, fenam por temerem que co noffa entrada, quizeffemos aly abrir eftudos,& que à volta de alguns poucos eftudantes do Porto, vieffein to los os do Reyno; porèm o tépo tem mostrado, que elta imaginaçam nam tinha mais fundamento, que no bom zelo d'aquelles nobres cidadãos, que cuflumam fer muy cuydadofos(como muy honrados que fam)em defender os privilegios da fua cidade.

co de Borja no Por

to.

5 L'esta maneira começou esta nova Refide cia do PorComo pro to,por ordem, & direiçám do B. cedia o B. Padre Francifco de Borja, funP.Francif dando aquelle Collegio mais com feu exemplo, que com outras rendas,porque neste principio viviam os noffos de efmòlas. Aly fe recolheo o Beato Pa dre no aperto d'aquellas cafas, & efquecido de fua idade, & indifpofiçoens, fe affinalava grandemente entre todos os mais companheiros, exercitando cô grande fervor, & continuaçam os rainifterios da Companhia. Prégava ordinariamente, & dava a communhàm aos que queriam fer convidados naquella

grande cea do Senhor, fazendo exhortaçoens devotiffimas, no tempo que fe virava pera o povo com o Senhor nas mãos. Aos Domingos, & dias fanctos fe hia com huma campainha pelas ruas, & praças, chamando os mininos pera a doutrina; tal he e preço deste sancto exercicio, que huma peffoa tam auto rizada, que tinha fido Duque, néto de Reys, & que era Commiffario gèral de fua Religiám, andava com huma campainha pelas ruas do Porto, ajuntando a gente, tendo por grande prèmio de feu trabalho, trazer algūs mininos, que vieffem ouvir a doutrina Christã.

Copanhia

14.

6 Nam so fundou o Beato Padre efte novo Collegio com Exercita o exemplo, que dava aos de fó- vafe nos of ficios mais ra, mas tambem com a humil- humildes dade, que exercitava com os de da cafa. cafa,porque nam havia occupaçam por mais humilde que foffe,em que elle fe nam exercitaf fe de muito boa vontade;humas vezes le fazia porteyro, outras tomava o officio de cofinheyro; que hnm varàm fancto tem por glorias os defprezos, & tem por preço preço de mayor eftima o que o mundo julga por mais aviltado. Com táes fundamentos de humildade,tam bem lançados pelo Beato Padre Francifco de Borja,nam podia deixar de crecer aquelle Collegio; & porque o aperto das cafas era grande,

le

Christo 1553.

de

le mudáram, no anno de 1577.
pera o fitio aonde hoje eftam,
que por fuceder tam bem esta
mudança em dia de S. Louren-

Ço, fe chamou o Collegio de S.
Lourenço, & depois o foy Deos

acrefcentando em edificio, em

fogeitos, & em rendas, que lhe deo parte o Bispo Dom Rodrigo Pinheyro, parte o fereniffimo Cardeal Infante Dom Henrique,& outros devotos da melina cidade,de maneira que èftâ hoje muy aventajado: & no anno Luis Alva le 1614. o illuftrifsi no Blo res de Tale Leffa Luis Alvares de Ta

vora foy o vora, aceitou a fun laçain do dito Collegio.

fundador do Collegio do Porto.

7 Todas estas coufas'a feu tempo largamente fe contaràm, por quem continuar efta Chroca: eu agora sò fiz efta breve natraçam, por caufa do B.Padre Francisco de Borja, a quem en-¦ contramos (nefte prefente anno de 1553. em que hiamos nefta hiftoria)chamado a Portugal, à inftancia dos ferenifsimos Reys, & Infantes defte Reyno. Eafsim deixando pera feu tempo aquelles, & outros fúceffos de raro exemplo, que nos deolefte infigne Padre, honra, & ornamęto de nolla Religiam: tratemos de continuar com os fuceffos defte mesmo anno de 1553.& vamos lançar a primeira pedra ao edificio da cafa de Sam Roque Je Lisboa, à vifta do mefmo B. P.Francifco de Borja.

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Copanhia

Do principio da fundaçam da cafa de Sam Roque da cidade de Lisboa, dafe conta da ermida defte Sancto, que primeiro houve no lugar, <aonde agora está

I

a noffa I greja.

OM muito particular gosto começarémosnefte mef mo ano de 1553. em que fe contavam 14. daCō-panhia,a tratar da fundaçam da Cafa profeffa da Companhia de IESV, na cidade de Lisboa (a que hoje chamamos Cafa de S. Roque) afsim pelo muito, que todo efte Reyno lhe deve, co

14.

pelo grande exemplo, que dam a todo Portugal aquelles veneraveis Padres, que com fuas cas autorizam a Companhia, & com feus fanctos trabalhos, & religiofas occupaçoens sanctificam a cidade toda. E pera que tomemos o falto mais de longe, &faibamos com toda a clareza, Querezàm rezám houve, pera efta ca houve pefa da Companhia de JESV,fen-ra fe chado em tudo tam eminente, & mar Cafa des.Roque fendo a cabeça de toda efta

que

Pro

Chrifto de Provincia, ter o appellido de S. 1553. Roque, contarey brevemente a caufa, que pera ifto hou

S. Roque he avoga do da pele

ve..

2 No principio do reynado do felicifsimo Rey DomManoel, chegou a Portugal a fama dos grandes milagres,que ogloriofo Sam Roque fazia em Fraça, & Italia, nos feridos do mal contagiofo da pefte. E vindonos efta noticia em tempo em que Lisboa ardia com o melmo mal,caufado (coforme contam) de huma nào Venezeana, que entrou nefte porto: quiz elRey Dom Manoel aproveitarfe dos remedios milagrofos de S. Roque,pedindo á Senhoria de Veneza, aonde eftà o corpo defte Sancto, alguma parte de fuas preciofas reliquias,pera com efte fancto antidoto, & divino prefervativo acodir aos doentes de tam grande mal, & pera que desta maneira Veneza, que nos capfou a enfermidade, nos dèffe a mefinha; como a lança de Achilles, que juntamente feria,& farava: fatisfez aquella Senhoria os reaes defejos de tam piedofa petiçam; mandou reliquias do Sancto,que foram recebidas do Auguftifsimo Rey, da Corte, & de todo o mais povo,com grande devaçam, & confiança, que o Sancto largamente ao diate re

munerou.

3 Tratoufe logo de edifi

car huma ermida da mefina in

Lisboa de

vocaçam de Sam Roque, pera Copankia nella se collocar tam preciofo 14. thefouro, & pera acodirem àquelle lugar os devotos do San- Tratamē &to a fe valerem de fua intercef fazer hua fam,diante de Deos. O fitio,que, ermida a fe efcolhèo, foy hum campo,ou S.Reque. monte, que eftà fôra dos muros da cidade, & caye pera a parte do Ocfte, a ref peito do rumo em que esta lançada a cidade de Lisboa. Eltava, naquelle tempo, o monte todo coroado á roda de copiofas, & fermofas oliveiras, das quaes ainda hoje perfevera huma,como teftemunha abonada, em huma iua junto a S. Roque, (a qual por iffo chamã,a rua da Oliveira) que os moradores aly confervam com particular cuydado. He a oliveira arvore muy ditofa, he arvore be afortunada, que, no diluvio denunciou a a Noè, & fempre pronofticou grandes felicidades, que por iffo fancto, Agostinho chamou ao monte Olivete (que he monte de oliveiras) monte de fruitos, & monte de unguentos; nem podiam deixar tam boas arvores de prenunciar tam bons, & tam copiofos fruitos de efpirito, que d'aquella ermida, pelos tempos adiante,fe hauiam, com tam profperos fuceffos, recolher.

paz

4 Nefte grande campo de oliveiras, havia hum lugar mais junto à porta da cidade (a que hoje

Gen. c.8. n. 8.

Aug.tra. 33.

in

laun.

Perrexit le

mote fus in Oliveti, in quofum, in montem un monte chrif

monte fru

guenti, in

matis.

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